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  • “As humanidades são apresentadas como a parcela mais dispensável” entrevista com Luis Felipe Miguel

    “As humanidades são apresentadas como a parcela mais dispensável” entrevista com Luis Felipe Miguel

    Mesmo em meio a pandemia do coronavírus (COVID19) o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) mantém seus ataques contra a educação e pesquisa no Brasil. Desde que assumiu, em 2019, Bolsonaro não apresentou nenhum plano para a educação, além de sua destruição. Nas últimas semanas, seguiu com seu plano em dois ataques claros às ciências humanas: dificultou o acesso para bolsas de Iniciação Científica (IC) e vetou projeto de lei que regulamenta a profissão de historiador. Para entender melhor o cenário de ataques à ciência e as humanidades, em especial, conversamos com o professor Luis Felipe Miguel.

    O MEC (Ministério da Educação) já teve dois ministros que, ao lado de Bolsonaro, já identificaram as humanidades como problemas ou inúteis em diversas falas. Mas, além da pasta da educação, o ataque agora vem por meio do órgão federal responsável por financiar as pesquisas no país, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC). No dia 23 de abril o CNPq divulgou que irá selecionar áreas “prioritárias do MCTIC” nas quais são listados eixos: Tecnologias Estratégicas, Tecnologias Habilitadoras, Tecnologias de Produção, Tecnologias para o Desenvolvimento Sustentável e Tecnologias para Qualidade de Vida, para bolsas de Iniciação Científica (IC), nas graduações. A divulgação menciona as “humanidades e ciências sociais” que “contribuam, em algum grau, para o desenvolvimento das Áreas de Tecnologias Prioritárias do MCTIC”.

    Os reitores das três maiores universidades do país – USP, Unicamp e Unesp – soltaram nota conjunta sobre a divulgação, na qual se dizem preocupados com a possibilidade de que, ao estipular essas prioridades, o “CNPq exclui do programa de bolsas uma parcela significativa e importante da pesquisa nacional, a saber, todas as pesquisas, básicas ou aplicadas, que não tenham por foco as áreas elencadas na portaria, o que inclui também a absoluta maioria das pesquisas em artes e humanidades”, e ressaltam que, com a medida, “o CNPq contribuirá para uma drástica redução dos projetos de pós-graduação nessas áreas e, a longo prazo, da própria pesquisa”.

    Para o professor isso se dá por conta

    do modelo econômico do bolsonarismo. Esse modelo quer a projeção de um país absolutamente dependente e exportador de commodities. Um país, que na visão deles, não precisa produzir ciência, já que nosso posição no mercado internacional é a de consumir tecnologia, assim investir em ciência é um desperdício. Uma visão de país colonizada

    Em seguida, no dia 27 de abril, Bolsonaro vetou integralmente o Projeto de Lei (PL) 368/2009 que regulamenta a profissão de historiador. O projeto, proposto em 2009, pelo senador Paulo Paim (PT-RS) só precisava ser sancionado pelo presidente para regularizar a profissão dos historiadores. Agora cabe ao congresso conjuntamente decidir se o veto será derrubado ou não. Estava estipulado no projeto que as atribuições da profissão seriam: magistério da disciplina de História nos estabelecimentos de ensino fundamental, médio e superior; planejamento, organização, implantação e direção de serviços de pesquisa histórica; elaboração de pareceres, relatórios, planos, projetos, laudos e trabalhos sobre temas históricos e que seria necessário diplomação de instituições reconhecidas pelo MEC.

    Miguel entende que o

    veto diz que o governo não julga esse conhecimento e formação sejam relevantes. A não regulamentação também abre espaço para redução dos custos na educação. Isso vem desde a reforma do Temer, onde se reduz a exigência de especialização nas áreas, e abre a brecha para suprir as necessidades das escolas com profissionais menos capacitados e mais baratos

    O veto se deu pela interpretação, do planalto, de que a regulamentação ofenderia “o direito fundamental previsto no art. 5º, XIII da Constituição da República, por restringir o livre exercício profissional” e configura censura, segundo teriam se manifestado o Advogado da União e o Ministério da Economia. A Associação Nacional dos Professores Universitários de História (ANPUH) disse em nota que o veto “não nos surpreende” uma vez que “lidamos com frases e ações diárias de um governo que fere os princípios mais básicos do direito à vida, à informação e à cultura. Além disso, seu principal projeto é o aparelhamento de estruturas autônomas de uma sociedade democrática. A ciência, a história, a justiça, o parlamento só têm valor para este governo se servem aos seus interesses particulares e muitas vezes obscuros”.

    Para apontar mais significados e consequências dessas ações o professor Luis Felipe Miguel, que é titular do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB) e coordenador do Grupo de Pesquisa sobre Democracia e Desigualdades (Demodê) discutiu com os Jornalistas Livres.

    Veja a entrevista completa abaixo:

    Jornalistas Livres – Miguel, esse ataques recentes de Bolsonaro contra as ciências humanas se colocam em um cenário maior, no qual o presidente é um negacionista de qualquer ciência, mas em especial das humanidades. Ele já atacou verbas e institutos de pesquisa, como você entende essas ações?

    Luis Felipe Miguel – Temos um governo, no Brasil, que tem uma grande dificuldade de aceitar a ciência. Um governo que mantém sob constante ataque até mesmo as ciências duras, que têm mais prestígio social. Vemos isso com muita clareza durante a pandemia, esse desprezo pelas recomendações dos cientistas e epidemiologistas ou profissionais de saúde. Mas já vimos isto em diversos momentos, como foi o caso do monitoramento da devastação ambiental com o INPE [Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais]. Para esse governo, qualquer verdade inconveniente tende a ser rechaçada como furto de algum interesse político adversário. Como a ciência frequentemente apresenta verdades inconvenientes, ela se torna alvo. Além de ser um governo que se apoia, como tem acontecido na extrema-direita mundial, em teorias bizarras da conspiração, terraplanismo, negacionismo da teoria da evolução.

    JL – O negacionismo científico é um dos pilares dessa nova direita mundial?

    LF – Exatamente. E não é por acaso. O conhecimento científico sempre se afirma contestando o senso comum. E o que essa extrema direita quer é que os preconceitos arraigados no senso comum, se tornem cada vez mais reforçados, por isso eles [extrema-direita] tem uma ojeriza ao conhecimento científico.

    JL – E como isso funciona no Brasil?

    No caso do Brasil o ataque às ciências, qualquer que seja a disciplina, vem do modelo econômico do bolsonarismo. Esse modelo quer a projeção de um país absolutamente dependente e exportador de commodities. Um país, que na visão deles, não precisa produzir ciência, já que nosso posição no mercado internacional é a de consumir tecnologia, assim investir em ciência é um desperdício. Uma visão de país colonizada. Mas existe uma diferença com as ciências humanas. Nós das ciências humanas temos sempre uma dificuldade para justificar socialmente a nossa existência, uma vez que os frutos do nosso trabalho tendem a ser menos autoevidentes. Isso vale para nós e também para a área de pesquisa básica das ciências naturais, ou seja, aquelas que não são voltadas para a obtenção de um benefício imediato. A matemática, a física teórica, a astronomia, por exemplo. Estas que podem entregar um instrumental para prover avanços tecnológicos, mas são, em sua maior parte, motivadas pelo desejo de conhecer.

    O caso das humanidades é agravado pelo fato do nosso papel, enquanto conhecimento científico produzido, ser o de desnaturalizar a vida social. Dizer que a sociedade é fruto de processos históricos e as instituições que vemos como naturais, não são necessariamente naturais, que as relações não se dão naturalmente. Ou seja, é um conhecimento que desestabiliza essa reprodução automática do mundo social. E, quando bem utilizado, é uma ferramenta na mão de grupos que buscam a emancipação social. Isso incomoda. Por exemplo, onde estão concentrados muitos dos ataques nas Humanidades? Nas questões sobre gênero. Porque os conhecimentos produzidos nas ciências humanas sobre questão de gênero, servem para desnaturalizar hierarquias, para colocar em xeque relações que se mostram opressivas. É claro que um projeto político que tem como ponto central a reprodução dessas opressões vai ter problemas com as humanidades.

    JL – Sobre os cortes nas bolsas de pesquisas, essa última comunicação do CNPq, como ela afeta as humanidades?

    LF – Existe uma política do governo, de redução geral no financiamento das pesquisas, isso também vem desde o governo Temer. Tem relação com a visão de que a pesquisa é desnecessária para um país nas condições do Brasil. O investimento em pesquisa científica, normalmente, está vinculado a uma noção de soberania nacional. A crise do coronavírus mostra isso. Ficamos em uma situação muito vulnerável se não temos nossa própria pesquisa, nossos próprios cientistas, nossos próprios laboratórios para produzir nossas respostas. Ficamos reféns de outros países que vão nos colocar em segundo plano, porque a prioridade vai ser defender a si próprio primeiro. A gente tinha investimento, sobretudo centralizado pela fundação Oswaldo Cruz, que apontava para uma autossuficiência brasileira para a produção de medicamentos, mas foi tudo desfeito. A intervenção contra a Oswaldo cruz já foi forte no governo Temer e no Rio [de Janeiro] temos o Witzel [governador do estado] propondo privatizar Universidades. O Bolsonaro é só a vocalização mais radical de um projeto, que parece atravessar o campo direito todo. Então, o subfinanciamento das pesquisas é geral, mas as humanidades são apresentadas como a parcela mais dispensável e, de forma aberta nesse governo, como desperdício de recursos.

