Jornalistas Livres

Autor: Cesar Locatelli

  • Dieese estima salário mínimo necessário em R$ 3.783,39

    Dieese estima salário mínimo necessário em R$ 3.783,39

    “Com base na cesta mais cara, que, em outubro, foi a de Florianópolis, e levando em consideração a determinação constitucional que estabelece que o salário mínimo deve ser suficiente para suprir as despesas de um trabalhador e da família dele com alimentação, moradia, saúde, educação, vestuário, higiene, transporte, lazer e previdência, o DIEESE estima mensalmente o valor do salário mínimo necessário. Em outubro de 2018, o salário mínimo necessário para a manutenção de uma família de quatro pessoas deveria equivaler a R$ 3.783,39, ou 3,97 vezes o salário mínimo nacional, de R$ 954,00. Em setembro, tinha sido estimado em R$ 3.658,39, ou 3,83 vezes o piso mínimo do país. Em outubro de 2017,o mínimo necessário era equivalente a R$ 3.754,16, ou 4,01 vezes o salário mínimo nacional daquele ano, correspondente a R$ 937,00.”

    Para ver o relatório completo: https://www.dieese.org.br/analisecestabasica/2018/201810cestabasica.pdf

  • O que esperar da economia no novo governo

    O que esperar da economia no novo governo

    A professora Leda Paulani é formada em Economia pela FEA-USP e em Comunicação Social pela ECA-USP. É professora titular do Departamento de Economia e da pós-graduação em Economia da Universidade de São Paulo.

    Nessa entrevista, a professoda Leda responde às seguintes questões:

    1 Professora Leda, os governos do presidente Lula e da presidenta Dilma são responsáveis pela queda do PIB e pela queda do emprego nos últimos 3 anos? O PT quebrou o Brasil?

    2 O presidente eleito Jair Bolsonaro e seu ministro da fazenda querem cortar gastos do governo. Isso fará aumentar o emprego e fará voltar o crescimento?

    3 O plano econômico de Fernando Haddad dava ênfase a criar empregos e aumentar a renda disponível nas mãos dos trabalhadores. A economia do país não teria mais dinheiro circulando, mais consumo e, portanto, mais chance de crescer? Por que os empresários apoiaram os cortes de gastos e de direitos que levam à recessão?

    4 Como a senhora vê nossa economia e, especialmente, o emprego e a renda dos trabalhadores nos próximos anos?

  • Divergir já é passível de punição

    Divergir já é passível de punição

    Demitido nesta segunda, 05/11, o jornalista Rogério Galindo trabalhava há 18 anos no jornal curitibano Gazeta do Povo. Suas opiniões, críticas aos tristes desenvolvimentos recentes no país, podem explicar a decisão da direção do jornal. Há 8 dias da eleição, divergir já é passível de punição.

    Abaixo trechos de dois artigos de Galindo.

    1 A imprensa elegeu Bolsonaro ao ser conivente com o ódio

    28/10/2018

    “O ódio venceu. O ódio ao diferente, a intransigência com a pluralidade. Venceram a tortura, a misoginia, a homofobia, o racismo. Venceu o autoritarismo, o retrocesso de quem quer levar o país de volta ao ponto em que estava ‘40 ou 50 anos atrás’.

    (…)

    Em qualquer lugar civilizado, o discurso em que o candidato, há uma semana da eleição, promete mandar para a Ponta da Praia, um centro de tortura e extermínio, os seus inimigos políticos, teria levado às mais ásperas manchetes, aos editoriais mais incisivos.

    Aqui, falou-se que o candidato moderou o discurso.

    Os editoriais dos jornais deram vergonha. Os mesmos jornais que foram tigrões diante de Dilma Rousseff se mostraram tchutchucas deparados com um capitão torturador.

    Fizeram-se ataques violentos ao petismo, e deixou-se parecer que do outro lado havia um santo. O santo, senhores, é um bárbaro que defende que se coloquem ratos nas vaginas de presidiárias, que se chamem filhos para ver a tortura dos pais nus.

