Jornalistas Livres

Autor: Cecília Bacha

  • Para jurista, novo escândalo da Lava Jato tem força para soltar Lula

    Para jurista, novo escândalo da Lava Jato tem força para soltar Lula

    Segundo o professor de Direito Constitucional da PUC-SP, Pedro Serrano, as conversas vazadas entre o procurador da República, Deltan Dallagnol, e o então juiz de Curitiba, Sergio Moro “contaminam” as decisões judiciais tomadas dentro do processo que levou o presidente Lula para a prisão.

    Os longos arquivos enormes e inéditos foram publicados pelo site Intercept Brasil no início da noite de hoje, 9.

    “Se for verdadeiro o que foi apresentado na matéria do (jornal) Folha de S. Paulo, o juiz chega a instruir o Ministério Público. Isso é demonstração suficiente para atestar imparcialidade do juiz”, afirma.

    O professor avalia ainda que por terem sido obtidas de forma ilícita, as provas não poderão ser usadas criminalmente ou administrativamente contra os envolvidos, mas são suficientes para constatar “vício insanável” das decisões que levaram não apenas Lula, mas outros acusados como o tesoureiro do PT, João vaccari Neto para a cadeia.

     

     

     

  • “Desfaça tudo essas reservas”, diz ruralista a secretário em reunião de fazendeiros do Pará com governo federal

    “Desfaça tudo essas reservas”, diz ruralista a secretário em reunião de fazendeiros do Pará com governo federal

    Da Publica

    Quem entrasse desavisado pela porta do auditório Olacyr de Moraes, no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), no início da tarde do último dia 10, teria dificuldade em saber que se tratava de um encontro entre grandes fazendeiros paraenses e autoridades das áreas da agricultura e do meio ambiente do governo Jair Bolsonaro. Em vez dos esses chiados, típicos do sotaque do Pará, ouvia-se na plateia os erres marcados dos sotaques sulistas, comuns entre os que detêm latifúndios em solo amazônico. Reunidos no auditório, os produtores rurais foram à Brasília apresentar a fatura do apoio enfático dado a Jair Bolsonaro durante a campanha presidencial.

    A reportagem da Pública presenciou as quase quatro horas do encontro, idealizado pela Federação de Agricultura e Pecuária do Pará (Faepa) e bancado pelo governo, sobretudo pelo titular da Secretaria Especial de Assuntos Fundiários (Seaf), Luiz Antônio Nabhan Garcia. Ex-presidente da União Democrática Ruralista (UDR), Nabhan Garcia foi tratado na reunião como “vice-ministro” apesar da inexistência formal do cargo. Foi ele quem gravou vídeos disparados pelo WhatsApp convocando os produtores ao encontro. O convite empolgou: o auditório ficou completamente abarrotado e alguns fazendeiros ficaram do lado de fora, esticando o pescoço para acompanhar a discussão.

    A titular do Mapa, ministra Teresa Cristina, fez questão de reconhecer o pronto apoio dado pelo agronegócio, grande protagonista da economia brasileira nos últimos anos, em campanha. “Podem ter certeza que o governo do presidente Bolsonaro tem um apreço e um carinho muito especial pelos produtores rurais, que foram aqueles que primeiro o apoiaram, foram aqueles que primeiro acreditaram. Talvez porque a gente tenha sofrido tanto que os produtores rurais deram um basta e acreditaram que o presidente Jair Bolsonaro era a pessoa que podia fazer a mudança de rumo no nosso país”, discursou. “O estado do Pará foi um dos estados que primeiramente deu a ele [Bolsonaro] o seu voto de confiança.” Vale registrar que a ministra se referia aos fazendeiros, e não à população, que votou majoritariamente no candidato do PT, Fernando Haddad.

     

    O presidente da União Democrática Ruralista, Luiz Antônio Nabhan Garcia. Foto Tânia Rêgo/Agência Brasil

    Diante da ministra, do “vice-ministro” Nabhan Garcia e outras autoridades, como o presidente do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), general Jesus Corrêa, o presidente do Ibama, Eduardo Fortunato, e o secretário executivo da Secretaria de Governo, Mauro Biancamano, a principal exigência colocada à mesa pelos ruralistas foi a flexibilização radical (talvez o termo correto seja desmonte) da fiscalização ambiental feita em solo paraense.

    O Ibama e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), órgãos encarregados por lei de fazer fiscalização ambiental, foram alvos de duras críticas e xingamentos. Era alguém tocar no nome deles e o burburinho começava. Aos poucos, palavras de ordem eram gritadas e aplausos efusivos demonstravam o apoio da plateia a quem tomava coragem de gritar no meio da multidão. Nas manifestações anônimas, feitas durante as falas, os órgãos foram acusados de praticar “terrorismo de Estado”, alguns disseram que o governo “tem que acabar” com eles, a despeito da obrigação do Estado em mantê-los, e os chamaram de “câncer”. Produtores falaram em “desfazer essas porcarias de Unidades de Conservação” (UCs) – termos similares aos usados por eles para se referir a outras áreas protegidas pela União, como terras indígenas e assentamentos de reforma agrária.

