O cientista político Renato Dolci, que é analista de rede social e hoje trabalha para uma grande instituição financeira que faz pesquisas, escrutinou a repercussão da notícia da morte do neto do Lula no Facebook e no Twitter.
O resultado é animador: existem monstros como Eduardo Bolsonaro, aos milhares, talvez milhões, mas a maioria não se comportou como o filho de Jair Bolsonaro.
Outra constatação: Lula continua sendo um gigante na internet: foi o assunto mais discutido nos últimos dois dias, com quase o dobro de menções em relação aos blocos de Carnaval.
Entre os dias 1 e 2 de Março, Dolci coletou 768.254 menções no Facebook e Twitter.
Também analisou as buscas Google Trends. Veja os resultados:
– 77.8% apoiaram que o ex-presidente pudesse sair da cadeia para ir ao funeral de seu netinho, incluindo grupos da esquerda radical anti-PT e a direita mais radical;
– Entre os comentários, há muito mais solidariedade do que pessoas desejando dor à Lula: para cada 86 comentários de força, 1 de escárnio;
– Lula continua sendo um “agitador” digital implacável: é o assunto mais discutido da internet brasileira há dois dias, com quase o dobro de menções do que os bloquinhos de Carnaval;
– A trágica do menino causou um surto de buscas sobre meningite e vacinas, sendo neste momento, o quarto assunto mais buscado no Google;
– Se somadas todas as pesquisas realizadas sobre os jogos da tabela neste sábado, tema sempre frequente no digital, a morte do neto de Lula é 8 vezes maior em termos de buscas;
– Por fim, matérias falsas sobre o assunto não renderam praticamente nenhuma repercussão expressiva. O alcance do assunto foi de quase 77 milhões de usuários, enquanto as fake news chegaram a pouco mais de 6 milhões.
“Não nos apeguemos ao show de horrores de perfis que não se compadecem com a dor de um avô perdendo seu neto. A inversão da ordem da vida é sempre um choque para os que tem um coração dentro do peito. Ao menos na internet, a ignorância sussurrou perto do sentimento de consolo. E não, nada disso tem a ver com política. Ainda há esperanças, Brasil”, diz o cientista político.
Recorte: 01 e 02 de Março, 768.254 menções coletadas em Facebook e Twitter. Buscas analisadas em Google Trends, mesmo recorte.
Durante o evento, o ator Sérgio Mamberti leu carta do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva direcionada aos participantes. Confira a íntegra do documento:
“Aqui de longe consigo sentir a energia que irradia de mais uma noite histórica no Tuca.
Nem a distância, nem as paredes podem barrar.
São Paulo se organiza para dar um basta no governo das elites, que sempre deu as costas para os mais pobres e para as demais regiões de nosso Brasil gigante.
Nosso rico potencial nas áreas da Educação, da Ciência, da Tecnologia e de todos os segmentos da Cultura volta a ser dizimado por um governo federal ilegítimo e por seus apoiadores estaduais.
Disse em minha despedida – naquele 7 de abril gravado como Dia da Vergonha – que a luta seguiria mais forte através de vocês. Minha alegria é saber que meu coração está presente esta noite no Tuca, batendo dentro do peito de vocês.
Minha voz é a voz de Luiz Marinho, de Ana Bock, de Suplicy e de Jilmar. De todos os que falarem ou cantarem os hinos da liberdade, da democracia, da justiça e da vitória.
Minha voz é a voz de Fernando Haddad e de todos os companheiros, em nossa jornada destemida para resgatar a dignidade nacional em todos os rincões do país.
Que este dia marque a arrancada para eleger Luiz Marinho governador de São Paulo, permitindo a nosso estado caminhar de mãos dadas com todo o povo brasileiro. Um povo que já deixou claro como vai votar nas eleições de outubro.
Vamos arrancar para a vitória nessas quatro semanas. Vamos firmar nesta noite esse compromisso de luta. Compromisso em nome da esperança que renasce. Em nome do Brasil que vai ser feliz de novo. Com a juventude seguindo na frente, as mulheres, a população negra, a classe trabalhadora, a Universidade, a Educação, a Ciência e a Cultura.
A Recomendação do Comitê dos Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas – ONU, em defesa do direito político de Lula se candidatar até que todos os recursos sejam julgados, veio balançar as estruturas do poder do governo de exceção. O golpe tão bem arquitetado pelo governo golpista representante dos interesses da elite brasileira e do capital financeiro internacional, em conluio com a maioria do Parlamento (Deputados e Senadores), Supremo Tribunal de Justiça – STJ, Supremo Tribunal Federal – STF e pela grande mídia, não sabe muito bem o que fazer com o Lula.
No dia 7 de abril, após lhe ter sido negado o direito de defesa, Lula saiu do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo, berço de sua luta e carreira política, para se apresentar à Polícia Federal de Curitiba e cumprir mandado de prisão expedido pelo juiz Sérgio Moro, juiz de 1ª instância.
Os dois dias que antecederam o 7 de abril foram dias de intensa mobilização popular. Lula saiu de cabeça erguida e com dignidade, reforçando sua luta, sua história, denunciando a injustiça de sua prisão e a sua verdadeira causa: ter realizado um governo que deu dignidade a milhões de brasileiros antes em extrema pobreza, ter lutado por maior distribuição de renda, pela democracia e pela defesa de nossas riquezas e da soberania de nosso país.
