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  • A ‘facada’ de Trump e o esquecimento da cloroquina

    A ‘facada’ de Trump e o esquecimento da cloroquina

    A notícia de que Donald Trump e sua esposa, Melania, testaram positivo para o coronavírus caiu como uma bomba na política estadunidense e global. Além das implicações práticas que esse acontecimento traz para as eleições americanas em novembro, a divulgação dessa notícia/evento e suas repercussões são um bom exemplo da condição atualista de nosso tempo.

    Mateus Pereira, Valdei Araujo, Walderez Ramalho, professores da Universidade Federal de Ouro Preto em Mariana*

    Foi o próprio Trump quem deu a informação, por meio de sua conta no Twitter, na madrugada da última sexta-feira, 2 de outubro. Após subestimar, durante meses, a gravidade da pandemia, o atual presidente americano recebeu o diagnóstico de COVID-19, precisou ser internado e permanecer sob cuidados médicos, depois de apresentar sintomas sérios da doença. Portanto, Trump agora sente, na própria pele, a capacidade de contaminação do vírus que ele tanto subestimou. Só nos EUA, quase 7,5 milhões de pessoas foram atingidas, e mais de 200 mil morreram. De imediato, a imprensa conservadora tratou a questão como o ataque de um inimigo invisível. Certamente, para aqueles que desde o começo se recusaram a percebê-lo.

    A notícia da infecção do candidato republicano é mais um ingrediente no caldeirão agitado e cheio de incertezas das eleições presidenciais americanas. Desde o momento em que Trump veio a público informar sobre o seu diagnóstico, muitos se perguntaram se era realmente verdade, ou se seria mais uma fake news do agitador, para mais uma vez conturbar as eleições e alimentar a guerra cultural. Talvez nunca tenhamos uma resposta satisfatória para o fato, porque, paradoxalmente, apesar de sermos parte de um tempo que promete a total transparência e exposição, a verdade ainda é capaz de se esconder.

    Nossas dúvidas são mesmo justificáveis, considerando o histórico de mentiras e desinformação do presidente estadunidense. Como mostra a pesquisa feita pela Cornell University, Trump foi a principal fonte para a difusão de desinformação a respeito da pandemia de COVID-19. A pesquisa demonstra que dos 38 milhões de artigos analisados sobre a pandemia, 1,1 milhão continham desinformação, e destes, 38% citavam algo que Trump teria afirmado.[1]

    Ainda que os principais veículos de notícias tenham confirmado o diagnóstico positivo de Trump para o coronavírus, não tem sido possível dissipar a densa nuvem de confusão e incerteza que rodeia esse acontecimento.

    Argumentamos em livro recente, Almanaque da Covid-19 [2] que uma das características do atualismo é a explosão de notícias em fluxo contínuo, no qual o valor de verdade da informação se confunde com o seu valor de novidade, ou seja, sua atualização. A expansão dos canais de notícia 24 horas e das novas plataformas digitais se alimentam justamente dessa pulsão atualista pela atualização constante. Confirma o nosso argumento o tweet de Trump a respeito da sua contaminação pelo coronavírus: diversas empresas jornalísticas dos EUA disponibilizaram na internet serviços de “atualizações ao vivo” dedicadas somente a esse fato, misturando nessas plataformas informações verificadas, opiniões e especulações sobre o estado clínico do atual presidente e suas repercussões para o processo eleitoral americano.

    Sob a estrutura atualista surge a crença de que estar atualizado com as notícias é o mesmo que estar certo. No entanto, ao diluir as fronteiras entre fato e opinião, e pelo próprio fluxo acelerado de produção e circulação da informação – consequência da concorrência feroz por ser mais rápido do que os outros – o resultado é acentuar o ambiente de dúvidas e incerteza, visto que essa estrutura dificilmente contribui para a criação de referências estáveis por meio das quais possamos nos orientar no mundo.

    Um sintoma claro desse ambiente atualista é a grande confusão com relação ao real estado clínico do presidente. Inicialmente, a equipe médica de Trump afirmou em entrevista coletiva, no último sábado, dia 3, que o presidente se encontrava em bom estado de saúde, sem dificuldades para respirar ou caminhar, sem a necessidade de suporte de oxigênio, embora sem apresentar alguma previsão de alta.[3]

    O próprio Trump gravou um pequeno vídeo, com a clara intenção de despertar a empatia do público, dizendo que estava se sentido bem e disposto a “fazer a América grande de novo”, e que retornará às atividades de campanha em breve.[4] Acrescentou que lutará contra o vírus em nome das milhões de pessoas infectadas nos EUA e no mundo, e afirmou: “Nós vamos derrotar esse coronavírus, ou como quer que queiram chamar isso”. O candidato ainda caracterizou os medicamentos que tem tomado para enfrentar a doença como “milagrosos” – dentre os quais não se encontra a cloroquina, substância xodó da extrema-direita.