    Nas falas feitas em um púlpito do auditório por produtores rurais e autoridades não ligadas ao governo federal, o tom não foi muito diferente. Para ficar em um exemplo, a representante da Associação dos Produtores dos Campos do Araguaia (Aprocampo), Genny Silva, chamou o Ibama, em fala pública, de “instituto brasileiro de assalto à mão armada”. O radicalismo das demandas foi tamanho que levou os representantes do governo Bolsonaro à não usual posição de pedir ponderação, cautela e apego à institucionalidade aos presentes. Se o descrédito demonstrado por Bolsonaro pelos órgãos ambientais, como na ocasião em que o presidente disse que a festa do ICMBio e do Ibama “ia acabar”, gela a espinha dos ambientalistas, para os ruralistas paraenses parece ser pouco. Eles querem a nova era de Bolsonaro para já e, nela, não querem ter que receber fiscais do Ibama em suas porteiras.

    “O Brasil está numa hemorragia generalizada e o governo vem com band-aid pra querer estancar a hemorragia. Não vai conseguir! Nós não podemos querer reformar órgãos inúteis que não têm mais função a não ser consumir dinheiro público e perpetuar a corrupção”, afirmou Paulo César Quartiero, que ocupava o posto de vice-governador em Roraima até janeiro do ano passado pelo DEM. “Quer que eu cito (sic)? Ibama, ICMBio, quantos mais? Vou citar o Incra também? Vou. Que mais?”, questionou à plateia. Alguns fazendeiros falaram na Fundação Nacional do Índio (Funai). “A Funai a gente deixa à parte porque ela não obedece ao governo brasileiro, ela obedece às monarquias europeias”, disse, arrancando risos, referindo-se ao fato de a fundação ter firmado parcerias para desenvolvimento de projetos com recursos do Fundo Amazônia, que tem a Noruega como principal doadora.

    Quartiero, aliás, é um antigo adversário da causa indígena em Roraima, como ele mesmo admitiu em entrevista ao jornal O Globo. Foi arrozeiro na área da TI Raposa Serra do Sol, homologada em 2005. Teve uma fazenda desapropriada em decorrência do processo de demarcação. Em 2008, quando era prefeito de Pacaraima (RR), foi preso pela Polícia Federal (PF) acusado de tentativa de homicídio, formação de quadrilha e posse de artefatos explosivos. Segundo o Ministério Público Federal afirmou em denúncia, tais crimes ocorreram após ele ter coordenado ataques a indígenas da Comunidade Renascer. Nove indígenas ficaram feridos na ação, oito deles baleados, segundo a PF informou à época. A ação ainda corre na Justiça Federal. Hoje Quartiero é suplente na diretoria da Faepa, pois é produtor rural na ilha do Marajó, no Pará.

    A sugestão de Quartiero de que não adiantaria reformar órgãos ambientais, mas sim extingui-los, gerou uma manifestação imediata do anfitrião Nabhan Garcia. Ao tomar a palavra, ele sublinhou que não fora o governo Bolsonaro quem havia “criado” ou referendado a TI Raposa Serra do Sol e lembrou as consequências legais de extinguir órgãos ambientais. “Não se acaba com a Funai como você tá dizendo. Aqui não tem espaço para a pirotecnia, me desculpe. Se tem alguém aqui formado em direito, sabe o que eu tô dizendo. Não é assim que se acaba com Funai, com Ibama, com Incra. Não é assim. Não se acaba, aí é pirotecnia”, respondeu Nabhan Garcia.

    Apesar da impossibilidade jurídica de extinção dos órgãos, o secretário de Assuntos Fundiários lembrou que o governo federal vem esticando a corda nesses órgãos, tentando favorecer os interesses dos ruralistas. “A questão da Funai: ela é responsável pela identificação, delimitação, demarcação, licenciamento de terra e etc. [O governo] Tirou isso da Funai. Não dá pra acabar com a Funai, mas dá pra tirar o que era nocivo que a Funai fazia e assim o governo fez em 1º de janeiro, feriado nacional, no dia de sua posse. Tem lá uma medida provisória tirando da Funai todas essas situações. Passando pra nossa secretaria inclusive as cláusulas quilombolas também, da Fundação Palmares. Hoje está tudo no Ministério da Agricultura, na Secretaria de Assuntos Fundiários, que por sua vez o órgão executor é o Incra, o novo Incra, que está com boas intenções e vai promover as mudanças”, argumentou Nabhan Garcia, sinalizando mudanças na política indigenista. “Eu só estranho que a lei funciona contra nós e a nosso favor não funciona”, murmurou Quartiero, ainda um tanto contrariado.