    No mundo todo a pesquisa é profundamente dependente do financiamento estatal e as humanidades mais ainda. Sem esse investimento vamos ter um refluxo muito grande, daquilo que já conseguimos construir em termos de sistema de ciência no Brasil, e nas ciências humanas em particular. estão cortando bolsas de mestrado e doutorado que são fundamentais para que as pessoas se dediquem pelas pesquisas na pós-graduação, onde se tem a formação dos pesquisadores. As bolsas têm valor bem reduzido, que bate por volta de um salário mínimo e meio, no mestrado. Mas são fundamentais para que possam se dedicar. Para alguns é impossível trabalhar e realizar o mestrado, e o corte atrapalha a vida de alguns e impede o seguimento do curso de outros. Muitos desse pós graduandos das bolsas, muitas vezes devolvem dando aulas. Teremos uma retração nas pós. E agora cortaram todas as bolsas de iniciação científica para a áreas de humanas e pesquisa básica. A bolsa de IC é fundamental porque pega o estudante, na graduação, que mostra algum interesse ou potencial para a pesquisa e ele, então, verifica se esse interesse é sólido. em essa entrada, uma boa parte do talento para a pesquisa no Brasil vão ser desperdiçados, sem poder se familiarizar e testar o seu interesse pelo trabalho científico. O que temos é um impacto imediato, uma vez que essas bolsas são fundamentais para o andamento das pesquisas. As iCs tendem a ser a principal fonte de remuneração para assistentes de pesquisa. Mas o impacto maior vai ser no futuro, já que vamos perder uma geração com o corte das ICs. Lembrando que uma bolsa de IC é de cerca de quatrocentos reais, com um dia do socorro do [ministro da economia, Paulo] Guedes aos bancos no começo da crise teríamos dez ano de ICs, chutando.

    JL – Sobre o veto presidencial à regularização da profissão de historiador, entra no conjunto dos ataques. Qual é a importância dessa regularização?

    LF – A regulamentação significa o reconhecimento, a validação pelo Estado, do conjunto que a formação universitária dá às pessoas. Ela não implica em uma censura, só significa o reconhecimento da capacidade de desempenhar uma atividade profissional para quem teve a formação naquela especialidade. Muitas vezes o que acontece é um desprezo pelos nossos conhecimentos específicos. Todo mundo fala sobre política e tem direito sobre falar sobre política, não quero negar esse direito para ninguém. No entanto, quem tem uma formação em ciência política vai ter um conjunto de ferramentas para aprofundar sua investigação sobre fenômenos políticos que pessoas sem essa formação não tem. Com os historiadores é a mesma coisa. Todos podemos contar as histórias, como as da nossa família, mas o historiador profissional é aquele que foi capacitado com um conjunto de ferramentas para fazer a investigação histórica em um patamar diferente de um simples leigo. Cabe ao estado brasileiro reconhecer isso, uma vez que esse leigo vai poder publicar seus livros ou o que quiser, mas quando quisermos a contratação de um historiadores, para formar outras pessoas ou que vai produzir um trabalho especializado, vamos reconhecer que existe uma diferença entre quem teve uma formação específica e quem não teve. É a validação dos conhecimento específicos que uma ciência humana, no caso a história, fornece a quem a cura. O veto diz que o governo não julga esse conhecimento e formação sejam relevantes. A não regulamentação também abre espaço para redução dos custos na educação. Isso vem desde a reforma do Temer, onde se reduz a exigência de especialização nas áreas, e abre a brecha para suprir as necessidades das escolas com profissionais menos capacitados e mais baratos.

    JL – Sobre a possibilidade de mensurar a capacidade de efeitos das ciências sociais, isso se deve a falta de comunicadores das ciências humanas?

    LF – Acho que falta. É uma série de questões envolvidas. Embora as universidades sejam, evidentemente, uma instituição central para produção de pensamento crítico e da pesquisa, mas temos uma série de incentivos para o isolamento da universidade. A gente têm incentivo para que as pesquisas fiquem entre pares, que se use um vocabular excludente. Os esforços para a divulgação e diálogo com a sociedade não são valorizados. Temos uma dificuldade de mostrar o que fazemos. Toda a arquitetura do mundo social é permeada pelos conhecimentos produzidos pelas ciências sociais. Em sociedades tão complexas, como são as sociedades contemporâneas, a nossa vida, sem os aportes que as humanidades fornecem, seria muito difícil. Em momentos de crise, como este que estamos vivendo, as respostas estão fundadas nos conhecimentos das ciências médicas, mas a gestão social da crise depende do aporte das humanidades.

    JL – Qual o papel das grande empresas de comunicação na divulgação de pesquisas e ciências, em geral, e sobre humanidades?

    LF – Os meios de comunicação de massa, no Brasil, são desinteressados dessa pauta de maneira geral e em relação às ciências humanas, de maneira particular. É curioso, uma vez que frequentemente especialistas são chamados para, simplesmente dar uma posição de autoridade sobre determinadas questões, mas não existe atenção para o que está se fazendo como pesquisa, produção de conhecimento, sobre o mundo social. É um jornalismo mais factual, ao meu ver, baseado no dia a dia mais imediato e celebridades de opinião. Então pautas que fujam disso tendem a ficar em segundo plano. Não sabemos até que ponto as coisas permanecem depois que a crise passa, mas acho que nesse momento, com essa irracionalidade galopante no combate ao coronavírus, percebo em vários setores, como na impressa, que acendemos um sinal de alerta quanto a essa absoluta incapacidade de uma grande parcela da população de lavar em conta o conhecimento científico.

    JL – Você citou o caso do diretor do INPE, que foi colocado pelo presidente como um adversário depois que divulgou dos dados do desmatamento e colocou seu, então, diretor como autoridade, sendo chamado para um papel de destaque. Esse episódio pode ser repetido ou melhorado depois do coronavírus?

    LF – Da parte do governo a gente vê a manutenção desse mesmo tipo de procedimento. Não se criou uma resposta social suficientemente forte para inibir esse tipo de ação interessada de agentes da extrema-direita. Hoje, o debate sobre a cloroquina serve de exemplo. Existe uma politização do debate científico, mas uma politização no sentido mais rasteiro, em que você fica contra ou a favor, torce para um lado ou para outro. O que, na estratégia discursiva da direita foi muito inteligente, porque parece que a esquerda está torcendo contra a cura. E na verdade, o que se tem é que, todos os setores que mantém a racionalidade, não estão torcendo contra a cura, mas afirmando que qualquer cura tem que ser comprovada cientificamente e não só basta a vontade de ter uma cura. E isso se torna um debate de uma irracionalidade absurda, com os atores da extrema-direita com uma relação quase que mística com a cloroquina. Isso também é um problema, que aponta para as dificuldade que as escolas têm para universalizar um determinado patamar mínimo de conhecimentos. Como o analfabetismo científico, na grande maioria das pessoas, que não conhecem o método científico. Não entendem como esse método tem que ser aplicado. Não são capazes de entender um gráfico ou estatística simples, para entender o que significa a pandemia. É o tipo de conhecimento, que para uma pessoa se situar no mundo moderno, ela precisa dominar. A gente precisa ver, todo dia no Brasil, como isso falta para uma parcela gigantesca da população.

    JL – Sobre educação. Muitas das formações de Humanidades, nas universidades brasileiras, são voltadas para o magistério, para preparar o professor. Existe uma correlação, entre esse papel das humanidades da formação dos professores, com descrédito das ciências humanas, uma vez que os professores viraram inimigos do governo?

    LF – Sim. Tivemos, ao longo dos anos, o aumento do pseudomovimento, de caráter obscurantista, que é o Escola Sem Partido (ESP) que prega a destruição de tudo que, na instituição escolar, pode servir para fornecer instrumentos para uma apreciação crítica do mundo. Isso já vinha da reforma do período Temer e se agrava no governo Bolsonaro. Com esse palhaço no MEC [o ministro Abraham Weintraub], mas isso é a doutrina do ESP, que é a ideia de que o papel da escola é: prover as pessoas de habilidades básicas, para que sejam empregadas. Não existe o interesse para oferecer instrumentos para o pensamento crítico. Corta-se as disciplinas ligadas a esse pensamento, todas as Humanidades. Corta-se a Sociologia, História, Filosofia e Literatura. Mas mesmo as outras ciências são deixadas em segundo plano. Só é importante que a pessoa faça as quatro operações e saiba ler e escrever, para ser mão de obra pouco qualificada. Afinal, o projeto de país deles é um país atrasado, exportador de matéria prima e essas são as vagas de trabalho que vão surgir. A gente viu isso em conjunto com a ideia de que a escola corrompia as crianças, por aumentar a capacidade delas de pensar autonomamente. Isso leva a uma situação de muita tensão nas instituições de ensino. Vamos ver se, com as escolas fechadas e as crianças em casa, os pais valorizam um pouco mais a existência da escola. Mas consolidou-se, em uma grande parcela da população, a ideia de que os pais têm autoridade absoluta sobre os filhos e que a escola não pode apresentar nenhum conteúdo que os pais não aprovarem. Porém, é importante ressaltar isso, uma das funções das escolas é contribuir para emancipar os filhos de seus pais. Fazer com que esse indivíduo, essa criança, entenda que ele vive em um mundo maior que sua própria família, no qual vai ter que conviver com diferenças, outras crenças e visões de mundo e aprender a respeitar. Assim, a função da escola, é fazer com que as crianças possam, elas próprias, escolher seus próprios caminhos.

    JL – Como as universidades e as humanidades poderiam mudar esse cenário?

