Jornalistas Livres

Autor: Fabiana Oliveira

  • Seminário feminista debate a resistência à onda neoliberal conservadora

    Seminário feminista debate a resistência à onda neoliberal conservadora

    Por Marcha Mundial das Mulheres

    “Resistência e construção de movimento: confrontando o neoliberalismo desde a economia feminista e os comuns” é o tema do seminário internacional organizado pela Marcha Mundial das Mulheres (MMM), que acontece entre os dias 17 e 19 de junho. Em São Paulo, o encontro reúne militantes feministas de países das Américas, Europa, África, Ásia e Oriente Médio.

    Nesta segunda-feira (17), a primeira discussão do encontro, intitulada “Construindo uma visão comum sobre as características da ordem mundial”, foi impulsionada por Yildiz Temürtürkan, da Turquia, Jean Enriquez, das Filipinas, Priya Johnson, dos Estados Unidos, e Bernadete Monteiro, do Brasil, compondo a mesa que gerou uma série de reflexões coletivas sobre o tema.

    Neste momento, a reflexão proposta foi sobre como se constroem e se manifestam os mecanismos de controle e como se expressa o antifeminismo na conjuntura internacional. Temürtürkan mencionou que, há uma década, feministas de todo o mundo estavam reunidas no Brasil para o Fórum Social Mundial e, desde lá, falavam de um avanço da pobreza, combinado com a criminalização e violência. Para ela, o que está sendo chamado de “populismo de direita” pelo mundo é, na verdade, o fascismo que se reorganiza no contexto internacional junto a uma privatização do Estado pelas corporações. Ela, que é militante da Marcha Mundial das Mulheres e atua em Ankara, em defesa dos direitos humanos, contra a tortura e assassinato de lideranças sociais, incluindo membros de sua organização, afirma que o antifeminismo é elemento central das construções dos novos regimes da nova ordem neoliberal.

    Para Jean Henriquez, que é militante da MMM das Filipinas e advogada pelos direitos das mulheres, trabalhando contra a prostituição e o tráfico de mulheres, os representantes do sistema capitalista querem impor governos que se baseiem na opressão das pessoas pobres e veem as lutas feministas contra a violência e a exploração como ameaças. Uma das ferramentas utilizadas pelo sistema é a guerra às drogas, que mata pessoas pobres nas Filipinas e em outros lugares do mundo. “O neoliberalismo é um projeto autoritário para os mais pobres”, afirma. Ela diz que não se pode perder de vista as perspectivas radicais do feminismo e que a defesa da democracia não pode se dissociar da luta por uma transformação do modelo econômico e social baseado na ganância que, internacionalmente, precariza a vida das mulheres.

    Priya Johnson, ao refletir sobre a conjuntura estadunidense, lembra que a agenda hoje representada pelo Donald Trump tem raízes antigas e profundas na história dos Estados Unidos e remonta o genocídio dos povos indígenas. Priya também critica a militarização da vida, os mecanismos de controle, o encarceramento da população negra, a crminalização dos movimentos, a xenofobia e a monopolização dos meios de comunicação, elementos que alimentam a ideologia patriarcal e neoliberal e legitimam, diariamente, o terrorismo deste sistema. Como uma das saídas, Priya convoca a construção de solidariedade entre as fronteiras.

    Bernadete Monteiro, que é militante da MMM em Belo Horizonte (MG), pontuou similitudes e especificidades do contexto brasileiro. Ela relembra que a ascensão da direita nacional se articula mais fortemente a partir de 2010 e tem a ver com uma crise prolongada, desde 2008, com uma reafirmação de uma hegemonia estadunidense, e com novas características do neoliberalismo, que em outros momentos se apoiou na defesa da democracia e que hoje prescinde dela. Bernadete também lembrou do lugar da América Latina nesta configuração internacional, que está sob ataque e é estratégica para a nova ordem de acumulação do capital.

    Nesta tarde, as discussões continuaram. “Enfrentamentos ao capitalismo racista e patriarcal: visões e estratégias de disputa para mudar o modelo de reprodução e consumo”, foi o tema do debate.

  • Salvador receberá pesquisadores de todo o continente para Simpósio sobre vigilância, gênero e raça

    Salvador receberá pesquisadores de todo o continente para Simpósio sobre vigilância, gênero e raça

    Entre os dias 26 e 28 de junho, Salvador vai receber pesquisadores de todo o continente para discutir controle, monitoramento, dados pessoais, tecnologia, assimetrias de poder, gênero, raça e uma série de outros temas que articulam debates sobre vigilância, tecnologia e sociedade. As discussões fazem parte da programação do VI Simpósio Internacional LAVITS, que acontece na Universidade Federal da Bahia (UFBA).

