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  • Paulo Freire vive no dia a dia da Resistência Periférica

    Paulo Freire vive no dia a dia da Resistência Periférica

    O Encontro de cerca de 50 pessoas ativistas e educadores populares no Centro de Direitos Humanos e Educação Popular – CDHEP, no Capão Redondo , ocorrido nos dias 31 e 1º de novembro, reanima a esperança.

    Muitos militantes, lideranças e educadores populares dispostos a lutar por um mundo com dignidade, justiça, menos violência e mais políticas sociais, se debruçaram nestes dois dias para trocar experiências, refletir sobre suas práticas e melhor se articularem nesta longa trajetória das lutas de resistência.

    Apresentações do Sarau do Capão Redondo no decorrer dos dois dias chamaram atenção para a realidade do povo da periferia, através das manifestações culturais.

    Os depoimentos do cotidiano de lutas ocorreram em subgrupos: Educação, Moradia e Saúde, Cultura e Comunicação, apontando a riqueza e diversidade das experiências em Direitos Humanos, Educação Popular, Justiça Restaurativa, Cursinhos Populares, Saraus de Poesia, Mutirões de Moradia, Enfrentamentos da Saúde, Comunicação  Popular, Lutas pelo Meio Ambiente, Documentários.

    A periferia pulsa, Paulo Freire se perpetua através de ações que levam ao questionamento da realidade e se articulam para a sua transformação. De acordo com uma das últimas entrevistas do Paulo Freire, é importante fazer muitas marchas, “marchas dos que querem ser e são Impedidos de ser, contra a violência histórica da opressão”.

    A mesa sobre Paulo Freire composta por Ednéia, Sérgio Haddad  e Pedro Pontual veio reforçar alguns princípios e dar luz às praticas cotidianas que precisam ser reinventadas sempre.

    Paulo Freire, uma forma de lutar pela libertação dos oprimidos

    Mais do que um método Paulo Freire é uma filosofia, uma forma de ver o mundo e o oprimido em relação com ele, com poder de inserção e como agente de transformação no mundo. Contra o determinismo histórico que pressupõe numa sociedade de classes apenas adaptação e ajuste dos corpos e dos seres, ao meio ambiente e ao status quo.

    A educação popular é um ato político, na sua intencionalidade (por que educamos?), democrática (ninguém detém o saber sozinho, cada um tem um saber, professor e alunos aprendem uns com os outros, na sua inter-relação), calcados em valores de solidariedade, respeito e do diálogo procurando compreender a realidade das pessoas, seus valores e sua cultura. Teoria e prática se complementam e se reinventam. Educação é um direito humano. A partir do chão dos alunos e dos moradores de um bairro, com suas vivências, expressões, manifestações culturais, o conhecimento do educador se coloca a serviço do conhecimento dos outros. A partir dos depoimentos do povo, com suas demandas, se constroem outros itinerários, se constroem outros conhecimentos.

    Desafios da Educação Popular

    Na conjuntura atual, de avanço do neoliberalismo e de dilapidação de nosso patrimônio,  de perda de direitos sociais e das liberdades democráticas, o desafios para a educação popular são muitos,  não só no Brasil mas em todo o mundo e, especialmente na América Latina:

    • Reinventar a democracia fortalecendo a democracia participativa e direta da sociedade civil;  – Combater o ódio na sociedade em geral, nas escolas com a negação da ciência e censura à crítica e à liberdade de expressão e nos sindicatos e nos movimentos com a censura e repressão à organização; na criminalização dos movimentos sociais;  – Promover uma educação que desconstrua o racismo estrutural, o patriarcalismo e que valorize o reconhecimento dos povos originários;  – Combater a violência, buscar o diálogo e a justiça restaurativa;         – Construir novas utopias que tragam horizonte de esperanças como o “bem viver”, em contraposição aos excessos da sociedade de consumo;  – Incentivar a agroecologia e o cooperativismo; – Reafirmar valores de solidariedade, criatividade e de partilha;  – Valorizar nossa cultura e diversas formas de expressão; – Valorizar a troca de experiências geracionais; – Articular as ações e os movimentos no território para fortalecer as lutas de libertação.

    Território e Identidade

    Extremamente proveitosas e muito instigantes foram as apresentações de Rose (Cooperifa de Sérgio Vaz), Lucila (CDHEP) e Ana Dias (militante do movimento de mulheres e viúva do operário assassinado Santo Dias, há 40 anos atrás, vítima da Ditadura), sobre Território e Identidade.

    Para uma maioria de jovens, Lucila reconstruiu a história do CDHEP, que se instalou na região por ocasião da ditadura militar. Os enfrentamentos contra a ditadura daquele momento, são muito próximos dos desafios que temos hoje pela frente. Santo Dias foi uma liderança operária importante na região. O final da década de 70 e começo dos anos 80, foi um momento muito forte e significativo de enfrentamento da ditadura e de organização das periferias, juntamente com a Igreja impulsionada pela Teologia da Libertação.

    Dom Paulo Evaristo Arns, bispo à frente da Arquidiocese de São Paulo, Pe. Jaime, Pe. Luís, tiveram papel decisivo na criação de um movimento de Direitos Humanos na região composto por religiosos, leigos, lideranças populares, educadores para o enfrentamento da violência policial, extermínio, Esquadrão da Morte, moradia, contra a carestia, por melhorias do bairro.

