






O balanço de 2017 mostra que, se a Editora Abril vender tudo o que possui, faltarão R$ 716 milhões para pagar tudo o que deve.
O Brasil está cheio de exemplos de empresas que vão muito mal e empresários vão muito bem. Há muitos exemplos, também, de empresas que faliram, mas que a vida confortável de seus donos em nada mudou. As demonstrações financeiras da Abril Comunicações S.A. e suas controladas mostram uma situação muito próxima à insolvência. Nada se pode dizer sobre a famiglia Civita.
O balanço de 2017 mostra que, se a empresa vender tudo o que possui, ainda faltarão R$ 716 milhões para pagar tudo o que deve. Em termos contábeis diz-se que “em 31 de dezembro de 2017, a Companhia apresentou patrimônio líquido negativo de R$ 715.931 mil”. No ano de 2016 faltavam R$ 414 milhões, ou seja, o rombo cresceu cerca de R$ 300 milhões em 2017.
A operação da empresa gerou um prejuízo de R$ 164 milhões. Se acrescentarmos as despesas financeiras de R$ 215 milhões, atingimos o prejuízo de R$ 379 milhões. Nos termos da demonstração do resultado da companhia para o exercício findo em 31/12/2017, “o prejuízo antes do imposto de renda e da contribuição social foi de R$ 379 milhões”. No ano de 2016, essa mesma linha, apresentou prejuízo de R$ 414 milhões.
Imagine que a empresa teve R$ 977 milhões de receitas em 2017. Mas para arrecadar esse volume teve custo com vendas de R$ 479 milhões. Pagas essas despesas sobram R$ 498 milhões. As despesas administrativas e despesas com vendas foram de R$ 662 milhões, ultrapassando o valor das receitas líquidas e gerando prejuízo operacional de R$ 164 milhões.
A PricewaterhouseCoopers, que auditou as demonstrações, afirma que “os acionistas controladores se comprometem a prover o suporte financeiro necessário para a manutenção da continuidade operacional da Companhia por meio de mútuo ou por qualquer outra forma”. Em outros termos, diz a empresa de auditoria que a famiglia prometeu emprestar recursos para que a empresa não quebre e interrompa suas atividades”.
A Price, em item que trata especificamente da “incerteza relevante relacionada com a continuidade operacional”, revela que não fez ressalvas em sua avaliação por conta da incerteza. Aponta, porém, que as demonstrações financeiras “indicam a existência de incerteza relevante que pode levantar dúvida significativa sobre sua continuidade operacional”.
Nota
Para ver as Demonstrações Financeiras da Abril Comunicações http://www.grupoabril.com.br/ABRILCOMUNI17_DEZ.pdf
Governos federal, estadual e municipal fingem que choram a morte de homens, mulheres e crianças sem-teto, na tragédia do edifício Wilton Paes de Almeida, no Largo do Paissandu, centro de São Paulo. Fingem que choram enquanto acabam com as políticas públicas destinadas a gerar moradias populares, enquanto destroem o Minha Casa, Minha Vida. Mas eles são piores do que isso… Agora, tentam esconder sua responsabilidade pela tragédia habitacional existente na maior e mais rica cidade do país, jogando a culpa nos movimentos de moradia.
Reportagem publicada na revista Veja, aquele panfleto golpista, tenta criminalizar todas as ocupações, mesmo sabendo que há diferenças gritantes entre elas. Os movimentos sérios que lutam por moradia, não apenas pressionam o poder público. Eles revitalizam prédios mortos, dotam-nos de condições mínimas de segurança, de higiene e conforto, porque esses imóveis tornam-se imediatamente depois de ocupados o lar de famílias sem-teto que estavam ao relento.