    O objetivo do evento é promover uma agenda propositiva e crítica sobre os temas, estimulando um espaço interdisciplinar de reflexões. Para isso, os três dias de Simpósio abrigam intervenções artísticas, oficinas, sessões livres e trabalhos individuais. Entre os pesquisadores internacionais que virão ao evento, estão David Lyon, que é professor de sociologia na Universidade de Queens, no Canadá, e dirige o Centro de Estudos de Vigilância (SSC) da instituição, que é referência para a área, e Simone Browne, que é pesquisadora e educadora da Universidade do Texas, em Austin, nos Estados Unidos, e estuda a negritude como alvo das práticas de monitoramento. Browne é autora do livro Dark Matters: On the Surveillance of Blackness, no qual insere os estudos afro-americanos no centro dos estudos de vigilância.

    Lançado em 2015, o livro investiga as raízes das atuais práticas de vigilância nos Estados Unidos, relacionadas, segundo Browne, à escravidão e à era Jim Crow, cujas leis de segregação racial vigoraram no sul daquele país até 1965. A autora demonstra como as tecnologias e práticas de vigilância contemporâneas têm influência da longa história de formação racial e dos métodos de policiamento da vida negra na escravidão, como, por exemplo, as marcas permanentes nos corpos, os avisos de escravos fugitivos e as leis de lanterna. A obra recebeu o Lora Romero First Book Prize (2015) da American Studies Association, o Donald McGannon Award (2015) de Social and Ethical Relevance in Communications Technology Research e o Best Book Prize (2016) da Surveillance Studies Network.

    Em suas pesquisas, Browne expõe uma lacuna de um olhar centrado nas questões raciais dentro dos estudos sobre vigilância. A VI edição do Simpósio Internacional LAVITS tem, justamente, o desejo de impulsionar os debates sobre a intersecção entre vigilância, gênero e raça. Para a Rede, apesar da evidência desta imbricação, o campo ainda não lhe dedicou a devida atenção.

    Ainda que a crescente presença de processos de vigilância nos espaços urbanos, informacionais e sociais seja um fenômeno global, suas inscrições locais comportam singularidades que merecem ser pesquisadas e debatidas. Na América Latina e no Brasil em particular, as tecnologias e práticas de vigilância e controle são historicamente atreladas a estruturas coloniais, estatais e econômicas de produção de desigualdades, segregação ou mesmo extermínio de populações específicas, especialmente, indígena e negra. Ao mesmo tempo, são historicamente conhecidas as diversas formas de controle e vigilância sobre o corpo e a vida das mulheres.

    A Rede LAVITS

    A Rede Latino-Americana de Estudos sobre Vigilância, Tecnologia e Sociedade (LAVITS) foi fundada em 2009, contando com membros de ao menos 14 instituições de quatro países latino-americanos (Brasil, Argentina, México e Chile) e um país europeu (Bélgica). Com histórico de realização de simpósios internacionais em diferentes países latino-americanos (como México, Argentina, Chile e Brasil), a LAVITS retorna ao Brasil em 2019, para a cidade de Salvador (Bahia), apropriadamente situada para as discussões sobre assimetrias e (in)visibilidades.

     

    SERVIÇO

    O QUE: VI Simpósio Internacional LAVITS – Assimetrias e (In)visibilidades: Vigilância, Gênero e Raça

    QUANDO: 26, 27 e 28 de junho de 2019

    ONDE: Universidade Federal da Bahia (UFBA)

    OUTRAS INFORMAÇÕES: Mais informações sobre o evento estão disponíveis no site oficial do evento – www.lavits.ihac.ufba.br/

    CONTATO: lavits2019@ufba.br

    lavits.org@riseup.net

  • Atos por Marielle Franco, assassinada há um ano, se espalham pelo Brasil

    Atos por Marielle Franco, assassinada há um ano, se espalham pelo Brasil

    Por Fabiana Oliveira*

     

    Hoje, 14 de março de 2019, o grito de quem se indigna com o machismo, o racismo, a desigualdade e a violência faz contraste com o silêncio do Estado, da Justiça e dos perpetradores dos assassinatos de Marielle Franco e Anderson Gomes, que completam um ano.

    No último dia 12, foi decretada a prisão do policial reformado Ronnie Lessa e do ex- policial militar Elcio Vieira de Queiroz, acusados de serem autores dos disparos contra o carro em que estavam a vereadora Marielle, o motorista Anderson e a jornalista Fernanda Chaves, única sobrevivente do atentado, na noite do dia 14 de março de 2018. “Quem mandou matar Marielle?”, entretanto, é uma pergunta que segue sem resposta.