    LF – Não tenho um resposta. Tenho uma percepção. Estamos sob ataque faz muito tempo e muitas vezes a tendência tem sido reagir fingindo que mantemos uma certa normalidade e julgando que esse teatro da manutenção da normalidade vai trazer, de alguma maneira esse normalidade de volta. Você faz apelos aos ministro da educação para que ele reconheça a importância das humanidades ou trata vários ataques como sendo fruto de falta de informação. e não é nada disso e temos que parar. Estamos diante de um governo que quer destruir a universidade. Não quer simplesmente controlar ou subfinanciar. É um governo que tem ódio do conhecimento. Temos que entender que a batalha, sem querer ser dramático, de vida ou morte. Não vão ser apelos ao bom senso que vão resolver a questão. Precisamos, nesse momento, fortalecer o apoio disseminado na sociedade para aquilo que fazemos e sensibilizar atores importantes fora do governo para se juntarem a nós na defesa do patrimônio que é a ciência e a universidade no Brasil.

  • Cinco razões para defender Cesare Battisti

    Cinco razões para defender Cesare Battisti

    No momento em que escrevo estas linhas, o escritor Cesare Battisti, de 63 anos, estrangeiro regularmente residente no Brasil por decisão de todas as instâncias cabíveis dos poderes públicos deste país, exerce o direito mais fundamental de todo ser humano: o de preservar, por qualquer meio, sua vida e sua liberdade.

    Cada dia que Battisti sobrevive à caçada policial é um desgosto para Jair Bolsonaro, impedido de pôr em prática sua concepção ditatorial que encara o cargo de Presidente da República como uma carta branca para qualquer tipo de arbítrio.

    Em abril deste ano, o então candidato do PSL, em conversa com o embaixador da Itália, lançou uma de suas típicas bravatas: “No ano que vem, vou mandar um presente para vocês: o Cesare Battisti!”. O assunto só voltou à tona por conta dessa promessa descabida.

    Battisti, ex-ativista de esquerda condenado (injustamente, conforme explicarei logo adiante) à prisão perpétua pelo Judiciário da Itália, mora no Brasil desde 2004. É casado com brasileira e tem um filho brasileiro. Sempre respeitou as leis deste país e exerce dignamente sua profissão.

    A questão judicial envolvendo sua permanência no Brasil foi definitivamente resolvida em dezembro de 2010, quando o presidente Lula, exercendo um poder a ele atribuído pelo Supremo Tribunal Federal (STF), tomou a decisão de rejeitar o pedido de extradição feito pelas autoridades italianas.

    Sabe-se lá quais foram as obscuras negociatas de bastidores entre Michel Temer e o futuro governante que levaram o impostor em final de mandato a usar a extradição de Battisti como um agrado ao seu sucessor, como se fosse um desses brindes de fim de ano.

    O fato é que, em outubro, Temer revogou a decisão de Lula em favor de Cesare Battisti, num ato que foi definido com muita clareza pelo jornalista Josias de Souza, blogueiro da Folha de S.Paulo e figura totalmente insuspeita de esquerdismo:

    “Quando o assunto é cadeia, Michel Temer vira um presidente paradoxal. Denunciado duas vezes (corrupção passiva e obstrução de justiça), investigado em outros dois inquéritos (corrupção e lavagem de dinheiro), Temer pega em lanças no Supremo pela prerrogativa de livrar corruptos da cadeia. Com o mesmo ímpeto, ele guerreia pelo direito de extraditar o condenado Cesare Battisti para um cárcere na Itália.” 

       Sejam quais forem os motivos da decisão de Temer, ela abriu o caminho para que o juiz Luiz Fux inaugurasse prematuramente as perseguições políticas da era Bolsonaro ao determinar, na quinta-feira dia 13 de dezembro, a prisão de Battisti, que desde então tem conseguido se manter em liberdade, driblando os policiais mobilizados por sua captura. Para sua sorte, o Brasil é um país de 8 milhões de quilômetros quadrados.

    Curiosamente, foi o mesmo Fux quem, na década passada, quando o caso tramitava no STF, deu a liminar que travou a extradição, gerando o impasse que culminou com decisão do STF de delegar a Lula a palavra final. Segundo Fux, não se trata de uma incoerência e sim de levar em conta que as “conjunturas sociais” de hoje são bem diferentes daquelas vigentes em 2010. Assim funciona o STF: uma ministra (Rosa Weber) que mantém Lula na prisão apesar de ser dizer favorável à sua soltura, um ministro (Fux) que admite mudar suas próprias decisões de acordo com os ventos da política.

    Diante de tudo isso, é importante que os brasileiros realmente comprometidos com a democracia e com os valores humanistas básicos tomem posição em solidariedade a Cesare Battisti neste momento crucial em que se colocam em jogo, ao mesmo tempo, seu destino pessoal e nosso destino coletivo como país (supostamente) civilizado.

    Apresento aqui, de forma resumida, cinco razões em favor de que Cesare Battisti possa permanecer no Brasil com sua família, tranquilamente, como lhe é de direito:

    1. O mais importante: Battisti é inocente. O episódio  da sua condenação, na Itália, é um escândalo comparável à farsa judicial armada por Sergio Moro contra o ex-presidente Lula. O italiano foi preso, no final dos anos 1970, por sua participação num grupo de extrema-esquerda, e condenado a uma pena de treze anos por vários delitos políticos, como subversão. Fugiu da cadeia poucos meses depois e reapareceu na França, onde obteve asilo político. Só então, as autoridades judiciais italianas, como uma espécie de vendetta, decidiram acusá-lo pelo assassinato de quatro homens (três deles, fascistas envolvidos em diversos tipos de violência). Sem qualquer prova, somente com base em delações premiadas de ex-companheiros que dessa forma conseguiram aliviar suas penas, Battisti foi condenado à prisão perpétua. Para saber mais sobre o assunto, recomendo o excelente livro de Carlos Lugarzo, “Os Cenários Ocultos do Caso Battisti” (Geração Editorial, 2012).
    2. Vamos falar claro: Battisti está sendo perseguido porque é um homem de esquerda. O caso é de alto interesse à ascendente extrema-direita italiana, doidinha para faturar politicamente com o show da extradição. Não por acaso, o político italiano que já está com as malas prontas para viajar ao Brasil e levar o prisioneiro à Itália, algemado, é o vice-primeiro-ministro Matteo Salvini, um notório fascista conhecido pelo seu ódio aos imigrantes. No Brasil, a polêmica em torno do assunto acompanha, em linhas gerais, a clivagem ideológica existente no país. A extradição de Battisti, desde o início, é uma bandeira dos reacionários dos mais diversos matizes, enquanto a esquerda, em geral, tomou partido em sua defesa (com a triste exceção da revista Carta Capital, que optou por engrossar o coro dos linchadores do escritor). Entregar Battisti à Itália favorece a campanha para desmoralizar a gestão presidencial de Lula e significa, na prática, o sinal de largada para um grande pogrom contra os partidos de esquerda, os movimentos sociais e todos aqueles que Bolsonaro chama de “os vermelhos”.
    3. Ao pressionar o Brasil, por diferentes meios e até os dias de hoje, o governo da Itália põe em jogo a soberania política do nosso país. Chegou ao ponto de ameaçar com um boicote à Copa do Mundo de 2014, depois voltou atrás e, no final das contas, isso não fez a menor diferença. Na longa novela do Caso Battisti, não faltou nem mesmo um deputado italiano, Ettore Pirovano, que, em 2009, ao criticar o ministro da Justiça Tarso Genro por sua recusa em conceder a extradição, recorreu ao infame preconceito existente na Europa contra as mulheres brasileiras. “O Brasil é mais conhecido por suas dançarinas do que por seus juristas”, ironizou o parlamentar, do partido neofascista Liga do Norte. Entende-se, aí, o que esse elemento quis dizer por dançarinas.
    4. A extradição de Battisti é uma completa aberração do ponto de vista jurídico. Como bem lembrou o jornalista Celso Lungaretti no seu blog Náufrago da Utopia, “a sentença que a Itália quer fazer valer não só prescreveu em 2013 (trocando em miúdos: também está extinta), como se trata de uma condenação à prisão perpétua, ao passo que as leis brasileiras proíbem a extradição de quem vá cumprir no seu país de origem uma pena superior a 30 anos de reclusão”.
    1. Finalmente, a extradição de Cesare Battisti representa uma grave violação ao princípio da segurança jurídica. A decisão de Lula, que negou o pedido de extradição em 2010, foi confirmada no ano seguinte pelo STF. Sim, depois de tudo, o decreto de Lula ainda foi submetido ao STF, que o aprovou no dia 11 de junho de 2011, por seis votos contra três. Os seis juízes que votaram a favor da decisão de Lula e pela rejeição das queixas da Itália foram Fux (impressionante!), Lewandowski, Marco Aurélio, Carmen Lúcia, Ayres Britto e Joaquim Barbosa. Em suma: assunto encerrado, julgado em todas as instâncias possíveis muito além do que seria imaginável. Desde então, Battisti já não é mais um refugiado político, e sim um imigrante com residência permanente, condição que mantém até o presente momento. Aceitar sua prisão e entrega a um governo estrangeiro significa admitir que as garantias jurídicas já não valem mais nada no Brasil, que qualquer cidadão ou cidadã pode a qualquer momento ser vítima do arbítrio do Estado, exatamente como ocorreu durante os 21 anos da ditadura militar – os tempos da tirania, que os fascistas estão tentando implantar novamente, mas não conseguirão.

     


    (*) Igor Fuser é doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo (USP) e professor de Relações Internacionais na Universidade Federal do ABC (UFABC). Este artigo foi elaborado para o projeto Jornalistas pela Democracia.