    Na nova ordem da informação, a cloroquina sai de cena sem que Trump e seus apoiadores façam qualquer autocrítica aos seus discursos anteriores. Assim, ela foi relegada ao museu dos bagulhos, para usarmos uma expressão da tradução brasileira do romance que serviu de base para o filme Blade Runner. No romance, bagulho é explicado como um tipo de lixo futurista, que ganha vida própria e entulha o mundo conhecido tornando-o inabitável para os humanos. Hoje, replicantes são as fake news e estamos todos em busca de bons caçadores.

    Nessa situação, a cloroquina guarda também alguma semelhança com a ideia de obsolência programada, tal como é definida pela Wikipédia, a saber: “Obsolescência programada é a decisão do produtor de propositadamente desenvolver, fabricar, distribuir e vender um produto para consumo de forma que se torne obsoleto ou não funcional especificamente para forçar o consumidor a comprar a nova geração do produto.” No caso, o vendedor é o presidente da maior democracia do mundo.

    No livro Espaços da Recordação, Aleida Assmann, desenvolve uma interessante relação entre o arquivo e o lixo a partir da ideia de que, em nosso tempo, o que não é guardado é descartado. A esse respeito ela cita o trabalho do artista russo-americano Ilya Kabakow que criou um pequeno museu de “bagulhos” e “lixo”, onde encontramos objetos esquecidos e rejeitados. Parece ser o destino da cloroquina, que afetou, das mais diversas formas, a vida de inúmeras pessoas? Talvez. Mas, só depois que algumas “autoridades” mundiais conseguiram “descartar” a superprodução do medicamento. Sabemos que, em um grande país do sul do mundo, o exército nacional tem um estoque para 18 anos, considerando a produção dos anos anteriores, utilizada para o combate contra a malária.[1]

    Mas, no mesmo sábado, dia 3, surgiu uma notícia divergente sobre a saúde do presidente estadunidense. Desta vez, o chefe de gabinete da Casa Branca, Mark Meadows, disse a repórteres que Trump não estava em um caminho claro de recuperação da COVID-19, e que, nas últimas 24 horas, alguns de seus sinais vitais eram “muito preocupantes”.[5] Além disso, o jornal The New York Times divulgou a informação, coletada a partir de duas fontes próximas ao presidente americano, que Trump teve problemas para respirar durante a última sexta-feira, levando os médicos a darem a ele oxigênio suplementar e, por esse motivo, levaram-no para o hospital militar Walter Reed, em Maryland, onde o presidente encontrava-se internado.[6]

    No fim da tarde de segunda-feira, dia 5, Trump recebeu alta hospitalar e deixou o hospital Walter Reed. A partir de agora, o presidente dos EUA seguirá com o tratamento na Casa Branca. Chegando na residência oficial, Trump posou para os fotógrafos e tirou a máscara. Mas o médico oficial da Casa Branca, Sean Conley, declarou que a saúde de Trump ainda não está totalmente controlada. 

    Diante de informações tão confusas e discrepantes, como podemos nos situar com relação à infecção de Trump pelo vírus a partir de uma base de referência minimamente estável e segura? Frente a esse quadro, somos empurrados a continuar acompanhando o fluxo de notícias a respeito de como o atual presidente americano efetivamente está, pois essa questão é decisiva para o modo como o processo eleitoral americano irá transcorrer daqui em diante.

    Aliás, os impactos do diagnóstico de Trump para a campanha eleitoral é tema de muitas dúvidas e especulações entre os analistas estadunidenses e brasileiros, pois uma das bases fundamentais de sua campanha era, justamente, a realização de comícios com a presença física de seus apoiadores – inclusive, Trump se gabou desse fato durante o último debate presidencial, sugerindo que Joe Biden não fazia o mesmo porque “ninguém quer ouvi-lo”. Nesse sentido, a contaminação do atual presidente pelo vírus traz certamente grandes impactos para a sua campanha, pois afeta a sua agenda de comícios e o força a se ausentar durante o período de quarentena.

