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  • Gabinete do ódio: Facebook derruba contas ligadas ao clã Bolsonaro

    Gabinete do ódio: Facebook derruba contas ligadas ao clã Bolsonaro

    Charge: Aroeira

    Nesta quarta-feira (8), o Facebook anunciou a derrubada uma rede de 73 contas, 14 páginas, um grupo e contas Instagram,  de funcionários dos gabinetes de Jair, Fábio e Eduardo Bolsonaro, além de pessoas com passagem pelo PSL, partido que elegeu o presidente genocida.

    As contas e páginas foram tiradas do ar por apresentarem perfis falsos, envio de spam e uso de robôs, segundo noticiou o Facebook.

    “Apenas atribuímos o que podemos provar. E removemos toda parte da rede. Vimos conexões com o PSL e com funcionários dos gabinetes das pessoas que mencionamos e o envolvimento direto deles ” (Nathaniel Gleicher, líder de políticas de segurança do Facebook).

    As contas eram utilizadas para atacar adversários políticos, jornalistas , veículos de TV, além de falarem sobre eleições. No entanto, o Facebook informou que as contas e páginas foram tiradas do ar não por espalharem fake news, mas por violarem diretrizes relacionadas a spam, autenticidade e discurso de ódio. Esses perfis gastaram cerca de R$ 8 mil em anúncios.

    Para a relatora da CPI das Fake News, as investigações apontam que a desinformação propagada nas redes pode ter influenciado no resultado das eleições. Aprovado no Senado, o Projeto de Lei das Fake News aguarda tramitação na Câmara. Bolsonaro é contra o PL.

     

  • “Don’t F**k With Cats”: O que a série chocante da Netflix tem a dizer sobre as redes sociais

    “Don’t F**k With Cats”: O que a série chocante da Netflix tem a dizer sobre as redes sociais

     

    É interessante notar as reações das pessoas diante documentário da Netflix “Don’t Fuck With Cats: Hunting An Internet Killer”. Em princípio, elas parecem reagir à insensibilidade da Netflix ao exibir a matança de pobres gatinhos indefesos; além disso, algumas delas argumentam que, com essa série, a gigante do streaming aumentou a publicidade em torno de um criminoso cruel.

     

    Talvez elas tenham razão, mas certamente existe um outro motivo para a rejeição da série e que permanece inconsciente todo o tempo: evitar o mal-estar causado pela descoberta da nossa profunda credulidade diante dos simulacros e simulações que perpassam as redes sociais. A série repete duas vezes uma frase que o criminoso escreveu na parede de seu quarto: “se você não gosta do reflexo, não se olhe no espelho! Eu não estou nem aí”. Se você não admite que crê piamente em mentiras e que jamais critica esse mundo de aparências – as redes sociais -, então evite o espelho.

     

    A série começa de modo estranho: em dezembro de 2010, num post de Youtube, um desconhecido brinca com dois gatinhos em cima de uma cama para, em seguida, coloca-los em um saco plástico, acoplar um aspirador de pó numa abertura e fazer a sucção de todo o ar do saco. Os gatinhos morrem sufocados. Esse post sádico viraliza e desperta a indignação das pessoas que o assistiram e que reagiram prometendo punir o culpado.

     

    Elas imediatamente criaram, no Facebook, o grupo Find the Vacuum Kitten Killer for Great Justice com 4000 inscritos, ao mesmo tempo em que um grupo de proteção animal oferecia um prêmio de 5000 dólares para quem identificasse o responsável pelo delito. Mas a série é muito mais do que um discurso do “politicamente correto” típico da classe média instruída de países ricos. Tanta preocupação tinha a ver com o temor de que o autor dos vídeos viesse a matar um ser humano

     

    Mark Lewis é o diretor e roteirista desse documentário, dividido em três capítulos de 1 hora cada, sobre um psicopata digital, um sujeito narcisista e egocêntrico cuja principal aspiração era a fama a qualquer custo e que chegou ao homicídio em nome dessa pretensão. Lewis mostra que o criminoso conseguiu criar um elaborado mundo virtual, com muitos perfis falsos de seguidores, ao mesmo tempo em que, no mundo real, era praticamente um fantasma. Insinuava ser muito rico, um viajante constante pelas principais cidades do mundo; na realidade, ele sequer tinha cartões de crédito nem endereço certo e usava vários nomes falsos.