    Em muitas cidades do país e em outras partes do mundo, a população já foi ou vai às ruas pedir justiça por Marielle e reafirmar o compromisso com suas lutas em defesa da população negra e LGBT, das mulheres, dos mais pobres, dos favelados e de quem sonha, luta e constrói, cotidianamente, uma sociedade mais justa.

    O legado que Marielle deixa é a luta contra este modelo de sociedade: violento, baseado em relações de discriminação e exploração, que é um projeto de morte. O Brasil é o país que mais mata defensores dos direitos humanos e socioambientais no mundo e também é considerado um dos que mais mata mulheres, ocupando a 5º posição no ranking mundial. Além disso, a cada 23 minutos, um jovem negro é assassinado no país.

    A memória de Marielle Franco e outras lutadoras e outros lutadores do povo será semente e vai geminar, queiram ou não os seus algozes. Confira a agenda de atos**:

     

    14/03

     

    Rio de Janeiro

    Amanhecer por Marielle e Anderson – RJ, 6h

     

    Festival Justiça Por Marielle e Anderson ::. 14/03, 8h

     

    Zona Oeste por Marielle Franco, Praça do Ringue, Santa Cruz, 10h

     

    Celebração Marielle Semente, 13h

     

    Aula Magna: Eu Sou Porque Nós Somos, Praça Cinelândia, 14h

     

    Carolina, Abdias e Marielle: Vidas, Ancestralidade e Continuação, Centro de Artes da Maré, 15h

     

    Marcha contra o genocídio negro! SOMOS Marielle Franco!, Alerj, 17h

     

    Cabo Frio

    Pela memória e justiça de Marielle!, Praça Porto Rocha, 17h

     

    Campos

    Mesa: Um ano da morte de Marielle Franco – quem matou Marielle?, Instituto Federal Fluminense (IFF Campos), 18h30

     

    Brasília

    365 dias sem Marielle [DF], distribuição de placas Rua Marielle Franco, Praça Zumbi dos Palmares, 12h

     

    Lançamento do livro UPP: a redução da favela a três letras, Foyer do plenário do CLDF, 17H

     

    Sessão solene em Memória de Marielle Franco, Plenário do CLDF, 19h

     

    Campo Grande

    Por que mataram Marielle Franco?, Concha Acústica, 8h

     

    João Pessoa

    Festival Marielle Vive, Parque da Lagoa, 9h30

     

    Natal

    Marielle, presente! O legado dela está mais vivo do que nunca., Auditório do DECOM/UFRN, 13h

     

    14M – Por justiça e pela memória de Marielle Franco, Calçadão do Midway. 17h

     

    São Bernardo

    Ato Marielle Vive, Praça da Matriz, 14h

     

    Aracaju

    14M Aracaju – Marielle Vive!, Câmara dos Vereadores de Aracaju, 16h

     

    Sessão Solene em memória de Marielle Franco, Câmara Legislativa do Distrito Federal, 17h

     

    Fortaleza

    Amanhecer por Marielle, Praça da Justiça, 6h

     

    Ato Marielle Vive!, Praça da Gentilândia, 17h

     

    Marielle, presente! De três letras a uma só voz, Auditório Valnir Chagas FACED – UFC, 19h

     

    Belo Horizonte

    Semana Marielle Franco UFMG, UFMG – Universidade Federal de Minas Gerais, 17h (de 11 a 15 de março)

     

    Marielle Vive! Um ano de Saudade e Lutas!, Praça Sete De Setembro, 17h30

     

    São Paulo

    Justiça para Marielle: vidas negras e periféricas importam! 14M, Av. Paulista praça Oswaldo Cruz, 17h

     

    Marielle Vive, Nós Também! Pelo direito à vida das mulheres!,  Estrada do M’Boi Mirim, 18h

     

    Bauru

    Justiça por Marielle! Quem matou e quem mandou matar?, em frente a Câmara Municipal, 17h

     

    Porto Alegre

    Março Feminista! Justiça para Marielle: 1 ano sem resposta, Esquina Democrática, 18h

     

    Pelotas

    Um Ano Sem Marielle Franco, Chafariz do Calçadão, 17h30

     

    Manaus

    Simpósio e Aula pública – Marielle virou semente – ato em memória de Marielle Franco, Casa das Artes, 15h

     

    * Fabiana Oliveira é jornalista e militante da Marcha Mundial das Mulheres (MMM)

    ** Com informações da Mídia Ninja