    Mas, como falamos em nossa última coluna [7], Trump é um exímio surfista em nosso tempo atualista. Apesar de ver seu plano de campanha colapsado, em função do coronavírus, esse fato dá a ele uma superexposição na mídia, ao passo que a campanha de Biden e seu nome tendem a perder bastante espaço na cobertura dessas eleições. Isso permite, ao atual presidente, a chance de chegar ao dia da eleição como o assunto principal do país, em uma pauta que não é diretamente negativa, em especial, entre seus apoiadores e potenciais simpatizantes.

    Se por um lado, pode-se cobrar de Trump a prestação de contas por sua conduta de menosprezo à gravidade do vírus, por outro, o seu diagnóstico pode motivar a sua base de apoiadores a comparecer às urnas e a engaja-los, ainda mais, na tarefa de convencer alguns eleitores indecisos. Isso pode ser decisivo em um processo eleitoral tão caótico e acirrado, como o dos EUA. Votos que podem ajudar Trump a questionar uma eventual vitória apertada de Biden, produzindo uma crise sem precedentes e com impactos no Brasil, inclusive. Afinal, ele tem ameaçado dar um golpe caso perca de forma apertada. E é justamente disso que se trata.

    Guardadas as devidas proporções, podemos traçar uma relação entre o diagnóstico de Trump, isto é, o acontecimento dele ter se contaminado pela COVID-19 a menos de um mês da eleição e o episódio da facada de Jair Bolsonaro, durante a campanha de 2018, no Brasil. Além de ter provocado a empatia em parte importante do eleitorado brasileiro, que o viu como uma vítima, aquele fato colocou Bolsonaro no centro das atenções da mídia por muito tempo. Essa superexposição midiática o fez ser mais conhecido entre o eleitorado nacional, e foi um fato decisivo para a sua vitória na última eleição – como afirmou o cientista político Jairo Nicolau em entrevista recente.[8]

    Há, certamente, diferenças importantes entre o episódio da facada de Bolsonaro e a infecção de Trump pelo novo coronavírus. A começar pelo fato de Trump já ser o atual presidente do país. Mas a questão é que, em nosso mundo atualista, estar constantemente exposto na mídia pode ser definidor. Assim, a própria confusão a respeito de seu estado clínico, como dissemos acima, contribui para a sua superexposição, pois na configuração atualista, a produção constante de notícias (verdadeiras ou simuladas) é o que importa. E mesmo dentro de um hospital, e em tratamento, o presidente americano conseguiu alcançar esse objetivo.

    Em pouco tempo saberemos as consequências, pois ao contrário do que a condição atualista pode querer nos iludir, as ações têm consequências. O problema é que a “névoa”  produzida pela desinformação, simbolizada aqui pela exposição da cloroquina no “museu dos bagulhos”, tem como um de seus objetivos nos impedir de perceber as consequências de determinadas ações – mesmo que seja muito difícil imaginar hoje a extensão de tais consequências, dada as especificidades do atual desenvolvimento técnico, em especial, em tempos de revolução digital. Como destaca o filósofo Günther Anders, nós somos cada vez mais incapazes de imaginar o que estamos de fato produzindo em termos de técnica e governo. As vidas perdidas, tanto nos EUA como no Brasil, durante essa pandemia, são uma prova disso, infelizmente. A democracia está em risco em muitos lugares, inclusive no Império Norte-Americano! E para terminar: os familiares das vítimas da ilusão da cloroquina jamais esquecerão esse crime!

     (*) Mateus Pereira e Valdei Araujo escreveram o Almanaque da Covid-19: 150 dias para não esquecer ou o encontro do presidente fake e um vírus real com Mayra Marques. Mateus Pereira e Valdei Araujo são professores de História na Universidade Federal de Ouro Preto em Mariana. Também são autores do livro Atualismo 1.0: como a ideia de atualização mudou o século XXI e organizadores de Do Fake ao Fato: (des)atualizando Bolsonaro, com Bruna Klem. Walderez Ramalho é doutorando em História na mesma instituição.


