Jornalistas Livres

Dia: 17 de outubro de 2018

  • Polícia Federal é acionada para investigar fábrica de fake news de Bolsonaro

    Polícia Federal é acionada para investigar fábrica de fake news de Bolsonaro

    Nesta quarta-feira (17/10), a assessoria jurídica da coligação O Povo Feliz de Novo entrou com pedido de investigação junto à Polícia Federal, em face do candidato Jair Bolsonaro (PSL) e de seu vice, Hamilton Mourão. A solicitação requer investigação sobre indústria de mentiras e incitação à violência nas redes sociais por parte da campanha de Jair Bolsonaro.

    O documento solicita que a polícia federal investigue a campanha de Jair Bolsonaro com relação a quatro eixos principais de irregularidades: a utilização deliberada de notícias sabidamente falsas (as fake news); a doação não declarada de verbas do exteriorpropaganda eleitoral paga na internet e, por fim, a utilização indevida do WhatsApp.

    A petição menciona que o TSE já ordenou a retirada de mais de 100 links de fake news contra a coligação, somando mais de 146 mil compartilhamentos e 20 milhões de visualizações. Mesmo assim, o volume  de notícias falsas que circulam nas redes sociais não para de se avolumar, como atestam as principais agências de checagem de fatos do país. As dez principais fake news elencadas pela Agência Lupa, por exemplo, são favoráveis a Jair Bolsonaro – sendo a maioria contrária à candidatura de Fernando Haddad –, cenário semelhante ao atestado pela Boatos.org. Além disso, o próprio Bolsonaro e seus filhos, nas redes sociais e em rede nacional de televisão, utilizam-se indiscriminadamente de mentiras, boatos e fake news contra Fernando Haddad, conforme comprovam decisões recentes do TSE.

    O documento também solicita que a Polícia Federal investigue a possibilidade de que a campanha de Jair Bolsonaro esteja atuando em conjunto com estrangeiros sem transparência e sem prestação de contas, o que configuraria uma doação de fonte vedada. Há fortes indícios – inclusive com postagens em redes sociais do filho de Bolsonaro – da participação de Steve Bannon, responsável pela estratégia de redes de Donald Trump, na campanha de Bolsonaro.

    Outra questão que necessita de investigação é a possível utilização de uma rede coordenada, mediante contratação, de páginas e perfis de redes sociais voltados exclusivamente para promover a candidatura noticiada e prejudicar a imagem da coligação noticiante.

    Por fim, a petição solicita que Bolsonaro seja investigado por utilização indevida do WhatsApp, inclusive para propagar fake news e incitar a violência. Há fortes indícios de que uma estrutura de desinformação vem sendo utilizada pela campanha de Bolsonaro ou por pessoas a ela ligadas para criar e propagar fake news.

    Leia aqui a íntegra do pedido de investigação.

  • Pelourinho estremece em homenagem ao mestre Moa

    Pelourinho estremece em homenagem ao mestre Moa

    Homenagem ao Mestre Moa de Katendê, que foi brutalmente assassinado por um seguidor do candidato Jair Bolsonaro reúne aproximadamente 10 mil pessoas no Pelourinho, Salvador, Bahia.

     

     

    Grupos de capoeira, blocos afro, representantes de religiões de matriz africana, integrantes do movimento negro, se vestiram de branco para lembrar Mestre Moa e propor memória e luta. Primeiro foi sagrada uma missa na Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos e depois todos seguiram em cortejo para o Pelourinho, onde foram feitas rodas de capoeira, cantos, discursos inflamados e emocionados e o berimbau gritou alto, resistência.

    Fotos: Felipe Iruatã

  • Músicos são agredidos por guardas do Metrô

     

     

    A repressão à liberdade de expressão em São Paulo ganhou hoje um novo capítulo. Os artistas da banda Cantigas de Nylon, Matheus Lopes, Nelson Luques e Katriel Pessoa, que costumam se apresentar em bares, na rua e, eventualmente, em estações de transporte coletivo da capital, como ocorre normalmente nas mais importantes cidades do mundo, estão pagando alto por sua arte.

