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  • LGBTQIA+. Resistência do Movimento em tempos de COVID-19

    LGBTQIA+. Resistência do Movimento em tempos de COVID-19

    Por Karina Iliescu, para os Jornalistas Livres

    Fotos: Sato do Brasil

    Membros da Frente Parlamentar Em Defesa dos Direitos das Pessoas LGBTQIA+, no dia 08 de abril de 2020, abriram um ofício à Secretaria dos Direitos Humanos e Cidadania da Cidade de São Paulo, cobrando ações emergenciais, frente à crise do coronavírus, para proteção da população LGBTQIA+ em tempo.

    Maria Clara Araújo, educadora em formação/PUC-SP e articuladora política na Mandata Quilombo da Deputada Erica Malunguinho respondeu algumas perguntas sobre a articulação e a prefeitura neste momento de pandemia.

    LGBTQIA+
    Deputada e educadora Erica Malunguinho

    – Existe alguma forma que a população possa estar ajudando para pressionar mais a prefeitura?

    Sim, sem dúvidas. Toda colaboração de outros coletivos, entidades e ativistas é bem vinda – inclusive, convidamos que venham construir a Frente conosco. Como exemplo, ofícios também são construídos pelo associativismo civil e se configuram como um instrumento de pressão institucional.

    A sociedade civil tem se articulado bastante para garantir cestas e produtos de higiene para LGBTQIA+ em situação de vulnerabilidade. São iniciativas importantes, mas que evidenciam a omissão do Estado. Temos equipamentos LGBTI no município, temos uma Secretaria que cuida da pasta e é legítimo que sociedade civil indague e pressione por proposições que incidam objetivamente na garantia de subsídios, atendimento psicológico e acolhimento seguro para indivíduos LGBTQIA+ em um momento de crise como esse.

    Também acredito ser benéfico quando portais jornalísticos visibilizam proposições como essa e questionam a Secretaria sobre as ações que estão sendo pontuadas pela sociedade civil. Ficamos felizes com a procura do Jornalistas Livres e esperamos que outros portais também se engajem. Não só em São Paulo, como em todo Brasil.

    LGBTQIA+
    Intervenção do coletivo casadalapa. Projeto Famílias LGBT no Largo do Arouche, São Paulo.

    – E agora no momento de pandemia, as frentes que cuidam da população LGBTQIA+ estão sofrendo com falta de recurso pela prefeitura para estar viabilizando as ações?

    Tendo em vista que os equipamentos LGBTI do Município são referencia para a população LGBTQIA+, é compreensível que os pedidos de ajuda para se alimentar ou para adquirir produtos de higiene cheguem por via dos Centros. Infelizmente, as OS que administram os Centros não conseguem dar conta sozinhas da grande demanda que vem chegando por conta do Covid-19. É urgente um apoio significativo por parte Secretaria de Direitos Humanos e da Coordenação Municipal para Políticas LGBTI aos Centros de Cidadania LGBTI.

    As OS criaram campanhas e isso é válido, mas enquanto Frente Parlamentar que atua na institucionalidade, nos cabe indagar e exigir ações efetivas que partam da própria Secretaria de Direitos Humanos e da Coordenação Municipal para Políticas LGBTI. Enquanto movimentos, é visível como a vulnerabilidade se acentuou para LGBTQIA+ no Município e no Estado. Portanto, que o Poder Público reconheça as questões postas pela população LGBTQIA+ nesse momento. Os pontos elencados pelo Ofício se baseiam nessas questões.

    LGBTQIA+
    Intervenção do coletivo casadalapa. Projeto Famílias LGBT, no Largo do Arouche, São Paulo.

    As medidas são:
    – A importância de um repasse emergencial para os Centros de Cidadania LGBTQIA+, a fim de suprir a grande demanda de cestas básicas e produtos de higiene;
    – A viabilização, de forma conjunta com a SMADS, do cadastramento no CadUnico dos LGBTQIA+ que constam no cadastro de atendimento dos Centros LGBTQIA+ e dos Centros de Acolhimento da Assistência que atendem LGBTQIA+. E, caso exista algum impasse cadastral, que as Secretarias possam auxiliar juridicamente na efetivação do cadastro da LGBTQIA+;
    A criação de uma campanha nas redes da Secretaria sobre a importância do CadUnico para LGBTQIA+;
    – A criação de um “gabinete” LGBTQIA+ de crise para o enfrentamento do coronavírus, de modo a possibilitar a escuta ativa das demandas e construção de um plano de ação. Nesse gabinete, contaríamos com a Secretaria de DH, SMADS, Coordenações Municipal e Estadual de Políticas LGBTQIA+ e representantes do movimento LGBT com experiência no atendimento a população LGBT vulnerável, como o Coletivo Arouchianos, Projeto Seforas, TransEmpregos;
    – A importância dos psicólogos dos centros de cidadania LGBTI realizarem o acolhimento e o atendimento aos LGBTQIA+ que procurem o serviço diante do aumento de pessoas com vulnerabilidade psíquica em tempos de Covid-19. Caso seja possível, que os atendimentos também possam ocorrer através de videoconferência, visando o cumprimento da quarentena para os residentes da cidade.
    – O acolhimento, por parte dos Centros de Cidadania, de mulheres LBT vítimas de violência doméstica e o acompanhamento dos processos preliminares com essas mulheres, o que inclui registro de ocorrências, exame de corpo de delito e encaminhamento para um abrigo onde a segurança da mulher esteja resguardada;
    – A garantia de espaço seguro, de forma conjunta com a SMADS, às pessoas LGBTQIA+ em situação de vulnerabilidade, sobretudo mulheres trans, travestis, homens trans e pessoas transmasculinas.