    O homem que prometeu fechar o Congresso no primeiro dia de poder chegou à Presidência.

    Só a união das forças democráticas nos salvará. Mas, para isso, não contem com os jornais. Eles já mostraram de que lado estão.”

    2 Moro deslegitima Lava Jato e dá credibilidade à narrativa de perseguição ao PT

    01/11/2018

    “ (…)

    É fato que, sem Moro, sem a Lava Jato, não haveria governo Bolsonaro. Antes da saída de cena, por determinação jurídica, Luiz Inácio tinha cerca de 40% das intenções de voto, o dobro do distante segundo colocado, hoje presidente eleito.

    Lula só não pôde ser candidato porque Moro o condenou num processo em que pelo menos metade dos juristas considera a sentença insustentável. Mas há mais: não fosse Moro, também não haveria a prisão depois da segunda instância, sem que o caso tenha tramitado em julgado.

    Sem a comoção causada pela Lava Jato, o TRF-4, numa turma liderada por um amigo de Moro, também não teria passado o caso na frente de tantos outros, julgando tudo estranhamente a tempo de Lula não poder concorrer.

    E, se concorresse, haveria ainda o fato de o juiz ter liberado gravação ilegal do ex-presidente falando com Dilma Rousseff que contaminou completamente o processo. Assim como contaminou também a desnecessária condução coercitiva, logo depois determinada ilegal, de Lula para um depoimento a que ele sequer tinha faltado.

    (…)

    O final da história podia não ser evidente lá atrás. Mas, vendo em retrospecto, faz todo o sentido.”

    Notas:

    1 Para ver a primeiro a matéria completa:
    https://www.gazetadopovo.com.br/blogs/caixa-zero/a-imprensa-elegeu-bolsonaro-ao-ser-conivente-com-o-odio/

    2 Para ver a segunda matéria completa:
    https://www.gazetadopovo.com.br/blogs/caixa-zero/moro-deslegitima-lava-jato-e-da-credibilidade-a-narrativa-de-perseguicao-ao-pt/

  • O obeso com pneumonia

    O obeso com pneumonia

    Qual é o médico que cuidaria primeiro da obesidade de uma ou um paciente para depois cuidar da pneumonia? Cometesse tal doidice o “doutor”, certamente, se complicaria com o Conselho Regional de Medicina. Entre os economistas parece haver maior blindagem para desatinos.

    A dupla Jair Bolsonaro e Paulo Guedes acha que, em primeiro lugar, deve-se “emagrecer” o Estado brasileiro, cortar gastos, ajustar as contas, produzir superávit já em 2019. O desemprego, que é a pneumonia, será resolvido com a “dieta”, acreditam eles, seus parceiros do mercado financeiro e liberais em geral.

    “Então, meu diagnóstico é o seguinte: gasto público, gasto público, gasto público, reforma fiscal, reforma fiscal, reforma fiscal.” Disse Paulo Guedes, guru econômico do presidente eleito, ao jornal Valor Econômico em julho deste ano.

    Há exatos 903 dias, Henrique Meirelles assumia o Ministério da Fazendo prometendo controlar os gastos para melhorar as contas públicas, fazer a economia rapidamente voltar a crescer e reduzir o desemprego: “A prioridade hoje é o equilíbrio fiscal, isto é, a estabilização do crescimento da dívida pública.” Na realidade o que ocorreu é que a economia não deslanchou e o desemprego continuou elevadíssimo. E, consequentemente, a arrecadação de imposto também não subiu, fazendo com que os deficits fiscais, ao contrário do prometido, fossem muito altos. A dívida pública só fez crescer. Aconteceu tudo ao contrário do que Meirelles prometeu. Por que será diferente com Paulo Guedes?

    O grupo recém-eleito tem como prioridade aprovar a Reforma da Previdência ainda este ano. Será que cortar benefícios, a toque de caixa, reduzirá a população desocupada, hoje em 12,5 milhões de pessoas? Diminuirá a taxa de subutilização da força de trabalho, estimada pelo IBGE em 27,3 milhões de pessoas? É imperativo que uma reforma das regras da Previdência Social seja feita com ampla discussão. E, sem dúvida, tal reforma não aliviará, no curto prazo, o sofrimento do desemprego.