    Ibama engole críticas e promete mudanças para agradar a fazendeiros

    Quando subiu ao púlpito ao som dos murmúrios do público, o presidente do Ibama, Eduardo Fortunato Bim, procurou ser breve. Começou pedindo desculpas pela ausência de seu chefe, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. “Todo o ministério, inclusive o Ibama, tem um apreço muito grande pelos produtores rurais. A gente tá tentando mudar uma mentalidade que existiu no passado, de perseguição para quem produz nesse país”, afirmou Bim. “Nesse novo Ibama, a gente está buscando um diálogo muito grande com todos os atores envolvidos pra gente se entender. E, se entendendo, evitar os pontos de atrito que ainda existem. Mudar a cultura de um órgão é uma coisa que demora um pouco, mas a gente está lutando para que essas mudanças aconteçam”, disse. O presidente do Ibama saiu rápido da sala a pretexto de uma audiência com o Ministério Público. Para aguentar a pressão dos produtores, ficou o titular da Diretoria de Proteção Ambiental, Olivaldi Azevedo, major da Polícia Militar de São Paulo, alçado ao posto pelo ministro Salles.

     

     

    Diretor de Proteção Ambiental do Ibama, Major Olivaldi.
    Reprodução Instituto Brasileiro de Segurança Pública.

     

    O major foi alvo de um dos discursos mais inflamados e aplaudidos da tarde, feito por Nelci Rodrigues, a presidente da Associação de Produtores Rurais Vale do Garça. Nelci começou pedindo desculpas por não saber fazer “discurso bonito” e foi direto ao assunto. Sua associação fica na região da influência do trecho da rodovia BR-163 que corta 11 municípios do estado do Pará onde, em 2006, o governo federal criou um mosaico de áreas protegidas com o objetivo de fazer um plano de desenvolvimento sustentável para a região e mitigar o impacto do futuro asfaltamento da rodovia, ainda não realizado.

    As UCs foram criadas sobre pequenas e grandes posses rurais já existentes – muitas delas estimuladas pelo próprio governo – e até hoje a regularização fundiária não foi efetivada a contento. Com sotaque sulista, Nelci conta que foi à Amazônia ainda criança acompanhando seu pai, que havia sido estimulado pela propaganda dos governos militares que rezava o lema “integrar para não entregar”. E prosseguiu: “A BR-163 vive um conflito de guerra. O Brasil tem que ter memória. Eu me lembro perfeitamente quando meu pai dizia que o militarismo só era ruim pra vagabundo: ‘Então vocês podem ir para o Pará e tenham certeza que vocês vão melhorar de vida’. E sabe o que aconteceu? Nós pioramos”, relatou. “Vivo no Pará há mais de 30 anos, tenho cinco filhos, criei todos e eles são formados, hoje, graças a uma posse e eu sou produtora rural. Em 2006, foi criado um mosaico de Unidades de Conservação atingindo o meu Pará. Aí eu lhe digo: os xiitas do Ibama, as ‘mundiça’ do ICMBio, o câncer do ICMBio no país tomam a casa de uma mãe de família e fala o seguinte: ‘Você tem que sair dessa casa, porque essa casa vai virar casa do macaco’. Tinha um general que abriu a BR-163 e o chamamento era unânime: ‘Venham integrar para não entregar’. Agora, se não deram título da terra, se não fizeram nada, não é culpa nossa”, protestou. “Eles nos invadiram. A regra do jogo muda e a gente fica sem saber. E somos tachados de grileiros. Se um audacioso xiita repetir um trem desse… Eu não tenho tamanho, mas coragem Deus me deu”, bradou, sendo ovacionada por aplausos.

    Muitos fazendeiros falaram no estímulo dado à chamada colonização dos rincões do Pará pelos governos militares e demonstraram ressentimento com as questões ambientais trazidas na democracia. A lei ambiental da época permitia que as posses e propriedades rurais desmatassem 50% da área das fazendas. A aprovação do Código Florestal, em 2012, determinou em 20% a superfície passível de desmatamento para a produção no bioma amazônico. Alguns produtores se manifestaram até mesmo pedindo a volta dos parâmetros de desmatamento da ditadura. Coube a Nabhan Garcia novamente acalmar os ânimos e dizer que não cabia ao governo alterar o código na canetada, mas deixar claro que seria possível uma articulação no Congresso para mudar as leis ambientais.

    Ao fim de sua fala, Nelci Rodrigues vocalizou outro pensamento comum entre os produtores rurais: a argumentação de que as leis ambientais os empurravam para a ilegalidade. Protestou contra o fato de a Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas), órgão do governo estadual paraense, não validar o Cadastro Ambiental Rural (CAR) em fazendas situadas em UCs, o que é proibido por lei. “Tem 300 mil cabeças de gado nas Unidades de Conservação. A gente não pode vender porque não tem o CAR. Aí eu não posso vender porque o frigorífico é multado ao comprar. Obrigam nós a ser ilegal. Obrigam nós a tirar nosso gado e levar pra um arrendamento que é legalizado pra só assim nós podermos vender”, afirmou Nelci. “Desfaça tudo essas reservas que a maldita Marina Silva fez”, exigiu, referindo-se à ex-ministra do Meio Ambiente, que estava à frente do Ministério do Meio Ambiente quando da criação das UCs.

