Jornalistas Livres

Autor: Caio Santos

  • CURA GAY MATA!

    CURA GAY MATA!

    É preciso deixar bem claro o grau de irresponsabilidade do Juiz Waldemar Cláudio de Carvalho, que acatou uma liminar permitindo as infames terapias de conversão ou reversão sexual, apelidadas popularmente como “cura gay”. Segundo um levantamento de 2009, feito pela Associação Psicológica Americana (APA), quem passa pela “cura gay” tem quase 10 vezes mais chances de tentar suicídio. Esses sobreviventes também possuem uma taxa de depressão 6 vezes maior e uma tendência 3 vezes maior para o uso de drogas ilegais e de comportamento de risco para HIV e outras doenças sexualmente transmissíveis. A decisão do judiciário feita nessa sexta-feira (15/09), abre espaço para que essas práticas não científicas voltem a ser aplicadas legalmente no Brasil.

    A iniciativa parte de uma Ação Popular movida contra a Resolução 01/99 do Conselho Federal de Psicologia (CFP), que orientava a atuação de profissionais da área em questões relativas a orientação sexual. Apesar de não fazer nenhuma mudança no texto da resolução, o Juiz a suspendeu parcialmente. Agora o CFP não pode proibir psicólogos de atender pedidos de reorientação sexual, ou seja, a ação possibilita a aplicação das “cura gay”.

    Sempre é bom realçar que esses tratamentos não possuem nenhuma base científica ou técnica, sendo altamente descartadas por diversas organizações internacionais e nacionais. A Organização Mundial de Saúde (OMS) não considera a homossexualidade uma patologia e, portanto, não há cabimento para propor ou procurar qualquer tipo de terapia que converta a sexualidade. Como o CFP explica em uma nota pública, “as terapias de reversão sexual não têm resolutividade, como apontam estudos feitos pelas comunidades científicas nacional e internacional.” Obviamente, as “cura gays” estão fadadas ao fracasso, no entanto, isso não impede que elas causem prejuízos e sequelas severas aos seus pacientes.

    O relatório da American Psychological Association, explica que mesmo que o indivíduo procure por sua própria conta esses tratamentos, a falsa promessa de “curá-lo” e seu garantido insucesso podem gerar uma enorme frustração, fortalecendo os já intensos sentimentos de culpa, desesperança e ódio a si próprio. Segundo a associação estadounidense, o que mobiliza essas pessoas a buscarem tratamento não é por sua homossexualidade, mas sim pela rejeição familiar e social inspiradas pelo estigma de ser LGBTT. A pressão externa é introjetada na pessoa e radicalizada por esses pseudotratamentos, que, ao invés de incentivá-la a abraçar sua sexualidade, os mobiliza a negá-la e a repudiar a si próprio. A autorrepulsa de quem sai desses campos antigay, os leva para comportamentos de risco, depressão e tentativas de suicídio.

    Vários movimentos LGBTTs internacionais defendem que essas terapias sejam consideradas uma forma de tortura, pela violência tanto física quanto psicológica impostas aos homossexuais. Em 2012, Clínicas Privadas no Equador já foram fechadas após denuncias de abusos de direitos humanos e, em 2014, o Comitê contra Tortura das Nações Unidas já declarou que as “curas gays” são uma questão de direitos humanos e apontou preocupação pela permanência da contínua existência dessas supostas casas nos Estados Unidos.

    O Conselho Federal de Psicologia já declarou que vai recorrer a decisão liminar, bem como “lutará em todas as instâncias possíveis para a manutenção da Resolução 01/99, motivo de orgulho de defensoras e defensores dos direitos humanos no Brasil.”

     

  • Belo Horizonte: A Ocupação está de volta contra políticas higienistas

    Belo Horizonte: A Ocupação está de volta contra políticas higienistas

     

    Dezenas de coletivos autônomos de Belo Horizonte se mobilizaram para organizar um ato político e cultural nesse domingo, 27 de Agosto. A Ocupação 9 – A Rua Vive! contará com 12 horas de programação para diversos públicos, contando com atrações musicais, performances teatrais, aulas e oficinas, além de brincadeiras infantis. “Esperamos uma festa maravilhosa no domingo” disse Nathalia Orleans Barcelos, ativista do movimento Viaduto Livre e uma das colaboradoras desta edição de A Ocupação. “Temos muita gente somando, muita gente querendo fazer acontecer e buscando que algo diferente aconteça na cidade”,

     