     

     

    Don’t F**k With Cats: Hunting an Internet Killer | Official Trailer | Netflix

     

     

    Como um garoto de programa aspirante a modelo, ele adotou, entre outros, o nome de Luka Magnotta, atribuindo-se nobre ascendência russa. Na verdade, como escreve Carter, ele padecia da Desordem Fronteiriça de Personalidade e da Desordem de Personalidade Histriônica, além de sofrer de esquizofrenia paranoide e de psicose (1). Pouco tempo depois, Magnotta, radicalizando os seus delírios, veio a matar e a esquartejar um jovem, tendo filmado tudo e postado no Youtube.

     

    O filme de Lewis é um belo estudo semiótico dos simulacros e da simulação presentes nas redes sociais. Baudrillard já advertia que o simulacro é o ponto onde a cópia deixa de ser uma cópia para se tornar o Real (2). Referindo-se a uma fábula de Borges, Baudrillard afirmava que, com o simulacro, o mapa precede o território, ou seja, que os simuladores atuais tentam fazer coincidir o real, todo o real, com os seus modelos de simulação.

     

    Assim, a diferença soberana entre o mapa e o território desaparece, toda a metafísica desaparece e já não existe o espelho do ser e das aparências. A imagem gerada pelo simulacro apenas conserva a forma de uma outra coisa inteiramente despida de sua substância ontológica originária (e que costumávamos chamar de “realidade”).

     

    O simulacro se transforma em uma ilusão do real. A verdade e a fraude são os dois limites epistemológicos entre os quais oscilam a simulação e o simulacro. No lado da verdade, por exemplo, um simulador de voo é útil para treinar um piloto; do lado da fraude, a simular uma doença é útil para alguém que deseja faltar ao emprego ou à prova. Ainda segundo Baudrillard, dissimular é fingir que não ter o que se tem e simular é fingir ter o que não se tem. Umberto Eco escreveu que “aquilo que não serve para mentir tampouco serve para dizer a verdade” e acrescenta, ironicamente, que a semiótica é uma “teoria da mentira”, ou seja, que ela estuda não aquilo que faz sentido como a Física ou a Biologia, mas sim aquilo que parece fazer sentido (3). Para Luka Magnotta, bastava “parecer ser”!

     

    Jean Baudrillard

     

    Outro aspecto interessante da série é a sua forma narrativa, utilizando as entrevistas com os ativistas, a mãe de Luka, os advogados e os policiais. Lewis também mostrou o criativo trabalho dos detetives amadores do Facebook que, mesmo sem saber, seguiram o princípio de Locard, base das ciências forenses: “todo contato deixa vestígios”. O princípio afirma que o criminoso sempre deixa algo na cena do crime ou leva consigo algum rastro ou prova que sirva para indiciá-lo futuramente.

     

    A partir das imagens do local dos crimes com vestígios reveladores e usando programas de reconhecimento facial (apesar de Luke tentar esconder o rosto), o grupo conseguiu chegar ao país, à cidade, ao endereço e à identidade do matador de gatinhos e homicida. Magnotta era um mestre da simulação! Nunca existiu o território cujo mapa ele desenhou minunciosamente. Com um nome falso, falsa profissão e perfis falsos de seguidores nas redes sociais, Luka Magnotta produziu um mapa sem território, ou melhor, um mapa na escala 1:1, no qual o “todo verdadeiro” se identifica com o “todo falso”.

    Alexandre Costa é professor, doutor em filosofia e cinéfilo

     

    REFERÊNCIAS:
    BAUDRILLARD, Jean: Simulacros e Simulação, Lisboa: Relógio D’Água, 1991.
    CARTER, Cara L.: Canadian Psycho – The True Story of Luka Magnotta, Toronto: RJ Parker P. I., 2015.
    ECO, Umberto: Tratado de Semiótica General, Barcelona: Lumen, 2000.

  • Projetos de poder se alimentam das suas emoções e as redes sabem disso

    Projetos de poder se alimentam das suas emoções e as redes sabem disso

    Por Selma Bellini para os Jornalistas Livres

    Estamos vivendo hoje um governo eleito via WhatsApp e redes sociais. Este é um fato. Por mais que a análise dos motivos que levaram Bolsonaro ao poder seja ampla e complexa, não há dúvidas de que as redes sociais e aplicativos de mensagens foram os meios de comunicação que influenciaram o resultado. Muitos estudiosos estão dedicados a analisar tal estratégia, que segue o que tem acontecido em outros países onde a extrema direita tem se destacado. O objetivo deste texto não é, portanto, discutir o que a campanha de Bolsonaro fez nas redes sociais para chegar ao poder. O que se pretende aqui é discutir o futuro dessa dinâmica nas redes sociais, com foco no papel que nossas emoções desempenham nesse sistema.