    Quando subiu ao púlpito, o major Olivaldi estava nitidamente nervoso. Antes de começar a falar, alguém da plateia disse que queria ver acabar logo o ICMBio. Quando disse que era o novo diretor de proteção ambiental do Ibama, veio outro comentário da plateia: “Não fala esse nome [Ibama]. Vamos mudar o nome”. Olivaldi tentou brincar para quebrar o gelo. “Me sinto um pouco apedrejado aqui. Serei outros dias por conta do que foi construído lá atrás entre quem produz e o órgão de fiscalização ambiental”, começou. A plateia não deu descanso. “Vai trabalhar na cidade e abandona as fazendas. Não tem problema ambiental em fazenda nenhuma. Então nos abandone. Vocês não são bem-vindos”, afirmou um fazendeiro. “Não façam nada durante 60 dias. Só fecha”, disse outra voz.

    Olivaldi pediu calma. Quando conseguiu falar, o major agradou aos ruralistas. “Vamos fazer um mutirão para desembargar áreas passíveis de desembargar. Isso é promessa do governo Bolsonaro, do ministro Ricardo Salles. Estamos revendo esses embargos”, afirmou. “Tentaremos reverter o máximo daquilo que está prejudicando. Não é promessa. Isso nós vamos fazer. Mas eu peço tempo. Não se esqueçam que muito do que foi dito aqui [nas reivindicações], é preciso mudar porcaria de lei. Eu sou funcionário público. Eu vou preso… Alguém criou aquele monte de Unidade de Conservação; se tá certo ou errado, eu não vou entrar na discussão.” “Revoga!”, uma voz gritou. “Mas não sou eu que revogo. Aquilo é criado mediante lei. Tenham paciência e vamos mudar o que precisa ser mudado. Todo mundo aqui é inteligente pra entender que fazer o que ele disse: ‘Ah, não faça nada agora’. Eu vou preso. Existe Ministério Público, juiz, Judiciário, um monte de coisa cobrando a gente”, disse Olivaldi. Ele deixou o auditório na sequência.

     

    Senador Zequinha Marinho (PSC), Foto Agencia Senado.

    Senador compara atuação de órgãos ambientais ao Estado Islâmico

    O discurso de ataque aos órgãos de fiscalização ambiental ganhou respaldo também entre os parlamentares presentes ao encontro. Nos dois discursos que fizeram, o deputado federal Delegado Éder Mauro (PSD), coordenador da bancada paraense na Câmara, e o senador Zequinha Marinho (PSC) formaram fileiras com os fazendeiros nos ataques ao Ibama e ao ICMBio.

    “Estamos assistindo às piores arbitrariedades que um governo pode cometer contra os seus cidadãos. Cidadão que produz, que paga imposto”, disse Marinho, referindo-se às autuações e operações dos órgãos socioambientais. “Se o senhor tiver tempo pra ouvir alguém da região da BR-163… É uma coisa do outro mundo. É pior do que o Estado Islâmico na Síria”, qualificou. “A gente não queria continuar sendo tratado como inimigo deste país. É fundamental pacificar a questão ambiental. Produtor precisa ter mais liberdade pra produzir. O produtor do Pará é visto como um marginal. Nós somos invadidos pelo governo federal lá no Pará, que não quer diálogo, não quer conversar. Quer botar fogo em máquinas, quer prender cidadão, arrebentar com tudo, quer matar tudo”, discursou Marinho.

    O deputado Éder Mauro partiu para uma acusação mais direta. “O Ibama no estado do Pará… Eu ainda esta semana já deixei documentações na Casa Civil mostrando que hoje o Ibama ainda é dirigido por uma petista que persegue nossos produtores, os homens que produzem no estado do Pará. Vai mudar, meu amigo. Confie. A bancada do estado do Pará vai estar junto do ministro Onyx pedindo a mudança de todos que estão no estado do Pará. Da Sudam [Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia] até lá embaixo, seja que órgão for. A gente quer andar pra frente e eu acredito no presidente Bolsonaro e nesses homens que ele colocou aqui em Brasília. O Pará precisa crescer! Vocês não vão sair daqui sem a esperança de que o estado vai mudar!”, disse. Mauro não deixou claro se a “petista” a que se referiu era a superintendente do Ibama no Pará, Clívia Bezerra Araújo. Os fazendeiros que estavam na plateia, consultados pela reportagem, disseram que sim. Mauro saiu antes de o evento acabar, mas aproveitou seu tempo para defender os responsáveis pela segunda maior chacina do campo brasileiro nos últimos 20 anos, o Massacre de Pau d’Arco, que deixou dez trabalhadores mortos. “Naquela ocasião, quando a polícia esteve em Pau d’Arco pra defender o Estado, pra defender o proprietário, pra tirar os invasores da terra, matou todos na resistência e os policiais viraram bandidos”, disse.