A Revista Veja tenta criminalizar uma simples vaquinha entre os moradores das ocupações sérias, feita e decidida coletivamente, por exemplo, para prover o prédio de extintores de incêndio. Ou alguém acha que é o poder público que coloca extintores de incêndios nas ocupações da Frente de Luta Por Moradia? Ou que instala os canos de água e esgoto e os conduítes de luz, inutilizados pelo abandono? Que contrata as caçambas para retirar toneladas e toneladas de entulhos e lixo acumulados ao longo de anos nos prédios mortos que só servem à especulação imobiliária? Ou que lavam as paredes com creolina e pintam-nas com cal, para combater as infestações por pulgas, carrapatos, escorpiões e aranhas?
Tudo isso custa dinheiro, e a revista Veja sabe disso. Quem custeia são os beneficiários imediatos das ocupações, que são os sem-teto, em um sistema de vaquinha decidido em assembléia.
Querer criminalizar a vaquinha é o cúmulo do absurdo. Não permitiremos que a mídia hegemônica, que já mantém preso um homem inocente, Lula, a quem ataca diariamente com calúnias, injúrias e difamações, faça outras vítimas entre os pobres moradores de ocupações.
#QuemOcupaNãoTemCulpa
Caro senhor Fernando Haddad,
Seu artigo para a revista Piauí ficou muito bom. Diríamos até que sua erudição nos iluminou. Esperamos, contudo, que ele, o artigo, signifique o início de uma discussão e não um fechamento de questão, porque nos suscitou muitas dúvidas.
O senhor começou seu texto falando mal de Dilma e se alongou, na mesma toada, por algumas páginas. Há muitas críticas à ex-presidenta. O senhor apontou que ela errou ao não aceitar a municipalização da CIDE. Afirmou que ela errou ao cogitar sobre o represamento da tarifa de ônibus e, mais ainda, que “não se chega a um erro deste tamanho sem ter feito um percurso todo ele equivocado”. Em outros termos, o senhor disse que ela cometeu uma sucessão de erros, “um percurso todo ele equivocado”.
Sua avaliação é de que eram necessários ajustes no rumo da política econômica, quando ela se reelegeu. O senhor escreveu assim: “era evidente que ajustes tinham que ser feitos porque, entre outras coisas, o governo tinha comprado uma agenda equivocada, elaborada em parte pela Fiesp: desonerações, redução da tarifa de energia elétrica, swap cambial, administração de preços públicos etc.”
“A relação de Dilma com São Paulo nunca se resolveu completamente.” Com essa frase o senhor a acusou de não tratar São Paulo de modo adequado. Acredita, no entanto, que ela “comprou” uma agenda elaborada pela Fiesp? O objetivo é jogar São Paulo contra Dilma? O senhor foi o único que, no nível federal, cuidou adequadamente de São Paulo, desde 1932, quando ministro da Educação?
Até mesmo na frase “eu diria até que sempre me tratou com consideração”, está subentendida uma crítica a ela. Por que o senhor resolveu criticá-la publicamente neste momento? Foi para justificar sua derrota no primeiro turno ou o senhor está mirando uma disputa futura? Ou quem sabe uma outra razão que nossa limitação não alcança?
O senhor acredita que essas críticas vindas do senhor, nesse momento, ajudam no combate ao golpe?
O senhor encomendou um estudo elaborado pelo economista Samuel Pessoa e o apresentou à Dilma. O estudo era sobre a municipalização da CIDE, Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico, que o senhor preferia ao aumento da tarifa dos ônibus. Samuel Pessoa, assim como a grande maioria dos economistas da GV, é bastante conhecido por seu neoliberalismo radical.
Em 2015, ele afirmou à revista Época que “Com o PT, não dá para conversar”. “O economista diz que o problema estrutural das contas públicas só poderá ser resolvido em outro governo, porque não dá para fazer pacto com os petistas”, escreveu a revista. Para ele a Constituição de 1988 não cabe no orçamento: “O problema de a gente continuar com um contrato social cuja dinâmica não cabe dentro do PIB é que a gente pode escorregar para uma hiperinflação e chegar no cenário da Venezuela.”
É a opinião de um notório neoliberal que o senhor queria que Dilma aceitasse? O senhor comunga as mesmas ideias de economia política que Samuel Pessoa? De que maneira fiar esse economista contribui para a resistência contra as reformas? A propósito, o senhor é favorável às reformas? Acha que, como assegura Pessoa, a Constituição de 1988 não cabe no orçamento?