    A Ocupação é uma forma de manifestação cultural e política que surgiu em 2013, durante a ocupação da Câmara de vereadores. “A sua primeira edição foi concretizada no dia da desocupação, sendo um momento muito simbólico para a cidade” afirma Du Pente, que ocupava independentemente a câmara na época. “Bandas e artistas parceiros compareceram e fizeram apresentações como forma de apoiar a causa” acrescenta. Desde então, houve mais sete edições, cada uma abordando suas próprias pautas, mas todas propondo e discutindo o uso do espaço público pelos cidadãos. Nesta última edição, A Ocupação terá como tema “A Rua Vive! ”, sendo organizada como resposta a uma onda de políticas de caráter higienista feitas nos últimos meses. Entre as ações contestadas pelos manifestantes, há a cessão do uso do Viaduto Santa Tereza para iniciativa privada, o Projeto de Revitalização do Hipercentro, que promete “tolerância zero” com os ambulantes, e a brutalidade da polícia no tratamento com moradores de rua.

     

    A Ocupação irá acontecer na rua Aarão Reis, entre o Viaduto Santa Tereza e a Praça da Estação, com várias atividades simultâneas ocorrendo das 10 da manhã até as 10 da noite.

     

    Para mais informações, clique aqui.

  • PMMG FAZ PRISÕES ARBITRÁRIAS CONTRA QUILOMBO CENTENÁRIO EM BH

    PMMG FAZ PRISÕES ARBITRÁRIAS CONTRA QUILOMBO CENTENÁRIO EM BH

    A Polícia Militar de Minas Gerais se expôs novamente ao ridículo, agredindo e prendendo 4 moradores do Quilombo dos Luízes, na região Oeste de Belo Horizonte, MG. Nesta segunda-feira (31/07), ao ser chamada pela própria comunidade para defender um invasor das terras quilombolas, os militares responderam trazendo o Batalhão de Choque, ameaçando prender todos os negros no local e levando quatro presos no camburão até a delegacia.

    “O delegado deu uma gargalhada na nossa cara quando dissemos que éramos quilombolas. Eu respondi que ele respeitasse nossa comunidade. Ele disse que calássemos  a boca ou ia dar voz de prisão para todo mundo.” conta Liliana Lunes, uma das representantes da comunidade que foi presa. Liliana vive há 36 anos na terra disputada, segundo ela, a PM se recusou  a ver os vários documentos que garantem a permanência dos quilombolas nas áreas em conflito.

    Liliana Lunes foi uma das moradoras da comunidade presa pela PM. Ela conta que foi ridicularizada na delegacia por ser quilombola. Fotografia por Lucas Bois/ Jornalistas Livres.

    “Ficamos sensibilizados com a comunidade e indignados com essas injustiças”, disse Frei Gilvander Luís Moreira da Comissão Pastoral da Terra de MG. “A Polícia Militar chegou aqui, prendeu várias pessoas, levou para a delegacia, sem decisão judicial para isso, só para dar cobertura  a um pretenso dono disputando um território quilombola”.

    O QUILOMBO DE  LUÍZES

    Dona Luzia testemunha a hipocrisia de atuais moradores que, além de invadir suas terras, ainda os quer expulsar os negros que “desmerecem sua propriedade” no mercado imobiliário. Fotografia por Lucas Bois/ Jornalistas Livres.

    “O Quilombo de Luízes é um dos raros casos de comunidades tradicionais que possui título, ou seja há documentação reforçando o reconhecimento identitário dessas pessoas” afirmou o antropólogo João Paulo Araujo. O quilombo atualmente é habitado por mais de 120 pessoas e conta com registros desde 1896, antes mesmo da fundação da cidade de Belo Horizonte. No entanto, conforme a expansão da metrópole, a cidade invadiu as terras dos ancestrais. Hoje, os territórios são alvo de vários processos e conflitos, intensificados sobretudo pela alta especulação imobiliária na região.

    O Brasil tem mais de 5000 comunidades quilombolas, mas há poucos registros de quilombos urbanos. Segundo o antropólogo isso ocorre porque as próprias comunidades se afastam das cidades, buscando fugir das perseguições dos grandes centros. Com os anos, construtoras tomam o território e constroem  casas, edifícios ou estacionamentos sem pudor ou respeito pelos proprietários negros.