    Paulo Guedes adora uma privatização: vamos diminuir a dívida pública em centenas de bilhões de reais, tem afirmado. Cabe a pergunta: as privatizações aumentam ou escasseiam a oferta de empregos? As empresas que compram estatais têm como primeira medida demitir, reduzir custos. Onde estavam esses economistas nas privatizações de Fernando Henrique Cardoso do PSDB?

    Escrevi em outra matéria, em 24/09/2018, que:

    “The Economist, a revista inglesa que completou 175 anos neste mês, tem a enorme qualidade de expor sua ideologia liberal sem meias palavras e sem tentar fingir isenção ou neutralidade como faz a maior parte dos meios comunicação. Mesmo discordando é preciso reconhecer.

    Em um longo ensaio, na edição de aniversário, seus editores reconhecem as falhas e as promessas não cumpridas pela política que advogam. Vão além, temendo a escalada autoritária mundial, para propor a “reinvenção do liberalismo para o século XXI”.

    A falta de regulação no mercado financeiro e a falta de atenção às pessoas e às localidades prejudicadas pelo comércio globalizado, aliadas à promessa não cumprida de progresso para todos, aos mercados manipulados pela concentração de poder de algumas empresas e às mudanças climáticas são alguns dos componentes do pano de fundo que conforma o desencanto dos eleitores que se deixam levar pelo canto dos candidatos autoritários.”

    É preciso relembrar que a crise das hipotecas nos Estados Unidos, iniciada em 2007, só não levou a desgraças semelhantes àquelas da Grande Depressão de 1929, por que o governo inundou o mercado de dólares. Deixou quebrar a Lehman Borthers, viu a gravidade da quebradeira que se seguiria e optou por injetar recursos em bancos, em seguradoras, nas grandes financiadoras de imóveis, até na General Motors. Eles sabem muito bem que no meio da recessão não é hora de se fazer ‘austericídio’s (a morte pela austeridade) como querem o presidente eleito e seu economista preferido.

    Paulo Guedes quer aprofundar o teto de gastos. Na idade média também se usava sanguessugas na esperança de que a remoção do sangue curaria o paciente. Retirar recursos da economia, cortar gastos, avisar trabalhadores que seus empregos e direitos trabalhistas correm riscos e alertar os investidores que o Estado muito pouco investirá são os sanguessugas do liberalismo.

    E os economistas de plantão recusam-se a acordar desse prolongado delírio.

     

    Nota

    1 A pretensa “obesidade” do Estado também é discutível, mas isso fica para outra hora.

  • O Brasil figadal

    O Brasil figadal

    Desfez-se, de uma vez por todas, o mito de um Brasil cordial. Nossa sociedade não é afável, sincera, calorosa ou franca, no sentido que dá Houaiss ao adjetivo cordial. O Brasil votou com o fígado, com o sentimento visceral de rancor. E elegeu Jair Messias Bolsonaro presidente do Brasil para os próximos quatro anos. A marca histórica de um país que impõe pesado sofrimento aos pobres evidenciou-se novamente.

    Como é possível achar que um deputado, que habita a Câmara dos Deputados há 28 anos, represente o “novo” na política? Como aceitar sua proposta de armar a população para aumentar a segurança? Por que apoiar seu desprezo pelas mulheres? Por que o país elegeu um sujeito que reverencia a tortura e o mais funesto torturador?

    A caminhada do Brasil está repleta de eventos e práticas que fazem corar a todos que julgamos que nascemos iguais e devemos ter os mesmos direitos. Nesse último período, no entanto, há conformações que é preciso salientar. O poder executivo, eleito pelo povo em 2014, foi destituído por uma conjunção do poder econômico, do poder dos meios de comunicação, do poder legislativo, do poder judiciário e do poder dos outros integrantes do sistema de justiça: ministério público e polícias. O silêncio, revelando aparente neutralidade do poder militar, foi quebrado em momentos decisivos em apoio ao objetivo maior.