    O peso das redes sociais e aplicativos de mensagem tende a ser cada vez maior em nossa vivência política e também na comunicação do novo governo, assim como também seguem presentes as possibilidades de manipulação que esses meios têm propiciado. O novo governo utiliza suas redes sociais da mesma forma que o fez durante a campanha e as consequências disso podem ser bastante cruéis. A possibilidade de enxergar cenários políticos com alguma clareza, por menor que ela seja, pode ser cada vez mais difícil; a confusão entre verdade e mentira pode aumentar consideravelmente e as bolhas podem ficar cada vez mais fortes. O principal ponto deste texto é considerar que há algo muito importante sustentando e alimentando toda essa dinâmica: nossos medos, raivas, desejos de aceitação, necessidade de vínculos e inseguranças. Nossas emoções formam o “combustível” que impulsiona as velozes engrenagens de manipulação na comunicação digital.

    Antes de falar sobre como nossas emoções são o alimento dessa dinâmica das redes, um breve recuo sobre o cenário geral no que se refere à manipulação política nas redes. No ano passado, a Universidade de Oxford divulgou o estudo “Challenging Truth and Trust: A Global Inventory of Organized Social Media Manipulation”, que analisou as novas tendências de manipulação organizada pelas mídias sociais e as crescentes capacidades, estratégias e recursos que sustentam o fenômeno. Segundo o estudo, há evidências de campanhas manipulatórias das mídias sociais, formalmente organizadas, em 48 países. Na 1ª edição do estudo, eram 28. E o Brasil está nessa lista. Em 20% dos 48 países, incluindo o Brasil, pesquisadores encontraram evidências de campanhas de desinformação por meio de aplicativos de bate-papo, como WhatsApp. O estudo menciona ainda o uso de bots, conNtas-fake, automação de comentários, entre outras estratégias.

    Não é novidade: campanhas políticas sempre buscam manipular emoções com mensagens que alcançam diretamente nossos medos e esperanças. As grandes manifestações políticas da história sempre estiveram imersas em nossos medos, desejos, amores, ódios e esperança. Da mesma forma, a disseminação de informações falsas sobre adversários não é criação bolsonarista ou das redes sociais. O que há de novo, além da velocidade das redes e de sua constante presença em nossas vidas, é o fato de que há uma gigantesca quantidade de informações a nosso respeito, com uma capacidade de processamento de dados que cresce a cada dia e permite desenhar análises de cenários complexos e específicos cada vez mais rápido. Ao lado disso, a mobilização emocional dos usuários possibilita a distribuição viral e rápida de notícias falsas, sobretudo em grupos privados, o que dificulta o rastreamento, além de manter o buzz distante dos “olhos” da sociedade e da mídia.

    Cada post, curtida ou comentário nas mídias sociais alimentam os algoritmos, que aprendem sobre a forma como pensamos, os nossos desejos e fragilidades. A Cambridge Analytica surgiu assim (vale ler aqui este ótimo artigo, publicado em dezembro de 2016, sobre o nascimento da Cambridge Analytica). E não são apenas os dados de redes sociais: nossas pesquisas, compras e acessos na internet, por exemplo, dão pistas sobre nossos comportamentos e emoções.

    O livro “Psicopolítica digital – o neoliberalismo e as novas técnicas de poder”, do filósofo Byung-Chul Han, lançado em 2014, discute justamente como os dados que fornecemos às redes podem ser interpretados e transformados em cenários conclusivos até mesmo sobre nossos desejos inconscientes que, então, poderiam ser facilmente explorados. Vale resumir aqui as próprias palavras de Byung-Chul Han: “Como uma lupa digital, o data-mining ampliaria as ações humanas e revelaria, por trás do espaço de ação estruturado pela consciência, um campo de ação estruturado de maneira inconsciente. A microfísica dos big data tornaria visíveis actomes, isto é, microações que escapariam à consciência. Os big data também poderiam promover padrões coletivos de comportamento dos quais não seríamos conscientes como indivíduos. Com isso, o inconsciente coletivo ficaria acessível. (…) A psicopolítica digital seria então capaz de aproveitar o comportamento das massas em um nível que escapa à consciência”.