    “Isso aqui era a horta da vovó”, diz Maria Luzia Sidonio, de 71 anos, apontando  para a  atual faculdade de farmácia da Universidade Newton Paiva. “Quem chama a gente de invasores  é porque não conhece a história da terra que pisa e mora” diz Dona Luzia, que nasceu, cresceu e viveu no Quilombo. “Até hoje as madames que estão dentro de prédios nossos invadidos, quando vêem nossas crianças brincando na rua descalços e sem camisa, dizem que ‘tem que tirar esses favelados daqui’ porque estamos desmerecendo  ‘suas’ propriedades”.

  • Nova ocupação em território do corrupto Eike Batista

    Nova ocupação em território do corrupto Eike Batista

    Mais uma ação da Jornada Corruptos Devolvam Nossas Terras, agora em Minas Gerais.  200 famílias chegaram nessa madrugada em terras ociosas no município de São Joaquim de Bicas, na Grande Belo Horizonte, propriedade de Eike Batista. O território de 700 hectares foi desgastado pela poluição dos rios Manso e Serra Azul, causada a partir da extração de minério por empresas de Batista.

     

    Ocupação do MST em São Joaquim das Bicas. Foto por Caio Santos.

    Já é a terceira ocupação do MST em territórios do ex-bilionário, a primeira também em Minas Gerais, na cidade de Itatiaiuçu, e a segunda no Rio de Janeiro, em Açu. Em Abril desse ano, a Justiça negou pedido de reintegração de posse nas terras fluminenses, legitimando a ação dos agricultores locais. Porém, houve uma nova reviravolta no dia de hoje: três pessoas foram presas pela Polícia Militar, o que foi denunciado pelo MST.

    Eike Batista já foi o homem rico do Brasil, até sua falência em 2013. No momento, ele está em prisão domiciliar, suspeito de envolvimento em um esquema de corrupção com ex-governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral. A última ocupação na capital mineira faz parte da Jornada Corruptos Devolvam Nossas Terras, que propõe ações em propriedades ligadas a processos de corrupção ou a corruptos, reivindicando o uso social da terra a partir assentamento de famílias Sem Terra.

    Até o momento já são mais de 10 ocupações em todo o território nacional, envolvendo vários nomes associados a esquemas de corrupção.  Fazendas do ministro Blairo Maggi, no Mato Grosso, do presidente golpista Michel Temer (em nome de seu laranja Coronel Lima), em Duartina-SP, e do ex-presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Ricardo Teixeira, em Barra Mansa, Sul Fluminense, são exemplos de propriedades ocupadas dentro da jornada.

     

    Ocupação do MST em São Joaquim das Bicas. Foto por Caio Santos.
  • A Mídia Internacional diante das Delações da JBS.

    A Mídia Internacional diante das Delações da JBS.

    Quando a imprensa não é comprada pelas elites nacionais, ela não tem papas na língua. Não foi somente os brasileiros que se surpreenderam pelas revelações do jornal “O Globo” na noite de ontem 17/05. Todos os grandes jornais do mundo também reportaram as delações de Joesley Batista, dono do grupo JBS, assim como suas repercussões. Cada meio, com sua própria abordagem, mas todos reconhecem que o atual governo está em apuros.

    Estados Unidos

    Os estadunidenses também estão enfrentando sua própria crise presidencial, com um escândalo seguido do outro e as petições pelo Impeachment de Donald Trump cada vez mais populares, seja nas ruas seja em Washington, os jornais não olharam muito para o Sul durante a noite. Mesmo assim, nenhum deles falhou de reportar o episódio. O líder  New York Times noticiou que “Presidente Brasileiro endossou propinas de empresário em gravações secretas, diz jornal”. Já mais progressivo Washington Post se preocupou com o cenário nacional: “Crise no Brasil aprofunda com abafo de presidente e um dos principais senadores.”

    Mídias Independentes

    Agora, os meio alternativo Democracy Now já fez uma matéria para Youtube em seu jornal diário, reportando que o  “Presidente brasileiro Temer reportado aprovando pagamento de suborno”. Outro veículo independente, o portal The Intercept, fundado pelo jornalista inglês ganhador do Pulitzer por seu trabalho sobre o Panamá Papers, Gleen Greenwald, já publicou um artigo afirmando que “Apenas a saída  Temer e eleições diretas podem salvar a democracia brasileira”. Greenwald atualmente é residente do Rio de Janeiro. Uma versão traduzida já foi publicada no site brasileiro.

