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Tag: Rocinha

  • Terror, mortes e abandono na Rocinha

    Nos últimos dias as operações policiais na Rocinha já deixaram, segundo relatos de moradores, pelo menos 20 pessoas mortas. Ocorre por lá um verdadeiro massacre. Imagens de corpos estirados e furados da bala estão circulando por meio do whatsapp, já que muita gente tem medo de tornar públicas suas denúncias e sofrer retaliações no local onde uma UPP foi instalada há mais de cinco anos. Na comunidade, os relatos são de medo generalizado para sair de casa e quem pôde foi passar um tempo na casa de amigos e parentes.

    Vários moradores já foram “esculachados” por policiais durante o ir e vir. Uma moça que filmou a abordagem abusiva de um PM teve o celular roubado e foi espancada.

    A Rocinha fica encravada na rica zona sul do Rio de Janeiro, possuí cerca de 150 mil habitantes, e é a maior favela do Brasil e uma das maiores do mundo. Sem políticas públicas, em pleno surto de tuberculose, abandonada pelo Estado de todas as mínimas garantias, o que todos os moradores por lá querem saber é: onde está o governador do estado Luiz Fernando Pezão? Ele, que teve ali tantos votos, entregou os moradores como se eles não valessem nada?!

    A intensificação dos confrontos está garantindo um espetáculo para classe média que assisti tudo de longe, recebe os apoios cínicos de quem jamais esperaria o mesmo tratamento para o seu próprio bairro, mas a realidade é que impõe falta de aulas às crianças que estudam nas escolas da região, obriga trabalhadores a perderem o serviço e os ativistas que atuam por lá temem pela própria vida, e aos poucos abandonam inclusive atividades de assistência social oferecidas por meio de ONG’s e projetos sociais.

    Este é o plano da intervenção militar que recentemente obteve a promessa de 1 bilhão de reais do governo federal? Foi para matar vinte e fechar as casas e os comércios na Rocinha que o governo solicitou tanta grana?

    A cidade quer respostas eficientes, e não chacinas que não impactam em nada para diminuição da violência. Os traumas com essa estratégia estão insuportáveis. Espera-se tratamento de bandido para quem é realmente bandido e uma polícia que se comporte realmente como polícia.

    Por: Márcio Anastácio e Rodrigo Luis Veloso

  • O que acontece na Rocinha?

    O que acontece na Rocinha?

    O repórter fotográfico Francisco Proner fez o registro em imagens da principal ação repressiva do Exército Brasileiro desde o fim da Ditadura Militar, em 1985.

    Trata-se da mega-operação no Morro da Rocinha, no Rio de Janeiro, iniciada na sexta-feira (22/09) em que mais de 1.000 militares estão envolvidos por ordem do ministério da Defesa. O objetivo tático da operação é conseguir um cessar-fogo entre dois grupos de traficantes: o de Rogério Avelino da Silva, o Rogério 157, e o de Antônio Bonfim Lopes, o Nem, que está preso desde 2011.

    Os confrontos entre facções pelo controle do tráfico de drogas na Rocinha começaram a se intensificar no dia 17 deste mês.

    De dentro do presídio federal onde está preso em Rondônia, Nem ordenou a invasão da Rocinha por “soldados” da ADA (facção Amigos dos Amigos), que é a segunda maior do Rio. O motivo seria a insatisfação com a atuação de Rogério , que ordenou o aumento dos preços de produtos e serviços controlados pelos traficantes, como água e mototáxi. Rogério teve o reforço de criminosos do Comando Vermelho (CV).

    A Rocinha é a maior favela do país, com seus 70.000 habitantes. Tornou-se um ponto de disputa ferrenha entre os líderes do tráfico de drogas porque se localiza entre os bairros endinheirados da Gávea e São Conrado (os dois detentores do metro quadrado mais valorizado da cidade). Os ricos moradores da Gávea e de São Conrado garantem o mercado consumidor das drogas que o tráfico provê.

    Vítima da violência policial de um lado, e da cobiça dos traficantes de outro, a população da Rocinha, entretanto, é muito pobre. Seu índice de desenvolvimento humano (IDH) no ano 2000 era de 0,732, o 120º colocado entre 126 regiões analisadas no Rio de Janeiro.