    O CDHEP desde sua origem foi um ponto de encontro importante da população da região, de lideranças, juristas, universidades e desde seu início participou destes enfrentamentos e de formulação de políticas públicas  e de lutas que foram conquistas para o bairro: metrô, linhas de ônibus, creches, hospital, escolas. Ao mesmo tempo contribuiu para construção de  Legislação que garantia acesso à Justiça, Combate À Violência através da Justiça Restaurativa; Proteção à Vitimas, Pedagogia da Proteção.

    A força das mulheres e o papel da cultura

    O depoimento de Ana Dias, história de compromisso e de luta. Vinda de uma cidadezinha do interior, trabalhou no campo desde os 6 anos. Santo Dias trabalhador rural muito respeitado por sua competência pelo dono da fazenda, foi expulso do trabalho quando se envolveu com o Sindicato dos trabalhadores rurais. Vieram para São Paulo e em 1971, “o dia 15 de novembro, na Igreja Santa Margarida,  marcou minha vida. Com a igreja cheia, o padre falou que “a pessoa tinha valor, a gente tinha que se unir e se organizar. Isso ensinou a gente a brigar, nunca mais parei” “No dia em que Santo foi assassinado eu fui antes com ele no carro, fazer panfletagem em porta de fábrica e horas depois vieram me avisar que ele tinha morrido. Foi tudo muito duro e muito difícil, mas eu não abandonei a luta. Santo era uma liderança muito querida, companheiro e pai  muito presente. Fiquei sozinha com meus dois filhos um de 13 e outro de 12 anos. Santo só não foi enterrado como indigente porque me avisaram, fui reconhecer o corpo no IML  e Dom Paulo interferiu”.

     

    Rose participa do Cooperifa há 18 anos, quando conheceu o Sérgio Vaz através de uma apresentação em uma fábrica. Com ele, Binho, Gog, Marcos Brandão eu conheci o lado da cultura e da poesia como expressão e manifestação de tudo que nos oprime. A poesia me fez retornar aos estudos que eu havia abandonado e hoje digo que não consigo entender a vida sem ter passado por uma professora, profissão que deveria ser a mais valorizada. Sérgio Vaz diz que com a poesia “está em busca do artista cidadão, e que através da Cooperifa as pessoas começam a falar”. “A cultura vai criando dentro da gente a identidade, traz a dimensão da solidariedade e da proteção, ao falar a gente vai elaborando as próprias histórias, se reconhece e consegue perceber os avanços da sociedade a nosso favor… Através da poesia a gente passa a ouvir o tom da própria voz…”.

    O debate suscitou ainda algumas questões – quantos jovens estão se perdendo pela droga e pelo envolvimento com a polícia podem ser recuperados pelo movimento de cultura, pela poesia, por atividades que lhes fortaleçam e deem um novo sentido à vida;  – todo ser humano merece respeito e oportunidades de se desenvolver e de ser, independente de classe, cor e gênero, precisamos estar todos juntos nesta luta,  o feminismo precisa ir além da discussão de gênero, os homens podem ser grandes parceiros, o movimento negro precisa estar mais desarmado e se inserir, estar junto nas lutas de outros movimentos ; – a importância do diálogo e do cuidado com as pessoas ; a esquerda precisa se unir para fortalecer a nossa luta, precisamos estar cada vez mais juntos em torno daquilo que nos unifica.

    O período da tarde do dia 01/11 foi dedicado à construção coletiva de encaminhamentos e articulações para fortalecer as diversas práticas de educação popular e unificar as lutas. Como resoluções: a construção de um núcleo/coletivo de educadores populares que se encontrará mensalmente na sede do próprio CDHEP a partir de fevereiro de 2020; encontros mensais para estudo coletivo da obra de Paulo Freire também a partir de fevereiro de 2020; continuidade do mapeamento das práticas de educação popular e saúde que acontecem na Zona Sul de São Paulo, já em andamento.

    Em sala à parte, exposição em homenagem a Santo Dias, líder metalúrgico e militante da Zona Sul, resgatou a história de sua vida e morte, assassinado em 1979, pela ditadura militar. Que isto nunca mais se repita.

    Ainda como parte da programação do encontro ocorreu  a 24ª  Caminhada Pela Paz e Pela Vida com o tema “levante a tua voz a favor de nossas vidas” no dia 2/11, dia de finados. A caminhada acontece a 24 anos na periferia Sul de São Paulo rumo ao cemitério do Jardim São Luiz e é articulada pelo Fórum em Defesa da Vida – Vidas negras, femininas e periféricas importam e é por isso que a periferia caminha junta.

     

    A periferia  pulsa! Articular, Ocupar e Resistir. Vamos à Luta!

  • Multiplicar Resistências, Semear Esperanças

    Multiplicar Resistências, Semear Esperanças

    O sábado do dia 08 de junho foi para mim e para cerca de 70 pessoas que se reuniram na Ação Educativa, um dia especial.  Representantes de movimentos, coletivos de resistência, ONGs de Formação Política e de Defesa dos Direitos Sociais, cursinhos e universidades populares, Centros de Defesa de Direitos, militantes indignados com o momento de retrocessos que estamos vivendo em nosso país, se reuniram para trocar experiências a partir de suas práticas, aprofundar a análise de conjuntura, definir estratégias de luta e desafios da resistência e da educação popular para fazer frente à conjuntura nacional.

    Coordenado pelo CEAAL Brasil (parte integrante do Conselho de Educação Popular da América Latina e Caribe, que congrega representantes de 21 países e 150 organizações), juntamente com a Ação Educativa (ONG voltada à assessoria e formação política a movimentos populares e  a instituições educativas, com ênfase no trabalho de base com jovens, mulheres, negros…), o encontro teve como objetivo aprofundar o conceito da Educação Popular como Formação Política frente ao atual contexto a partir  das experiências formativas dos participantes,  articular as lutas de resistência e organizar uma campanha de defesa do legado de Paulo Freire fundamento teórico para as estratégias de luta e de resistência e das práticas de formação política com base na educação popular.

