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Tag: Quilombos

  • “Malditas sejam todas as cercas!” Perdemos um pescador de almas e semeador de vidas

    “Malditas sejam todas as cercas!” Perdemos um pescador de almas e semeador de vidas

    Malditas sejam todas as cercas!
    Malditas todas as propriedades privadas que
    nos privam de viver e de amar!
    Malditas sejam todas as leis, amanhadas por
    umas poucas mãos, para ampararem cercas e
    bois e fazerem da terra escrava e escravos os
    homens!

    Pedro Casaldáliga, poeta do Araguaia


    “Quem fica na floresta um dia, quer escrever uma enciclopédia; quem passa 5 anos, fica em silêncio para perceber o quanto é profunda e complexa a Criação.”

    OFERTÓRIO
    Fragmento da Missa dos Quilombos, escrita por Dom Pedro Casaldáliga em colaboração com o poeta Pedro Tierra.

    Na cuia das mãos

    trazemos o vinho e o pão,

    a luta e a fé dos irmãos,

    que o Corpo e o Sangue do Cristo serão.

    O ouro do Milho

    e não o dos Templos,

    o sangue da Cana

    e não dos Engenhos,

    o pranto do Vinho

    no sangue dos Negros,

    o Pão da Partilha

    dos Pobres Libertos.

    Trazemos no corpo

    o mel do suor,

    trazemos nos olhos

    a dança da vida,

    trazemos na luta,

    a Morte vencida.

    No peito marcado

    trazemos o Amor.

    Na Páscoa do Filho,

    a Páscoa dos filhos

    recebe, Senhor.

    Trazemos nos olhos,

    as águas dos rios,

    o brilho dos peixes,

    a sombra da mata,

    o orvalho da noite,

    o espanto da caça,

    a dança dos ventos,

    a lua de prata,

    trazemos nos olhos

    o mundo, Senhor!

    –Na palma das mâos trazemos o milho,

    a cana cortada, o branco algodão,

    o fumo-resgate, a pinga-refúgio,

    da carne da terra moldamos os potes

    que guardam a água, a flor de alecrim,

    no cheiro de incenso, erguemos o fruto

    do nosso trabalho, Senhor! Olorum!

    O som do atabaque

    marcando a cadência

    dos negros batuques

    nas noites imensas

    da África negra,

    da negra Bahia,

    das Minas Gerais,

    os surdos lamentos,

    calados tormentos,

    acolhe Olorum!

    —Com a força dos bracos lavramos a terra

    cortamos a cana, amarga doçura

    na mesa dos brancos.

    — Com a força dos braços cavamos a terra,

    colhemos o ouro que hoje recobre

    a igreja dos brancos.

    —Com a força dos braços plantamos na terra,

    o negro café, perene alimento

    do lucro dos brancos.

    —Com a força dos braços, o grito entre os dentes,

    a alma em pedaços, erguemos impérios,

    fizemos a América dos filhos dos brancos!

    A brasa dos ferros lavrou-nos na pele,

    lavrou-nos na alma, caminhos de cruz.

    Recusa Olorum o grito, as correntes

    e a voz do feitor, recebe o lamento,

    acolhe a revolta dos negros, Senhor!

    —Trazemos no peito

    os santos rosários,

    rosários de penas,

    rosários de fé

    na vida liberta,

    na paz dos quilombos

    de negros e brancos

    vermelhos no sangue.

    A Nova Aruanda

    dos filhos do Povo

    acolhe, Olorum!

    Recebe, Senhor

    a cabeça cortada

    do Negro Zumbi,

    guerreiro do Povo,

    irmão dos rebeldes

    nascidos aqui,

    do fundo das veias,

    do fundo da raça,

    o pranto dos negros,

    acolhe Senhor!

    Os pés tolerados na roda de samba,

    o corpo domado nos ternos do congo,

    inventam na sombra a nova cadência,

    rompendo cadeias, forçando caminhos,

    ensaiam libertos a marcha do Povo,

    a festa dos negros, acolhe Olorum!