Como disse nosso presidente “eles podem me prender, mas a partir de hoje o Lula agora é uma ideia, cada um de vocês será um Lula a se espalhar por este país em busca de justiça”. Os companheiros de luta e de sonhos, os fortes guerreiros que não desistem da utopia de um Brasil mais justo e digno, o povo brasileiro beneficiado por suas políticas sociais inclusivas, não o abandonaram.
Foto de Celso Maldos
Desde este 7 de abril, em todos os cantos do país, a insatisfação popular com a perda de direitos sociais e a consciência um pouco mais clara em relação à prisão política de Lula tem se revelado cada vez com mais intensidade. De diversas maneiras e muitas vezes através da arte, em muitos lugares, nas cidades, no campo, nas ruas, nas praças, nas redes sociais, nos veículos da imprensa independente, na solidariedade de organizações e de veículos internacionais, multiplicam-se as manifestações de protesto, de inconformismo e de desobediência civil.
Apesar do bloqueio da mídia, de todas as articulações das forças golpistas para “tirar o brilho de Lula e de sua estrela” e de inviabilizar a sua eleição, sua candidatura é real, foi registrada e a sua popularidade e intenção de votos só cresce.
A pressão das manifestações populares no país: Vigília Marisa Letícia; Ato de Artistas e Intelectuais no Rio de Janeiro por Lula Livre; Caravanas de apoio ao Ato de Registro da Candidatura de Lula que reuniu 50.000 manifestantes; MST; MTST; Frente Brasil Popular e Frente do Povo sem Medo; os Lulaços por todo o Brasil; iniciativas criativas, artísticas e simbólicas como Cartas ao Lula, Flores pela Democracia e por Lula Livre, Camisa 13, Quarteirão da Saúde, Resistência da Cultura e demais intervenções nas ruas e em praças públicas, grupos de funk e rapp; as diversas formas de resistência, criação e denúncia nas redes sociais e para organismos internacionais; a garra, a coragem, a rebeldia e o compromisso da mídia independente TVT, Jornalistas Livres, Rádio Brasil Atual, Mídia Ninja, Tijolaço, GGN,Carta Maior, Conversa Afiada e outros, não eram esperadas pela direita.
É necessário, no entanto, que as forças progressistas tenham cautela: o ufanismo não pode nos contaminar. Os ventos favoráveis que estão soprando com a articulação e reorganização das forças progressistas, ainda não são suficientes para dissipar a forte tempestade e tormenta arquitetada com armas poderosíssimas do golpe. De maneira muito profunda o golpe levou muita gente, especialmente das camadas populares ao descrédito da política, à radicalização do ódio, ao conservadorismo e ao retrocesso das conquistas sociais e da democracia.
Foto de Celso Maldos
No trabalho que vimos desenvolvendo com as Flores pela Democracia e por Lula Livre, temos tido a oportunidade de ouvir de uma maneira diferente, mediada pela flor os sentimentos e posições de parcelas das camadas populares.
Com muitos temos tido boa receptividade e oportunidade de conversa, reflexão e troca de informações importantes sobre a farsa do golpe e da prisão de Lula, sobre a importância da luta, da participação política e da resistência popular pela liberdade de Lula. Conversamos também sobre o significado do voto e a importância do voto consciente com escolha de pessoas progressistas que explicitam o compromisso em seu programa e em sua prática pela defesa dos direitos sociais e humanos, da democracia, da justiça e da soberania do país. Alguns se entusiasmam, se inspiram e despertam para o compromisso de luta e passam a ser semente nos lugares em que moram, em seu trabalho e em suas relações. Através da Flor pela Democracia e por Lula Livre, levam consigo novas visões e o sentimento de solidariedade e de que não estamos sós.
Já com outros a reação é o retrato do que foi inculcado na cabeça do povo com a massificação e manipulação política da grande mídia e demais forças da direita e do poder econômico. A desqualificação da política e o sentimento de que todos são iguais “a política prá mim já era, nenhum presta”, a disseminação do ódio e a falta de discernimento “por mim ele pode ficar mofando lá na cadeia”, “eu voto é em Bolsonaro que tem condições de acabar com os bandidos desse pais”, “solta Lula e eu prendo você”, “Lula é que acabou com nosso país e por isso estamos em crise”.
Mais do que nunca até as eleições e daqui pra frente e sempre, é necessário radicalizar e multiplicar as ações que tem aflorado e pipocado por todo o país. Além da desinformação, há uma insatisfação e desconfiança submersa e em muitos a vontade de se informar. Temos que usar de todos os instrumentos e é imperativo considerarmos também a importância do contato direto com a população, e juntos descobrir e construir novos jeitos de participar e de denunciar o retrocesso e a perda de direitos que estamos tendo em nosso país em que Lula é o principal exemplo.
Enfim é fundamental também o “boca a boca, o olho no olho”, o trabalho de base e de formação por todos os cantos e meios, agora para as eleições e para sempre!
Vamos à luta!
O cientista político Renato Dolci, que é analista de rede social e hoje trabalha para uma grande instituição financeira que faz pesquisas, escrutinou a repercussão da notícia da morte do neto do Lula no Facebook e no Twitter.