    [1] https://www.youtube.com/watch?v=bYz-D0mefxI

    [2] https://www.amazon.com.br/Almanaque-COVID-19-esquecer-hist%C3%B3ria-presidente-ebook/dp/B08BX1CX55/ref=sr_1_1?__mk_pt_BR=%C3%85M%C3%85%C5%BD%C3%95%C3%91&dchild=1&keywords=almanaque+da+covid&qid=1601822251&sr=8-1

    [3] https://noticias.uol.com.br/internacional/ultimas-noticias/2020/10/03/donald-trump-covid-19-coronavirus-medicos-eua.htm

    [4] https://www.youtube.com/watch?v=0n4D8QyRmsQ

    [5] https://noticias.uol.com.br/internacional/ultimas-noticias/2020/10/03/trump-saude-covid-19.htm

    [6] https://www.nytimes.com/2020/10/03/us/politics/trump-covid-updates.html

    [7] https://jornalistaslivres.org/o-primeiro-debate-presidencial-nos-eua-e-a-crise-da-democracia/

    [8] https://brasil.elpais.com/brasil/2020-09-27/jairo-nicolau-bolsonaro-e-uma-lideranca-inequivoca-e-um-lula-da-direita.html


    [1] https://extra.globo.com/noticias/brasil/exercito-brasileiro-tem-estoque-de-cloroquina-para-18-anos-rv1-1-24500378.html

  • Projeto Futuro do Presente, Presente do Futuro #53 – Tiago Judas: Homem-Caixa

    Projeto Futuro do Presente, Presente do Futuro #53 – Tiago Judas: Homem-Caixa

    O Homem-Caixa, fora de sua casa-caixa, continua internalizado, privado, caminhando pelas ruas vazias de uma cidade-caixa em quarentena gerada pela pandemia do Coronavírus. É mais fácil percebê-lo em tempos de isolamento social, mas não é de agora que somos caixas dentro de caixas: empilhados, segregados, rotulados.

    A princípio, o Homem-Caixa, não desperdiça espaços vazios, pois a sua capacidade de empilhamento é alta e facilita a gentrificação; mas, a propriedade descartável de seu material é, a longo prazo, entrópica.

    Para realizar pela primeira vez o truque em que o mágico serra uma mulher ao meio em 1921, Percy Thomas Tibbles, teve que descobrir antes, até que ponto uma pessoa era capaz de se contorcer dentro de uma caixa apertada.

    Em 2020 estamos tendo que redescobrir essa capacidade, mas as caixas desta vez, são as classes sociais; as etnias; as escolhas políticas. Uma vez encaixados, vivemos a ilusão de que podemos nos separar um do outro simplesmente serrando a caixa ao meio; mas tudo só faz parte desse antigo jogo de esconder.

    O Homem-Caixa é frágil, descartável e fácil de ser armazenado.

    Tiago Judas: Homem Caixa
    Tiago Judas: Homem Caixa
    Tiago Judas: Homem Caixa
    Tiago Judas: Homem Caixa
    Tiago Judas: Homem Caixa
    Tiago Judas: Homem Caixa
    Tiago Judas: Homem Caixa
    Tiago Judas: Homem Caixa
    Tiago Judas: Homem Caixa

    Minibio

    Tiago Judas (São Paulo, SP, Brasil, 1978) é bacharel em Artes Plásticas pela Fundação Armando Álvares Penteado – FAAP (São Paulo, SP, Brasil, 2001) e possui licenciatura plena em Arte pelo Centro Universitário Belas Artes de São Paulo (São Paulo, SP, Brasil, 2009). Sua produção artística inclui desenhos, objetos e vídeos, além de histórias em quadrinhos.
    Desde 2000, Judas tem exposto em importantes instituições culturais brasileiras e também expôs trabalhos em países como Alemanha, Áustria, Espanha, EUA e Peru. Em 2007, Judas foi contemplado com o Prêmio Aquisição do 14º Salão da Bahia (Salvador, BA, Brasil).

    Em seus trabalhos, Tiago Judas busca conciliar as artes plásticas e as histórias em quadrinhos, fazendo com que uma influencie a outra. Vale ressaltar ainda que, ao longo dos últimos anos, Judas também tem trabalhado como ilustrador autônomo para jornais, revistas e editoras de livros e atua também como educador, desde 2001 orientou oficinas de arte em centros culturais como no Sesc, Museu da Imagem e do Som, Paço das artes, Museu de Arte Moderna de São Paulo, Fábricas de Cultura, além de outros projetos.

    Para conhecer mais o trabalho do artista

    https://www.instagram.com/tiago_judas/

    http://portifoliotiagojudas.blogspot.com/

    https://mesadeluzzz.blogspot.com/

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    O projeto Futuro do Presente, Presente do Futuro é um projeto dos Jornalistas Livres, a partir de uma ideia do artista e jornalista livre Sato do Brasil. Um espaço de ensaios fotográficos e imagéticos sobre esses tempos de pandemia, vividos sob o signo abissal de um governo inumanista onde começamos a vislumbrar um porvir desconhecido, isolado, estranho mas também louco e visionário. Nessa fresta de tempo, convidamos os criadores das imagens de nosso tempo, trazer seus ensaios, seus pensamentos de mundo, suas críticas, seus sonhos, sua visão da vida. Quem quiser participar, conversamos. Vamos nessa! Trazer um respiro nesse isolamento precário de abraços e encontros. Podem ser imagens revistas de um tempo de memória, documentação desses dias de novas relações, uma ideia do que teremos daqui pra frente. Uma fresta entre passado, futuro e presente.