    Na tarde desta quarta, 17 de outubro, o trio se apresentava numa estação do Metrô quando seus integrantes foram abordados com extrema violência pelos seguranças da empresa. Um dos seguranças deu um “mata-leão”no estudante de Artes da ETEC Carandiru, Matheus Lopes, que caiu desmaiado no canto. Seus companheiros foram afastados também de forma agressiva enquanto um dos seguranças gritava: “Já era, acabô! PT vai embora”! Nelson Luques, que postou o vídeo dessa reportagem da delegacia na Barra Funda, para onde foram levados detidos, contou ainda que outro segurança dizia baixo na sua orelha para atacá-lo, de modo a justificar uma possível nova agressão. “Se não lutarmos eles não vão matar apenas os nossos sonhos”, completou na postagem. Um outro vídeo ainda inédito mostraria as agressões contra os demais membros.

    Matheus, apelidado de Sol, é conhecido na ETEC e nos bares onde toca para tirar o sustento pelo temperamento sempre dócil e prestativo. Segundo os amigos ouvidos por nossa reportagem, representantes do Sindicato dos Artistas de São Paulo conseguiram um advogado para tirar o trio da delegacia.

    A banda pede calma a todos e diz que vai se pronunciar assim que puder, publicando o vídeo adicional e falando de outras agressões. 

  • Eleições 2018: e nós com isso?

    Eleições 2018: e nós com isso?

    Quem somos nós? Somos lésbicas e o povo LGBT todo. Somos toda a população negra, principalmente os mais desesperançados, enganados por achar que o candidato que os quer mortos vai redimi-los. Somos o povo de asè e desafortunadamente, muitos de nós temos declarado voto em alguém que reiteradamente manifesta nojo por nós.

    Somos pan-africanistas, anarquistas, punks, anarco-punks e queremos modelar o mundo à revelia das instituições. O caso é que os processos institucionais nos devoram passivamente se não participamos deles, principalmente em horas cruciais como agora nas eleições de 2018 em que nossa existência como seres humanos plenos e libertários está em jogo (é algo ainda mais fundo do que a derrocada da democracia).

    Somos mulheres negras e também entre nós, para nosso total espanto existe gente partidária de um projeto de ditadura. Somos setores do Hip Hop votando em projeto fascista.

    Somos uma gente iludida que por motivos diversos, todos ligados ao desespero, ao descaso e a falta de perspectiva, conseguimos achar que um projeto fascista pode significar alguma mudança positiva. Talvez sejamos um pouco suicidadas e queiramos entregar o pescoço ao carrasco como ovelhas entorpecidas.

    Somos também aquelas pessoas que não fazem parte de algum dos grupos citados, que não nos identificamos como alguém pertencente a algum deles, mas temos filhos, primos, sobrinhos, tios, amigos, colegas respeitados que integram esses segmentos.

    E o que tenho a dizer a vocês, o que tenho a dizer a todos nós, é que como na velha canção mineira, “vamos precisar de todo mundo banir do mundo a opressão e um mais um é sempre mais que dois.”

    Vem que ainda é tempo de arrumar. Se a gente se organizar direitinho e votar a favor da vida, a gente vira o jogo. E é melhor que o façamos para não sermos os primeiros a morrer, inclusive os que acham que “não têm porra nenhuma a ver com isso”. Vem somar com a gente, ainda dá tempo.

  • Eleições 2018: a escuta necessária para levar às urnas os que não foram no primeiro turno

    Eleições 2018: a escuta necessária para levar às urnas os que não foram no primeiro turno

    Quando um ex-líder da Ku Klux Klan faz a seguinte declaração sobre o candidato fascista das eleições presidenciais do Brasil: “ele soa como nós”, uma pergunta se impõe diante do apoio popular que o fascista recebe: “onde nós, do campo progressista, erramos”?

    A resposta que encontro é atravessada (para além do projeto de conquista do poder pelos políticos evangélicos)pela ausência de escuta, nem falo de escuta qualificada, falo de escuta simples, cotidiana, aquela do café, do almoço, dos afazeres domésticos, do fim do dia de trabalho, do dia de folga.