    A desmoralização e demonização da política vêm desde o início da Ação Penal 470, conhecida como “mensalão”, em 2006. É público que Joaquim Barbosa escondeu provas e evidências que mudariam o rumo do julgamento. Inúmeros juristas denunciaram as ilegalidades desse processo. Suas vozes não foram, contudo, ouvidas. Sucumbiram, sob intenso apoio, e aliança, dos meios de comunicação aos desmandos do Supremo Tribunal Federal, Os mesmos jornais, canais de televisão, rádios e revistas que hoje se espantam com a aberração que gestaram.

    Mal sabíamos que as artimanhas do STF visavam tornar inelegível a maior liderança popular do país. E assim fizeram. Condenaram Luiz Inácio Lula da Silva sem provas de que o apartamento de classe média no Guarujá fosse seu. O futuro ministro do STF, Sérgio Fernando Moro, o condenou por uma matéria de jornal e uma delação de criminosos que declarariam o que fosse preciso para se verem livres da prisão. O Tribunal Regional Federal da Quarta Região confirmou, em tempo recorde, a condenação. O Supremo Tribunal Federal autorizou sua prisão, antes de terminadas as possibilidades de apelação do ex-presidente. E o Tribunal Superior Eleitoral o tronou inelegível.

    O bloco no poder tentou viabilizar outros nomes “novos” na política. Não teve êxito. Não conseguiram se unir em torno de um nome. Todos os balões de ensaio foram bombardeados por frações do poder, quando não pela simples falta de apelo popular. Afinal, a farsa de que teriam sido escolhidos pelo povo em voto livre precisava prevalecer.

    O Brasil de 2014 tinha o menor desemprego da história recente do país, tinha o maior salário-mínimo desde 1964 e tinha saído do mapa da fome elaborado pela Organização das Nações Unidas. A incerteza política gerada pelos inconformados com o resultado da eleição, o contágio de uma débil economia mundial e erros cometidos pelo governo de Dilma Rousseff redirecionaram a economia brasileira, desde 2015 até hoje, para a recessão e o desemprego.

    Em meio a esta grave crise, o país levou ao poder executivo um grupo que promete aprofundar o corte de gastos públicos, a retirada de direitos, as privatizações e a abertura aos produtos estrangeiros. Um conjunto de ações que, diminuindo o consumo e o investimento, debilitará, ainda um pouco mais, a economia do país.

    A retirada de direitos sociais e a autorização para que as forças da repressão policial matem quem julgar adequado tornaram nossa sociedade ainda mais insegura. Tememos pelos mais pobres e por todos aqueles que precisam da proteção do Estado.

    Os Jornalistas Livres, formado exclusivamente por voluntários, nascemos em 2015 para mostrar o que era invisível para os meios de comunicação hegemônicos. Denunciamos inúmeras falcatruas e mentiras, com frequência beneficiadas ou mesmo veiculadas pelos próprios meios de comunicação. Denunciamos perseguições, violências e mortes de pobres, de pretos, de índios, de sem terras, de gays, de trans. Ajudamos alguns a verem com clareza a luta pelo poder que se desenrolava.

    Gritamos “não vai ter golpe, vai ter luta”. Teve golpe e não teve luta. Gritamos “Marielle, presente”. Ela está morta e seus algozes livres. Bradamos “Mestre Moa vive”. E ele está morto. Bradamos “machistas, fascistas, não passarão”. E eles passaram. Clamamos “ele não”. E as urnas disseram “ele sim”. Clamamos “Lula livre”. E ele está preso e “apodrecerá na cadeia” a prevalecer o desejo do presidente ontem eleito.

    Junto com o povo brasileiro mais sofrido, nós perdemos esta batalha. Estamos de luto.