  • Neoliberalismo, Distopias e Bolsonaro presidente

    Neoliberalismo, Distopias e Bolsonaro presidente

    A eleição de Jair Bolsonaro para a presidência da república do Brasil deixa o mundo estarrecido. Seu estilo autoritário e agressivo, sua apologia à tortura, suas continuadas ofensas a determinados grupos ao longo de seus quase 30 anos de vida parlamentar (mulheres, negros, LGBTQs) e seu desprezo aos princípios democráticos são tão impressionantes que mesmo para um nome de destaque mundial da extrema-direita, como a francesa Marie Le Pen, ele causa repulsa: “suas declarações são inaceitáveis”, ela diz. Não por acaso, só Trump parece relevar tudo isso e louva, pelo Twitter, a conversa alvissareira que teve, em 30 de outubro, com o presidente eleito.

    Considerando que o Brasil não é um país pequeno e sem importância no cenário mundial, bem ao contrário, e considerando, portanto, que essa eleição significa o voto de mais de 57 milhões de pessoas em alguém como Bolsonaro (ainda que esse contingente represente apenas 39,2% dos eleitores do país), cabe uma reflexão profunda e que mobilize todo o arsenal teórico à disposição para que se possa identificar as causas desse terremoto anticivilizatório. Evidentemente não é possível fazê-la no curto espaço de um artigo e, seguramente, independentemente do que possa vir a acontecer a partir de agora, esse resultado será discutido e estudado, analisado e dissecado por décadas a fio. É possível, contudo, antecipar alguns elementos, que podem jogar alguma luz em episódio tão sombrio.

    Um fenômeno dessa magnitude nunca é isolado, de modo que não pode ser explicado mobilizando-se apenas variáveis relativas às questões sociais e políticas internas ao país. Além disso, o mundo é hoje cada vez mais integrado, seja por conta da forma que foi tomando o processo de acumulação de capital desde o início dos anos 1980, num sistema econômico que é hoje (depois da transformação capitalista da China) verdadeiramente mundial, seja pelo estupendo desenvolvimento das assim chamadas tecnologias de informação e comunicação (elemento, por sinal, de extrema importância no resultado das eleições brasileiras).

    O cenário externo

    Nosso primeiro olhar vai, portanto, para o cenário externo.Depois de mais de três décadas de ascensão e difusão da cartilha e das políticas neoliberais mundo afora (como se sabe, mesmo países europeus geridos por longos períodos por partidos social democratas acabaram por sucumbir a essas políticas – e o Brasil comandado pelo Partido dos Trabalhadores tampouco foi diferente), o neoliberalismo parece ter chegado num ponto de saturação e sem ter entregue aquilo que prometera.

    No início dos anos 1980, as teorias da “repressão financeira” alegavam que a estrutura institucional herdada do pós-segunda guerra mundial – com seus controles, regras, tributos e quarentenas – era deletéria para o desenvolvimento, e que a liberalização financeira, ao tornar mais eficiente a alocação de capitais no globo, traria melhores tempos para todos os países, potenciando o crescimento.

    O mesmo se dizia da generalização da abertura comercial, pois que a economia mundial viria a ser então uma harmônica aldeia global, em que todos os países, beneficiados por suas vantagens comparativas mútuas, sairiam ganhando materialmente.

    O resultado após três décadas de neoliberalismo

    Mas o resultado dessas políticas, três décadas depois, foi o aumento da desigualdade (inclusive entre os países), o crescimento muito lento e o surgimento de um desemprego que tem características estruturais. Tudo isso piorou substantivamente com o advento da crise financeira internacional de 2008-09, que não só tornou ainda mais indigestos os resultados desse modelo, como, ao longo da última década e graças aos meios segundo os quais se tentou equacionar os problemas, aprofundou as contradições que estão em sua base.

    O voto antissistema é uma consequência imediata dessa situação. É por aí que devem ser explicados, a meu ver, a eleição de Trump nos Estados Unidos, o Brexit britânico e a ascensão de partidos e políticos de extrema direita em todo o planeta (Hungria, Polônia, Itália, Filipinas, Turquia, Bulgária, e agora, infelizmente, também o Brasil – que já estava nesse caminho, deve-se notar, desde o injustificável impeachment da presidenta Dilma em 2016 e o início do governo Temer). O cenário é distópico.

    Cabe, no entanto, perguntar:  por que o sentimento antissistema vem resultando majoritariamente numa aposta que parece antes contribuir para o aprofundamento do modelo que é o responsável pela geração dessa situação ruim e desguarnecida de perspectivas, do que no sentido contrário?

    É verdade que o voto antissistema também flui para esse último lado: Bernie Sanders quase se tornou candidato nas últimas eleições presidenciais americanas, Obrador venceu no México, temos a primavera socializante e alvissareira de Portugal e a surpreendente vitória de Jeremy Corbin no tradicional e ainda poderosíssimo Labour Party inglês. O predomínio, contudo, parece estar no primeiro movimento. Por quê?

    A vitória ideológica do neoliberalismo

    A resposta a essa pergunta passa por caminhos que vão além das variáveis e análises puramente econômicas e/ou políticas. É preciso aqui mobilizar os filósofos, os pesquisadores de costumes, os antropólogos urbanos, os sociólogos. Lendo Pierre Dardot e Christian Lavall, Nancy Fraser, Dany-Robert Dufour, Wolfgang Streeck, Naomy Klein, André Gorz dentre outros, vai sendo possível perceber que, na quadra histórica que se inicia ao final dos anos 1970, não foram apenas as máximas e as políticas neoliberais que ganharam proeminência: a vitória ideológica foi também retumbante.

    A insistente pregação neoliberal, quase nunca desacompanhada do mote there is no alternative, foi transformando corações e mentes e instituindo, no ideário de boa parte da população, sobretudo daqueles mais negativamente afetados pela ascensão das políticas neoliberais, os valores da concorrência, do cada um por si, do self made man, do mérito próprio, do empresário de si mesmo, do cidadão como “cliente” do Estado.

    A cooperação, a solidariedade, a importância do coletivo, do comum, da comunidade, foram atirados nos desvãos da história junto com o muro de Berlim e os “velhos” e empoeirados expedientes do Estado-Nação, da sociedade de classes, das políticas universais, dos controles sociais/estatais impostos à sanha acumulativa.

    Como lembra Nancy Fraser, mesmo as chamadas pautas identitárias (mulheres, LGBTQs, minorias raciais) foram inteiramente capturadas pelo espírito the winner takes it all. Não é de espantar que a reação às mazelas do mundo neoliberal, aprofundadas pela crise de 2008-2009, se virem “contra” o sistema na direção errada e acabem por fortalecê-lo, arrastando para os mesmos desvãos da história a própria democracia.

    Elementos domésticos

    No caso da vitória de Bolsonaro somaram-se a esse espírito de época decorrente das quase quatro décadas de neoliberalismo, alguns elementos domésticos não menos importantes para o resultado funesto produzido em 28 de outubro.

    Entre 2003 e meados de 2016 (até o impeachment de Dilma Rousseff) o Brasil foi governado pelo Partido dos Trabalhadores (PT). Sob esses governos, a economia brasileira, apesar de continuar submetida, em boa parte do tempo, a uma política econômica de corte neoliberal, que beneficiava continuamente a riqueza financeira, floresceu e conseguiu resultados positivos impulsionados pela boa fase da economia mundial pré-crise e pelo efeito multiplicador dos massivos programas de renda compensatória (Bolsa Família), associados à substantiva elevação do valor real do salário mínimo.

    Contra o sentido neoliberal, esses governos também brecaram as privatizações e, a partir de 2006, deram forte impulso aos investimentos públicos. No mesmo sentido, a política externa “ativa e altiva” do país ao longo desse período recusou a ALCA, fortaleceu os BRICS e o Mercosul e retirou o país do costumeiro alinhamento direto com os interesses dos países centrais, EUA em destaque.

    Apesar do sucesso em termos de crescimento, nível de emprego e redução da desigualdade, sem que os interesses dos muito ricos tivessem sido afetados, as elites do país, de feição ainda extremamente senhorial, nunca aceitaram o PT e sua maior liderança, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

    O sentimento de “perda” de poder se instalou e, no caso das classes médias altas, esse sentimento foi magnificado por conta das políticas públicas dos governos do PT, que colocaram os mais pobres em espaços antes exclusivos das elites: os aeroportos, as universidades, os shoppings mais chiques.

    O “combate à corrupção”

    Assim, desde pelo menos 2005, iniciou-se, com a inestimável colaboração da grande mídia, uma implacável campanha de difamação e demonização do Partido dos Trabalhadores e de suas principais lideranças. Sempre ao abrigo da justa demanda social pelo combate à corrupção, o sistema judiciário do país, com o beneplácito das elites econômicas e dos partidos mais à direita, foi empreendendo uma “operação de limpeza” seletiva, que passou a “julgar” e punir apenas os políticos e partidos de esquerda, sobretudo do PT, enquanto os demais políticos e partidos continuavam a ser tratados com a habitual camaradagem.

    É nesse sentido que se deve entender a ação penal 470 (no processo conhecido como “mensalão”), o infundado impeachment da presidenta Dilma, a operação Lava Jato, a juridicamente insustentável prisão de Lula no bojo da citada operação, e seu impedimento de concorrer às eleições – sendo o candidato de longe favorito e aparecendo com quase o dobro das intenções de voto de Bolsonaro no início do processo eleitoral (e isto mesmo com a determinação, duas vezes enviada ao governo brasileiro pelo Comitê de Direitos Humanos da ONU, de que se garantisse a Lula o exercício de todos os seus direitos políticos).

