Serra, Venda Nova, Pedreira, Alto Vera Cruz e Morro do Papagaio compõem a festa da democracia, mostrando de que lado o povo que constrói o Brasil está. A voz que ecoa do palco do Canto da Democracia em Belo Horizonte é a que representa as mulheres, os negros e negras, a periferia e os trabalhadores da cidade, e é por isso que ela traz arrepio e reconhecimento.
Nesse momento, hip hop, resistência e periferia estão presentes no palco do Canto da Democracia, na Praça da Estação, em Belo Horizonte. Mais do que defender a permanência da presidenta Dilma no poder, o que o movimento que reúne mais de 40 mil pessoas nesse momento pede é respeito: “o que eles não aceitam é ter uma mulher no comando do pais”. diz Marília Campos, ex-prefeita de Contagem.
Entre autoridades, plateia e artistas, as mulheres protagonizam o evento. A região metropolitana e a periferia usuária dos sistemas de ônibus veio para dizer que não vai ter golpe e que os direitos conquistados não podem ser perdidos.
Mal se via o asfalto das avenidas Augusto de Lima e João Pinheiro quando, às 17h30, o ato pela democracia e contra o golpe saiu da Praça Afonso Arinos parra ter sua apoteose na Praça da Estação. Depois do comício das Diretas Já e da visita do papa, Belo Horizonte nunca tinha visto tanta gente nas ruas. Mas agora o grito da multidão era outro e bastante afinado: “Não vai ter golpe”. Em defesa do estado de direito democrático e contra a manipulação da mídia, não faltaram também gritos de “O povo não é bobo, abaixo a Rede Globo”.
Foto por Lucas d’Ambrosio / Jornalistas Livres
Foto: Gustavo Miranda/ Jornalistas Livres
O presidente do Sindicato dos Jornalistas, Kerison Lopes, fez questão de acentuar que os “trabalhadores da imprensa” defendem a democracia e não podem ser confundidos com seus patrões. “O que a televisão fala é o pensamento da família Marinho. Os trabalhadores são outra coisa e estão aqui para dizer que não vai ter golpe”, disse.
O clima alegre e pacífico da manifestação seguiu até as 22h30, quando o músico Gabriel Guedes encerrou o show apresentado logo após o ato político encerrado na Praça da Estação. Flávio Renegado, Vander Lee , Celso Adolfo, Pedro Morais, Ana Cristina, Coletivo Negra, Tiago Delegado, Sérgio Pererê, entre dezenas de artistas que fizeram questão de participar do ato, marcaram presença na noite em defesa da democracia.
Foto: Coletivo Área de Serviço
O número de participantes superou as expectativas: cerca de 60 mil pessoas, entre as quais sindicalistas, representantes de movimentos sociais e artistas diversos. A presidente da CUT, Beatriz Cerqueira, comemorou o sucesso do ato e afirmou que o povo na rua é a única forma de o povo combater o golpe, e adiantou que a partir de ontem o movimento sindical estará de plantão para ir às ruas tão logo os trabalhadores sejam convocados para a luta pela democracia.
O ato, que começou diante da Faculdade de Direito da UFMG, se encerrou na Praça da Estação com o show Canto da Democracia, o manifesto da cultura pró-democracia, ornamentado por bandeiras vermelhas, bandeiras do Brasil e muitas faixas dos manifestantes alusivas ao nosso momento político, em defesa do governo Dilma e de Lula.
Foto: Lucas Bois/ Jornalistas Livres
O ex-presidente foi lembrado nos discursos e no refrão “Lula guerreiro do povo brasileiro”. Bastante festejado ao chegar à Avenida Afonso Pena, o ministro do Desenvolvimento Agrário, Patrus Ananias, discursou mais tarde em cima do carro de som estacionado na Praça da Estação, representando a presidenta Dilma e o Ex-presidente Lula no ato.
Na linha de frente da passeata, os integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Os jornalistas marcaram presença com as faixas “Jornalistas contra o golpe”. Os organizadores afirmam que representantes de 853 municípios mineiros estavam representados, e entre petroleiros, artistas, metroviários, professores, estudantes e muitos outros grupos, a seriedade da festa da democracia se fazia presente e pautava as próximas lutas que acontecerão em todo o país durante este período de instabilidade política.
