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  • SONIA BRAGA: UMA TIGRESA PELA DEMOCRACIA E LIBERDADE

    SONIA BRAGA: UMA TIGRESA PELA DEMOCRACIA E LIBERDADE

    Sonia Braga é daqueles símbolos fortes do Brasil que a gente adora amar. Tendo participado das grandes revoluções comportamentais que distribuíram um pouco de generosidade pelo país, ela protagonizou a versão brasileira do musical pacifista “Hair”, contra a guerra do Vietnã. Tinha apenas 18 anos quando, em plena Ditadura (1969), na melhor defesa do amor livre, surgiu nua no palco –um susto! Caetano Veloso eternizou-a na “Tigresa de unhas negras e íris cor de mel… Ela me conta que era atriz e trabalhou no Hair”, da canção “Tigresa”.

    Nos anos 1970, Sonia de novo ajudou a inventar o imaginário de um país mais gentil –desta vez, por um trabalho focalizado no público infantil, então duramente oprimido pelos padrões morais e de beleza veiculados pelos Estúdios Disney e suas princesas envenenadas, adormecidas, confinadas, cuja única esperança era a aparição de um nobre macho salvador. E o que dizer da violência escancarada de assassinatos e torturas em série marteladas por desenhos animados como Pica Pau e Tom e Jerry? Contra tudo isso, Sonia Braga, apareceu, linda, na série Vila Sésamo, vestida com uma jardineira de brim, falando de solidariedade e amor.

    E então, ela foi Tieta, foi Gabriela, foi Dona Flor, foi a Mulher Aranha… Foi Julia Mattos, em Dancing Days, uma ex-presidiária tentando reconstruir a vida e reconquistar o amor da filha.

     

    Aos 66 anos, Sonia Braga recolhe os frutos do trabalho mais recente, em “Aquarius” (filme de Kleber Mendonça Filho). Por sua performance, ela foi indicada ao prêmio de melhor atriz no Festival de Cannes, depois de o elenco, perfilado no tapete vermelho da fama, generosamente apoiar a luta brasileira pela Democracia ao levantar cartazes com os dizeres “Um Golpe de Estado Aconteceu no Brasil” e “O Mundo Não Pode Aceitar Esse Governo Ilegítimo!”

    Lindo e corajoso! Os golpistas não perdoaram a ousadia e limaram o filme da disputa de Melhor Filme Estrangeiro no Oscar.
    Em Cuba, duas semanas apenas decorridas da morte de Fidel Castro, teve início o 38º Festival do Novo Cinema Latino-Americano. “Aquarius” foi premiado em cinco categorias. Sonia recebeu o premio de melhor atriz. Ela conversou com os Jornalistas Livres no histórico Hotel Nacional de Havana. Falou —de novo porque ainda tão necessário–, do compromisso com a Democracia e a Liberdade. A gente precisa muito disso.

    Entrevista: Julia Ríos
    Edição de vídeo: Gustavo Aranda e Julia Ríos

  • Censurem Aquarius

    Censurem Aquarius

    Saciei minha curiosidade com o filme Aquarius. Confesso que ele não me despertaria interesse — apesar da Sônia Braga no papel principal — se não fosse o protesto #foratemer ocorrido em Cannes. Em seguida, algumas críticas positivas e relacionadas à arte aumentaram a curiosidade. “Domínio absurdo do cinema” foi uma delas. As críticas negativas sem nenhum fundamento artístico também foram importantes. Quando revistas e colunistas sugerem boicote a algo, no mínimo, isso desperta a chave do “opa, se é proibido e obsceno, eu quero ver”.

    Das telas à vida

    A mudança de classificação do filme no Brasil e a manobra política do governo não eleito também são atitudes que inflamaram o desejo por Aquarius. Aliás, são essas tentativas sutis e “republicanas” de violentar direitos que O filme tão bem revela. É como a PM que prende uma ambulante para provocar ira na multidão e justificar sua violência. Ou como candidato limpo e cheiroso que diz ser contra invasão, mas “anexa” — jamais roubam, né — terreno público. Ou ainda como candidato fofinho que, em ato falho, deixa escapar que rechaça pobre a ponto de vomitar. São as nuanças da vida que o filme sugere.

    Do feminismo

    Aquarius é um filme feminista, em sua essência, sem buscar explicitar as pautas e jargões. Feminismo não militante. Mas tá lá, todinho desenhado na personagem principal, no empoderamento e enfrentamento da mulher contra o machismo, contra câncer de mama, na liberdade sexual e em outros tópicos do filme. Feminista e inclusivo sexual.

    Do racismo e preconceito de classe

    Com algumas pinceladas, Aquarius vai mostrando como nossa sociedade ainda se estrutura na divisão clara de classes e de como a aparência é “fundamental” para determinar quem somos e o que podemos fazer no dia a dia das cidades. Trata do racismo seja na cor, seja no sobrenome e tons de pele. Trata também de como as pessoas convivem bem tratando umas as outras como cidadãos de primeira, segunda e terceira classe.

    É lírico

    Sem ter uma trilha original, Aquarius é agradável tanto aos ouvidos quanto aos olhos. Ele retira a poeira de clássicos e canções nacionais esquecidas pela indústria cultural, mostrando toda a riqueza que o país possuiu, mas que tem hibernado nesse desejo contemporâneo da cópia e necessidade de ser agradável.

    Aquarius > Tropa de Elite

    Aquarius devolve ao Brasil linguagem e contexto do cinema nacional que se perderam na última década. Não é um filme que se busca vender com personagens e atores queridinhos das novelas, tampouco opta pelo clichê ou cenas cheias de ação ou frases de efeito que possam cair automaticamente no gosto popular. Aquarius não é filme de memes. Aquarius é cartoon. E como tal, mostra o outro lado que Tropa de Elite “sonega”. Mostra como pensam e agem os donos do poder. Por mais brasis de Claras e menos capitães Nascimento.