     

    O deputado Delegado Éder Mauro (PSD – PA) – Agência Câmara

    Nosso patrão, Bolsonaro

    “Tudo o que foi relatado aqui, nós tínhamos em governos anteriores. Agora nós temos um governo presente, que começou há praticamente 90 dias. Estamos sob o comando da autoridade maior, aquele que foi eleito pela maioria do povo brasileiro. Se chama presidente Jair Messias Bolsonaro. Ele é o nosso patrão”, afirmou Nabhan Garcia. Em quase todas as ocasiões, ele, o grande anfitrião do encontro no Mapa, procurou acalmar os ânimos e prometer a tal nova era bolsonarista. “Eu conheci o então deputado Bolsonaro em 1994. Ele sempre foi em primeiro lugar um aliado. Todas as vezes que o setor produtivo precisou de ajuda, esse homem que não tem um palmo de terra, não era da profissão dele, sempre esteve do nosso lado”, garantiu Nabhan Garcia. A maioria da plateia pareceu confiante nas palavras, mas alguma impaciência pairava no ar. Nabhan Garcia voltou à carga: “Não queiram que o governo que assumiu há 90 dias conserte o que houve de errado em 34 anos em 90 ou 100 dias. Nós temos alguns cânceres aqui que não podem continuar mais fazendo o que fazem. Ele precisa do apoio da população pra fazer mudar. Ninguém legisla ou governa sozinho”, falou em um tom mais exaltado. O marco de 34 anos remonta ao término da ditadura.

    Um dia depois da reunião entre Nabhan Garcia e os fazendeiros do Pará, o presidente Bolsonaro assinou um decreto para converter multas ambientais em áreas de recuperação. No último dia 14, o presidente pessoalmente desautorizou uma operação do Ibama em Rondônia enquanto ela estava em curso. A operação visava combater a extração ilegal de madeira. “Ontem, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, veio falar comigo com essa informação [sobre a operação]. Ele já mandou abrir um processo administrativo para a apurar o responsável disso aí. Não é para queimar nada, maquinário, trator, seja o que for, não é esse procedimento, não é essa a nossa orientação”, afirmou o presidente em um vídeo que circulou nas redes sociais. Após o ministro Ricardo Salles ter ameaçado investigar agentes do ICMBio, o presidente do órgão, Adalberto Eberhard, pediu demissão no último dia 16 – seria substituído dois dias depois pelo coronel da Polícia Militar Ambiental do Estado de São Paulo, Homero de Giorge Cerqueira. Servidores ambientais divulgaram um dia depois uma carta acusando o ministro Salles de destruir a política ambiental federal. Em uma live no último dia 17, Bolsonaro ameaçou demitir a diretoria da Funai e criticou a legislação ambiental vigente.

    Ao menos no meio ambiente, a nova era deu passos largos desde a reunião no Mapa.

    Publicado originalmente: https://apublica.org/2019/04/desfaca-tudo-essas-reservas-diz-produtora-a-secretario-em-reuniao-de-fazendeiros-do-para-com-governo-federal/?fbclid=IwAR2_5tQv6dF4EKi9jJHDuV_ny4-EdPyrngKLOP4uyguSfQh2DOCKsx-qn-8 

  • Facebook retira do ar textos de roteirista que satiriza Bolsonaro

    Facebook retira do ar textos de roteirista que satiriza Bolsonaro

    O escritor, cineasta e roteirista José Roberto Torero teve hoje (29) o terceiro texto excluido da sua página pessoal na rede do Facebook. As crônicas fazem parte da série @DiariodoBolso publicada com frequência pelo autor e fazem uma sátira do dia-a-dia do presidente Bolsonaro.

    Para banir as publicações, o Facebook alega violação dos “padrões da comunidade”. Torero considera a justificativa burocrática. “Os três (textos) têm a palavra “viado”. Pode ser a desculpa deles. Mas o personagem é francamente homofóbico. A palavra faz parte do vocabulário dele”, explica. Segundo o escritor na terceira exclusão não lhe foi dada a chance argumentar em defesa da postagem.

    Segundo especialistas em redes sociais ouvidos pelos Jornalistas Livres, o Facebook só apaga conteúdos após ser provocado por alguma denuncia de usuários. Torero diz que os ataques de fãs do Bolsonaro já eram esperados, mas que se surpreendeu que o Facebook tenha aceitado tantas denuncias.

    José Roberto Torero é autor de livros, como “O Chalaça”, vencedor do Prêmio Jabuti de 1995. Além disso, escreveu roteiros para cinema e tevê, como em Retrato Falado para Rede Globo do Brasil. Também foi colunista de Esportes da Folha de S. Paulo entre 1998 e 2012.

    Para garantir a livre circulação do  “Diário do Bolso” de Torero, os Jornalistas Livres passarão a partir de hoje publicar regularmente as crônicas no site da rede.