Fotos: Mídia NINJA e Isis Medeiros/ Jornalistas Livres
Nicole Marinho/ Jornalistas Livres
Fotos: Maxwell Vilela/Jornalistas Livres
Enfim, o ato do dia 18 em Belo Horizonte, assim como no Brasil inteiro, foi um verdadeiro Basta àqueles que querem impor novo golpe político no país, desrespeitando a democracia e a vontade do povo depositada nas urnas. Foi também um aquecimento para o ato programado para o próximo dia 31, com ênfase em Brasília.
Militantes do MAB, Movimento dos Atingidos por Barragens, da região do Vale do Aço estiveram na tarde do último dia 26 em frente à Justiça Federal de Belo Horizonte para forçar a inclusão dos atingidos na tragédia do Rio Doce, no processo de decisão da situação de Mariana, Barra Longa e região.
O pedido dos que vieram à BH é participar das articulações que estão sendo fechadas sobre o tema do rompimento da barragem, afinal, elas atingirão diretamente suas vidas. Para Letícia Oliveira, da coordenação estadual do MAB,
“a preocupação é que Mariana e Barra Longa fiquem com as decisões, e que os detalhes sejam decididos pelas pessoas de lá, e não na Justiça Federal, e sem a participação dos movimentos sociais”.
Os reflexos do desastre ocorrido no dia 5 de novembro do ano passado ainda podem ser sentidos, e vão de Mariana, passando por Bento Rodrigues, Barra Longa, Gesteira, e outras até sair do estado de Minas Gerais, sentido costa do Espírito Santo. Na cidade de Barra longa, jardins, praças e canteiros foram inteiramente tomados pela lama e o processo de reconstrução da cidade tem sido danoso social, mental e materialmente para os atingidos pela maior catástrofe ambiental dos últimos tempos.
Os atingidos lutam por negociação
Dois ônibus com cerca de 60 pessoas da região vieram à capital para serem ouvidos pelo juiz Cláudio José Costa Coelho, da Justiça Federal. Eles esperam sensibilizar as autoridades sobre a necessidade de rever o documento com as determinações de reconstrução, já que nenhum movimento social ou morador foi ouvido para a construção do mesmo.
Thiago Alves, também da coordenação estadual do MAB e morador de Barra Longa, repudia o acordo e explica:
” nós achamos que esse modelo para resolver o problema é antidemocrático e autoritário, porque afasta as famílias atingidas da bacia do Rio Doce de participar das ações sobre o processo de recuperação, não só o indenizatório, mas a recuperação ambiental, etc.”, explica Thiago.
O sentimento de impotência é grande entre a população. Imagine uma cidade como Barra Longa, de aproximadamente 6 mil habitantes, ter que conviver com a dengue, a superpopulação com a chegada de 600 construtores homens e com um verdadeiro canteiro de obras por toda a cidade? O modo de vida foi alterado drasticamente. A jovem Estefânia Aparecida, de 13 anos, conta que até brincar se tornou mais difícil depois da tragédia:
“É caminhão, poeira… Não tem nem como sair pra fora de casa. Minha casa começou a trincar por causa dos caminhões pesados na rua, e eles não queriam reformar pra minha mãe. Pra brincar na rua tem que ser a noite, antes a gente ia nadar, fazer piquenique e agora todo lugar que a gente olha é lama.”
Por volta das 17h, os militantes saíram da entrada da Justiça Federal, dois procuradores foram conversar com o MAB e ajudaram na articulação com o juiz. Thiago ressalta que a movimentação foi importante para animar o povo da região, uma vez que o MAB irá participar do ato que está marcado para o dia 8 de março (dia Internacional da mulher) em BH e fará um ato nesta terça-feira, 1 de março, na cidade de Barra Longa.
O Movimento dos Atingidos por Barragens segue na luta para garantir que as famílias atingidas sejam ouvidas nesse processo de reconstrução das cidades. A construção da caravana de mulheres da região que irá vir à capital no 8 de março já começou, e nessa terça-feira o MAB irá às ruas da cidade de Barra Longa por visibilidade e sensibilização dos moradores e das autoridades à causa dos atingidos.