Jornalistas Livres

Autor: Caio Santos

  • PARLAMENTARES BRITÂNICOS CONDENAM O IMPEACHMENT

    PARLAMENTARES BRITÂNICOS CONDENAM O IMPEACHMENT

    Nesta sexta, 26 de  Agosto, o jornal britânico The Guardian publicou uma carta assinada por 20 parlamentares do Reino Unido que condenam o golpe no Brasil. Assinada por 16 políticos do Partido Trabalhista, 3 do Partido Nacional Escocês e um do Plaid Cymru, o documento é um curto texto em que legisladores da Inglaterra, Escócia e País de Gales repudiam o golpe e declaram apoio aos diversos movimentos sociais que tem lutado pela democracia.

    A baixo, a carta transcrita e traduzida para o português.

    Suspensão de Dilma Rouseff é um insulto para a democracia no Brasil

    Nós condenamos a suspensão da Presidenta Dilma Rousseff no Brasil. É por meio de uma injustiça que poucos parlamentares pisam sobre o desejo político expresso nas  urnas por  54 milhões de brasileiros.  O novo governo mostrou suas verdadeiras cores ao apontar uma equipe ministerial não representativa e toda masculina e ao lançar políticas neoliberais  que  ferirão milhões das classes trabalhadoras e mais pobres. O governo interino não possuí mandato para implementar políticas que revertem os programas sociais que retiraram 40 milhões de pessoas da pobreza. Nós nos juntamos com  os politicamente progressivos e movimentos sociais do Brasil, e grupos da sociedade civil mundial, incluindo o movimento sindical, para condenar esta tentativa de derrubar a democracia no Brasil.

    Richard Burgon MP (Trabalhista)
    Ruth Cadbury MP (Trabalhista)
    Jim Cunningham MP (Trabalhista)
    Andrew Gwynne MP (Trabalhista)
    Kelvin Hopkins MP (Trabalhista)
    Ian Lavery MP (Trabalhista)
    Clive Lewis MP (Trabalhista)
    Rachael Maskell MP (Trabalhista)
    Angus MacNeil MP (Partido Nacional Escocês)
    Grahame Morris MP (Trabalhista)
    John Nicolson MP (Partido Nacional Escocês)
    Liz Saville Roberts MP (Plaid Cymru, Partido do País de Gales)
    Tommy Sheppard MP (Partido Nacional Escocês)
    Lord Jeremy Beecham (Trabalhista)
    Lord Martin John O’Neill (Trabalhista)
    Jenny Rathbone AM (Trabalhista)
    Claudia Beamish MSP (Trabalhista)
    Neil Findlay MSP (Trabalhista)
    Iain Gray MSP (Trabalhista)
    Elaine Smith MSP (Trabalhista)

     

     

    MP: Membro do Parlamento

    AM: Membro da Assembleia Nacional do País de Gales

    MSP: Membro do Parlamento Escocês

     

  • Intervenção Artística reflete sobre mortes por LGBTfobia

    Intervenção Artística reflete sobre mortes por LGBTfobia

    Em 2015, 319 pessoas foram mortas fruto de homotransfobia no Brasil. Isto significa uma morte cada 26 horas, segundo os dados do Grupo Gay da Bahia. Proporcionalmente, os alvos principais destes crimes são as travestis e transsexuais: o risco de uma “trans” ser assassinada é 14 vezes maior que um gay. Apesar da lgbtfobia existir em todo o mundo, a situação brasileira é particularmente alarmante. O último relatório da agência internacional Transgender Europe mostra que 40% dos homicídios a pessoas trans ocorrem no Brasil.

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    Apesar dos números serem praticamente inquestionáveis, ainda há quem não reconheça a gravidade da conjuntura. Respondendo a esta atenção, o grupo paulistano Coletive Friccional pensou na intervenção Contar os Corpos e Sorrir?, já performada em diferentes cidades do Brasil, como São Paulo e Belo Horizonte. Neste sábado, 16 de Julho, foi a vez da capital mineira, na véspera de sua Parada LGBT. “O objetivo da ação é tentar fazer que essa informação (mortes por lgbtfobia) deixe de ser estatística, é dar materialidade a esses corpos” explica Kako Arancibia, idealizador da performance. “Mostramos esses corpos no chão, no meio da praça pública, para que esses dados atinjam as pessoas de forma mais efetiva e concreta, para não deixar que os assassinatos sejam apenas mais um número.”

    Homens de capuz preto, que se aproximam de passantes na rua e os põe dentro de um saco plástico. Cada pessoa ensacada é carregada e enfileirada na calçada. Ao fundo, é reproduzida uma gravação com discursos e falas que incentivam ou perpetuam a lgbtfobia já presente em nossa cultura. No domingo passado, 10 de Julho, a ação foi feita na Avenida Paulista, especificamente em homenagem a um mês do Massacre  de Orlando, nos Estados Unidos (EUA).

