Primavera secundarista leva 5 mil manifestantes às ruas de Curitiba

Foto: Leandro Taques/Jornalistas Livres

Por Ednubia Ghisi e Pedro Carrano, do Brasil de Fato, com fotos de Leandro Taques, dos Jornalistas Livres

 

Caras pintadas”, cartazes, faixas, bandeiras e uma diversidade de músicas e palavras de ordem ressoaram no Centro de Curitiba na tarde desse domingo (9), em manifestação contra a reforma do ensino médio, propostas a toque de caixa pelo governo Michel Temer (PMDB) via Medida Provisória. Cerca de 5 mil pessoas participaram do protesto, segundo estimativa dos organizadores.

 

O ato começou às 15h na praça Santos Andrade, seguiu em marcha pela Avenida Marechal Deodoro até a rua Visconde de Nacar, depois passou pela rua Vicente Machado sentido Boca Maldita, onde terminou, por volta das 18h30. A articulação CWB Contra Temer mobilizou a ação via redes sociais e, durante a manifestação, diferentes movimentos, grêmios estudantis e organizações estiveram à frente da animação da marcha.

 

Grande parte do público era de adolescente e jovens, entre eles estudantes que organizam as mais de 50 ocupações em escolas do estado, protagonistas do que está sendo chamado de “primavera secundarista”. Também estavam presentes pais, professores e apoiadores da resistência dos secundaristas.

 

“A comunidade está ajudando muito, está sendo muito organizado e um aprendizado excelente. É uma experiência de vida nova”, explica Júlio Cesar, estudante do terceiro ano que participada da ocupação no colégio Teobaldo Leonardo Kletemberng, localizado no Sítio Cercado, sul de Curitiba. Durante o ato, estudantes do colégio convidaram o público para uma manifestação na região nesta segunda-feira (10), às 8h, na rua Isaak Ferreira da Cruz, perto do terminal do bairro.

 

Matheus dos Santos, da União Paranaense dos Estudantes Secundaristas (UPES), explica que as ocupações das escolas ocorrem em todas as regiões do estado, e que há previsão de crescimento do movimento nos próximos dias. Segundo o jovem, as ações ocorrem por iniciativa dos estudantes, a partir das próprias escolas e de grêmios estudantis, de maneira autônoma, “com ajuda dos pais, de professores e da comunidade escolar, mas parte dos estudantes, para os estudantes”.

 

Atropelamento

 

O atropelamento de um dos manifestantes, ocorrido na esquina da Avenida Marechal Deodoro com a rua João Negrão, causou revolta entre os participantes. Alessandro Harfuche, de 30 anos, integrante da CWB Contra Temer que contribuía na comissão de segurança do ato, foi atropelado por um automóvel quando ajudava na formação do cordão de isolamento entre os carros e os manifestantes.

 

O motorista do carro fugiu sem prestar socorro, mas manifestantes fotografaram a placa do automóvel. O jovem foi levado para o Hospital Evangélico, com fratura nos braços. Segundo Fernando Lopes, integrante da articulação CWB Contra Temer, Harfuche passou por cirurgia em um dos braços. Ao final do ato, os organizadores anunciaram o lançamento de uma nota de repúdio e também de denúncia formal com relação ao caso.

 

“Deforma” do ensino médio

A estudante do colégio Pedro Macedo e integrante do movimento Levante Popular da Juventude, Isis Cristina da Silva, chama a MP de ‘deforma’ do ensino médio, uma vez que irá piorar o que já não está bom: “A gente está sim insatisfeito com o ensino médio atual, a gente quer melhoras, mas ele [Temer] não dialogou para saber quais melhoras a gente quer”.

 

A adolescente de 16 anos frisa outros ataque do governo federal, como ao Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), ao programa Ciência Sem Fronteira e aos programas sociais. “É importante que a sociedade apoie a nossa luta, tanto porque os filhos deles, os meus filhos, vão sofrer com essa reforma”. O movimento do qual faz parte cobra a realização de uma reforma política profunda, por meio de constituinte exclusiva sobre o tema.

Foto: Leandro Taques/Jornalistas Livres

 

Consciência “das juventudes”

“Tanto a mídia quanto o governo, quando falam que os jovens estão sendo manipulados, que não têm informação, mostram um profundo desconhecimento sobre quem são as juventudes que estão na escola pública de hoje”, garante Mônica Ribeiro, professora integrante do Observatório do Ensino Médio da Universidade Federal do Paraná (UFPR). A professora avalia que trata-se de uma tentativa de desqualificar o movimento dos secundaristas.

 

“A fala deles [estudantes] mostra sim que estão sentido quanto isso será prejudicial, o quanto é a negação dos direitos que eles já não vem tendo acesso”, referindo-se à compressão dos estudantes a respeito da PEC 241, que congela os gastos públicos por 20 anos, e a Medida Provisória que impõe a reforma do ensino médio. A postura e as ações dos estudantes demonstram que eles têm “consciência de que os maiores prejudicados serão os jovens da escola pública brasileira”, opina a professora.

Foto: Leandro Taques/Jornalistas Livres
Foto: Leandro Taques/Jornalistas Livres

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