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  • “Porque no Carnaval eles não fizeram greve?”

    “Porque no Carnaval eles não fizeram greve?”

    Manhã de quarta-feira, Belo Horizonte, 09h44, e o rosto trabalhador que diz essa frase ao vento, sem destinatário, mas de certo modo endereçada à mim, já está na metade de sua jornada. Tanto hoje como no carnaval, ele teve que madrugar para servir de cobrador no trajeto que vai do bairro Xangrilá à estação Pampulha. Dormiu pouco, mas menos do que muitos outros cujas linhas iniciam mais cedo, essa tem seu primeiro horário pouco antes das 06h da manhã.

    No carnaval, nosso sujeito passível de análise também despertou no mesmo horário, e enquanto todos iam para as festas, ele nos arrancava os R$2,85 como quem tira doce de criança. Prazer sórdido? Não, falta de diálogo. Agora, este mesmo sujeito, que está na base de nossa sociedade trabalhadora, serve aos interesses de quem quer que ele se aposente mais tarde, e tenha apenas seis meses de expectativa de vida após pendurar o uniforme.

    Foto: Maxwell Vilela/ Jornalistas Livres

    “Se a gente não lutar, a aposentadoria vai acabar!”

    Essa é a frase mais falada do ato que começou na Praça da Estação e foi até a Praça da Assembleia em Belo Horizonte. Porém, o trocador não grita, nem ele e nem muitos outros trabalhadores. Nos quatro cantos do país, os movimentos sociais, estudantes, professores, sindicatos e trabalhadores a repetem como um mantra que escancara uma verdade: a de que o governo Temer não terá piedade nem de nós, que protestamos, quiçá dos trabalhadores que estão na base da sociedade.

    Nosso carnaval, símbolo deste povo que resiste, do corpo que performa desejo negado, foi a maior demonstração de que a política se faz nas ruas, com a ocupação do espaço público. Como diz Cristal Lopes, musa do carnabelô: “a política tem que aprender muito com o carnaval”.

    Foto: Maxwell Vilela/ Jornalistas Livres

    Fomos de Fora Temer em Fora Temer, negando o assédio estrutural que insiste em violar os corpos das nossas mulheres, dizendo sim ao funk e à voz da periferia, fazendo poética e festa com nossas próprias mãos e provando o que já foi dito pelo companheiro carnavalesco José Guilherme: “nosso carnaval foi conquistado.”

    Dentre os reajustes propostos para a previdência, está o caso do nosso amigo de todos os dias, o trocador. Hoje, 4 milhões de idosos de baixa renda, com mais de 65 anos, recebem um salário mínimo. Se a reforma passar a idade mínima será de 70 anos. Nós, mulheres, que trabalhávamos até 55 anos, iremos até os 65, junto com os homens, que iam somente até os 60. Isso sem contar os 25 anos obrigatórios de contribuição, um aumento de 10 anos da exploração de nossos corpos trabalhadores, que não tem nem o direito de festejar o carnaval.

    Diante desse cenário, me vem à cabeça a palavra de ordem dos nossos companheiros argentinos, que traduzida, fica mais ou menos assim:

    “Vamos à luta companheiros, vamos em frente, que isso nos pede toda gente.”

    Foto: Maxwell Vilela/ Jornalistas Livres
  • Empatia: as guerreiras da história refletidas no olhar da juventude

    Empatia: as guerreiras da história refletidas no olhar da juventude

    Luz, contraste, maquiagem, talco e uma boa dose de paixão: estes são os ingredientes do ensaio que, em duas edições, contou com a participação de mais de 100 mulheres, representando lutadoras históricas brasileiras e internacionais, e irá ser editado para montar um livro sobre o projeto. Em breve, a campanha de financiamento estará disponível no Catarse.

    Foto: Alessandra Malachias/ Jornalistas Livres

    Cada personagem foi representada por uma militante, e dentre integrantes do Levante Popular da Juventude e parceiras da causa, cada rosto foi se tornando parte do mosaico de causas ocultadas na história.

    “Inicialmente nós pensamos em fazer um projeto fotográfico resgatando a história de mulheres que a população não conhece, nem nós feministas mesmo, porque na história houve uma hegemonia dos homens, e essas mulheres foram apagadas e a gente queria muito resgatar a historia de vida delas.”, explica Fernanda Maria Caldeira, do Levante Popular da Juventude.

    Nayra Ramira, responsável pela maquiagem a partir do segundo ensaio, diz que o conceito básico de seu trabalho é igual para esse e para outros trabalhos, porém o significado de representar mulheres historicamente negadas que foram tão grandiosas é o que traz um diferencial ao “Mulheres Cabulosas da História”. “É um projeto bacana que mostra o empoderamento das mulheres, e mostra que as mulheres, ao contrário do que a sociedade diz, são capazes de fazer muito mais e não precisam ficar na sombra dos homens”. Sobre o poder do seu trabalho, ela fala com alegria: “isso é uma paixão pra mim, a maquiagem é capaz de mudar a vida das pessoas, e esse trabalho mostra que nós temos o poder”.

    Na luta, elas se confundem. Lado a lado, a história das mulheres cabulosas vai ganhando força através do rosto e da luta das guerreiras belorizontinas do século XXI. E, para além da inspiração, representar grandes nomes femininos é uma grande responsabilidade. Fernanda Maria explica que “a ideia era se inspirar na mulher e na história de vida dela, e buscar características físicas em comum para representá-las.”

    Foto: Alessandra Malachias/ Jornalistas Livres

    Para Chantal Araújo, o ensaio tem um peso diferente para cada mulher. A cabeleireira conta que dar visibilidade para mulheres que foram apagadas faz com que muitas meninas se sintam mais bonitas e confiantes. “O efeito na autoestima das meninas, principalmente as negras que representam grandes mulheres na história, é incrível. É muito diferente de fazer qualquer outro tipo de cabelo, porque muitas vezes você não vai fazer um cabelo esteticamente bonito, mas sim moldá-lo para ficar parecido. São cabelos do cotidiano de épocas, sem tantos recursos”. Para ela, esses efeitos tem o potencial de transformar o conceito de beleza, que na visão dela é “a confiança que a menina tem”.

    Ana Paula Cândido,  militante do Levante Popular da Juventude, é um dos exemplos de empoderamento negro através do projeto. Ela conta que “interpretar Nina Simone no Mulheres Cabulosas da História foi a experiência mais emocionante, libertadora e ao mesmo tempo encorajadora, foi uma experiência que eu nunca tinha vivido antes e isso me engrandeceu de uma forma que fica difícil até de explicar.”

    Dando o tom do que o ensaio representa na vida das meninas que participaram, ela conta, emocionada: “Saber a importância da mulher, conhecer o potencial e descobrir que podemos ser muito mais do que imaginamos é emocionante e traz uma paz interior, uma calmaria. A aceitação é um processo doloroso e depois deste ensaio eu venci, eu me aceitei, eu me descobri e eu posso dizer com toda certeza que eu sou outra mulher, outra mulher cabulosa!”

    Foto: Alessandra Malachias/ Jornalistas Livres