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    Hoje, o ato foi produzido do Grupo Teatral Leela e faz parte de uma série de eventos que antecedem a Parada LGBT de Belo Horizonte. A capital mineira fará amanhã, 17 de Julho, a sua décima nona parada, considerada a segunda maior do Brasil. Os organizadores preveem que 50 mil pessoas vão participar. A aglomeração está marcada a partir do meio-dia, na Praça da Estação, no centro da cidade. A marcha deve sair por volta das 16hrs e vários artistas irão se apresentar  durante o evento.

    _MG_0498LGBTFOBIA NO MUNDO

    Na madrugada de 12 de Junho de 2106, Omar Mateen, segurança nascido e criado nos EUA, atacou a boate LGBT Pulse, em Orlando, Flórida, resultando em 49 mortos e 53 feridos, o pior massacre na história do país.

    Um profundo impacto contra a comunidade LGBT internacional, o maior crime homofóbico ocorreu menos de um ano depois de todos os cidadãos estadounidenses conquistarem o direito ao casamento, indepedente de serem hetero ou homossexuais. A tragédia serviu como uma lembrança amarga que o ódio ao amor ainda reina no mundo, apesar de avanços recentes.

    No ano 2016, 73 países no mundo ainda criminalizam a homossexualidade; destes, 13 recebem pena capital.

  • TEATRO: “Eu não quero viver em uma ditadura”, Caio Fernando Abreu

    TEATRO: “Eu não quero viver em uma ditadura”, Caio Fernando Abreu

    Por Caio Santos, especial para os Jornalistas Livres

    Quando disse a um amigo que ia ao teatro assistir a uma peça em homenagem ao Caio Fernando Abreu, ele ironizou:  “Para que uma peça em homenagem a ele?  O facebook e orkut já fazem isso.”

    A sua reação é compreensível. O escritor se tornou um clichê, citações dele aparecem recorrentemente em diferentes perfis das redes sociais: “Não doí mais. Mas dá saudade.” “Tudo que você precisa está na sua alma e em seu coração” “O tempo tem uma forma maravilhosa de nos mostrar o que realmente importa”. Essas e outras frases de efeito motivacionais são recortadas de seus textos e viralizadas na internet. Isto, em parte, fez com que sua obra fosse popularizada. No entanto, também se banaliza. Quantas destes compartilhadores conhecem sobre a vida do autor? E quantos de fato leram os contos originais?

    “Caio era um escritor muito marginal, era gay assumido, uma figura underground, libertária, relacionada às drogas e ao sexo. Ficou conhecido no meio por representar a voz de uma geração dos anos 70 e 80, dos jovens que viveram a ditadura, principalmente por uma escrita confessional e intimista, que se volta para dentro.” explica o dramaturgo Juarez Guimarães Dias. “Quando você edita três frases de um conto inteiro, empobrece as frases porque elas perdem o contexto. Então parece que são frases de autoajuda […], mas ele também estava preocupado sobre a ditadura e sobre o que estava acontecendo”.

    O espetáculo EuCaio, chegando agora na sua terceira temporada em Belo Horizonte, busca revelar este lado esquecido do autor. Com direção de Juarez Guimarães, os textos e a vida de Caio Fernando Abreu mostram uma consciência atormentada pela perseguição e pela violência política da época, manifestada em cena por um recurso próprio do teatro: o corpo.

    Imagem de Divulgação do Espetáculo Eu, Caio
    Imagem de Divulgação do Espetáculo Eu, Caio

    O ator Matheus Soriedem se contorce e se mutila, sofrendo pelos horrores da ditadura militar. Brutalizado, sua performance tem como cenário nada mais que um amontoado de carvão, marcando e realmente afetando o ator durante o espetáculo. O diretor confessou que chega a machucar  o artista, que recebeu acompanhamento médico para evitar lesões.

    Apesar da voz atormertada e do corpo martirizado, o mais assustador do espetáculo é sua atualidade. A cada temporada, seu texto é revisto, acrescentando referências a fatos recentes, porém condizentes com o clima de terror e opressão dos Anos de Chumbo. Os tiros disparados na Marcha das Mulheres Negras em Brasília, as mortes de trabalhadores do MST no Paraná e, em Minas Gerais, a liminar que proibia estudantes de discutirem o impeachment são alguns exemplos mencionados, todos que aconteceram nos últimos meses. EuCaio é uma peça documentário sobre a aflição de um tempo tragicamente próximo, o que torna esta citação de Caio Fernando Abreu, pouco compartilhada, tão adequada aos dias de hoje: “Eu não quero viver em uma ditadura”.