    O fotógrafo Francisco Proner chegou à Rocinha às 10h de sexta-feira e lá permaneceu até as 19h. Ele assistiu à chegada de 950 soldados, nove blindados, vários jipes, dois ou três helicópteros. Viu quando fecharam o espaço aéreo sobre a favela. Na verdade, o Exército chegou atrasado. Era para ter entrado às 10h, mas só subiu as ladeiras da comunidade a partir das 17h30 –comenta-se que a demora foi para tentar convencer Rogério 157 a se entregar, o que acabou não acontecendo.

    “Na noite de sexta para sábado, houve vários tiroteios. No sábado já estava tudo mais calmo. Eu tive acesso à rua 2, onde se vêem paredes, carros e motocicletas crivados de balas de longo alcance. Muitos moradores dizem que foram os traficantes que fizeram isso, para mostrar autoridade”, explica Francisco Proner.

    Rogério 157 sucedeu Nem no comando do tráfico na Rocinha, depois da prisão deste. Os moradores dizem que o sucessor “tem alma de miliciano”. Para quem não sabe, as comunidades pobres do Rio de Janeiro são oprimidas por traficantes, policiais e milicianos, que são policiais da ativa ou da reserva que, depois de prender ou matar um líder local do tráfico, resolvem assumir, com mão de ferro, os negócios do traficante eliminado). Na linguagem das favelas, ter “alma de miliciano” equivale a ser autoritário, controlador, controlador de preços.

    Na Rocinha, o botijão de gás de 13 kg custa R$ 100, o dobro do que custa a mercadoria entregue nos bairros de classe média. Rogério aumentou todos os preços da favela. O pão está mais caro, o leite idem, a água também. “Está tudo mais caro para mostrar a autoridade que ele tem, que os tempos são outros. Que não é mais o tempo de Nem. É tempo de Rogério 157.”

    Na sexta-feira, o contingente de militares fazendo ronda na favela era impressionante e assustador. Em cada beco era um blindado cercado por 10 a 15 homens armados com fuzis e metralhadoras. Eles subiam e desciam as escadarias da favela, apontando suas armas para todos os lados. Neste domingo, o contingente militar diminuiu bastante. Os guardas são encontrados a cada 100 metros… Mas ainda assim são poucas pessoas nas ruas.

    Em tempo: Acaba de chegar a informação de que vem mais uma tropa com vários carros e um blindado. Eles estão chegando agora na Rocinha. Guerra que segue. Triste Rocinha.

    Imagens: Francisco Proner
    Texto: Laura Capriglione

  • Alerta Rio

    Alerta Rio

    A favela da Rocinha, assim como tantas outras do Rio de Janeiro, hoje é a comunidade que mais sofre com a política do jeitinho, que durante anos fez o poder público conciliar com o tráfico para garantir a “tranquilidade” da Cidade Maravilhosa. O prazo de validade dos acordos venceu e o caos se instaurou. Pior que isso, está sendo usado por aqueles que defendem a militarização como solução para a crise de segurança.

    Chovem avaliações imediatistas e inconsequentes que, se consideradas, farão a violência aparentemente dar uma amenizada para piorar muito ali na frente. É um ciclo que nunca acaba, só piora. O agravante é que vivemos justamente um momento em que os saudosistas da ditadura como forma de restabelecer a dita ordem saíram do armário e bradam por mais armas, por mais intolerância e, consequentemente, por mais violência. Mas uma violência de classe, que oprime ainda mais quem é pobre, negro e morador de favela para garantir a “paz” para que os chamados “cidadãos de bem” desfrutem dos seus privilégios.

    Muita atenção ao que está acontecendo no Rio de Janeiro nesse instante! Muita mesmo!
    Daqui estão transbordando ações e reações que dizem respeito ao País todo. E que são perigosíssimas para a sociedade.
    E toda solidariedade à população da Rocinha e das demais favelas. Esse povo não pode pagar a conta da ação negligente e criminosa do Estado. O povo das favelas merece respeito, segurança e direitos.

    Bruno Monteiro é jornalista e ativista de Direitos Humanos