O senhor conta o que sentiu na saída da primeira fatídica reunião com Dilma da seguinte forma: “O que eu sentia ali era algo que já havia experimentado algumas outras vezes na vida: mais do que um mal-estar ou uma simples angústia, era uma espécie de intuição, a sensação nítida de que algo muito sério estava se passando, de que havia um risco real e iminente.”
O senhor se resignou à negativa de Dilma ou continuou a lutar pelo que acreditava? O senhor tem essas intuições ou dons premonitórios com frequência? Anteviu o golpe?
O senhor acredita que “numa democracia, até uma imprensa ruim pode ajudar. […] Em dezesseis anos de vida pública, sempre mantive com as principais famílias proprietárias dos meios de comunicação uma relação cordial e respeitosa, em que pesem nossas diferentes visões de mundo. Não dispensava interlocução com os Marinho, os Frias e os Civita.”
Aqui o senhor nos embatucou. Poderia explicar em que medida a Veja ou o Jornal Nacional têm ajudado nossa democracia? Mais importante do que isso, seria saber com quem o senhor julga estar dialogando quando faz essas afirmações, poderia nos revelar? A interlocução com os Marinhos, os Frias e os Civitas o ajudou em quê? O que o fez divulgar esse texto em uma revista editada por uma sociedade entre um membro da família Moreira Salles (Unibanco) e três membros da família Civita?
O senhor se disse pressionado, lá em 2013, pela decisão do prefeito do Rio de adiar o reajuste e resolveu “ir ao Palácio dos Bandeirantes e propor ao governador Alckmin que fizéssemos juntos o anúncio da revogação do aumento”. Olhado de hoje, o senhor julga acertado ter unido sua imagem à de Alckmin naquela ocasião?
O senhor contou sobre o diálogo com seu filho, no momento de tristeza pelo caminho que tomou a negociação da tarifa. Que ele teria tentado animá-lo dizendo: “Mas, pai, ainda faltam três anos e meio de governo.” Ao que o senhor respondeu: “Eu sei, filho, mas aconteceu uma coisa muito séria e não há como não viver o luto.” Como esse assunto da primeira reunião com Dilma é bastante recorrente em seu texto, gostaríamos de saber se esse luto passou? E quando?
O senhor termina com a afirmação de que a escolha, do modo como se darão as eleições do próximo ano, está sendo feita agora. Poderia, por fim, nos esclarecer qual tem sido sua atuação nessa escolha, nesse momento?
“Li praticamente todos os clássicos sobre a formação do Brasil. Conhecia teoricamente o nosso país. Mas a experiência prática é insubstituível. Vivi na pele o que li nos livros.” Perdoe-nos a franqueza, não nos sentimos seguros de que aprendeu mesmo. Durante seu mandato, criticamos sua distância da população e sua tibieza na luta contra o golpe. Na primeira oportunidade, o senhor escreve uma matéria de 20 páginas, opta por um canal elitista, participante da mídia que critica, e joga a culpa de tudo que deu errado nos outros. Precisamos de mais evidências.
Um fraternal abraço.
O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, parece obstinado a roubar de Chatô o epíteto de “rei do Brasil”. Chatô usava as empresas do seu império midiático para chantagear e extorquir de acordo com seus interesses. Janot abusa do poder do cargo que ocupa, mas não lhe pertence. O episódio mais recente, tendo como alvo o jornalista Reinaldo Azevedo, prócer da extrema-direita entre jornalistas, não guarda qualquer relação com a cruzada contra a corrupção que faz muita gente de boa fé aplaudir seus excessos. É nada além de um gesto grotesco de intimidação contra toda a imprensa e uma gravíssima ameaça ao livre exercício da atividade jornalística.