    Europa

    Partindo para o velho mundo, os ingleses conseguem ser mais categóricos: o jornal The Guardian, talvez o mais radical da grande mídia internacional, publica “Gravações explosivas implicam o Presidente Michel Temer com propina”. A rede BBC, já diz  “Presidente brasileiro Michel Temer nega alegação de compra de silêncio”. Os meios da Europa continental também se enfocam no presidente, o francês Le Monde escreve “Em Brasil, o Presidente Temer desacreditado por novas revelações” enquanto o El País, o maior jornal em língua espanhola, é mais cauteloso: “Uma suposta gravação em que Michel Temer obstrui a Justiça estremece Brasil”.

    Mundo Árabe e América Latina

    Mas, os mais atualizados são os países do Sul do Mundo. O Al Jazeera, veículo do Catar e mais abrangente do Mundo Árabe, publicou em seu site: “Michel Temer gravado aprovando propina para Eduardo Cunha”. Enquanto o conservador grupo Clarín, da Argentina, teve como manchete de hoje: “Detenções e buscas depois da ‘explosiva´ gravação de Michel Temer autorizando uma propina”. Outros meios latino americanos já estão noticiando as repercussões no país, a Telesur, rede de televisão multi-estatal sediada na Venezuela, já publicou “Parlamentares pedem impeachment de Temer e brasileiros exigem novas eleições”. Em compensação, o jornal da maior universidade do continente latino, La Jornada do México, postou uma nota recente:  “Temer assegura que seu governo não cairá por gravações”. Será?

  • México: Mulheres Zapatistas gritam “Fuck Trump!” em abertura de evento

    México: Mulheres Zapatistas gritam “Fuck Trump!” em abertura de evento

    ESPECIAL MEXICO ZAPATISTA

    Texto por  Caio Santos,  por Facundo Cardella especial para os Jornalistas Livres

    A Comissão Sexta do Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZNL) abriu seu discurso com um multilinguístico grito de “Fuck Trump!”, encabeçado pela metade feminina do comando, em um encontro na Universidade de La Tierra, em Chiapas na noite de ontem, 12 de Abril. Cada  representante mulher se revezou com um protesto dito em diferentes línguas indígenas, concluído com uma tradução geral para o espanhol feita pela Cmte. Dalia: “Chinga a tu madre Trump!”. O manifesto serviu com uma abertura do seminário de Reflexão Crítica “Os muros do Capital, As Gretas da Esquerda”, primeiro evento aberto convocado pelo Exército em 2017. O encontro conta com a participação de vários intelectuais mexicanos e estrangeiros que discutirão a conjuntura atual do mundo.

    Abertura do Encontro Zapatista de 2017 em Chiapas, México.

     

    O EZNL é um grupo de guerrilheiro natural do Sul do México, que controla a maior parte do estado de Chiapas desde 1994, quando populações indígenas da região se levantaram contra o corrupto e ausente Governo Federal, assim como políticas de austeridade impostas pelo presidente neoliberal Carlos Salinas. Desde então, a zona é governada por uma junta independente e democrática, organizada por indígenas, campesinos e mulheres locais. O movimento é uma referência internacional por conseguir com sucesso se desenvolver de forma autônoma, com protagonismo de comunidades historicamente excluídas no México, além de uma estética particular. Todos seus membros tapam seus rostos com máscaras em público para fortalecer uma  identidade coletiva.

    Abertura do Encontro Zapatista de 2017 em Chiapas, México.
    fotos Facundo Cardella

    Abertura do Encontro Zapatista de 2017 em Chiapas, México.
    fotos Facundo Cardella

     

    Com a morte da persona Subcomandante Marcos em 2014, que servia como liderança simbólica  da organização, hoje o principal porta-voz está na figura do Subcomandante Galeano, que declamou uma poética e reflexiva fala. Dentre as inúmeras provocações, o guerrilheiro cita frases de incentivo a resistência em todo o mundo. “Um é tão grande como o inimigo que escolhe lutar e um é tão pequeno quão grande seja seu  medo”. Sobre a onda conservadora na América Latina, ele lembra que o capital tem seus vassalos. “O dinheiro busca e sempre encontra psicopatas dispostos a vender sua sede de destruição”, explica o Subcomandante. “Como Macri na Argentina, Temer no Brasil, Lopez em Venezuela, políticos, psicopatas e corruptos todos. Sempre dispostos que outros morram e que eles cobrem”.

    O Seminário “Os muros do Capital, As Gretas da Esquerda” seguirá com mais intervenções da Comissão Sexta até este Sábado. Os Jornalistas Livres continuarão acompanhando as reflexões dos zapatistas e intelectuais orgânicos durante todo o evento.
    #Zapatista