    A vivência em grupos possibilitou conhecer a riqueza de práticas ao mesmo tempo em que apontou desafios de toda ordem para fazer frente ao contexto de discriminação, exclusão, aprofundamento das desigualdades e das políticas neoliberais, perda de direitos, retrocessos de conquistas sociais, perda de direitos e das garantias democráticas, dilapidação de nossas riquezas, da soberania nacional e desmonte do Estado. Acresce-se ainda um questionamento dos valores incutidos com o aprofundamento das políticas neoliberais que reforçam o individualismo, o consumismo, a meritocracia individual, a despolitização da vida e descrédito das instituições, a banalização da violência e disseminação do ódio de classe, gênero, raça, em substituição a valores humanos de respeito e de solidariedade ao diferente.

    Múltiplos foram os desafios e práticas de resistência e de educação popular entendida como processo de produção de conhecimento que se dá através da ação, da escuta e do diálogo, da reflexão e da constatação do modo de dominação que produz despolitização. É preciso escutar e fortalecer as lutas das juventudes, a luta anticapitalista no enfrentamento das discriminações de gênero, etnia e raça; descolonizar o pensamento, reinventar a comunicação e linguagens, incentivar e fortalecer as manifestações culturais que se constituem na expressão das identidades. Realizar ações de base nos territórios onde se constroem redes e identidades, enfim preparar, ocupar e transformar; transformar discursos em ações; fortalecer as lutas de grupos de excluídos; articular politicamente as lutas de resistência e os movimentos sociais.

    Pedro Pontual, educador popular e um dos coordenadores do evento, ressaltou a diversidade de processos e práticas de educação popular as quais devem se referenciar no contexto socioeconômico, político, cultural, ambiental em que estamos vivendo de aprofundamento das políticas neoliberais e conservadoras. Além dos aspectos já apontados, o Estado criminaliza os movimentos sociais e de protesto e boicota todas as formas de participação social da população menos favorecida e dos segmentos marginalizados. Vivemos um momento na América Latina de crise multifacetada, decorrente de golpes em vários países: crise da democracia liberal e das instituições políticas. Polarização política das sociedades, em que as forças da direita e da extrema direita aliadas à forte ação da mídia tentam desmontar e desacreditar as alternativas progressistas com o objetivo de aprofundar a hegemonização capitalista, patriarcal, racista; incutir na subjetividade das pessoas valores consumistas e individualistas; implantar a cultura do ódio de classe de várias formas violentas: homofobia, tendências religiosas fundamentalistas.

    Em contrapartida, ressaltou diversas práticas de resistência em espaços nacionais e internacionais, em busca de ações emancipatórias, novos paradigmas de interpretação da realidade, de construção de nossas utopias. Desafio central das lutas de resistência, da luta por direitos é apontar para a construção de uma nova sociedade.

    Pedro Pontual destacou 12 pontos que se constituem em desafios para a formação política:

    • Como sair da bolha? Dialogar com o outro com práticas respeitosas, trabalho de base nos territórios, com atitude ativa, de escuta e de experimentação;
    • Incentivar as formas de ativismo social, desobedecer e ampliar o reconhecimento de práticas existentes libertadoras assim como valorizar novas práticas emergentes. Superar o medo, recuperar o sentido do coletivo e de comunidade, ação política exercida com alegria;
    • Cultura como eixo de articulação das práticas de resistência, a cultura como manifestação e afirmação da sabedoria popular, mobilizar pessoas com o exercício da criatividade e da liberdade, criar círculos de cultura, incentivar rodas de conversa;
    • Economia solidária, como uma nova maneira de pensar a produção e o trabalho humano;
    • Papel central e protagonista das juventudes nas práticas de formação política e nas novas formas de exercício político;
    • Em contraposição à pedagogia capitalista, a pedagogia feminista, anti-racista e libertadora, desconstruir o modo de pensar colonial no continente latino americano;
    • Novas formas de democracia, reinventar a democracia participativa, direta e representativa; incentivar canais institucionais de participação e controle social das políticas públicas (atenção á campanha atual “O Brasil precisa de Conselhos” e a Plataforma dos movimentos Sociais pela reforma política);
    • Re-significar as políticas e programas sociais, face ao desmonte das políticas públicas, educação política e educação para a cidadania, na concepção de direitos, universalidade no atendimento às diversidades e de proteção social.
    • Resgatar os direitos humanos na sua dimensão integral e as diversas formas e instâncias de participação social;
    • Enfrentar a batalha das redes sociais hegemonizadas pelas elites conservadoras, contra fake news e informações incorretas e maldosas;
    • Pedagogia ecológica de respeito à natureza e ao planeta, obrigações humanas, sentido coletivo e de sustentabilidade ecológica;
    • Religião e política, como desenvolver práticas inter-religiosas e enfrentar os diversos tipos de fundamentalismos que se constituíram em estratégia política da direita para intervir nas subjetividades;

    Fechando o encontro o CEAAL e a Ação Educativa, organizadores do evento reforçaram a importância do engajamento dos participantes na Campanha Latino Americana e Caribenha em defesa do legado de Paulo Freire.

    O engajamento dos participantes na Campanha deverá se centrar em torno de questões fundamentais:

    • lutar por bandeiras que ele sempre apoiou como liberdade de pensamento, autonomia do sujeito, democracia plena e respeito às diversidades.

