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MÔNICA FRANCISCO: Ainda há tempo para a unidade do campo progressista
O povo brasileiro está diante de ameaças que se impõem à nação de modo estarrecedor e avassalador. Num processo de corrosão que se alastra rapidamente vemos a destruição da nossa economia; o total descaso no trato com a pandemia do Coronavírus, que agrava o quadro econômico geral; e o risco de solapamento da frágil democracia brasileira, por um governo com claras pretensões autoritárias.Deste modo, as forças democráticas, populares e progressistas precisam urgentemente recolocar na pauta do debate brasileiro a opção que temos postergado há décadas: ou assumimos, como forças políticas e em íntima articulação com o povo, um projeto popular, democrático e soberano de Brasil, ou seremos arremessados na mais absoluta barbárie.Bolsonaro, assim como parte dos setores militares que com ele ascenderam ao poder, são herdeiros diretos da linha dura da ditadura, que nunca pretendeu qualquer tipo de abertura, mesmo a limitada que tivemos. Essas forças neofascistas fomentam o caos, pois esperam criar as condições para desestabilizar política e economicamente a nação, pavimentando o caminho para uma saída autoritária.Os governos Temer e Bolsonaro, em menos de quatro anos e meio, adotaram duras medidas de austeridade, retiraram direitos históricos da classe trabalhadora, desaceleraram nosso crescimento econômico e contribuíram para aumentar a desigualdade social, a pobreza extrema e, na convergência de todos esses processos, recolocaram o país no curso do mapa da fome.Mais do que nunca, é preciso derrotar este projeto autoritário com projeto popular, amplo – com todos os movimentos sociais, organizações de mulheres e das favelas – e construído por muitas mãos. Esse projeto passa pela universalização da saúde, da educação, da moradia, seguridade social pública e financiada pelos que podem mais e pela efetivação de um gigantesco número de direitos reconhecidos na tão maltratada Carta Constitucional de 1988 – que nunca esteve sob tão virulento ataque quanto nos últimos 18 meses. Essas alterações não se farão sem grande mobilização popular.Os interesses da grande maioria trabalhadora da nação, sempre afastados da agenda política do país por aqueles que transitam pelos corredores palacianos, precisam protagonizar esse processo. E para isso, fomentar espaços de organização popular, de combate ao racismo estrutural e institucional, bem como a participação e controle social do Estado e das políticas públicas é fundamental.Encarar a necessidade de uma profunda reforma do Poder Judiciário, da radical democratização dos meios de comunicação e da total reestruturação do sistema político, é pré-condição para derrotar as elites brasileiras e abrir caminho para que o povo volte a enxergar na política – e não em messias e mitos os salvadores da pátria – a ferramenta do bem comum.Não faremos nada disso sem construirmos unidade, a despeito de nossa diversidade enquanto organizações políticas e movimentos sociais, sem retomarmos o debate estratégico sobre a transformação profunda que o Brasil precisa.*****Mônica Francisco é deputada estadual pelo PSOL Rio de Janeiro. Preside a Comissão do Trabalho na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro e a vice-presidência da Comissão de Combate às Discriminações. Ela é ex-assessora de Marielle Franco e cria da favela do Borel. -
A SOLUÇÃO É LULA E UNIDADE
Do ponto de vista formal, a campanha para presidente começou no dia 11/9, quando Fernando Hadadd foi oficializado como candidato do PT. Daqui para frente, todos seremos bombardeados por pesquisas nunca totalmente confiáveis. Seja porque a maioria dos grandes institutos são filiais da grande mídia, seja porque os demais respondem a interesses específicos do tal mercado e gente assemelhada.
Mesmo de detritos se aproveitam algumas coisas. Acima dos números, importa ver que todas apontam algumas tendências inexoráveis: Haddad, o candidato ungido por Lula, iniciou uma decolagem cujo teto ninguém é capaz de prever. Ciro patina e agora tem que disputar os votos de Lula de que pensara ser o beneficiário exclusivo.
À direita, o panorama é de enterro antecipado (falaremos de Bolsonaro mais abaixo). Geraldo Alckmin, mesmo protagonizando tempo equivalente a um longa metragem no horário eleitoral, não sai do chão. Os motivos saem da boca de um dos cardeais de próprio PSDB, Tasso Jereissati. Em entrevista recente, apontou três pecados capitais do partido: contestou o resultado da eleição democrática que escolheu Dilma Rousseff; votou a favor de projetos só porque contrariavam o PT; e, passo definitivo, assumiu a bandeira golpista ao embarcar com armas e bagagens no governo Temer. A cereja do bolo ficou por conta dos telefonemas imorais do candidato Aécio Neves, prova cabal do apodrecimento do partido.
Quanto ao restante, pouco mais há a falar. Meirelles, Amoedos, Alvaros Dias valem tanto quanto uma nota de 3 reais. Marina Silva, quem diria, a mais nova e esganiçada integrante do coro da reação, jogou uma pá de cal em sua biografia de defensora dos oprimidos. Assumiu de vez o papel de Derrota Régia. Aderiu a Aécio Neves, apoiou o golpe do impeachment e agora afirma que o lugar de Lula é mesmo na cadeia porque é corrupto e ponto final.
E Jair Bolsonaro? Sua biografia de primata pessoal e intelectual já foi exaustivamente explorada. Só que, de repente, havia se transformado em tábua de salvação da direita que, na falta de candidatos de verdade, começou a operação tentando dourar o capitão acusado até de explodir quartéis do Exército. Seria um mero crooner de Paulo Guedes –banqueiro privatista, acusado de roubalheiras e defensor do mesmo programa que a quadrilha de Temer vem aplicando.
Mas apareceu uma pedra, ou uma faca, no meio da estrada. Sem Bolsonaro, instalado num leito de hospital classe A, a campanha do milico tende a se esvaziar. Seu vice é um troglodita assumido e orgulhoso disso. Sua última contribuição à “democracia” foi a de propor uma Constituinte sem povo. Escrita por “notáveis”. Quem seriam eles? Só por hipótese: ele mesmo, o que sobrar de Bolsonaro, Brilhante Ustra numa sessão mediúnica, Fernando Henrique Cardoso, Aécio Neves, Michel Temer, Donald Trump e por que não Adolf, sim, aquele mesmo, ainda que por homenagem?
Apesar de tanto ineditismo, poucas vezes uma eleição sinalizou resultado tão antecipado: as forças progressistas têm tudo para interromper a trajetória de um golpe destruidor do Brasil. A palavra-chave é: unidade. Ciro e Haddad, se juntos, seriam imbatíveis já no primeiro turno. Haddad, por exemplo, tem que saber que a bênção de Lula vale ouro.
Não se explica que, na sua mensagem final –único momento em que pôde falar sem ser interrompido 542 de vezes naquela pantomima montada pela rede Globo no Jornal Nacional–, não se explica que Haddad não tenha citado uma vez a injustiça contra o ex-presidente e afirmado que ele será Lula no poder. E sobretudo reafirmado as propostas que transformaram o ex-presidente na figura mais popular da história do país. Já Ciro tem que parar de acender velas a deuses e diabos e mirar no que é urgente e essencial.
Deixadas de lado as mesquinharias partidárias, cumpre mirar no alvo fundamental: derrubar, no voto, pela democracia, em respeito à soberania popular, a quadrilha de saqueadores que assaltou os sonhos dos brasileiros. Até para se preparar contra os próximos golpes que certamente vão ocorrer até 7 de outubro.
Jornalista Ricardo Melo Ricardo Melo*, 63 anos, é jornalista, ex-presidente da EBC (Empresa Brasil de Comunicação)