    No recém-lançado “No Enxame”, o autor volta ao tema da psicopolítica digital. Ele reafirma que “a possibilidade de decifrar modelos de comportamento a partir do Big Data enuncia o começo da psicopolítica” e alerta que a “sociedade digital de vigilância, que tem acesso ao inconsciente-coletivo, ao comportamento social futuro das massas, desenvolve traços totalitários”, entregando-nos à programação e ao controle psicopolítico.

    Para entender o peso da análise de Byung-Chul Han é importante considerar o crescimento exponencial da quantidade de informações que compartilhamos nas redes, algo que fazemos em grande medida sem questionar os porquês que nos levam a isso. O filósofo avalia tal comportamento sob a ótica neoliberal, a qual nos tem levado a uma necessidade de exposição e transparência cada vez maior em função do crescimento do poder das novas tecnologias.

    “A transparência também é reivindicada em nome da liberdade de informação. Na verdade, ela não é nada mais que um dispositivo neoliberal. Ela vira tudo violentamente para fora, para que possa produzir informação. Nos modos atuais de produção imaterial, mais informação e mais comunicação significam mais produtividade, aceleração e crescimento. A informação é uma positividade que, por carecer de interioridade, pode circular independente do contexto. Isso permite que a circulação de informação seja acelerada à vontade”, avalia Han. A fronteira que protege nossa intimidade vai ficando cada vez mais apagada e nós estamos ajudando nesse processo ao nos engajarmos de boa vontade, com dados preciosos para as redes.

    Não basta, portanto, termos consciência de como nossas emoções alimentam as redes sociais. Também é preciso compreender o ambiente em que tais mudanças estão acontecendo e que tem nos influenciado. Como nos lembra o filósofo, o poder não necessariamente se opõe à liberdade. Ele pode até mesmo usá-la, tornando as pessoas dependentes, em vez de obedientes. Ora, em que medida a nossa “liberdade” nas redes sociais está sendo utilizada para projetos de poder? O que não estamos enxergando nessa suposta transparência de livre escolha em que os algoritmos definem o que queremos ver? Até que ponto somos realmente livres ao utilizar as redes sociais se não sabemos exatamente como elas funcionam ou como nossos dados são utilizados? Seria possível pensar em uma espécie de educação digital para que as pessoas tivessem um pouco mais de consciência sobre como suas emoções alimentam o sistema?

    Também importante considerar neste cenário a rapidez da análise e processamento de dados, um ponto abordado por Jamie Susskind em “Future Politics: Living Together in a World Transformed by Tech”, publicado pela Universidade de Oxford em setembro de 2018 (ainda sem título no Brasil). O crescimento da quantidade de dados a nosso respeito nas redes, aliado ao aumento da capacidade de processamento e a evolução das análises por inteligência artificial podem criar novas formas de poder e alterar drasticamente nossa vivência política (entendendo aqui política num sentido mais amplo, de convivência, não apenas no sentido partidário, eleitoral ou de governos).

    De forma geral, o que o autor demonstra, e ele não é o único a fazer isso, é que quem controlar as tecnologias terá um enorme poder nas mãos – um poder maior do que o dos governos ou aliado a eles. Tal poder será exercido de formas variadas e não será perceptível para muita gente, levando a um grau de controle sem precedentes em nossas ações, pensamentos, emoções e formas de ver o mundo, 24 horas por dia e com ares de liberdade e evolução. Insights sobre nossa psiquê, algoritmos e análises por inteligência artificial formam um cenário em que poder, justiça e liberdade poderão ser vividos de forma tão diferente, que sequer podemos imaginar com exatidão como será tal futuro. O que ele faz no livro é ir colocando as peças desse quebra-cabeça na mesa para que possamos ter alguma ideia do que pode acontecer.

    A hipótese que guia Jaime em “Future Politics” é que a forma como reunimos, armazenamos, analisamos e comunicamos informações está fortemente relacionada com a forma como organizamos e fazemos política. Ou seja, quando a sociedade desenvolve tecnologias disruptivas para informação e comunicação, também devemos esperar efeitos políticos. O perigo central que Jaime aponta é que gradualmente, e talvez inicialmente sem nos darmos conta, nos tornemos cada vez mais subjugados a sistemas que não só não entendemos direito, mas que não poderemos controlar. Neste cenário, ficamos à mercê dos que controlam esses sistemas, com implicações para a política, para a democracia e para nossas emoções.