    É uma resposta que nasce do mundo de vista da autocrítica, não aquela proposta pelo irmão mais novo do clã Gomes, da colérica conexão Pindamonhangaba-Sobral-Fortaleza, não, não falo sobre esse tipo de autocrítica. Trato de uma perspectiva séria, propositiva, transformadora.

    Vejo muitos depoimentos de pessoas que estão conquistando votos para o campo democrático em conversas com desconhecidos nas ruas, no transporte coletivo, em outras situações públicas e isso é muito importante, pois soma, robustece nosso campo, contudo, me pergunto se estamos conversando (ouvindo) nossos próprios familiares. Estamos? E aqui me refiro diretamente às famílias negras, aquelas que são verbal e fisicamente violentadas pelo fascista, mas parecem votar nele e apoiá-lo, como Ronaldinho Gaúcho e Rivaldo.

    Que contradição é essa? Nocaute dado por um paradoxo incompreensível, indecifrável. Ouço nessa pequena morte, um grito de socorro, um apelo desesperado de ajuda que se manifesta no apoio a um desequilibrado mental, inflado por estratégias ultradireitistas de mídia, disseminadas pelas mídias que sustentam o projeto e se beneficiarão dele, caso seja vitorioso. Um grito dado por pessoas comuns que nunca são ouvidas e se iludem achando que o fascista as representa de algum modo..

    Os fascistas como ele, os que sempre nos odiaram e nos mataram, e agora se sentem legitimados pelo líder a expressar todo o ódio e a matar mais, são outra coisa, outro setor. Me atenho às pessoas comuns que não apoiam essas ideias e práticas, mas declaram voto nele. Como alcançá-las? Como tocá-las? A resposta é mais simples do que possa parecer. É preciso nos colocarmos num lugar de sensibilidade e escutar pessoas que se sentem como móveis velhos encostados, como objetos inúteis exauridos pelo tempo, pelo uso e pelo abandono daqueles aos quais um dia elas dedicaram muito afeto.

    É hora de conversar com o pessoal mais velho que não votou no primeiro turno, que tem mais de 65 anos e que se sente como esses móveis abandonados. É hora de conversar com eles como seres humanos que talvez nos mostrem (se os escutarmos) o abandono insuportável a que nós mesmos os relegamos.

    Em alguma medida isso vale também para os jovens que podem escolher votar ou não porque têm entre 16 e 17 anos. É outro grupo sem escuta.

    É hora de lembrar que conversar implica em escutar, em dar atenção ao que a outra pessoa diz. Depois disso, a gente pode pedir e conquistar o voto. Pode inclusive oferecer carona ou companhia aos mais velhos no dia da votação. Vem com a gente, ainda dá tempo.

    Cidinha da Silva vai publicar diáriamente textos sobre as eleições que serão aqui reproduzidos.

     

     

  • De voto em voto, ainda dá sim!

    De voto em voto, ainda dá sim!

    Amigos têm conversado comigo de seu desânimo em relação às primeiras pesquisas de voto para o segundo turno. Um grande clima de que já perdemos está poluindo o ar.

    A primeira coisa que eu tenho a dizer pra esses amigos é que ainda dá sim. Mesmo no primeiro turno as votações saíram muito diferentes das pesquisas, isso pode acontecer de novo a nosso favor. Isso e ainda temos muitos votos para ganhar, muitos brancos, nulos, indecisos e votos virados.

    Temos a chance de ter na presidência um dos políticos mais competentes, honestos e admiráveis do Brasil. Possivelmente o melhor ministro da educação que o Brasil já teve. Como prefeito de São Paulo, responsável por um verdadeiro renascimento na cidade de São Paulo, inclusive no combate à corrupção no município. Conheço muita gente que votou em João Dória em 2016 e se arrependeu amargamente. Haddad não foi reeleito porque desagradou aos motoristas espalhando ciclovias pela cidade e reduzindo a velocidade máxima nas marginais, decisão que comprovadamente salvou vidas, além de ter sido bombardeado pela máquina de difamação do PT que ainda hoje o ataca.