    No corpo a corpo com os eleitores que as forças democráticas do país empreenderam nas últimas semanas do segundo turno para tentar virar as intenções de voto em Bolsonaro, um dos argumentos que mais se ouvia era que o PT era sim o partido mais corrupto do país, porque afinal a maior parte dos políticos condenados era ou havia sido ligada ao partido.

    Mesmo argumentando que o PT, por qualquer critério que se escolha (políticos cassados, processados etc.) está sempre em 9º ou 10º lugar, aparecendo na frente dele a maior parte dos partidos de direita e aqueles que estão hoje no comando do país, sob o governo Temer, os eleitores continuavam desconfiados, preferindo continuar a crer na imagem do partido em que foram sendo doutrinados a acreditar por mais de uma década.

    A marcha da agenda rechaçada nas urnas

    A crise econômica internacional, que atinge o Brasil a partir de 2011, ajudou a engrossar as críticas ao PT e a seus governos. Os movimentos de maio de 2013, iniciados por uma juventude de esquerda horizontalista e apartidária, tendo como foco reivindicações ligadas ao transporte público, foram rapidamente capturados pela direita, com o auxílio sempre determinante da grande mídia.

    A quarta vitória consecutiva do PT nas eleições presidenciais de 2014, que ainda assim acontece, detonou a operação conjugada do judiciário, grande mídia, empresariado e partidos de direita para usurpar o poder delegado a Dilma Rousseff pelo voto de mais de 54 milhões de brasileiros e pôr em marcha uma agenda fortemente neoliberal, que havia sido rechaçada nas urnas (privatizações, entrega do patrimônio natural do país, cortes nos direitos dos trabalhadores).

    Os interesses do grande capital internacional, com destaque para o petróleo das camadas do pré-sal, também tiveram papel determinante. É hoje de conhecimento público o fato de magistrados brasileiros como Sérgio Moro, o todo poderoso juiz de primeira instância, comandante da operação Lava Jato, que quase destruiu a Petrobras e a respeitada indústria de construção pesada do país, terem sido treinados nos Estados Unidos e apetrechados com os instrumentos e as ferramentas da chamada lawfare.

    Tampouco é por acaso que uma das primeiras medidas do governo de Temer foi a alteração de algumas regras do regime de exploração do pré-sal, buscando dar maior espaço para as grandes petroleiras mundiais.

    Despolitização, teologia da prosperidade e fake news

    Finalmente não se pode deixar de mencionar a relação despolitizada da população beneficiada pelas políticas implantadas pelos governos do PT com essas mesmas políticas e programas, por culpa, é preciso que se diga, do próprio partido.

    Combinada com a irrefreável ascensão das igrejas pentecostais e sua teologia da prosperidade (não estranha, muito ao contrário, ao referido ideário do neoliberalismo), essa despolitização foi decisiva para a aceitação totalmente acrítica do tsunami de fake news advindo da campanha de Bolsonaro contra o candidato do PT no segundo turno, Fernando Haddad –  que ele incentivaria o incesto, que teria estuprado uma menina de 11 anos, para mencionar apenas duas das incontáveis mentiras sobre ele que foram sendo persistentemente propagadas por milhares de robôs, cujos links apresentavam como local de origem os EUA.

    Há 10 dias da realização do segundo turno, a divulgação pela imprensa do financiamento desse ataque digital nas fechadas redes de WhatsApp por dinheiro de caixa 2 proveniente de empresas, o que é proibido pela atual legislação brasileira e considerado crime eleitoral, deu alguma esperança de que o fascismo da campanha de Bolsonaro seria afinal derrotado, mas esse desfecho feliz não aconteceu.

    O juiz Sérgio Moro, que disse que a corrupção destinada a caixa 2 de campanha eleitoral é ainda mais perniciosa do que a corrupção destinada ao enriquecimento pessoal porque constitui um ataque direto à democracia, acaba de aceitar o convite de Bolsonaro para ser o seu ministro da justiça. Não é preciso dizer mais.

  • Sem estabilidade política não há crescimento

    Sem estabilidade política não há crescimento

    Como vão as finanças públicas do governo da coligação MDB e PSDB.

    Depois de todos os cortes nos programas sociais e de congelamentos de despesas a perder de vista, o governo do MDB e PSDB continuam exibindo déficits assustadoramente altos. Nos 12 meses encerrados em julho, o setor público gastou R$ 472 bilhões, ou, quase meio trilhão de reais, a mais do que arrecadou.

    A dívida do setor público, dívida bruta do governo geral, obviamente continua subindo com rapidez: atingiu R$ 5,2 trilhões de reais e equivalia, em julho, a 77% do PIB.

    Como explicar esse déficit tão alto se os cortes fazem sangrar desde o combate à fome e à pobreza, até o financiamento da pesquisa, passando pelo custeio das universidades e instituições públicas?

    Poucos comentam e nunca cogitam reduzir, mas o gasto com juros continua absurdamente alto: R$ 395 bilhões. Existe, ainda, uma razão fundamental que está do lado das receitas do governo. A contração da atividade econômica leva à contração do impostos e o caminho dos cortes, adotado após o golpe, não promoveu a recuperação prometida. A rota escolhida, nos mesmos moldes daquelas impostas pelo Fundo Monetário Internacional nas crises de dívida dos países emergentes, é sempre muito longa e penosa, especialmente para aqueles de menor que são os primeiros a perder o emprego e ver cortada sua assistência social.

    Mas há um outro componente importante nas causas da fraqueza econômica: a instabilidade política. O golpe trouxe uma instabilidade para o horizonte de planejamento econômico que não existiu no governo Lula e no primeiro mandato de Dilma. Não tivemos um momento de sossego após a eleição de 2014, essa é a verdade.

    Imagine-se empresário tentando planejar o futuro assim que Temer e Meirelles assumiram. O que se enxergava no horizonte? Além de cortes sobre cortes nos gastos e investimentos públicos, que eram determinantes para a recessão, não se sabia até quando o governo ia durar. Aliás, Temer e seus aliados não caíram por corrupção por malabarismos da elite econômica, política e do sistema de justiça.

    Façamos o mesmo exercício hoje, a cerca de um mês da eleição. Que assumirá o executivo em janeiro de 2019? Esse novo presidente conseguirá trazer um mínimo de conciliação necessário para o crescimento econômico?

    Não tardará para os artífices do golpe perceberem o prejuízo que causaram ao país e a si próprios. Talvez demore, sim, para perceber que há somente um sujeito capaz criar, em curto espaço de tempo, o ambiente necessário para o crescimento econômico.

    Resultados Fiscais

    Veja abaixo o a nota para a imprensa sobre os resultados fiscais divulgada pelo Banco Central do Brasil em https://www.bcb.gov.br/htms/notecon3-p.asp.

    1. Resultados fiscais

    O setor público consolidado registrou déficit primário de R$3,4 bilhões em julho. O Governo Central e os governos regionais apresentaram déficits respectivos de R$2,7 bilhões e R$1,8 bilhão; e as empresas estatais, superávit de R$1,1 bilhão.


    [Devemos tomar cuidado com esse gráfico, pois os valores acima de zero representam déficits. Assim os R$ 77,1 bilhões representam o déficit do setor público acumulado em 12 meses até julho de 2018]]

    No acumulado no ano, o resultado primário do setor público foi deficitário em R$17,8 bilhões, comparativamente a déficit de R$51,3 bilhões no mesmo período de 2017. No acumulado em doze meses até julho, o setor público consolidado registrou déficit primário de R$77,1 bilhões (1,14% do PIB), 0,2 p.p. do PIB inferior ao déficit acumulado até junho.

    Os juros nominais do setor público consolidado, apropriados por competência, alcançaram R$25,8 bilhões em julho, comparativamente a R$28,5 bilhões em julho de 2017. No acumulado em doze meses, os juros nominais atingiram R$394,5 bilhões (5,86% do PIB), reduzindo-se na comparação com o período de doze meses encerrado em julho de 2017, R$428,2 bilhões (6,64% do PIB).

    [É curioso notar que quase não ouvimos falar da despesa de juros: quase R$ 400 bilhões em 12 meses]

    O resultado nominal do setor público consolidado, que inclui o resultado primário e os juros nominais apropriados, foi deficitário em R$29,2 bilhões em julho. No acumulado em doze meses, o déficit nominal alcançou R$471,6 bilhões (7,0% do PIB), reduzindo-se 0,27 p.p. do PIB em relação ao déficit acumulado em junho.

    1. Dívida Líquida do Setor Público (DLSP) e Dívida Bruta do Governo Geral (DBGG)

    A DLSP alcançou R$3.503,5 bilhões (52,0% do PIB) em julho, aumentando 0,6 p.p. do PIB em relação ao mês anterior.

    [Lembremos que a Dívida Líquida do Setor Público (DLSP) estava em 32% do PIB quando Dilma Rousseff foi retirada do governo, uma escalada de 20 pontos percentuais em pouco mais de dois anos.]

    O impacto da apreciação cambial de 2,6% no mês respondeu por elevação de R$30,8 bilhões no estoque da DLSP, correspondente a 0,5 p.p. [ponto percentual] do PIB.

    No ano, o aumento de 0,5 p.p. na relação DLSP/PIB refletiu, em especial, a incorporação de juros nominais (aumento de 3,4 p.p.), o déficit primário (aumento de 0,3 p.p.), o efeito da desvalorização cambial acumulada de 13,5% (redução de 2,0 p.p.) e o efeito do crescimento do PIB nominal (redução de 1,3 p.p.).