    • lutar para que suas idéias não sejam descaracterizadas e pela preservação, ampliação e divulgação de seu legado;

    • apoiar o reconhecimento internacional de sua obra obtido ao longo das últimas décadas. No Brasil, lutar pela manutenção do título de Patrono da Educação Brasileira, concedido a Paulo Freire por meio da Lei no. 12.612/2012, que os setores obscurantistas do governo e da sociedade tentam revogar.

    Participantes de Belém do Pará ao Rio Grande do Sul, das periferias de São Paulo para o interior do estado, militantes de várias áreas saímos energizados com a riqueza desse encontro e com nova disposição de luta.

    Nosso norte da formação política calcada nos fundamentos metodológicos e na concepção de libertação dos oprimidos segundo Paulo Freire, fortificou-se. Saímos com garra e determinação para multiplicar resistências e semear esperanças na construção de uma nova utopia, como na música de Paulo César Pinheiro e Maurício Tapajós:

    “Quando o muro separa uma ponte une
    Se a vingança encara o remorso pune
    Você vem me agarra, alguém vem me solta
    Você vai na marra, ela um dia volta

    E se a força é tua ela um dia é nossa
    Olha o muro, olha a ponte, olhe o dia de ontem chegando
    Que medo você tem de nós, olha aí…

    Você corta um verso, eu escrevo outro
    Você me prende vivo, eu escapo morto

    De repente olha eu de novo

    Perturbando a paz, exigindo troco…”

  • Ledores no Breu

    Ledores no Breu

    Nestes últimos tempos, a toda hora, só temos notícias ruins: retrocessos de conquistas, perda de direitos, malandragem na política, figuras exemplares da corrupção governando o país, judiciário rasgando as leis, violência ao ser humano, degradação da natureza e entrega de nossas riquezas, censura á liberdade de expressão, extermínio de jovens, mulheres, indígenas e negros, militares avançando…

    Quase nada que diga respeito à democracia, à civilidade, ao desenvolvimento social, cultural e econômico sustentável, do país tão rico que queremos e sonhamos.

    No entanto, para findar e abrir a semana, neste domingo no Teatro Ágora, o Dinho e o Rodrigo participantes da Cia. do Tijolo conseguiram com os “Ledores no Breu”, reunir grupo de pessoas indignadas. Com profundidade, simplicidade e poesia, inspirados em Paulo Freire, Frei Betto, Maria Valéria Resende e o poeta Zé da Luz, nos convidaram a ir fundo na reflexão, no reconhecimento da realidade do país, do homem brasileiro, de nossos dramas cotidianos seja no campo ou na cidade, em busca da vida.  Como sair da lama que estamos vivendo em nosso país? Como sair do analfabetismo não só das letras, mas de palavras desprovidas de sentido ou com significados distorcidos? Como superar o analfabetismo do sentir, do pensar, do agir, do sujeito político que habita em nós? Com o que estamos vivendo hoje em nosso país, estes atores conseguiram chacoalhar nossa consciência, remexer nosso desânimo, reavivar nossa memória de luta e de rebeldia, acolher os indignados, renovar a esperança e o desejo de lutar e de construir a UTOPIA.

    Esta peça é demais, há dias que a gente ganha o dia! Não percam!

    https://www.sympla.com.br/ledores-no-breu__437633

    “Aniquilar uma pessoa é tanto privá-la da comida quanto privá-lo da palavra.”

    Ledores no Breu no Ágora Teatro

    Até 25 de fevereiro de 2019

    Sábado e Segunda às 21h / Domingo às 20h

    Rua Rui Barbosa, 672 (perto do metrô brigadeiro)

    Telefone: (11) 3284-0290

  • O maior terreiro do mundo na zona sul de SP: Festival Percurso 2018!

    O maior terreiro do mundo na zona sul de SP: Festival Percurso 2018!

    Feito para ser o #maiorterreirodomundo, o Festival Percurso 2018 – De Jardim a Jardim ocorre no próximo dia 09 de dezembro na Praça do Campo Limpo, na zona sul de São Paulo (SP), com entrada gratuita para as mais de 40 diferentes atrações programadas para todo o dia. Também haverá um pré-festival de boas-vindas, o Perifa Talks, no dia anterior, sábado 08 de dezembro, das 10h às 17h30 no Cantinho de Integração de Todas as Artes (CITA), na  Praça do Campo Limpo, na zona sul de São Paulo.

    A organização do evento espera cerca de 10 mil pessoas no domingo e oferece uma programação que abrange crianças, jovens, adultos e idosos. A proposta é levar ao público atividades educacionais, de entretenimento e de geração de renda.

    Rincon Sapiênicia no Festival Percurso, no domingo, na Praça do Campo Limpo. Só vem! (Foto: Andreh Santos)

    Dividido por tendas, o festival é organizado pela Agência Popular Solano Trindade, que neste ano se une ao movimento De Jardim a Jardim, por meio da parceria com a associação C de Cultura. Essencialmente horizontal e feito há muitas mãos – com mulheres, jovens, idosos, artistas, pequenos empresários e profissionais de diferentes áreas –, o Festival Percurso acontece desde 2013 e prestigia talentos, fomenta a cultura e os negócios locais. Mas não só.

