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    A pandemia do racismo em Portugal faz mais uma vítima

    Por Jorge António, de Lisboa, especial para os Jornalistas Livres

    A pandemia do racismo em Portugal faz mais uma vítima. Bruno Candé Marques, a vítima, que estava sentada em um banco e acompanhada por sua cadela, foi atingida por quatro tiros. O autor dos disparos, um homem de 80 anos, foi imobilizado por transeuntes até a chegada das autoridades, que o detiveram e apreenderam a arma de fogo que teria sido usada no crime.

    Em um comunicado, a família do ator fala de um crime premeditado e racista, já que “o assassino já o havia ameaçado de morte três dias antes, proferindo vários insultos racistas” a ele e à família. 

    Em reportagens televisivas, testemunhas relatam o mesmo comportamento racista e as ameaças de morte feitas pelo assassino.

    “Racismo! Esse homem que ele matou não chateava ninguém…”. – referiu uma testemunha. “O senhor ainda disse: Vai para a tua terra!” – Completou.

    A organização SOS Racismo também pensa assim, e lançou um comunicado à imprensa em que diz:

    “Sobre o assassinato racista:

    Hoje, pelas 14h, Bruno Candé Marques, cidadão português negro, foi assassinado com 4 tiros à queima roupa. O seu assassino já o havia ameaçado de morte três dias antes e reiteradamente proferiu insultos racistas contra a vítima.

    O caráter premeditado do assassinato não deixa margem para dúvidas de que se trata de um crime com motivações de ódio racial.

    25 anos depois de Alcino Monteiro ter sido assassinado por ser negro, hoje foi a vez de mais um homem negro a morrer, em plena luz do dia, por motivos racistas.

    O SOS Racismo presta homenagem ao Bruno Candé Marques e apresenta as suas condolências à família.O racismo já matou e continua a matar. Para que o assassinato do Bruno Candé Marques não seja mais um sem consequências, exigimos que justiça seja feita.” diz o SOS Racismo em nota divulgada no Facebook.

    https://www.facebook.com/sos.rac/posts/3693090934053643

    Bruno Candé era conhecido como um homem sorridente e brincalhão. Apaixonado pela arte, o ator fez várias participações em novelas e peças teatrais, e era um ativista pela luta antirrascista. Deixa três filhos, sendo dois meninos (5 e 6 anos) e uma menina (2 anos).

    Semanas antes deste trágico episódio, a realização de um protesto promovido por André Ventura, um deputado da extrema-direita portuguesa que fez saudações nazistas num ato cuja a bandeira principal dizia que “Portugal não é racista”. Ventura é conhecido pelos seus ataques à comunidade cigana e a outros imigrantes, e em seus discursos costuma repetir sem nenhum constrangimento a frase “Volte para a tua terra!”, não coincidentemente, a mesma proferida pelo suposto assassino de Bruno Candé.

    No mesmo dia do crime realizou-se um encontro neonazi, em Lisboa, reunindo grupos criminosos ultra-nacionalistas da extrema-direita, muitos deles integrantes e apoiadores do partido Chega (o mesmo de André Ventura).

    Em resposta, no mesmo horário deste encontro, realizou-se a 2ª Mobilização Nacional Antifascista, organizada pela FUA – Frente Unitária Antifascista e apoiada por diversas organizações nacionais e internacionais.

    2ª Mobilização Nacional Antifascista – Foto: Vasco Santos – Frente Unitária Antifascista

    Ainda que a constituição portuguesa, em seu artigo 46º, criminalize atos racistas e fascistas, as autoridades, sob a passividade do próprio governo e dos partidos de direita portugueses parecem ignorar a constituição e fazer vistas-grossas para crimes raciais, e parecem não poupar esforços para negar as mais diversas formas de racismo praticadas no país.

    “Em termos de motivação, ainda não percebemos muito bem o porquê. Poderá ter a ver com questões meramente passionais, dado que não existe qualquer ligação entre os próprios” – apressou-se a PSP (Polícia de Segurança Pública) a normalizar o assassinato de Bruno Candé, no sábado à tarde à Lusa (Agência de Notícias de Portugal).