     

    Leia aqui os textos apagados pelo Facebook

    Texto 1

    Caro Diário, não morri.

    A operação foi um sucesso. Meu intestino já está costurado. Só espero que a emenda não estoure, senão vou ficar que nem Brumadinho, rarrarrá!

    Pô, esse desastre vai ser ótimo para o pessoal me esquecer um pouco. Nada como um mar de lama para encobrir outro. E ficar no hospital também vai ajudar. Por mim eu passava quatro anos aqui, sem dar entrevista nem fazer reunião. Mas vão ser só uns dez dias. Que pena…

    O chato é que os militares me encheram o saco e eu tive que passar o cargo para o Mourão. Meu medo é que ele pegue gosto pela coisa.

    Modéstia à parte, achei que foi uma boa sacada pedir ajuda do Benjamim Nataniel. Mas já tem pentelho dizendo que eu não quis médico cubano mas aceitei soldado israelense. É difícil agradar os esquerdopatas.

    Eles estão escrevendo os maiores absurdos na internet. Dizem que eu devia prender o presidente da Vale e que eu devia reestatizar a empresa. Uns loucos! Todo mundo sabe que a Vale nem paga multa. Só no Espírito Santo são umas vinte. E como é que eu vou ser contra mineradora? A Flapa, por exemplo, praticamente obrigou que seus empregados votassem em mim, porque colocou no seu mural que se eu não fosse eleito a empresa fechava. São gente boa, pô.

    A saída vai ser pegar um pato qualquer, tipo o auditor que disse que estava tudo ok. Ou então aquele secretário do meio ambiente de Minas Gerais, o tal do Germano Vieira. Se bem que ele deve ser amigo das mineradoras, porque entrou na gestão do petê e continuou com o Zema.

    Bom, o que a gente tem que fazer é mostrar pros cidadões (eu falava cidadãos, mas o cara do Enem me explicou o certo) que estamos fazendo uma “colheita de provas” (essa foi o Moro que me ensinou) para apurar o que aconteceu com a bagagem de dejeitos.

    Aí, quem sabe?, os vermelhos da internet se acalmam um pouco. Se bem que eles não tem dó de ninguém. Vi gente postando que a minha cirurgia era de alto risco porque separar gêmeos siameses é sempre perigoso.

    Eu devia ter um saquinho de plástico só para esses chatos encherem. Em vez de bolsa de colostomia ia ser bolsa de comunistomia, rarrarrá!

    Bom, Diário, agora eu vou ler um pouquinho. Eu não gosto muito de livro, que ler é coisa de viado, mas este parece bom. O nome é “Memórias de um sargento de milícias”. Deve ter um monte de tiroteio.

    Até amanhã.

    Texto 2

    Diário, que dia…

    Esse negócio de discurso não é comigo. O meu foi escrito durante o voo. Eu tinha 45 minutos para falar. Mas meu estilo é mais tuíter. Então rabisquei um negócio que dizia assim: “In my govern go to be all diferent, is ok?”. Bem resumidinho e já estava até em inglês.

    Mas o pessoal que estava no avião disse que era curto demais. Aí cada um deu uma mexida. Quando o Moro mexeu pôs o nome dele, quando o Ernesto mexeu pôs o nome dele e quando o Paulo Guedes mexeu pôs o nome dele. Ficou um negócio meio puxa-saco, mas pelo menos ficou mais comprido. Deu quase sete minutos. Meu recorde!

    Na internet falaram que eu parecia um robô, sem nenhuma emoção. Mas emoção é coisa de viado.

    Depois almocei num restaurante bem fubeca. Acho que pega bem se fazer de pobre. Mas por pouco não tomei um suco de laranja. Sorte que lembrei que o pessoal podia fazer piada e troquei por um refrigerante.

    Falando em laranja, estão dizendo que vai ter um boneco “Inflávio” na Paulista. E já estão chamando a gente de Família Embolsonaro, Bolsotralhas e outras porcarias. A maldade das pessoas não tem limite.

    Olha, Diário, acho que até que eu não me saí mal na minha primeira viagem internacional. Opa! Primeira, não, que eu levei os garotos pra Disney. E lá foi um inferno, porque os três corriam o tempo todo brincando de milícia, polícia e ladrão.

    Falando em milícia, parece que o negócio. Agora vai feder. E esse ano nem no carnaval vai dar para esquecer do assunto, porque tem aquele samba da Mangueira que fala da Marielle. Tem gente que nem morta morre!

     

    No ano que vem tem que acabar com isso aí. Em vez de escolas de samba, as igrejas evangélicas é que deviam fazer desfiles. Tudo sobre a Bíblia. Gostei dessa ideia! Vou ligar para o Crivella!

    Ou não.

    Porque estou começando a desconfiar que no ano que vem posso não ser mais presidente. Vi agora a edição de ontem do Jornal Nacional. Os caras detonaram o Flávio e logo depois fizeram uma matéria toda simpaticona sobre o Mourão. Como se ele fosse um estadista.