     

    O alcance do evento vai além da periferia e promove o encontro com públicos das regiões centrais da cidade. Todas as atividades serão realizadas num único local, a Praça do Campo Limpo, local de fácil acesso (bem ao lado do terminal de ônibus do Campo Limpo e numa reta só da avenida Prof. Francisco Morato e Estrada do Campo Limpo). Palco histórico de atividades culturais da Zona Sul, o local é berço histórico de saraus, eventos literários e de artistas como Racionais MCs, Criolo, entre tantos outros.

    A quinta edição do Percurso, cujo tema é #omaiorterreirodomundo, traz programação que reúne a ancestralidade dos povos de terreiro e indígenas à nova geração de visionários da periferia e fora dela. A arte e a cultura, assim, acabam por promover pontes sociais. Também fomentam a economia local.

     

    Thiago Vinicius, da Agência Solano e um dos organizadores do evento, ressalta que o Festival Percurso é a união de vários propósitos da Agência Solano, que tem como missão fortalecer a arte e a economia da região dos bairros do Campo Limpo, Capão Redondo e arredores da periferia da zona Sul de São Paulo.

     

    “O Festival traz a união das relações de produção, consumo e comercialização de serviços locais com a arte e a cultura da periferia e das regiões centrais. Tudo isso em harmonia com a sabedoria e os ensinamentos dos nossos mestres e ancestrais. Ao reverenciar nossos sábios também prestigiamos a caminhada que segue pelas novas gerações”, diz Thiago.

     

    O evento recebe neste ano atrações como Rincon Sapiência, Xaxado Novo, Tião Carvalho – comemorando os 40 anos de carreira – Bia Ferreira, Curumin, De Jardim a Jardim, Abôrigens, Mãe Beth de Oxum, de Recife (PE), Slam das Minas SP, Graja Minas e o Maracatu Nação de Kambinda, do Embu das Artes, homenageando a escritora, artista plástica, coreógrafa e folclorista brasileira, Dona Raquel Trindade.

     

    Haverá ainda um show que mescla três apresentações no mesmo palco para celebrar os encontros transformadores entre as periferias e o centro. A música “De Jardim a Jardim” fará a ponte entre o hip hop da banda Abôrigens, a Abô, da produtora cultural e social A Banca – que promove ações de impacto nas quebradas por meio da música – com o cantor, compositor e multiinstrumentista Curumin. A canção, uma composição colaborativa, é resultado de um intercâmbio de saberes e fazeres entre jovens de diferentes origens socioeconômicas de São Paulo promovido pela associação C de Cultura. No espetáculo, Abô traz a mistura do Dub, Rap, Reggae e Rock. Curumin, por sua vez, apresenta o repertório de “Boca”, seu elogiado quarto disco.

     

    A tradicional roda de samba Ajayô Samba do Monte vai celebrar seus 10 anos no festival e levará ao palco Raquel Tobias, uma das pioneiras a levar o protagonismo feminino ao samba, e representantes históricos da velha guarda das escolas de samba de São Paulo. Entre eles, estarão Seu Carlão, conhecedor das origens do jongo e do congado e um dos fundadores da Unidos do Peruche; e o compositor Silvio Modesto, da Pérola Negra, que já foi gravado por Bezerra da Silva e ainda acompanhou Cartola na gravação de seu último show ao vivo.

     

     

    O lema do Festival Percurso é Juventude Periférica, gerando renda, trabalho e desenvolvimento local, o que significa que a nossa visão de geração de renda está ligada ao desenvolvimento comunitário”, contou Alex Barcellos, produtor cultural da Agência Solano.

     

    De Jardim a Jardim

     

    C de Cultura

    O Festival Percurso abre as portas para o movimento De Jardim a Jardim, iniciativa promovida pelo C de Cultura, cujo objetivo é celebrar os encontros entre o centro e as margens da cidade. É um convite a um importante deslocamento, não apenas geográfico, mas cultural e de trocas humanas.

     

    “Nossa prioridade não é criar novos projetos nessas regiões, mas sim apoiar para promover o crescimento dos que já existem”, diz o psicólogo, músico e educador Ricardo Leal, atual presidente e sócio-fundador do C de Cultura. “Entendemos que quem já está lá trabalhando, vivendo e pensando aquele território tem muito mais a ensinar para nós. É um grande processo de troca”, completa Léo Mello, diretor da associação que também é pesquisador da cultura popular.

     

    Pensado para ser o #maiorterreirodomundo, o Festival na prática, vai fomentar a união que passa entre os povos através de diferentes vertentes musicais, culturas ancestrais e na economia, trazendo a ‘re-união’ do que há de mais bonito no Brasil: o conceito de agrupamento, de aquilombamento, transformando a Praça do Campo Limpo em um chão abençoado por mestres de religiões de matrizes africana e indígena. Nessa confraternização, o bastão dos sábios griôs será passado para as mãos da nova geração.

    O conceito  “De Jardim a Jardim” nasce da metáfora sobre a necessidade de encontro e troca entre as pessoas, independente do bairro onde moram e da realidade de vida de cada um, a arte será sempre capaz de aproximar todos, afinal, sempre há o que se aprender e ensinar, de ambos os lados.

     

     

    Confira a programação de algumas tendas e atividades

     

     

    PERIFA TALKS 

    No sábado, dia 8, a partir das 10h da manhã, o Festival Percurso promove o Perifa Talks com uma série de relatos de personagens inspiradores. Na Tenda dos Povos, que fica no Espaço Cita (Cantinho Integrado de Todas as Artes), na própria Praça do Campo Limpo, será possível presenciar os depoimentos sobre a vida, obra e a trajetória empreendedora de grandes referências em projetos de negócios, alimentação saudável, saúde mental, uso de ervas medicinais, empreendedorismo negro, protagonismo feminino, hip hop etc. Além das falas dos convidados, o diálogo estará aberto para a interação.