Profissionais que, como Azevedo, se lambuzaram com os vazamentos seletivos e festejaram a mesma violência quando os alvos do PGR eram Lula e Dilma, por exemplo, agora condenam a afronta evidente à Lei das Interceptações Telefônicas. Só agora percebem a espada de Dâmocles sobre suas cabeças. Jornalistas e blogueiros “sujos”, há muito tempo na resistência crítica à cruzada moralista que devasta o país, entendem ser dever de coerência condenar as atitudes imperiais do rei Janot e expressar solidariedade a um colega e também algoz. Sem festejar seu infortúnio, cabe refletir se presunçoso e arrogante autor de “Máximas de um país mínimo” faz jus a gesto tão magnânimo.
Reinaldo Azevedo se fartou nos banquetes onde reputações alheias eram a entrada, o prato principal e a sobremesa. Ao lado de seus antigos pares e hoje desafetos, como Olavo de Carvalho, oráculo da direita mais empedernida, o delatado Diogo Mainardi e Joice Hasselman, vilipendiam diariamente a profissão praticando um jornalismo declaratório rebaixado e servil, mas essencial ao ativismo judiciário que hoje ameaça a imberbe democracia brasileira.
“Tio Rei” experimenta o gosto amargo do veneno que tem destilado nos últimos anos. Se for merecedor da solidariedade misericordiosa que lhe hipotecam jornalistas de há muito atacados por ele sem falsos pudores, haverá de fazer alguma inflexão. Só o tempo dirá se vai conseguir deixar de ser o mínimo que é: um raivoso neoliberal, instilador do ódio e da violência tão em voga nesses tempos temerbrosos.
Agredida 24 horas por dia e merecedora da solidariedade geral, e não apenas corporativa, é a profissão de jornalista. Agredida por jornalistas, como Reinaldo et caterva. Agredida pela omissão de jornalistas narcotizados pela fábula da objetividade, incapazes até de assumir o próprio lado e sair em defesa, por exemplo, da tal cláusula de consciência que lhes daria o direito de dizer não às ordens do departamento comercial. Agredida pelos empresários da comunicação, beneficiários da acumulação de dinheiro e poder a partir da exploração econômica e simbólica do trabalho nas redações. Agredida por quem ataca jornalistas com processos cíveis e criminais, usando a Justiça e o poder econômico para impor a censura e incutir a auto-censura.
Definitivamente, não é necessário expressar solidariedade a Reinaldo Azevedo para condenar os abusos de membros do Ministério Público, do Judiciário e da Polícia Federal. Isso não significa regozijo pela violência da qual hoje é vítima, mas foi e é um cúmplice dedicado.
Quem merece solidariedade é a nossa democracia, novamente ameaçada antes de completarem-se os 30 anos de promulgação da Constituição Cidadã de 1988. Ai reside uma dolorosa contradição: vem dela o poder que subiu à cabeça do rei Janot. É o mesmo poder que fez de Geraldo Brindeiro, escolhido por FHC, passar à história como “engavetador geral da República” por não dar andamento às inúmeras denúncias de corrupção, como a compra de votos para a PEC da reeleição.
Procurador Geral da República escolhido por Tancredo Neves ao ser eleito presidente na última eleição indireta, em 1985, o jurista Sepúlveda Pertence colaborou com a Assembleia Nacional Constituinte eleita no ano seguinte. Ajudou a redefinir o Ministério Público a partir da sua experiência de procurador durante o regime militar e do seu reconhecido saber jurídico. Tinha sido defenestrado do Ministério Público por obra do Serviço Nacional de Inteligência, monstro institucional da ditadura. Criado pelo general Golbery do Couto e Silva, o SNI viria a tragar o seu criador quando ele ousou tramar o fim do regime.
No processo da AP-470, em 2005, Pertence conheceu a criatura da qual era um dos pais: “não sou Golbery, mas também criei um monstro”. Carlos Lacerda, o “Corvo” demorou mais de uma década para ser devorado pela ditadura monstruosa que ajudou a criar. Vejamos quanto tempo Tio Rei precisará para compreender as ameaças para ele mesmo, para seus colegas e para o Brasil, intrínsecas ao monstro que ele tem ajudado a alimentar e afiar os caninos. Foi apenas uma mordidinha…