    Que isso tá com cara de golpe, tá.

    A maldade das pessoas não tem limite.

    Texto 3 

    Porra, Diário, eu vou ter que começar a te chamar de Madrugário, porque eu não escrevo mais de dia, só escrevo de madrugada. Que insônia do cacete!

    Também, como é que dá para dormir com um barulho desses? A Janaína falou contra o foro privilegiado, a Regina Duarte quer saber quem é quem em Brasília e até o Olavo xingou o PSL (que já está sendo chamado de Partido do Suco de Laranja).

    Mas o pior é que o Mourão já está mostrando as garras. Ele falou na cara dura contra o Ernesto Araújo, está se encontrando com uns líderes estrangeiros e ainda recebeu elogio de índio. Será que o Mourão vai ser o meu Temer? Bem que me disseram que general não gosta de ser mandado por capitão. Aquele dia que eu cheguei no gabinete e ele estava sentado na minha cadeira foi bem estranho. Na hora até acreditei quando o Mourão disse que só estava deixando a cadeira quentinha por causa da minha hemorroida, mas não sei não…

    O que eu sei é que está foda. Liberei as armas e eu que estou no meio do tiroteio!

    Daqui a pouco vão começar a perguntar com quem que o Flávio aprendeu a fazer a Rachadinha. E vão dizer que foi comigo. E se começam a fuçar as minhas contas, a do Eduardo e a do Carlinhos?

    Mas quem é que não faz essas tretas? O Onyx não pegou a verba de gabinete com aquelas notas frias? Eu não embolsei os 33 mil da verba de mudança e continuei em Brasília? Isso prova que a gente é honesto, pô. Neste bolso não entra dinheiro da Petrobrás!

    O negócio é saber o que eu faço agora. Mando o garoto manter a história até o fim? Mas o que a gente pode inventar? Que ele vendeu uma frota de Brasília 75 e todas custavam dois mil reais?

    Ou será que eu tenho que sacrificar o meu próprio filho, feito o Abraão (ou foi o Moisés?)?

    Olha, Diário, não é fácil ser pai. Um foi pego na Rachadinha, outro tem pinto pequeno e chamam o terceiro de viado.

    Eu devia ter feito aquela vasectomia.

    @DiariodoBolso

  • Chanceler de Bolsonaro comemora abertura de mercado para transporte de bovinos vivos

    Chanceler de Bolsonaro comemora abertura de mercado para transporte de bovinos vivos

    O Chanceler do governo Bolsonaro, Ernesto Araújo, comemorou em sua conta pessoal no Twitter a abertura do mercado de exportação de bovinos para a Malásia. O anúncio oficial foi feito através de nota conjunta do Ministério das Relações Exteriores e do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.

    Segundo o governo brasileiro, “a decisão reforça a posição do Brasil como um dos líderes mundiais na exportação de proteína animal e representa um passo importante para o aprofundamento das relações comerciais com a Malásia”. O país asiático tem mais de 30 milhões de habitantes e importa cerca de 80% da carne bovina que consome.

    Ao celebrar o acordo na rede social, Ernesto Araújo esqueceu apenas de mencionar que o trato é  para exportação de animais vivos.

    Durante todo o ano passado a polêmica sobre o transporte de animais vivos para o abate foi tema de acaloradas discussões na Camara Municipal de Santos, onde uma Lei proibindo o transporte de carga viva foi aprovado, na Assembleia Legislativa de São Paulo, onde tramita um projeto do deputado Marcos Feliciano, e até no STF.

    A venda de animais vivos por frigoríficos brasileiros ganhou destaque na opinião pública em fevereiro de 2018, quando organizações não governamentais tiveram vitorias judiciais que impediram que um navio carregado com 25 mil animais no porto de Santos seguisse viagem à Turquia. Após muita confusão os interessados em venda de carne ganharam a disputa depois de um recurso do governo Federal.

    Em outubro, por unanimidade, o Supremo Tribunal Federal (STF) confirmou uma decisão individual do ministro Edson Fachin que suspendeu a lei municipal de Santos que proibia o tráfego de veículos de transporte de carga viva pelas ruas da cidade.

    Já na Alesp, o tema foi motivo de muita gritaria pelos corredores do Palácio Nove de Julho. O projeto que proíbe o embarque de animais vivos no transporte marítimo e/ou fluvial, com a finalidade de abate para o consumo em todo o estado, de autoria do deputado Feliciano Filho (PRP), foi aprovado no congresso de Comissões em julho apesar da oposição furiosa de um dos manda-chuvas da casa, Barros Munhoz (PSB). Mesmo estando pronto para a ordem do dia o projeto não voltou mais a ser discutido no plenário da Casa.

    As exportações de gado vivo se tornaram uma possibilidade atrativa para a pecuária porque gera até 25% a mais do que no mercado interno. Segundo o Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços o país encerrou 2017 exportando 400,66 milhões de cabeças vivas, o que significou mais de 40% do total registrado em 2016.