     

    Entre os participantes, estão Adriana Barbosa, criadora da Feira Preta e a MC e a articuladora Nayra Lays, de 21 anos, que tratará da nova geração de mulheres artistas que estão emergindo das margens e ocupando todos os espaços. Mestre Aderbal Ashogun apresentará a importância da preservação e manutenção da cultura brasileira principalmente dos povos e comunidades de matriz africana.

     

    Ainda no sábado, logo após o Perifa Talks, às 19h, haverá a intervenção artística do Projeto Omodé, com música percussiva de atabaques, ganzás e agogôs tocados por jovens moradores da periferia da Zona Sul. A cultura afrobrasileira também estará presente na exposição fotográfica “O axé visível dos terreiros” que vai além da exibição de imagens. A exposição traz a provocação do que se pode ou não ser registrado dentro dos terreiros espalhados pelo Brasil. Os fotógrafos Fernando Solidade, Nego Júnior e Rogerio Pixote fundem a experiência do olhar fotográfico documental das periferias com registros feitos nas casas de axé.

     

    Também sábado, das 19h30 às 21hs, a Juventudo dos Terreiros estará reunida nos “Dialógos para o futuro”. Na sequência, o DJ Eduardo Brechó fará discotecagem da festa “Do tambor ao toca discos”.

     

     

     

    TENDA DAS YABÁS

     

    A Tenda das Yabás homenageia as mães-rainhas e os orixás femininos, exaltando a força artística das mulheres da periferia. Está confirmada a presença do coletivo União Popular de Mulheres, que desde a década de 1960 promove a emancipação e conquista plena dos direitos da mulher. Também está confirmada a presença da Aldeia Tenondé Porã, com intervenção artística do Coral Guarani, ao som de rabeca e violão.

     

    O espaço recebe também a Associação de Kung Fu Garra de Águia Lily Lau, de Taboão da Serra, apresentando o espetáculo Dança de Leão, do folclore chinês, para espantar maus espíritos e trazer sorte e prosperidade. A programação ainda inclui apresentação teatral com a companhia Satyros, apresentação musical e artística com Funk de Griffe, Graja Minas e poesia com o Slam das Minas SP.

     

     

    TENDA DOS ERÊS

     

    Pela primeira vez o evento conta também com a Tenda dos Erês, um espaço lúdico com o propósito de oferecer alegria, integração, cultura e valores humanísticos para o público infantil. Haverá jogos cooperativos, pintura indígena, oficinas artísticas, brincadeiras antigas e populares de povos do mundo, contação de histórias e clown.

     

    A atividade “Gestar, Parir e Cuidar em Percurso” ocorre a partir das 9h30 com diálogos sobre a gestação, assistência ao parto humanizado, pós-parto e perspectivas de atuação no atual contexto político. Haverá participação de doulas, profissionais de unidades de básicas de saúde, obstetriz, além de oficinas de dança materna, sling, cultura da amamentação e pintura de barriga. Entre outros convidados estarão, Ayê Coletiva, representantes do centro de parto humanizado Casa Ângela e o coletivo Mãe na Roda.

     

    Neste espaço ocorre também a exposição da fotógrafa Lela Beltrão, sobre partos naturais que em 2016 já esteve no Salão de Arte Contemporânea, no Carrossel Du Louvre, em Paris.

     

    TENDA DOS POVOS

    A Tenda dos Povos vai reunir uma comitiva de mais de 20 mestras e mestres de povos de terreiro, representantes da juventude camponesa, quilombolas e indígenas Guarani e Pataxó. A curadoria do encontro é do Mestre Aderbal Ashogun, sacerdote do candomblé, professor, artista, escritor e coordenador da rede Omo Aro Cia Cultural, que desde 1992 tem como prioridade a manutenção e o resgate do complexo cultural dos povos tradicionais de terreiros.

     

    Às 9 horas da manhã do domingo, haverá na tenda uma “roda de cura” chamada “Cânticos para a Mãe Terra”, conduzida por Mãe Beth de Oxum e o ogan Luiz Bangbala, o mais velho do candomblé do Brasil. O ritual do plantio de uma árvore de baobá será outro momento importante. A tenda recebe a presença de Raniere Costa, capoeirista, filho do Mestre Môa do Katendê. Ao meio-dia, um cortejo de afoxé percorrerá toda a praça para, então, abrir uma roda de capoeira que vai até as 13hs quando os tambores se aquecem para o Ajayô Samba do Monte.

     

     

    Feira Paul Singer

    O espaço de empreendedoras e empreendedores do Festival leva o nome professor Paul Singer, que fundamentou os princípios da economia solidária. A famosa feira da @agsolanotrindade ficará na Praça do Campo Limpo das 10h às 19h do domingo com novidades da moda, acessórios, artesanatos, produtos para decoração, etc. É um convite a quem quer adiantar as compras de Natal e ao mesmo tempo fortalecer a economia solidária.

     

     

    Alimentando Pontes

     

    O espaço “Alimentando Pontes” vai reunir no domingo, das 10h às 19h, chefs das periferias com chefs da região central de São Paulo na tenda Alimentando Pontes. Os encontros não serão apenas culinários mas, principalmente, de troca de experiências de vida e opiniões sobre a democratização do ato de comer bem. Ao som dos artistas da cultura periférica, em um ambiente descontraído, está confirmada a presença da chef Bel Coelho, do premiado restaurante Clandestino e apresentadora do programa Receita de Viagem (TCL Discovery). A chef Tia Nice, da Cozinha Criativa da Agência Solano Trindade, e o Mestre Aderbal Ashogun, sacerdote do candomblé, também vão cozinhar na tenda. O evento recebe também os chefs Edson Leite, do Gastronomia Periférica, a vegana Laila Mengarda e Luciano Nardelli, da premiada Carlos Pizza.