    “Não é só imoral cobrar a dívida externa, também é imoral pagá-la, porque, fatalmente, significará endividar progressivamente os nossos povos”

    NOTA DE FALECIMENTO DE
    DOM PEDRO CASALDÁLIGA PLA, CMF

    A Prelazia de São Félix do Araguaia (Mato Grosso, Brasil), a Congregação dos Missionários Filhos do Imaculado Coração de Maria (Claretianos) e a Ordem de Santo Agostinho (Agostinianos) comunicam o falecimento Dom Pedro Casaldáliga Pla, CMF, Bispo Emérito da Prelazia de São Félix do Araguaia (Mato Grosso) e Missionário Claretiano, ocorrido neste
    dia 08 de agosto de 2020 às 9:40 horas
    (horário de Brasília), na cidade de Batatais, estado de São Paulo, Brasil.

    Informações detalhadas com:
    Pe. Ronaldo Mazula, CMF, celular/WhatsApp (11) 9.7173-7755, com Pe. Brás Lorenzetti, CMF, celular/whatsApp (16) 99257-6513 ou ainda 16 99176 8284(Pe. Luiz Botteon).No site www.claretiano.edu.br/dompedro
    Nas redes sociais (https://www.instagram.com/casaldaliga_claretiano/ e https://www.facebook.com/pedro.casaldaliga.184)
    O velório acontecerá em três locais:
    1 – Em Batatais – SP
    O corpo de Dom Pedro Casaldáliga, CMF, será velado, no dia 08 de agosto de 2020, a partir das 15 horas na capela do Claretiano – Centro Universitário de Batatais, unidade educativa dirigida pelos Missionários Claretianos, situada à rua Dom Bosco, 466, Castelo, Batatais, São Paulo, Brasil. Informações: 16.3660-1777.
    A missa de exéquias será celebrada, em Batatais, no dia 09 de agosto de 2020 às 15h, no endereço acima e será aberta ao público em geral, além de ser transmitida ao vivo pelo link https://youtu.be/spto8rbKye0. O link estará aberto para que outros veículos de comunicação possam retransmitir.

    2 – Em Ribeirão Cascalheira – MT
    O corpo de Dom Pedro Casaldáliga, CMF, será velado no Santuário dos Mártires, a partir do dia 10 de agosto, sem previsão de horário de chegada do corpo. Informações: telefone 66 – 98420 – 2253 Pe. Tiago.

    3 – Em São Félix do Araguaia – MT
    O corpo de Dom Pedro Casaldáliga, CMF, será velado no Centro Comunitário Tia Irene. O sepultamento será em São Félix do Araguaia.
    SEM PREVISÃO DE DIA, POIS ANTES PASSARÁ POR RIBEIRÃO CASCALHEIRA. Informações: com Pe. Saraiva telefone: 31 – 99677 – 4875.


    Foto: Douglas Mansur

  • Quilombos no Brasil já têm mais casos de Covid-19 do que a população de Cuba

    Quilombos no Brasil já têm mais casos de Covid-19 do que a população de Cuba

    O novo coronavírus avança nos territórios quilombolas no Brasil, atingindo um número total de casos confirmados que supera as estatísticas de países inteiros. Segundo o boletim epidemiológico divulgado pela Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras e Rurais Quilombolas (Conaq) nessa quarta (29), foram confirmados 3.798 casos de Covid-19 nas comunidades remanescentes de quilombos.

    Márcia Maria Cruz – Reproduzido do

    DE OLHO NOS RURALISTAS

    O número é 48,6% maior do que o total de casos registrados em Cuba, país que, entre os séculos 17 e 19, passou por um processo similar de formação de quilombos, conhecidos ali como palenques. De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), até 29 de julho o país caribenho havia registrado 2.555 casos para uma população de 11,47 milhões de habitantes.

    Não existem no Brasil dados oficiais sobre a população quilombola. A categoria seria incluída pela primeira vez no Censo 2020, adiado por conta da pandemia. Segundo estimativa da Fundação Cultural Palmares, as 3.212 comunidades certificadas até 2019 possuem 1,2 milhão de habitantes.