    Firehosing e as nossas emoções

    Como dissemos anteriormente, as emoções impulsionam em grande medida a viralização de notícias falsas. Não é nossa avaliação sobre a veracidade ou utilidade do fato que impulsiona grande parte dos compartilhamentos, mas sim nossas emoções. Os jornalistas têm apontado, por exemplo, a utilização de uma técnica de manipulação que estudiosos chamam de firehosing, que consiste em divulgar mentiras em grande escala, por variados canais, em um fluxo constante, mergulhando as pessoas em tantas informações que fica difícil sair da confusão. O nome da técnica vem de firehose, que em português seria mangueira de incêndio. E é isso que a técnica faz: uma grande mangueira de incêndio espalhando falsidades em alta velocidade e de forma ininterrupta, por vários canais. Durante a campanha política, era fácil enxergar essa técnica no dia-a-dia, mas ela volta sempre em momentos importantes. Como exemplos recentes, podemos citar a dinâmica de fake news sobre a decisão de Jean Wyllys de deixar o Brasil e sobre Brumadinho (MG).

    Só que o Firehosing só funciona completamente se as pessoas compartilharem as informações falsas. Por sua vez, estas mentiras só serão compartilhadas em grande escala se despertarem emoções no indivíduo – algo suficiente para que ele nem reflita a respeito daquele conteúdo. E aí vem a parte mais cruel dessa história: com os nossos dados cada vez mais mapeados, processados e compreendidos, as nossas emoções passam a ser facilmente identificáveis e as mensagens falsas são produzidas sob medida para impactar nossas emoções já previamente identificadas, amplificando, mais do que tudo, ódio, raiva e medo. Isso foi dito com todas as letras pelo próprio Presidente da Cambridge Analytica (CA), em uma gravação escondida realizada pela Channel 4, do Reino Unido. Em março de 2018, o canal exibiu reportagem contando como CA atuava. A matéria foi fruto de uma investigação de 4 meses. Uma das frases do CEO dá bem o tom da estratégia: “Não é bom lutar numa eleição com fatos porque no fundo é tudo emocional. O grande erro dos principais partidos é que eles tentam ganhar no argumento, ao invés de localizar o centro emocional da questão”. Sem nossas emoções mobilizadas a ponto de não podermos parar para questionar, podemos imaginar que a mangueira do firehosing não se sustentaria por muito tempo.

    No caso da política brasileira, não está claro até que ponto a estratégia adotada pela campanha vencedora e, agora, na comunicação do novo governo, é altamente estratégica e organizada ou se, por outro lado, é uma mistura tupiniquim da estratégia “Cambridge Analytica” com loucuras individuais do grupo que assumiu o poder. O que é inegável é que as técnicas utilizadas são similares, com a manipulação de afetos como o ódio e o medo por meio de informações falsas distribuídas massivamente.

    Além das emoções negativas, a nossa necessidade de vínculo e pertencimento também alimentam em grande medida o funcionamento de toda essa estratégia com emoções mais “positivas”. Cada meme que você compartilha, cada piada ou comemoração te ligam a um determinado grupo, que dá a sensação de pertencimento. Essa é uma tendência natural do ser humano e não há nada de errado com isso, mas quanto mais tempo passamos nas redes, mais nossa necessidade de vínculos vai sendo transferida para cliques, curtidas e compartilhamentos, num ambiente em que algoritmos escolhem muito do que você vê, potencializando o que já seria uma “bolha” normal sua.

    As grandes mentes por trás das redes sociais sabem de toda essa dinâmica. Os botões de tristeza e raiva/indignação, por exemplo, não foram criados apenas para adicionar uma liberdade a mais para os usuários, mas sim porque eles permitiriam o engajamento emocional além do simples “curtir”, dando vazão para outras emoções. Muitos dos profissionais que estiveram no desenvolvimento destas ferramentas já levantam a voz em críticas. O caso mais recente é o de Roger McNamee, investidor de tecnologia que foi um dos mentores de negócio de Mark Zuckerberg e que assina, na revista Time de 17 de janeiro, o texto “Eu fui mentor de Mark Zuckerberg. Eu amei o Facebook. Mas eu não posso ficar em silêncio sobre o que está acontecendo”, em que relata um pouco dos bastidores da empresa.