  • Faz escuro, mas eu canto

    Faz escuro, mas eu canto

    Faz escuro mas eu canto,
    porque a manhã vai chegar.
    Vem ver comigo, companheiro,
    a cor do mundo mudar.
    Thiago de Mello

    Alegria entrelaçada com aflição e fé. Assim foi a cerimônia do 40o Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos na noite de ontem, 25/10, data que marca 43 anos do assassinato de Herzog no Doi-Codi em São Paulo.

    Alegria por perceber a consolidação do prêmio, por perceber jovens e talentosos jornalistas trilhando os caminhos da defesa dos direitos humanos com trabalhos primorosos que denunciam a distância que ainda nos separa de uma civilização digna do nome.

    Aflição pelo inacreditável apoio que vem conseguindo o candidato à presidência que elogia o principal torturador do mesmo Doi-Codi, onde Herzog foi torturado e morto, e prega abertamente a volta aos tristes tempos da ditadura militar.

    Fé de que ainda há tempo para virar votos, para conversar olho no olho, para alertar sobre os riscos de entrarmos em novo período autoritário com o custo de muitas vidas.

    Na categoria Arte, o vencedor foi Brum, do Jornal Tribuna do Norte de Natal/RN, com a charge “Marquinha”. (abaixo)

    Marquinha por Brum

    Na categoria Fotografia, o vencedor foi Albari Rosa, do Jornal Gazeta do Povo, de Curitiba/PR, com o trabalho “Consumidos pela escravidão”. (A foto de Albari ilustra essa matéria)

    Na categoria Produção Jornalística em Áudio, os vencedores foram Marcelo Henrique Andrade e equipe, da rádio CBN de João Pessoa/PB, com a “Série de Reportagens Trans: o difícil caminho para a educação.” (Clique para conhecer o trabalho premiado)

    https://youtu.be/s9Y_3RG7HkQ

    Diz Ivo Herzog, após a apresentação do vídeo acima:

    “Tem uma caixinha pequenininha com alguns valores fundamentais: vida, liberdade, respeito, democracia. Minha discussão começa aqui. Não é se é liberal, conservador, se é progressista, se é comunista. São esses valores, essa caixinha. Para mim ela é inegociável. Essa é a eleição mais fácil para mim para votar. Porque tem alguém querendo violar essa caixa.”

    Na categoria Produção jornalística em multimídia, os vencedores foram Clara Carvalho e equipe, do portal NE10 de Recife/PE, com  “UmaPorUma”. (Clique para conhecer o trabalho premiado)

    Na categoria Produção jornalística em texto, os vencedores foram Nathan Fernandes e equipe da Revista Galileu, de São Paulo/SP, com a matéria “A Síndrome do Preconceito”. (Clique para conhecer o trabalho premiado)

    Na categoria Produção jornalística em vídeo, os vencedores foram Mariana Fabre e equipe da TV Brasil de Guará/DF, com o documentário “Defensores sob ameaça”. (Clique para conhecer o trabalho premiado)

    O prêmio Vladimir Herzog Especial 2018 foi para Bernardo Kucinsky. Esse prêmio homenageia, desde 2009, jornalistas “pelos relevantes serviços prestados às causas da democracia, paz, justiça e contra a guerra.”

    Após relembrar as ameaças de Jair Bolsonaro à paz e à democracia, o jornalista e professor Kucinsky, em sua fala de agradecimento, acrescenta:

    “Como explicar o voto de milhões de brasileiros a um ser repulsivo como esse? Como explicar o fenômeno de dissonância cognitiva de tal magnitude? Suas causas são certamente muita e complexas. Mas não é um processo que nasceu ontem: vem sendo cevado ao longo de décadas. Desde que um simples operário liderou as grandes greves que levaram a queda da ditadura e posteriormente se tornou presidente do Brasil. Atingiu seu ápice quando o Judiciário e a imprensa fizeram do combate à corrupção uma guerra sectária.