    EuCaio está em cartaz no Teatro Marília, de  10 a 19  de Junho de 2016, de sexta-feira a domingo, sempre às 20:00. A entrada é R$20,00 (meia R$10,00). Mais informações (31) 3277-6319.

  • JUÍZA PROÍBE ESTUDANTES DE DIREITO DA UFMG DE DEBATEREM O IMPEACHMENT

    JUÍZA PROÍBE ESTUDANTES DE DIREITO DA UFMG DE DEBATEREM O IMPEACHMENT

    A “excelentíssima” senhora Moema Miranda Gonçalves, juíza da 9ª Vara Cível de Belo Horizonte, deferiu ontem, 29 de Abril, uma liminar que impede que estudantes da Faculdade de Direito da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) se reúnam para discutir o Impeachment da presidenta Dilma Rousseff ou qualquer assunto relacionado. O Centro Acadêmico Afonso Pena (CAAP), órgão que representa os discentes, foi intimado a pagar R$500,00 por dia, caso descumprisse a decisão. A liminar, de caráter de urgência, interrompeu uma reunião prevista para as quatro da tarde do mesmo dia e que pretendia apenas avaliar o posicionamento político da comunidade estudantil da faculdade e discutir “possíveis desdobramentos e medidas a serem tomadas”. Além disso, o CAAP está proibido de convocar outra assembleia para debater o impedimento da presidenta ou qualquer assunto relacionado.

    “Por volta das cinco horas da tarde, a reunião ainda não tinha começado efetivamente quando chegou um oficial de justiça, entregando a ordem de ‘uma obrigação de não fazer’. Em respeito aos próprios alunos que estavam presentes, decidimos cancelar a assembleia e fazer outra reunião só para deliberar sobre a própria liminar que proibia debatermos o processo de impeachment”, conta Gustavo Ribeiro, estudante de direito na UFMG e Primeiro Secretário do CAAP. O órgão estudantil já se encontrou com sua assessoria jurídica e avisou que vai recorrer a decisão.

    Assembleia estudantil interrompida pela liminar
    Assembleia estudantil do CAAP proibida por decisão de Juíza
    Assembleia estudantil interrompida pela liminar
    Assembleia estudantil do CAAP interrompida por liminar

    Os autores do pedido de urgência são dois alunos da mesma faculdade, Túlio Antunes Campos e Maria Clara Barros. Segundo o texto, eles acusam a atual gestão do CAAP de servir como “aparelhamento partidário”, não exercendo suas atribuições dedicadas a apenas representar os alunos e aprimorar o ensino de direito, além de outras alegações, como ser conivente com a presença de moradores de rua no prédio da faculdade e organizar um “movimento grevista” que prejudicaria as aulas. A juíza Gonçalves aderiu a esses argumentos, defendendo que a função do CAAP é apenas “aprimorar a formação universitária”.

    Pedido de Urgência que proíbe realização de reuniões
    Pedido de Urgência que proíbe realização de reuniões estudantis

    “O que é a luta pela qualidade de ensino jurídico? Ela passa pela discussão de grandes questões nacionais. A final de contas, quando estamos falando de impeachment estamos falando de um processo central no sistema legislativo brasileiro”, analisa o professor da faculdade e especialista em direito constitucional, Marcelo Cattoni. “Na verdade, é uma decisão anti-partidária e corporativista que acredita que o papel de estudante é discutir somente o estudo e que trata de uma maneira restrita no que diz respeito a uma suposta qualidade de ensino”.

    Os estudantes e o professor também destacam que a decisão não é apenas errada no ponto de vista jurídico, mas também representa uma ruptura com os direitos mais básicos previstos não só na Constituição, mas também na própria Declaração dos Direitos Humanos. “Ela rompe com o direito de reunião, de manifestação, de expressão e de debate. Não existe democracia sem o direito de realizar uma assembleia”, explica Marcelo Cattoni. “Essas ações por parte do poder público nos lembram de precedentes históricos da época da ditadura…”, acrescenta o professor, se referindo ao decreto-lei 477 de 1969, apelidado de AI-5 dos Estudantes, que formalizou a perseguição de professores, alunos e funcionários de universidades considerados subversivos pelo regime.

    O CAAP é a entidade estudantil mais antiga de Minas Gerais, acumulando mais de cem anos de existência e sendo uma das referências em Belo Horizonte da atuação de movimentos sociais pela história brasileira, como o Impeachment de Fernando Collor, as Diretas Já e a resistência política durante o Ditadura Militar. Sua sede foi invadida durante o Golpe de 1964 e vários de seus membros foram perseguidos e mortos, inclusive seu ex-presidente, José Carlos Novaes da Mata Machado, torturado e morto pelo DOI-CODI em 1973.

    Pedido de Urgência que proíbe realização de reuniões
    Pedido de Urgência que proíbe assembleias para discutir Impeachment ou qualquer assunto relacionado