    A DBGG – que compreende o Governo Federal, o INSS, e os governos estaduais e municipais – alcançou R$5.186,5 bilhões em julho, equivalente a 77,0% do PIB, reduzindo-se 0,1 p.p. do PIB em relação ao valor registrado em junho.

    Contribuíram para essa evolução os resgates líquidos de dívida no mês (redução de 0,1 p.p.), o efeito da valorização cambial de 2,6% (redução de 0,1 p.p.), e o efeito do crescimento do PIB nominal (redução de 0,5 p.p.), contrabalançados parcialmente pela incorporação de juros nominais (aumento de 0,6 p.p.).

    No ano, a relação DBGG/PIB registra elevação de 3,0 p.p, decorrente da incorporação de juros nominais (aumento de 3,4 p.p.), das emissões líquidas (aumento de 0,8 p.p.) e do efeito do crescimento do PIB nominal (redução de 1,9 p.p.).

    [Em abril de 2015, quando Dilma foi retirada do governo, a Dívida Bruta do Governo Geral (DBGG), que está em 77% do PIB, representava 59% do PIB]

  • PT propõe o contrário do que fazem MDB e PSDB na economia

    PT propõe o contrário do que fazem MDB e PSDB na economia

    Reduzir gastos tem sido a marca da política econômica do governo do MDB e do PSDB, com Temer na presidência. A principal ação foi a Emenda Constitucional 95, chamada de PEC do Fim do Mundo, que comprime as despesas e os investimentos públicos por 20 anos. Embora tenham sido muitos os cortes, fiquemos nesse teto de gastos.

    Antes do impedimento de Dilma, o MDB lançou o programa Ponte para o Futuro, fortemente amparado nas crenças dos economistas do PSDB. Esse programa explica que a lógica por trás dos cortes era que os empresários, ao perceberem finanças públicas saudáveis, teriam mais confiança no futuro, fariam os investimentos necessários para voltarmos a crescer, o emprego aumentaria (com piores condições para os trabalhadores, mas aumentaria) e seríamos felizes para sempre.

    Mas não foi bem assim que os eventos se sucederam.

    Em primeiro lugar, é preciso reforçar que sem estabilidade política, sem alguma previsibilidade, não há confiança. Além disso, os empresários só tomam a decisão de investimento quando há perspectiva de lucro. Eles, habitualmente, adiam seus projetos de crescimento se percebem que terão dificuldades para vender seus produtos. Cortes e mais cortes nas despesas e nos investimentos do governo não inspiram muito lucro futuro para as empresas, não é verdade?

    Vejamos, como exemplo, os cortes nos investimentos públicos:

     

    Esse primeiro gráfico mostra o investimento público de 1947 até 2017. Atingimos o menor valor da série em 2017, quando os governos federal, estaduais e municipais investiram 1,85% do PIB. Esse percentual equivale a cerca de 120 bilhões de reais. Se compararmos com os 13 anos dos governos de Lula e Dilma, chegamos ao fato que, sob Temer/Meirelles, o governo investiu, em 2017, cerca de R$ 100 bilhões a menos do que a média (3,4%) dos anos de governo petista. Sob aplausos dos economistas do mercado financeiro e dos meios de comunicação conservadores, foram retirados 100 bilhões de reais do organismo econômico. Notem que estamos nos referindo somente à linha investimentos, o arrocho não parou por aí.

    Ao perceberem esses e outros cortes nos dispêndios do governo, além da falta de horizonte político, os empresários se retraíram. Somou-se a retração dos empresários aos cortes do governo. O resultado foi que a taxa de investimento da economia brasileira despencou nos últimos anos.

    A taxa de investimentos total da economia brasileira ficou em 15,63% do PIB em 2017. Essa é a menor taxa de investimento desde 1965. Repetindo o mesmo cálculo anterior, percebemos que, em 2017, o investimento total da economia brasileira foi 200 bilhões de reais menor que a média (18,86% do PIB) dos 13 anos de governos Lula e Dilma.

    Ou seja, o governo deixou de investir 100 bilhões de reais, os empresários se retraíram e também deixaram de investir outros 100 bilhões. Um dos setores mais afetados pela queda brusca nos investimentos foi a construção, como nos mostra o gráfico abaixo, extraído do Boletim Trabalho e Construção na Região Metropolitana de São Paulo. Reparem que o setor fechou 139 mil postos de trabalho nos últimos três anos só na grande São Paulo, o que totaliza uma queda de 18,8%.

    Mas e os consumidores? Bem, com o número de desempregados oscilando entre 12 e 14 milhões, não se pode esperar que o consumo fique aquecido. Os trabalhadores que conseguiram manter seus empregos, especialmente aqueles de renda mais baixa, reduziram seu consumo aos produtos de subsistência. Não é por outro motivo que a queda principal nas vendas se verificou nos automóveis, motos e bens de consumo durável.

    E assim resta, mais uma vez, demonstrado o ciclo vicioso da austeridade em um momento de recessão: o governo quer demonstrar para todo mundo seu compromisso com o equilíbrio fiscal, então corta despesas e investimentos. Os empresários sabem que a falta de dinheiro em circulação vai complicar suas vendas e seus lucros. O que fazem? Cortam investimento e custos. Imitam o governo. Os trabalhadores que perderam seus empregos são alijados do mercado de consumo. Aqueles que conseguiram permanecer trabalhando, receosos, cortam seus gastos ao mínimo. Os impostos caem e o governo arrecada menos. O ministro da Fazenda reafirma que equilibrará as contas públicas e corta mais um pouco. E o ciclo se realimenta. O termo austericídio é bem adequado a essa política econômica.

    E o que propõe o programa do Partido dos Trabalhadores?

    Em uma frase: o PT quer fazer tudo ao contrário do que fizeram os aliados MDB e PSDB. A começar pela revogação da Emenda Constitucional 95, o Plano Lula de Governo assume que, em momentos de recessão, o único motor com capacidade para retirar a economia do atoleiro é o governo. O Plano se propõe a fazer isso em duas vertentes: aumentar os investimentos e os recursos para o consumo nas mãos dos mais pobres.

    As iniciativas emergenciais, delineadas no Plano, para a economia voltar a criar oportunidades de emprego são: a retomada das obras inacabadas, dos investimentos da Petrobras e do Programa Minha Casa Minha Vida. Além de reforçar o programa Bolsa Família e criar linhas de crédito com melhores condições para famílias endividadas.

    A lógica do Plano é que ao perceber a disposição do governo em empurrar para que a economia “pegue no tranco” e ao sentir os efeitos do retorno dos fluxos de recursos na economia, empresários e consumidores voltem a se animar, voltem a ter expectativas positivas quanto ao futuro.

    Mas existe dinheiro para retomar investimentos? No primeiro momento será necessário aumentar a dívida pública, pois a arrecadação caiu fortemente com a recessão. No entanto, o retorno do crescimento permitirá que a arrecadação cresça e a administração da dívida a faça retornar aos níveis em que estavam antes da crise. O crescimento real do PIB, 45%, dos anos 2003 a 2015, fez com que a dívida líquida do setor público chegasse a um nível bastante baixo: 35,64% do PIB em dezembro de 2015.

    O último dado da dívida líquida, de junho de 2018, é de 51,41% do PIB. O crescimento foi de 16 pontos percentuais, que equivale a um acréscimo na dívida do governo de 1,3 trilhão de reais. Note-se que, mesmo com um discurso oficial, do MDB/PSDB, de austeridade e compromisso com as finanças públicas, a dívida subiu assustadoramente. Isso é a demonstração cabal de que a política de cortes não deu certo. Bem ao contrário, ajudou na recessão ao mesmo tempo em que provocou um salto na dívida do governo. Aliás, a experiência internacional, aceita atualmente até mesmo pelo Fundo Monetário Internacional, é que a austeridade preconizada há algumas décadas somente fazem agravar a recessão e a dificultar a vida dos mais pobres.

    O Plano Lula de Governo para reativar a economia brasileira não para por aqui. Envolve planejamento, reindustrialização, desenvolvimento regional, compromisso do Banco Central com o emprego e com a inflação, reforma tributária para tornar o sistema mais simples e socialmente mais justo, entre outros projetos. Mas esses assuntos serão tratados em um próximo texto.

     

    Notas

    1 Para ver o Plano Lula de Governo: http://www.pt.org.br/plano-lula-de-governo-2018-e-apresentado-ao-pais/

    2 Para ver Boletim Trabalho e Construção na Região Metropolitana de São Paulo do Dieese:  https://www.dieese.org.br/boletimtrabalhoeconstrucao/2018/pedBoletimTrabalhoConstrucaoSAO.html

     

  • Prognósticos sobre as eleições de 2018

    Prognósticos sobre as eleições de 2018

    Esta não será a primeira vez e espero que não seja a última, em que escreverei comentários sobre as próximas eleições antes, claro, que elas ocorram (comentar depois quase que não tem graça). Por isso o uso do termo “prognósticos”, e não previsões. Aqui apontarei tendências, possibilidades, cenários. Há muito de intuição, mas de análise com base em fatos, dados e pesquisas. O que farei aqui é tudo, menos previsões. Entendam dessa forma.

    O cenário em que as eleições ocorrem

    Diferente de todas as quatro eleições corridas onde houve a vitória do povo (2002, 2006, 2010 e 2014), estas ocorrerão em uma situação do país em um estado de exceção, de golpe de estado parlamentar onde uma presidente legitima foi derrubada em 2016 e que o melhor presidente de nossa história e maior líder popular do país (desde Prestes e Getúlio) encontra-se na condição de preso político do sistema e do imperialismo.

