Depois de não comprovar abuso de crianças, Damares recua: “Isso é falado nas ruas”

Mais de duas mil páginas foram analisadas e não contêm registro do caso
Damares Alves. Foto: Geraldo Magela/Agência Senado
Damares Alves. Foto: Geraldo Magela/Agência Senado

Os documentos apresentados por Damares Alves a respeito das denúncias sobre as violências sexuais cometidas contra crianças na Ilha de Marajó, no Pará, não contém referências aos casos. O grupo Prerrogativas de advogados e juristas cobrou o Ministério Público Federal (MPF) e o Supremo Tribunal Federal (STF) por investigações dos supostos casos de tráfico sexual infantil na Ilha de Marajó (PA) declarados por Damares Alves. Na frente de crianças, a ex-ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos e eleita senadora do DF, denunciou casos de crimes sexuais na Assembleia de Deus Ministério Fama em Goiás que contou com a presença de Michelle Bolsonaro. 

Ao todo, o Estadão analisou 2.093 páginas e nenhuma delas contém registros das acusações da senadora eleita. Foram examinados o conteúdo de relatórios de três CPIs enviadas pela assessora da nova senadora e não encontrou os fatos denunciados por Damares Alves. Foram enviados relatórios da CPI da Pedofilia (2010), da CPI da Assembleia Legislativa do Pará (2010) – que apurou práticas de abuso sexual e violência contra crianças e adolescentes, e da CPI dos Maus-Tratos.

Os crimes de violência sexual, segundo os documentos, acontecem em inúmeras regiões do país, incluindo o Pará e Marajó. Entretanto, as páginas não confirmam as colocações de Damares.

As declarações de Damares foram registradas em vídeo publicado por Flávio Bolsonaro, filho 01 de Jair Bolsonaro (PL), em suas redes sociais. Na gravação, a senadora bolsonarista conta que possui “imagens de crianças de 4 anos, 3 anos que, quando cruzam as fronteiras, têm seus dentes arrancados para não morderem na hora do sexo oral”. Ela ainda adiciona: “nós descobrimos que essas crianças comem comida pastosa para o intestino ficar livre para a hora do sexo anal.”

Na terça-feira, 11/10, o Ministério Público Federal cobrou informações do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos acerca da colocações de Damares.

Nesta quinta-feira, 13/10, Damares recuou e afirmou em entrevista que as denúncias realizadas por ela no vídeo são conversas que tem com o “povo na rua”. Ela ainda diz que os dados são sigilosos, mas que “nenhuma denúncia que chegou na Ouvidoria deixou de ser encaminhada”.

Sem explicar onde estão essas provas documentadas, Damares jogou tudo pro campo informal. “Isso tudo é falado nas ruas do Marajó, nas ruas da fronteira. No começo do meu vídeo eu falo Marajó, porque é onde a gente começou o programa. Mas o tráfico de crianças acontece na fronteira. Essa coisa de que as crianças quando saem, saem dopadas, e seus dentinhos são arrancados onde elas chegam, a gente ouve nas ruas na fronteira” acrescentou a ex-ministra.

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