    Estado com maior número de comunidades remanescentes de quilombos identificadas, o Pará também responde pela maioria dos casos de Covid-19, com 40,5%, seguido por Rio de Janeiro (22,2%), Maranhão (16,8%) e Amapá (8,9%).

    O número total de casos nos quilombos brasileiros supera também o total de registros de Covid-19 da população inteira de países como Nicarágua, Líbia e Congo. E começa a se aproximar do total de casos do Paraguai.

    O país caribenho mantém na página do Ministerio de Salud Pública (MSP) um boletim diário detalhando os casos de coronavírus no país, incluindo o perfil médico de cada um dos infectados. Sem novos óbitos há duas semanas, Cuba teve 87 mortos por Covid-19. Segundo o registro governamental, não houve óbitos de quilombolas cubanos.

    Os descendentes dos africanos escravizados que se rebelaram para formar os palenques são chamados em Cuba de cimarrones. O termo é oriundo do espanhol cima, ou cimeira, uma referência às regiões montanhosas onde esses quilombos eram construídos.

    Conforme narra Gabino La Rosa Corzo no livro “Los palenques del oriente de Cuba: resistencia e acoso“, as comunidades cimarronas se concentravam em grande parte na porção oriental da ilha, principal região de produção de cana-de-açúcar e para onde a maioria dos africanos eram levados. Ainda hoje, as províncias orientais de Santiago de Cuba e Guantánamo detêm a maior porcentagem de negros entre a população geral fora da capital: 14,2% e 12,8%, respectivamente. Muitos deles, descendentes de cimarrones.

    Assim como o Brasil, Cuba foi um dos últimos países do continente a abolir a escravidão. Em 1880, o rei espanhol Afonso XII promulgou a Lei do Patronato, que proibia a compra e venda de escravos na colônia, mas permitia aos donos de escravos manter a mão-de-obra sob um regime de patronato que, na prática, pouco diferia da escravidão. A abolição total só viria em 1886, dois anos antes do Brasil.

    Cuba guarda ainda outra semelhança com nosso país. A população negra cubana convive com índices de pobreza elevados e é alvo constante da violência policial. Em 27 de junho, o assassinato do jovem Hansel Ernesto Hernández Galiano por agentes da Polícia Nacional despertou uma onda de protestos em Havana, levando à prisão de ativistas.

    De acordo com o boletim da Conaq, o número de mortes registradas nos territórios quilombolas do Brasil chegou a 138, cinco a mais que no último levantamento, de 13 de julho. A maior parte delas ocorreu na região Norte (44,2%), seguida do Sudeste (29,0%) Nordeste (23,9%) e Centro-Oeste (2,9%). O Pará ocupa o primeiro lugar também em número de mortos, 40. O Rio de Janeiro é o segundo estado com mais mortes (37), seguido do Amapá (19), Maranhão (12) e Pernambuco (9).

    Descaso

    “O aumento no números de casos nas comunidades quilombolas demonstra o descaso do poder público”, afirma Sandra Maria da Silva Andrade, diretora da Federação Quilombola do Estado de Minas Gerais e integrante da coordenação executiva da Conaq.

    — Já não tínhamos assistência de saúde adequada antes da pandemia. Neste momento de expansão da doença, precisávamos de um olhar específico, um atendimento da população quilombola. Fomos descartados pelo governo!

    Além da invasão dos territórios por grandes empreendimentos, o atraso no repasse do auxílio emergencial aos quilombolas faz as pessoas das comunidades terem de ir até a área urbana, ficando assim mais expostas ao contágio.

    Líder da comunidade Carrapato da Tabatinga, em Bom Despacho (MG), Sandra alerta para a subnotificação. Com 2.226 habitantes, seu quilombo é um dos que ainda não recebeu testes.

    “Temos casos de Covid-19, mas as autoridades não notificam”, diz ela. “Não estamos sendo contabilizados. As pessoas estão morrendo e os governos não fazem a notificação. Colocam qualquer coisa como causa da morte, mas não falam que é a Covid-19. A gente sabe que é. Mas eles não têm feito o teste nas pessoas”.

    Foto principal (Governo de São Paulo): Testagem no quilombo Peropava, em Registro, interior paulista