     

    Os chefs convidarão o público para uma experiência deliciosa, com um bom papo, apreciando uma cerveja artesanal da roça, o que é garantia de bom rango”, anunciou a organização.

     

    Gastronomia da periferia

    O Festival Percurso traz também mais de 30 tipos de empreendimentos gastronômicos de quituteiras de mão cheia, restaurantes e projetos relacionados à cultura alimentar. Além dos tradicionais tutu de feijão, baião de 2 e acarajés, a feira vai oferecer pastéis de panc (plantas alimentícias não convencionais), sorvetes e compotas gourmet e cervejas artesanais.

     

     

    Feira Campo & Perifa

    A conexão entre a roça e a periferia estará nas barracas de alimentos orgânicos vindos direto dos produtores, na venda de queijos, geleias, antepastos, mel, cosméticos naturais ou mesmo na troca de sementes. Mas não só. O espaço foi criado para difundir princípios de respeito e interação sustentável do ser humano com a natureza. Os expositores, alinhados à sabedoria da agricultura familiar e às boas práticas da permacultura, são especialistas no gerenciamento integrado dos ecossistemas naturais e vão estar disponíveis para interagir com o público.

     

    Serviço

    FESTIVAL PERCURSO 2018 – DE JARDIM A JARDIM

    Pré-festival dia 8.12 (sábado) das 10h às 22h

    Festival dia 9.12 (domingo) , a partir das 8h

    Praça do Campo Limpo: Dr. Joviano Pacheco de Aguirre, 30 – Jardim Bom Refúgio. Na zona sul de São Paulo, fica a 5 minutos do Terminal de ônibus Campo Limpo.

     

    COMO CHEGAR:

    De ônibus: Vários terminais de ônibus da cidade têm rotas que se conectam ao Terminal Campo Limpo. Exemplos: do Terminal de ônibus Pinheiros pegue a linha 809P-10 para chegar ao do Campo Limpo. Ao sair do Terminal Campo Limpo, siga à direita e caminhe por 500 metros.

     

    De metrô: Pela linha 5 do metrô, desça na estação Campo Limpo. A praça fica a 15 minutos do local pelas linhas de ônibus 343, 178 ou 245 ou 056 ou 178BI1 ou 587BI1.

     

    De carro: Da Zona Oeste da cidade, siga numa reta só pela Avenida Prof. Francisco Morato e depois pela Estrada do Campo Limpo. Pela Marginal Pinheiros, siga as indicações para Campo Limpo/Jd São Luís/Itapecerica, permaneça na Avenida João Dias até a Estrada da Itapecerica e Estrada do Campo Limpo.

     

    Mais informações sobre o festival podem ser obtidas no link: https://www.facebook.com/FestivalPercurso/

    www.festivalpercurso.com.br

     

  • Do Lamento ao Movimento

    Do Lamento ao Movimento

    Artigo de Alfredina Nery e Cecília Figueira

     

    “(…) Uma flor nasceu na rua! (…) Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio” (Drummond em Antologia Poética. 12ª edição. RJ: J. Olympio, 1978, p.14 a 16 )

     

    O impedimento da presidente eleita democraticamente, Dilma Rousseff, fez parte de um golpe em 2016, que vinha se desenhando, há mais tempo. O golpe resultou em perdas de conquistas trabalhistas fundamentais, em extinção de verbas para as políticas públicas, em desmandos autoritários que contou com a aliança entre executivo, legislativo, judiciário e mídia tradicional, enfim um verdadeiro desmonte do país.

    Para o enfrentamento de tal situação, a despeito de alguns acreditarem que o “povo estava inerte”, pessoas, grupos, coletivos do campo progressista, muitos com histórias de militâncias variadas, criaram os mais diferentes espaços de luta e de resistência, pelo Brasil afora.

    O “Flores pela Democracia” foi constituído neste contexto a partir de uma preocupação do grupo com a necessidade de  uma mudança de ação política e de linguagem com a população. Para quê, o que e como falar com as pessoas que transitam pela cidade grande sobre o que está acontecendo no nosso país?

    Nossa ação busca contatos com a população, em locais públicos de grande afluência de pessoas, como entradas e saídas de metrôs, praças e em atos e manifestações de movimentos sociais, partidos progressistas que denunciam e resistem contra o golpe.

    A intencionalidade do ato se traduz num olho no olho, numa escuta interessada sobre o que as pessoas têm a dizer e nós também, tendo as flores com gravetos e papel crepom, vermelhas e brancas, preferencialmente, como panfletos de abordagem e da ideia de “se fazer junto”, no tempo curto dos passantes.

    Alguns acabam por entrar no coletivo por se identificarem com a proposta, percebendo a diferença entre “fazer flor como artesanato” e “fazer flor como ato político” num contexto de luta pela democracia brasileira em que a resistência, tanto faz crítica como anuncia possibilidades necessárias da participação popular, para constituir um país democrático, de direitos para todos.