    Roger resume muito bem em que ponto estamos de nosso relacionamento com o Facebook e acredito que, com algumas diferenças, o que ele fala se aplica a todas redes sociais e aplicativos de mensagem: “Você poderia pensar que os usuários do Facebook ficariam indignados com a forma como a plataforma foi usada para minar a democracia, os direitos humanos, a privacidade, a saúde pública e a inovação. Alguns estão, mas quase 1,5 bilhão de pessoas usam o Facebook todos os dias. Eles o usam para ficar em contato com parentes e amigos distantes. Eles gostam de compartilhar suas fotos e seus pensamentos. Eles não querem acreditar que a mesma plataforma que se tornou um hábito poderoso também é responsável por tantos danos. O Facebook usou nossa confiança em familiares e amigos para construir um dos negócios mais valiosos do mundo, mas, no processo, foi descuidado com os dados dos usuários e agravou as falhas em nossa democracia, deixando os cidadãos cada vez menos capazes de pensar por si mesmos, sem saber em quem confiar ou como agir em seu próprio interesse. Os maus atores tiveram sucesso explorando o Facebook e o Google, alavancando a confiança do usuário para disseminar a desinformação e o discurso de ódio, para suprimir o voto e polarizar os cidadãos em muitos países. Eles continuarão a fazê-lo até que, em nosso papel de cidadãos, reivindiquemos nosso direito à autodeterminação”.

    As redes sociais têm um potencial extraordinário para o bem, mas elas são armas poderosíssimas de poder se, do outro lado, os usuários não se preocuparem em entender como elas funcionam. Não é fácil, eu sei, tudo isso demanda tempo e interesse. A outra opção, no entanto, é simplesmente entregar suas emoções de bandeja para os algoritmos e viver a falsa sensação de liberdade da bolha ou, ainda pior, habitar um mundo paralelo de informações produzidas sem qualquer compromisso com a realidade.

  • Regras do Grupo Globo impõem censura a jornalistas

    Regras do Grupo Globo impõem censura a jornalistas

    E eis que a Globo, em nome da isenção que desconhece, como prova, por exemplo, seu apoio ao golpe de 1964, decidiu ampliar seus “Princípios Editoriais” na tentativa de calar seus profissionais, desconhecendo a Constituição federal,  que assegura  a livre manifestação de pensamento. Diante do absurdo da iniciativa, a Federação Nacional dos Jornalistas e pelo menos cinco sindicatos lançaram o seguinte manifesto:

    A Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), entidade máxima de representação da categoria, vem a público denunciar e repudiar a censura prévia que o Grupo Globo estabeleceu para os seus jornalistas contratados.  A pretexto de estabelecer “diretrizes para o uso de redes sociais”, o Grupo Globo atenta contra a liberdade de expressão dos jornalistas, impedindo, sob ameaça, os profissionais de se manifestarem em redes sociais, as que existem e que as vierem a existir.

    As “diretrizes” do Grupo Globo afrontam os direitos e garantias fundamentais da Constituição Cidadã de 1988. O artigo 5º da Constituição Federal, em seus incisos IV, VIII e IX, assegura que é livre a manifestação do pensamento, que ninguém será privado de direitos por convicção filosófica ou política e que é livre a atividade intelectual, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença.

    Já em seu artigo 220, que trata da Comunicação Social, a Constituição Federal também expressa que a manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo, não sofrerão qualquer restrição.

    Pelas novas “diretrizes”, os jornalistas do grupo empresarial não podem compartilhar mensagens que revelem posicionamentos políticos, partidários ou ideológicos, mesmo em grupos em que se exige a confiança absoluta em seus participantes.

    Nas redes sociais, os jornalistas devem se abster de expressar opiniões políticas, promover e apoiar partidos e candidaturas, defender ideologias e tomar partido em questões controversas e polêmicas que estão sendo cobertas jornalisticamente pelo Grupo Globo.

    Os jornalistas, chamados de comentaristas, analistas ou colunistas de opinião, devem ter uma atuação na rede social que não permita a percepção de que são militantes de causas e que fazem parte da luta político-partidária ou de ideias. A eles, como a todos, é vedado apoiar candidatos ou partidos, dentro e fora de eleições.

    Os jornalistas do Grupo Globo também ficam impedidos de fazer publicidade, mesmo que indiretamente, ao citar ou se associar a nome de hotéis, marcas, empresas, restaurantes, produtos, companhias aéreas etc. Isso também não deve acontecer em contas (em redes sociais) de terceiros, e o jornalista deve zelar para evitar tais ocorrências.