    Governa o país uma quadrilha de bandidos. Alguns dos ministro do Temeroso já foram presos. Outros na iminência de virem a ser. Ele próprio, usurpador e golpista principal – em aliança com os tucanos FHC, Aécio e Alckmin – assim que deixar o governo poderá também ser encarcerado. O parlamento tem praticamente 80% de seus deputados vinculados ao campo da direita, do latifúndio, aos fundamentalistas evangélicos (que, de cristãos, não têm nada), do agronegócio, de empresários da elite do atraso.

    As eleições irão ocorrer em completa anormalidade institucional.

    Vivemos um estado de exceção.

    O poder judiciário partidarizou-se como um todo, de forma que juízes militam pela causa antipetista e pró-Estados Unidos de forma descarada. E com total apoio do chamado Ministério Público. Nunca o poder midiático esteve tão escancaradamente a favor de um golpe como nestes tempos. Nenhuma das TVs tem programação, em especial jornalística, equilibrada (e olha que não precisaria ser neutra). Todas, sem exceção, dedicam várias horas diárias para bater na tecla de que Lula e seu Partido são os chefes de uma gangue que assaltou os cofres públicos. Sem jamais ter oferecido uma só prova sobre isso.

    Teremos eleições em 7 de outubro vivendo em um país que – além de já termos sidos a sexta economia mundial e respeitados em todos os fóruns internacionais – é visto hoje como um pária internacional, uma escória de nação subdesenvolvida, com um povo famélico e uma elite vendida aos Estados Unidos, boa parte dela residente em Miami.

    Entregaram nosso passaporte para o futuro, que era o pré-sal

    – a maior reserva petrolífera marinha do mundo –

    às petroleiras estadunidenses entre outras.

    A privatização de todo o nosso sistema elétrico está em andamento. Entregaram a maior fabricante de aviões médios e regionais do mundo, que é a Embraer para a gigante Boeing.

    O grande sonho de consumo da burguesia brasileira – que nem FHC consegui realizar em seus malfadados oito anos de desgovernos (1995-2002) – de destruir, de revogar, de rasgar a CLT foi conquistado com apoio de um Congresso vendido (literalmente). Precarizam a previdência pública a cada dia. Congelaram desde o ano passado, todos os investimentos em saúde, educação e segurança pública por absurdos 20 anos.

    Nesse sentido, as dezenas de pré-candidaturas vão sendo afuniladas nestes últimos dias em que se esgotam os prazos legais de registros das candidaturas dos partidos e suas coligações. Vai ocorrendo, de forma até natural, uma drástica diminuição dos nomes dispostos a seguir até o dia das eleições. A instabilidade decorre, especialmente, pelo fato de que o líder absoluto em todas as pesquisas – Lula da Silva – encontra-se preso e pairam dúvidas jurídicas de que seu nome e sua foto aparecerão na urna eletrônica.

    Assim, quero fazer as análises dos cenários possíveis, das campanhas e das candidaturas.

    A seguir essas opiniões para o debate.

    O campo da extrema direta e do fascismo – Aqui temos a candidatura representada pelo capitão reformado e fascista que atende pelo nome de Jair Bolsonaro. Muitas pessoas – eu incluso – ficam estupefatos com a consistência que tem tido até aqui do seu eleitorado e da sua intenção de voto na casa dos 15%. A direita – que a mídia insiste em chamar de “Centrão” (sic) – inventou esse fascista. Um outsider absolutamente sem nenhum conteúdo, um analfabeto político que não sabe nada de nada, um misógino e homofóbico raivoso, tem, na verdade, um eleitorado cativo. Brancos, altamente escolarizados e de alta renda, com uma juventude que vem sendo chamada de “dourada”, também elitizada. Ele cresceu porque roubou votos do eleitorado tucano fascista e direitista do PSDB. Alckmin não decola em função disso. Acho muito difícil ele sustentar seus índices eleitorais atuais. Acho que seus índices são teto eleitorais. Não passará disso e começará a cair. Deve esvaziar. Ademais, terá no máximo oito segundos na TV. Enfrenta dificuldade de arrumar até um vice.

    O campo da direita – Já desde a semana passada, o chamado “Centrão” – deveriam chamar de “Direitão” – viveu um pânico generalizado. Baixaram uma ordem unida – vindo diretamente da Globo – para que todos se unificassem em torno do velho Picolé de Chuchu, envolvido até o pescoço em corrupções e maracutaia nos 24 anos de desgovernos da tucanalha paulista. Temer mandou sua base de apoio inteira apoiá-lo. Aliás, o governo em desagregação do Temeroso tem 29 ministros, dos quais 14 são de partidos da base aliada. O PMDB tem cinco; o PP tem três; e todos os outros têm um (PSDB, PSD, PRB, PTB, PR  e Podemos). Todos esses, à exceção ainda do PODEMOS de Álvaro Dias, fecharam com Alckmin. Ou seja: ficará difícil ele se apresentar como candidato que não seja do governo Temer. Como disse a Manuela, pré-candidata do PCdoB, “Alckmin é Temer e Temer é Alckmin”. Mas e Meirelles? Minha intuição é de que vai retirar também. E só não o fará também para dar argumento ao próprio Alckmin dizer “o candidato do Temer não sou eu… é o Meirelles. Só rindo mesmo. Eles acham que o povo é burro e vai acreditar nisso. Aqui registro a opinião – que é de vários analistas – no sentido de que se o Picolé de Chuchu quiser mesmo crescer, terá que bater, em um primeiro momento, em Bolsonaro, ou seja, tentar recuperar os votos perdidos pela tucanalha para o campo dos fascistas. Não posso deixar de registrar sobre a candidatura de Marina Silva, da tal REDE. Os seus índices relativos de pesquisa serão desidratados. Eles ainda refletem duas eleições consecutivas e muita exposição patrocinada pela mídia golpista. Mas, tal qual Bolsonaro, está isolada e com oito segundos na TV. Vai representar um fiasco.

    A candidatura Lula – Não há pesquisa que não registre, desde que Lula saiu da presidência em janeiro de 2011, que ele foi o melhor presidente da história. Não houve no Brasil um político que teve a sua vida tão devastada e devassada como Lula. Extensiva a toda a sua família. Da dona Marisa, que eles mataram, aos seus filhos. Quebraram todos os seus sigilos bancários, telefônicos, fiscais. Vasculharam todos os cartórios do país para ver se ele e sua família não teríam propriedades registradas. Com apoio do imperialismo e seus órgãos de repressão internacional, vasculharam em todos os paraísos fiscais para verificar se ele escondia os tais milhões de dólares. Jamais apareceu qualquer coisa. Uma continha sequer. Uns trocados. À exceção de um barco de lata e dois pedalinhos, Lula mora no mesmo apartamento em SBC onde está há 20 anos. Grampearam suas ligações com seus advogados e até com a presidenta da República. As centenas de planilhas de corrupção, subornos e propinas de todas as empreiteiras em nenhum momento aparece o seu nome. Que fazer então? Montou-se uma farsa jurídica encabeçada pelo agente do imperialismo e de seus órgãos de segurança, que se apresenta como juiz (sic) Sérgio Moro da dita República de Curitiba, tão endeusada pelos fascistas como modelo de democracia.

    O “processo” inquisitorial montado contra Lula só tem delações

    e cujos delatores tiveram reduções drásticas de suas penas

    (uns caíram de cem anos de prisão para um ano e ainda assim domiciliar;

    tiveram milhões de dólares devolvidos e legalizados que vieram do exterior…

    bandidos e corruptos confessos que viraram heróis da classe média e da mídia golpista).

    Esse “processo” o condenou a nove anos de prisão, amplificado para 12 anos pelos “juízes” do TRF-4 de Porto Alegre. Não é que não tenha provas contra ele no “processo”. Não há um crime sequer tipificado e com base no nosso ordenamento jurídico constitucional. E quem diz isso são pelo menos 120 juristas em um livro recém publicado onde eles demolem a tal famigerada “sentença” do juiz tucano. As próximas pesquisas de opinião vão elevar a candidatura Lula a um patamar de mais de 40%. Se excluirmos brancos, nulos e abstenção, isso vai significar mais de 50% dos válidos ou mesmo 55%. Não tem para mais ninguém. Isso desestabiliza o cenário. Impõe instabilidade. Como decidir sobre eleições sem levar em consideração esse fato, ou seja, o fenômeno chamado Lula? Por isso a unificação da direita (resta saber se Álvaro Dias e Henrique Meirelles resistirão mesmo e se unificarão com o Picolé). Aqui, cabe a mim, como alguém de fora das fileiras do Partido do Trabalhadores, elogiar a postura de firmeza mantida até o momento pela direção, de assegurar que Lula será registrado e será candidato mesmo preso. Não será o primeiro na história mundial e nem o último. Não será o primeiro condenado injustamente que voltará a conduzir o seu povo. Discutir neste momento, inclusive, o tal “Plano B” é prestar um desserviço ao próprio Lula, ao PT e ao povo que o apoia.