    Assim, nos atos do “Flores pela Democracia”, panfletos em linguagem simples e explicativos da conjuntura que estamos vivendo e flores são distribuídas e confeccionadas, tanto pelas integrantes do coletivo, quanto pelos participantes que aceitam o convite e disponibilizam-se a aprender, a conversar sobre o papel da política na vida e na atualidade brasileira, especialmente.  Um tema que está sempre presente nestas conversas e na panfletagem que diz respeito às diferenças entre o Brasil de antes e depois do golpe e como cada um de nós está vivendo. Um grande mote das conversas é a questão da prisão do ex-presidente Lula e da luta pela sua liberdade, por ser injusta e arbitrária, uma vez que seus governos foram os que mais trabalharam pela diminuição das desigualdades sociais, econômicas e educacionais no país, além de sua liderança política nacional e internacionalmente.  LULA LIVRE!!!!!

    Outra questão que tem sido abordada é a importância de não abrirmos mão de nossas conquistas e de nossa esperança! Especialmente nestes tempos que antecedem as eleições, a importância do voto consciente para cargos do executivo e do legislativo. Não votar em candidatos que defendem as reformas do Temer, ver de que lado estão, o que defendem. Defendem a democracia, os direitos e conquistas dos trabalhadores, um país digno e justo para todos e soberano?

    Realizamos ações com coletivos Resistência na Cultura, Quarteirão da Saúde, Linhas de Sampa e outros. Em cada ato político novas adesões e simpatias. Novos ramos de “Flores pela Democracia e por Lula Livre” surgiram no Rio de Janeiro e em Brasília. Segundo uma nova participante “nossa ação política está sendo bem sucedida, pois é uma forma delicada e respeitosa de lutar pela democracia em contraposição à simples distribuição de panfletos e falas que, muitas vezes, podem ser invasivas e de mão única. A flor representa um gesto empático, um ponto positivo para o sucesso da nossa empreitada”.

    Nossa ação desperta reações diversas: negação de conversa e de receber a flor, alguns expressam agressividade, muitos se sentem acolhidos e identificados em seu grito calado por tudo que estamos passando.

    Sempre buscamos um jeito de “cavar” espaços. O coletivo “Flores pela Democracia” é uma das formas de sairmos do “Lamento para o Movimento”. A conjuntura exige acionarmos nossa criatividade, reacender nosso compromisso político de transformação do país, acionar o nosso motor da militância política indignada com todos os retrocessos e injustiças que estamos vivendo.

  • 90 anos de D. Pedro Casaldaglia: ousadia e coragem!

    90 anos de D. Pedro Casaldaglia: ousadia e coragem!

    De: Paulo Maldos

    Para: Jornalistas Livres

    Dom Pedro Casaldáliga chegou no Brasil, vindo da Catalunha, e foi para o Araguaia, região plena de exclusão e violência. Quanto mais conhecia a história e a situação locais, mais se comprometia e se tornava um porta-voz dos excluídos: dos posseiros, dos indígenas, das prostitutas, das vítimas de trabalho escravo.

    Foto de Douglas Mansur: Exposição “90 anos de, 90 fotos de Pedro Casaldaglia”

    Seu olhar solidário e amoroso pousava sobre todas as feridas da nossa sociedade e, mesmo em tempos de ditadura, as tornava públicas por meio de poemas, artigos, entrevistas e cartas pastorais. Através de sua prática religiosa e de sua palavra pública, Dom Pedro foi construindo identidades e alianças entre campo e cidade, entre norte e sul, estudantes e posseiros, intelectuais e indígenas, religiosas e religiosos de todo o país. Sua ação, seu olhar, sua palavra, abarcaram também os povos da América Central, de Nicarágua e El Salvador, imersos em revoluções populares e lutas por libertação.

    Seu amigo, o bispo Dom Oscar Romero, de San Salvador, foi assassinado numa missa por extremistas de direita. Na pequena Ribeirão Cascalheira, o padre João Bosco Penido Burnier, foi assassinado ao seu lado, quando juntos defendiam mulheres que estavam sendo torturadas pela polícia. Seu companheiro de pastoral no Araguaia, o padre Francisco Jentel, foi expulso do país pelos militares.

    Sua frase “Deus é grande, a mata é maior”, manchete de imprensa à época, causou impacto e expandiu nossas noções de fé e luta, de território e teologia, de ousadia e coragem nos duros momentos de um governo feito de latifúndio e terror de Estado. O poder das suas palavras vem da verdade que estas expressam de maneira direta, cortante, reveladora e libertadora. Dom Pedro, com suas andanças, presença, poesia e solidariedade extrema, marcou para sempre as vidas dos excluídos, assim como de milhares de militantes das causas populares do Brasil e da América Latina.

    Foto de Douglas Mansur: Exposição “90 anos de, 90 fotos de Pedro Casaldáliga”

    Algo da boa radicalidade das nossas lutas populares passadas e atuais vem da humanidade intransigente deste catalão de Balsareny, que se enraizou no sertão brasileiro e que, como um posseiro, ocupou nossas almas, nossa compreensão do mundo, nosso sentido da história, nossa disposição de luta. Habita por aqui com uma só intenção evangélica: nos libertar de todo o mal que destrói o humano e nos impede de amar. Para tanto, sua única arma é a palavra, que usa com a maestria dos maiores profetas e escritores.

    Dom Pedro fez deste mundo uma promessa de Revolução, profundamente amorosa e radical, para todos os condenados da Terra. Ninguém como ele transforma revolta e sonhos em palavras, e assim nos anima, assim nos liberta, assim nos purifica, assim nos humaniza imensamente.

    De Balsareny até São Félix do Araguaia, Dom Pedro cantou suas muitas aldeias e, assim, cantou e encantou o mundo e o tempo que nos tem tocado viver.