    Segundo entidades de defensa dos animais, a perda de vida em traslados longos gira em torno de 10%.

  • Para jurista, mandados contra advogado de Bispo são perigo para democracia

    Para jurista, mandados contra advogado de Bispo são perigo para democracia

    A Polícia Federal em Minas Gerais cumpriu hoje (21), dois mandados de busca e apreensão em locais ligados ao advogado Zanone Manuel de Oliveira Júnior, responsável pela defesa de Adélio Bispo – o homem que teria confessado esfaquear Jair Bolsonaro (PSL), durante um ato de campanha no primeiro turno das eleições deste ano. As informações da operação são do site G1.

    Para o jurista Pedro Serrano, professor de Direito Constitucional da PUC-SP, a ação, as vésperas de Bolsonaro tomar posse como presidente da Republica, é uma “temeridade para o direito de defesa, para o exercício da advocacia e sintoma de grave patologia em nossa democracia“.

    Ouvido pelos Jornalistas Livres, Serrano disse estar preocupado com o precedente aberto com o caso. “Pelo que consta do noticiário trata-se de investigar diretamente o exercício profissional com base em suposições imaginarias, sem sequer nenhuma indicação clara de conduta que possa ser imputada como crime“.

    A tentava de ligar o financiamento da defesa de Bispo com o crime ocorrido em 6 de setembro, em Juiz de Fora, MG, é clara. Segundo declarações feitas ao G1, o delegado Rodrigo Morais, que coordena as investigações da PF, afirmou que o objetivo da operação  é tentar identificar quem estaria financiando a defesa do autor do atentado.

     

  • Familiares de mortos e desaparecidos divulgam Carta de Brasília

    Familiares de mortos e desaparecidos divulgam Carta de Brasília

    Após encontro histórico que durou dois dias em Brasília, familiares de 72 pessoas mortas e desaparecidas políticas, reunidos com membros e colaboradores da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP) divulgaram uma carta pública  em que reiteram seus compromissos com a luta por verdade e justiça.
    Durante o evento, os participantes manifestaram preocupação com a continuidade dos trabalhos  e os avanços conquistados pela Comissão desde que foi criada, ainda no governo Fernando Henrique, em 1995.
    O encontro que reuniu mais de 130 familiares, foi promovido pelo CEMDP com o apoio  parceria do Ministério dos Direitos Humanos (MDH), a Prefeitura de São Paulo, a Procuradoria dos Direitos do Cidadão (PFDC) e a Escola Superior do Ministério Público da União (ESMPU).
    Entre as atividades que aconteceram nos últimos dias 3 e 4, o Grupo de Trabalho do Cemitério de Perus informou em primeira mão a identificação do corpo do bancário Aluízio Palhano Pedreira Ferreira assassinado pela Ditadura entre as mais de mil ossadas encontradas na vala clandestina descoberta na cidade de São Paulo.
    Palhano era sindicalista e militante da Vanguarda Popular Revolucionária e estava desaparecido desde 1971. (Leia mais aqui: https://jornalistaslivres.org/bancario-assassinado-na-ditadura-e-identificado-na-vala-de-perus/ )
                                          CARTA DE BRASÍLIA
    Nós, familiares de pessoas mortas e desaparecidas vítimas da
    repressão política da ditadura militar brasileira (1964/1985), presentes
    no I Encontro Nacional de Familiares promovido em Brasília – DF, pela
    Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP)
    instituída pela Lei 9.140/95, reunidos com membros e colaboradores/as
    dessa Comissão, nos dias 03 e 04 de dezembro de 2018, vimos a público:
    – REITERAR o nosso direito inalienável de conhecer as circunstâncias de
    desaparecimento e morte de nossos entes queridos e de receber os restos
    mortais que ainda não foram localizados para sepultamento digno;
    – REIVINDICAR a efetiva implementação das 29 (vinte e nove)
    recomendações do Relatório Final da Comissão Nacional da Verdade,
    publicado em 10 de dezembro de 2014;
    – REAFIRMAR a necessidade de preservação de todos os arquivos
    relativos ao período da ditadura militar, bem como a reconstituição de
    autos e de procedimentos eventualmente destruídos ou, de qualquer
    modo, extraviados;
    – DEMANDAR políticas públicas de implementação e manutenção de
    espaços e marcos de memória relativos às ações de repressão da ditadura
    militar e de resistência à violência e ao arbítrio daquele período;
    – DEFENDER, de maneira intransigente, a continuidade dos trabalhos
    em termos plenos e a autonomia da Comissão Especial sobre Mortos e
    Desaparecidos Políticos;
    – REQUERER a realização anual, a partir de 2019, de encontros nacionais
    de familiares nos moldes do presente evento.
    Nesses termos, reafirmamos o compromisso com a luta de nossos
    antepassados pela defesa da justiça social, da liberdade e da democracia.
    Brasília, 4 de dezembro de 2018.