    Saiba quais são os membros que formam a Frente Parlamentar Em Defesa dos Direitos das Pessoas LGBTQIA+ e as informações completas do ofício no link: https://www.professorabebel.com.br/wp-content/uploads/2015/12/OficioLGBTQIA.pdf

     

    LGBTQIA+
    Desfile da Daspu no Festival Verão Sem Censura
  • Governo ameaça fechar o ATENDE 2, último equipamento público na Cracolândia

    Governo ameaça fechar o ATENDE 2, último equipamento público na Cracolândia

    Com a iminência do fechamento do ATENDE 2, ações do governo vão na contramão das orientações da sociedade civil e deixam os moradores em situação de rua com risco mais agudo de vida.

    Neste momento de pandemia do coronavírus, que gera a COVID-19, as condições de quem
    mora na rua estão ainda mais precárias e a população que vive na região conhecida como
    Cracolândia, no centro da cidade de São Paulo, tem tido direitos básicos, desde acesso à
    água até informação sobre prevenção, ainda mais violados.

    O ATENDE 2 (unidade de Atendimento Diário Emergencial) faz parte do Programa
    Redenção da prefeitura de São Paulo, “para atendimento multidisciplinar destinado ao
    acolhimento de pessoas em situação de rua e em uso de substâncias psicoativas”. Este é
    um dos últimos equipamentos na região que continua funcionando e, agora, é alvo de mais
    uma política de desmonte. Ele tem sido um dos únicos locais do território onde é possível
    ter acesso a pias com água corrente, por exemplo, além de alimentação, pernoite e
    chuveiros.

    Um espaço da cidade que, historicamente apresenta uma rede de atenção e cuidado
    insuficiente, agrava-se com as recentes tomadas de decisões dos governos municipal e
    estadual. Desde 2017, a gestão municipal vem tentando deslocar a Cracolândia para fora
    do centro de São Paulo.

    Recentemente, tem circulado nas redes sociais diversos áudios, já verificados pela Agência
    Lupa como falsos, relatando arrastões na região. Tais relatos com frequência embasam
    ações truculentas da polícia contra as pessoas moradoras da região.
    Para além da estratégia coercitiva marcada pela constante violência policial, a prefeitura
    flerta com a intenção de fragilizar, ainda mais, a rede de cuidado existente. Também não é
    novidade que “acabar” com a Cracolândia faz parte do plano de governo do governador do
    estado João Dória (PSDB).

    Sociedade Civil

    No dia 31 de março, Maria Angélica Comis, do Centro de Convivência É de Lei, e Nathália
    Oliveira, da Iniciativa Negra por uma Nova Política sobre Drogas, apresentaram
    reivindicações construídas com o Fórum Mundaréu da Luz para a Secretaria Geral do
    Governo Municipal, 17 solicitações para reduzir os danos sociais e à saúde causados pela
    pandemia na população em situação de vulnerabilidade.

    Decisões que produzam condições ainda mais vulneráveis são no mínimo irresponsáveis. O
    atual momento requer acolhimento e abertura para o próximo. As ações do governo vão na
    contramão das orientações da sociedade civil que atua no território: o fechamento de um
    dos poucos canais de acesso a direitos básicos da população local revela a perversidade da
    política de deixar morrer que governos impõem à população em situação de rua na cidade
    de São Paulo.

    Confira abaixo as solicitações apresentadas:

    1. Equipes de Saúde/SMADS preparadas para identificar sintomas e orientar as pessoas
      nos locais de distribuição de comida;
    2. Garantir leitos de isolamento nos SIATs Porto Seguro, Glicério e Armênia (se ainda
      houver contêiner);
    3. Garantir que o Atende 2 ofereça possibilidade de banho e distribuição de kits de higiene;
    4. Aumentar a quantidade de pias instaladas na região central e nas cenas de uso da
      cidade, garantindo sabão;
    5. Focar as abordagens nas cenas de uso para a orientação em relação à prevenção de
      transmissão e ofertar encaminhamentos para evitar aglomeração;
    6. Verificar se no serviço da região da Vila Mariana só estão casos confirmados, pois
      tivemos a informação de que os encaminhamentos estavam desordenados;
    7. Avançar na ampliação dos Consultórios na Rua;
    8. Garantir que os Consultórios na Rua consigam conversar e fazer abordagens e
      encaminhamentos com a SMADS (sabemos o quanto isso é difícil);
    9. Pensar em estratégias de divulgação de informações usando colagem de dicas nos
      muros da cidade, além de possíveis projeções;
    10. Garantir que profissionais de ponta tenham acesso aos EPIs;
    11. Garantir que as equipes estejam com as informações alinhadas e tenham conhecimento
      de todas as novas possibilidades de encaminhamentos;
    12. Ter equipes que façam triagem das pessoas nos novos Centros de Convivência
      PopRua;
    13. Possibilidade de uso de hoteis sociais emergenciais para os grupos em maior
      vulnerabilidade (pessoas idosas, comorbidades);
    14. Garantir a interlocução com os Médicos sem Fronteiras
    15. Fortalecer as equipes dos CAPS, tendo em vista que possivelmente terão que lidar com
      mais pessoas com síndrome de abstinência nesse período;
    16. Utilizar redutores e redutoras de danos dos CAPS AD para fazerem busca ativa em
      seus territórios de atuação;
    17. As equipes de PRD (depto de IST/HIV) da cidade também poderiam contribuir para o
      fortalecimento das abordagens de Consultório na Rua, pois já fazem esse trabalho em
      regiões que tem muitas profissionais do sexo e pessoas que usam substâncias.