    As mais diversas estratégias de atuação na campanha estão sendo espalhadas pelas redes. Não acredito em todas elas, mas o melhor conselho que ouvi foi “faça o que você puder, aquilo com que você se sentir confortável.” Seja panfletar na rua, seja conversar com seu uber, seja falar com sua família no whatsapp, seja nas suas redes, seja fazendo uma doação diretamente para a campanha de Haddad.

    Que seja fazer um almoço para os seus amigos, estar junto e reforçar o amor e a esperança.
    Estar junto é muito bom, fortalece e é o melhor remédio para o desespero.

    Se você precisar descansar, descanse um dia, beba água, mas volte. Todo mundo é importante e todo mundo conta.

    Do outro lado temos uma terrível ameaça de continuidade da retomada do poder pelas elites brasileiras, reeditando a aliança com os militares.

    O que me leva à segunda coisa que eu tenho a dizer:

    A ameaça à democracia que representaria uma vitória de Bolsonaro é real, mas nossa democracia já acabou em 2016 quando nosso parlamento resolveu demover a presidenta e aplicar em nossa sociedade um projeto de governo oposto ao que as urnas sacramentaram. Muita gente resiste ao termo “golpe” porque o impeachment seguiu o rito institucional e o vice-presidente assumiu sua função. Entendo que “quem votou em DIlma votou em Temer”, mas votamos no Temer que assinou o projeto de governo de Dilma para compor sua chapa e o traiu. Essa traição é o golpe e essa alteração de programa foi a força motriz do impeachment.

    Não estamos em eleições ordinárias de um período democrático. Nosso candidato foi injustamente impedido de disputar as eleições, visto que prisão e perda dos direitos políticos após condenação em segunda instância é ilegal, fato admitido inclusive por alguns ministros do STF que estranhamente votaram a favor da manutenção do encarceramento. Lula inclusive é impedido de falar ao público e dar entrevistas, o que foi concedido ao preso Paulo Maluf, condenado em última instância por corrupção, ao preso Bruno, o goleiro, condenado por comandar o assassinato brutal da ex-namorada. Só Lula não pode falar porque ele é um preso político e sua prisão faz parte de uma agenda de retomada de poder pelos nossos coronéis de sempre.

    Some-se a isso a revelação de todo o ódio acumulado que as elites não têm mais vergonha de explicitar, sob a justificativa de que os movimentos minoritários “foram longe demais” na sua luta por igualdade. Eu não tenho nenhuma dúvida ao afirmar que o maior problema do Brasil é, muito antes da corrupção, o racismo, seguido de perto pelo machismo, este que acompanha a LGBTQIA+Fobia. Entendo esses problemas não como a discriminação, que é a ponta do iceberg, mas como um sistema viciado que é estruturado de modo a favorecer uns e desfavorecer outros. A ação afirmativa nesse sentido é absolutamente necessária, porque como Lula disse, só quando tivermos juízes vindos da pobreza, a justiça vai olhar para o pobre; só quando tivermos médicos vindos da pobreza, a saúde pública vai melhorar.

    A lista é longa mas o raciocínio é claro: só as cotas podem salvar o Brasil.
    A retomada de poder pelas elites, mesmo que imbuída de boas intenções, só podem nos empurrar pra trás. Pra uma política em que um grupo social controla o poder e o outro é estatística.

    Esse processo está em andamento desde que Aécio Neves resolveu questionar o resultado das eleições de 2014, mas sua origem está no Brasil colônia e na economia escravista. A eleição de Bolsonaro seria só mais um passo.

    Nada disso porém é motivo para esmorecer. Porque sempre estivemos em desvantagem. Mesmo para eleger Lula, mesmo para Lula conseguir fazer tudo o que fez, teve que enfrentar as enormes forças conservadoras da nossa sociedade.

    A luta pela democracia, pelos direitos humanos, pelos direitos sociais das minorias, é diária. Não começa nem se encerra nas eleições. Todo recuo nosso é um avanço deles.

    Por isso vamos lutar, vamos resistir.
    Porque ainda temos uns aos outros.
    Porque cada voto a menos que ele tiver é menos força política para ele realizar atrocidades.

    E cada voto a mais que a gente conseguir é a declaração de um passo à frente.
    E de voto e voto, eu tenho certeza, ainda dá pra ganhar.