    O caso Ciro Gomes – Filiado recentemente ao PDT, mas já tendo passado por quase dez partidos diferentes, Ciro Gomes tem perfil e discurso nacionalista. Tem origem no campo da direita, mas migrou com toda a família Gomes, para o centro e mesmo para a centro-esquerda. No entanto, errou brutalmente seu cálculo eleitoral. Apostou que, como a prisão de Lula, ele herdaria todos os votos do lulismo e do petismo e mesmo da esquerda, onde, parte dela, encantou-se de fato com sua candidatura. Isso o afastou do PT e de outros partidos mais à esquerda, como o PCdoB, em que pesem sinais deles aos comunistas propondo coligação. Mas, Ciro optou em flertar com a direita, que a mídia chama de “Centrão”. Chegou a pedir ao fascistinha que é prefeito de Salvador, ACM Neto, uma lista nominal de todos os membros do famigerado DEM que ele tenha ofendido para que ele pudesse ligar e pedir perdão. Apresentou-se como um candidato do mercado, neoliberal, com um ou outro viés nacionalista. Ou seja, fez uma guinada ao centro e à direita, já que a estratégia de “herdar” votos do lulismo não vinha dando certo. Perdeu. Não decolou e não vai decolar. Vai ser esvaziado. Terá pouco tempo de TV e não fechará nenhuma coligação mais ampla. Talvez por já ter cruzado o Rubicão (em alusão ao cruzamento de rio famoso na Itália por Júlio César em 49 aC detonando uma guerra civil), acho muito difícil Ciro e seu PDT coligarem com Lula e o PT, aceitando a vice-presidência. Será muito difícil ir ao segundo turno. Aqui o registro também dos que apostaram no fim do chamado lulismo e quebraram a cara.

    Manuela e o PCdoB – O Partido – mais antigo da história do Brasil com quase cem anos de existência – vem acertando na sua tática desde o seu 14º Congresso Nacional de novembro de 2017, quando lançou a pré-candidatura da jovem Manuela D’Ávila à presidência da República. Isso jamais significou em tempo algum o rompimento com o Partido dos Trabalhadores com quem é aliado e coligado desde 1988 (com Erundina na prefeitura de SP). Manuela vem cumprindo com elevada maestria a tarefa que lhe foi designada, qual seja, difundir o mais amplamente, as propostas do Partido para o Brasil. Fala, com a maior amplitude, sobre o socialismo que o Partido defende. Saltou de 1% para até 3% nas pesquisas em pouco tempo de atividades e com baixa exposição na mídia. Ela domina bem a linguagem das redes sociais. Sua formação marxista sólida permite com que ela venha sendo admirada e elogiada amplamente por muitos setores da sociedade, artistas, intelectuais, professores universitários, escritores, juristas, religiosos. O PCdoB chamou, no seu Congresso, à construção de uma Frente Ampla. Muito mais ampla dos que as conhecidas experiências do CNA (África do Sul), OLP (Palestina) e Frente Ampla (Uruguai). Sempre soubemos que a esquerda sozinha não vence eleições. Mas, a vida impôs nova tática. O Comitê Central do Partido, reunido em SP entre os dias 20 e 22 de julho, aprovou por unanimidade, um chamamento à unidade do campo da esquerda.

    Nominou os partidos de forma clara: PT, PDT, PSB e PSOL.

    À exceção deste último

    – que acho que não vai atender ao apelo –

    todos os outros podem e devem sentar à mesa para negociar a unidade.

    E não há dúvidas que deve ser em torno de Lula ou de quem – no limite – ele venha ter que indicar se a justiça insistir em seguir rasgando a Constituição e impedir a sua candidatura. É preciso sentar à mesa. Negociar a vice-presidência. Proceder acordos políticos e eleitorais em estados chaves, em especial como SP, PE e RS. E nesse sentido, não tem como não registrar que o Partido terá ainda uma papel mais decisivo e estratégico neste jogo se sinalizar ou for o primeiro mesmo a fechar com Lula. Isso deixará Ciro ainda mais isolado e poderá ter o papel de forte atração para o PSB coligar-se. Esse cenário, se concretizado, sería vitória indubitável no primeiro turno, ainda que saibamos da resistência em todos esses partidos, para essa construção. Hoje, restou-nos apenas e tão somente a Frente de Esquerda, o mais ampla possível, progressista, patriótica, popular. Nosso problema com a unidade não tem a ver com o programa para o país. Este está bem construído e unificado. A própria Frente Brasil Popular tem um programa amplamente debatido no país bastante avançado e chancelado pelo PT e pelo PCdoB, além da CUT, CTB, Marcha Mundial de Mulheres, UBM, UNEGRO, CMP, CONAM, UNE, UJS, movimentos LGBT, pastorais católicas etc.

    Dilemas do PSB – Este Partido tem trajetória errante. É o segundo mais antigo do país, da década de 1940, vem de tradições socialdemocrata, que se apresenta como “socialista”. Até nas primeiras eleições presidenciais desde 1989, ainda quando presidido pelo velho e combativo companheiro Miguel Arraes, governador cassado de PE pela ditadura de 1964 e que voltou a governá-lo duas vezes depois da redemocratização, o PSB integrava, sem dúvida alguma, o campo da esquerda e centro esquerda. No entanto, depois que Eduardo Campos afastou-se de Lula e do PT para carreira solo, foi gradativamente assumindo um discurso direitista ou de centro-direita. Com sua morte, a também direitista Marina Silva foi a opção de dividir a esquerda ainda no primeiro turno (apoiou depois no segundo turno, descaradamente o corrupto Aécio Neves, um dos maiores articuladores do golpe contra Dilma). Hoje o PSB pode ter quatro caminhos distintos. O primeiro, é lançar um ou uma candidata laranja, só para fazer figuração. Uma segunda opção é ficar completamente neutro, de forma que suas seções estaduais fiquem à vontade para coligarem-se com quem quiserem. Há uma hipótese – acho pequena – de coligação com Ciro e por fim, uma quarta alternativa – a melhor de meu ponto de vista – que sería coligar-se com Lula e o PT. Claro que isso podería demandar arranjos regionais, em especial em demonstração de desprendimento por parte do PT em Pernambuco.

    Considerações finais

    Como já disse, estas serão as mais indefinidas e imprevisíveis eleições desde 1989. Simplesmente porque o líder inconteste e isolado nas pesquisas, que é o Lula, encontra-se preso e pesam sobre sua candidatura dúvidas jurídicas sobre sua viabilidade. Mas, algumas conclusões e prognósticos posso fazer. São eles.

    1. Abstenções, votos nulos e brancos vão crescer – Venho chamando esse índice de ABN (abstenções, nulos e brancos). Ele vinha caindo desde 1998 há vinte anos, quando atingiu 37,16% (são os chamados votos desperdiçados, perdidos, jogados fora pelo eleitorado), para 27,5% em 2016. Mesmo se Lula conseguir se viabilizar juridicamente, minha previsão é que o índice ABN deve voltar a crescer, ultrapassando novamente os 30% do total do eleitorado registrado. Se Lula não puder ser registrado e ter que indicar outro em seu lugar, estou seguro que poderemos ter até 40% ou ainda mais de ABN. Rigorosamente, para a esquerda nas eleições proporcionais isso não será ruim de todo, na medida que seus votos são mais firmes e decididos e índice ABN alto significará menor quociente eleitoral e menor linha de corte na votação nominal dos eleitos.

    2. A força de Lula – Diversas pesquisas mediram, ao longo do tempo, a força da transferência de votos de Lula. Não só quando ele elegeu e reelegeu Dilma e Haddad na prefeitura de SP, mas na atualidade. O Instituto DataFolha parou de aferir a força do “Candidato indicado pelo Lula” desde fevereiro. Até lá era de 27%. O melhor Instituto de Pesquisas da Atualidade, do sociólogo e amigo Marcos Coimbra, aponta essa força que pode atingir até 32%, aliada com a popularidade do próprio Partido dos Trabalhadores, disparado na frente da preferência do eleitorado brasileiro. Assim, não tenho dúvidas. Se Lula se viabiliza, a chance de vitória já no primeiro turno é imensa. Se ele apoia um ou uma petista, este irá, seguramente, para o segundo turno.

    3. A libertação de Lula e sua absolvição – O golpe de 2016 não foi desfechado pelo imperialismo, pela mídia e pelo Partido da Justiça para deixar Lula voltar a presidir o país. Como já se tem visto pelo programa divulgado, o Lula hoje é muito mais à esquerda do que o Lula das eleições anteriores. Compreende muito mais a questão anti-imperialista, soberania nacional, regulamentação da mídia entre outros temas. Mas, acho que a sua libertação e mesmo anulação de toda a farsa jurídica montada para a sua condenação ainda vão perdurar. Será preciso alterarmos a correlação de forças na sociedade para que as coisas mudem. Mandela teve que esperar 26 anos para ser libertado. Não creio, claro, que vá todo esse tempo, mas não tenho ilusão que as injustiças que foram cometidas contra eles sejam reparadas em curto prazo.

    Tudo pode ocorrer neste processo eleitoral. Até uma hipótese que reputo remota, de dois candidatos direitistas no segundo turno, como o que ocorreu na França, onde um candidato minoritário no eleitorado governa o país. Ou mesmo um candidato de direita e um petista, com a vitória da direita. Ou, no limite, a não ocorrência mesmo de eleições. Tudo pode acontecer. Traidores do povo, com apoio dos jornais impressos da burguesia e suas TVs estão em campo e 24 horas à postos para tramar contra a pátria e a Nação brasileira. Falam em português a língua do império e o que este determina.

    Mas, estou esperançoso que, ainda assim, com sabedoria e ampla unidade, venceremos mais essa batalha em uma guerra ainda longa.

    • Sociólogo, Professor, Escritor e Analista Internacional. Foi professor de Sociologia e Métodos e Técnicas de Pesquisa da UNIMEP e presidente da Federação Nacional dos Sociólogos – Brasil. É colaborador dos portais Vermelho, Grabois, Duplo Expresso e Resistência, bem como da revista Sociologia da Editora Escala. Tem nove livros publicados de Sociologia e Política Internacional.