    Não satisfeito em cercear a liberdade de expressão, a livre manifestação do pensamento e privar o direito do jornalista de manifestar suas convicções políticas, o Grupo Globo também amordaça os seus colaboradores não-jornalistas. Proíbe os profissionais de outras áreas de atuação de declarar voto ou fazer propaganda para candidatos ou partidos no material produzido especificamente para os veículos para os quais trabalham.

    Ao impor as novas “diretrizes”, incorporadas aos “Princípios Editoriais”, datados de 2011, o Grupo Globo amordaça os seus profissionais, estabelecendo a censura prévia. As “diretrizes” aparecem como “recomendações”, mas fica evidente que quem não segui-las será responsabilizado e sofrerá consequências.

    “As regras são válidas para todos os jornalistas do Grupo Globo e devem ser rigorosamente observadas. As chefias diretas ficam com a incumbência de implementá-las, torná-las uma realidade e, em caso de faltas por parte de jornalistas, dividir os episódios com a direção de redação do veículo, que decidirá então se é o caso de levá-los à apreciação do Conselho Editorial do Grupo Globo”, estabelecem as “diretrizes”.

    Em carta aos jornalistas, João Roberto Marinho tenta justificar o injustificável, afirmando que o objetivo da medida é garantir a isenção, princípio basilar do Jornalismo. Paradoxalmente, Marinho esquece que a isenção jornalística nunca foi a marca do Grupo Globo que, inclusive, já veio a público pedir desculpas por ter apoiado a ditadura civil-militar.  E, provavelmente, terá de vir a público no futuro pedir desculpas pelo apoio ao golpe político de 2016.

    A FENAJ não admite o estabelecimento da servidão intelectual e, junto com os Sindicatos de Jornalistas do país, vai procurar as medidas legais cabíveis, tanto na Justiça do Trabalho quanto na Justiça comum, para pôr fim à censura prévia estabelecida e devolver a dignidade aos jornalistas do Grupo Globo.

    Brasília, 4 de julho de 2018.

    Federação Nacional dos Jornalistas – FENAJ

    Sindicato dos Jornalistas de Minas Gerais

    Sindicato dos Jornalistas de Pernambuco

    Sindicato dos Jornalistas do Município do Rio de Janeiro

    Sindicato dos Jornalistas do Distrito Federal

    Sindicato dos Jornalistas de São Paulo

  • Cidinha da Silva: Passou (ou não?)

    Cidinha da Silva: Passou (ou não?)

    Ufa! Acabou o dia dos pais nas redes sociais. Depois que o Facebook se transformou no Orkut repaginado, os desabafos amargos de filhos e mães, fruto de sofrimento profundo causado pelos homens-pais que os abandonaram, tomaram a cena, passaram a rivalizar com as propagandas para venda de produtos.

    O produto pai-super-heroi sem filhos mereceu capa de uma revista de circulação nacional. O importante eram suas aventuras, sua beleza, seu despojamento, seu sucesso profissional e o detalhe de ser pai que não atrapalhava qualquer das outras coisas. Ou seja, as mulheres é que devem ser incompetentes por não conseguirem ser mães e terem, ao mesmo tempo, vida plena como mulheres.

    No Facebook a dor do abandono, dos maus tratos, do desprezo paternal foi tão avassaladora que as pessoas que tiveram pai digno até se sentiram culpadas. Por outro lado, a maioria que se manifesta a partir de experiências ruins parece necessitar do espaço para tornar públicas suas mágoas e dores.

    Oxalá a catarse tenha o desejado efeito terapêutico, embora duvide muito dessa função contemporânea de divã, assumida pelo Facebook, haja vista a falta da mediação, tecnicamente preparada para conduzir a sessão. E essa ausência me faz temer o colapso do sistema. A ver.

  • Juventude nas ruas #NAOAOGOLPE

    Juventude nas ruas #NAOAOGOLPE

    Na noite de quinta feira, (21/04) a Av Paulista foi palco de uma manifestação de estudantes contra o impeachment da Presidenta Dilma. O protesto foi organizado e convocado pelas redes sociais, denominado como ” Juventude nas ruas #NAOAOGOLPE”. Os manifestantes partiram do vão livre do MASP, caminharam até a Praça do Ciclista e retornaram ao MASP, onde o ato foi finalizado.

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