    (…)

    Não me cabe julgar o outro. Não me cabe avaliar as razões de cada um. Falo de mim e do que eu sinto. O que mais me entristece e me envergonha nesse momento não é a postura dos donos do poder econômico, já esperada. Nem é a de uma classe média frustrada e enraivecida, nem mesmo a do povo pobre, açodado pelo discurso fácil do linchamento. O que me acabrunha é a postura dos que deveriam saber melhor, entre os quais obviamente nós os jornalistas. Compartilho esse prêmio com os jornalistas que exerceram e exercem a função mai nobre do nosso ofício, que é de defender a liberdade, a vida e os direitos fundamentais do ser humano. Entre os quais o direito à moradia, à alimentação, `educação e à saúde. E compartilho também com o ex-presidente Lula que à extensão desses direitos devotou sua carreira política. Hoje, mais do que nunca, vítima do ódio coletivo e do linchamento.”

    Juca Kfouri, mestre de cerimônias do evento, faz a fala final:

    “Não é preciso falar que nós temos críticas a fazer em relação a todos os governos da redemocratização para cá. Não é preciso. Viver é preciso. Porque uma crítica nunca será justo fazer a nenhum desses governos: a de terem posto em risco a democracia ou a liberdade de expressão

    (…)

    Os golpistas de então tinham, pelo menos, algum pudor. Fizeram o que fizeram, mas envergonhados se apegavam às mentiras para não admitir. Negavam torturar e matar. Sabemos, dolorosamente como sabemos, que torturaram e mataram. Agora é ainda pior. Porque os neofascistas anunciam a plenos pulmões o que farão. E já estão fazendo.

    Hoje, derrotá-los, que fique bem claro, diríamos exatamente o mesmo, sem tirar nem por, se as alternativas fossem: Alckmin, Meirelles ou até Amoedo. A hora é tão grave que não admite dubiedade, muito menos omissão ou neutralidade. Barrar o obscurantismo, a perseguição às minorias, o autoritarismo, a arbitrariedade e a violência se impõe nesse momento. Sem ódio e sem medo. Com a indignação exigida por quem ama a liberdade, a igualdade, a fraternidade.

    Em nome da memória de Ulisses Guimarães, de Dom Paulo Evaristo Arns e de Vladimir Herzog. Que as luzes da liberdade iluminem o povo brasileiro para evitar a barbárie. Temos dois dias para virar o jogo. Temos o domingo para inundar o Brasil com uma onda democrática. Nós vamos lutar até o último, mas até o último segundo do domingo para recomeçar a fazer o Brasil que queremos para nossas filhas e filhos, netos e netas, para nós.

    A nossa arma é a palavra. E a nossa fé não costuma falhar. Liberdade, liberdade, abre as asas sobre nós.”

    Encerrando a premiação, é distribuído um fac-símile da capa do número 16 do jornal Ex, que circulou entre 1973 e 1975. Ex foi o único jornal que estampou a notícia do assassinato de Vladimir Herzog e com letras garrafais clamou: Liberdade, Liberdade, abra as asas sobre nós.

    “Na semana da morte de Herzog, no final de outubro de 1975, foram tirados 50 mil exemplares da edição Ex-16, que relata todo o episódio de seu assassínio. Na capa, o verso do Hino à República: “Liberdade, Liberdade, abre as asas sobre nós”.

    Uma segunda tiragem, de 30 mil exemplares, foi apreendida pela polícia.” Conta-nos Bernardo Kucinski em Jornalistas e Revolucionários – Nos tempos da imprensa alternativa.

    A execução do Hino à República fecha a noite: Liberdade! Liberdade! Abre as asas sobre nós!

     

    Notas

    1 Para saber mais sobre o 40o Prêmio Vladimir Herzog:

    Vencedores do 40º Prêmio Vladimir Herzog

    2 Para ver o livro de Bernardo Kucinski, Jornalistas e Revolucionários, nos tempos da imprensa alternativa:
    http://marcosfaerman.s3-website-us-east-1.amazonaws.com/1991_JornalistasRevolucionarios.html

    3 Para ver o livro que reproduz as edições do jornal ex:
    http://livraria.imprensaoficial.com.br/media/ebooks/12.0.813.723.pdf

    4 Para ver nossa transmissão completa da cerimônia de premiação: https://www.facebook.com/jornalistaslivres/videos/551635681960969/