    Outros ensaios deste projeto: https://jornalistaslivres.org/?s=futuro+do+presente

  • Projeto Futuro do Presente, Presente do Futuro #52 – Felipe Cretella: Procissão

    Projeto Futuro do Presente, Presente do Futuro #52 – Felipe Cretella: Procissão

    Procissão. Refotografias do Círio de Nazaré – Bélem do Pará – Brasil – 2013.

    Círio é quando agradecemos pelo passado e pedimos pelo futuro. É onde estamos todos presentes e ligados numa mesma vibração de luz e fé. Um rio de gente de todas as crenças e lugares, aglomerados e misturados. Esse ano não teremos o Círio nas ruas. Não estaremos juntos fisicamente, mas estaremos presentes em energia. Unidos pela fé no futuro, no presente e no passado.

    Sequência de fotografias registradas na noite da trasladação e refotografadas em TV de tubo.

    A trasladação é uma procissão noturna que acontece na semana do Círio de Nazaré em Belém do Pará, e antecede o evento principal que é realizado no domingo. Reúne mais de 1 milhão de pessoas em uma onda de agradecimentos e esperança.

    O processo: ensaio original registrado na noite da trasladação. Essas fotografias então são projetadas em TV de tubo e refotografadas em longa exposição e movimento.

    Procissão - Felipe Cretella
    Procissão - Felipe Cretella
    Procissão - Felipe Cretella
    Procissão - Felipe Cretella
    Procissão - Felipe Cretella
    Procissão - Felipe Cretella
    Procissão - Felipe Cretella
    Procissão - Felipe Cretella
    Procissão - Felipe Cretella
    Procissão - Felipe Cretella
    Procissão - Felipe Cretella
    Procissão - Felipe Cretella
    Procissão - Felipe Cretella
    Procissão - Felipe Cretella
    Procissão - Felipe Cretella

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    Felipe Cretella - Procissão

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    Felipe Cretella nasceu em São Paulo, em 1977.

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    Para conhecer mais o trabalho do artista

    www.felipecretella.com.br

    https://www.instagram.com/feecretella/

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    O projeto Futuro do Presente, Presente do Futuro é um projeto dos Jornalistas Livres, a partir de uma ideia do artista e jornalista livre Sato do Brasil. Um espaço de ensaios fotográficos e imagéticos sobre esses tempos de pandemia, vividos sob o signo abissal de um governo inumanista onde começamos a vislumbrar um porvir desconhecido, isolado, estranho mas também louco e visionário. Nessa fresta de tempo, convidamos os criadores das imagens de nosso tempo, trazer seus ensaios, seus pensamentos de mundo, suas críticas, seus sonhos, sua visão da vida. Quem quiser participar, conversamos. Vamos nessa! Trazer um respiro nesse isolamento precário de abraços e encontros. Podem ser imagens revistas de um tempo de memória, documentação desses dias de novas relações, uma ideia do que teremos daqui pra frente. Uma fresta entre passado, futuro e presente.

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  • Projeto Futuro do Presente, Presente do Futuro #51 – Dani Sandrini: Quarantine

    Projeto Futuro do Presente, Presente do Futuro #51 – Dani Sandrini: Quarantine

    Quarantine. Chegou aquela semana em março onde tudo parou e começou oficialmente a pandemia no Brasil. Número de casos aumentando – e a caixa de emails  recebendo, a cada hora, mensagens de cancelamento dos trabalhos e projetos do semestre inteiro.

    Foram 2 semanas com diversos sentimentos contraditórios e aquele futuro absolutamente incerto estava lá, na nossa frente, pronto para gerar mais dúvidas.  Vendo as notícias, fico sabendo que mais de um terço da população mundial estava em quarentena ou, ao menos, com restrições de circulação.

    Se na rua o medo era dominante, era do portão pra dentro que, quem podia, estava lidando com sentimentos novos, desafios, conflitos e adaptações na rotina.

    Nas privações do convívio social, as pessoas que antes passavam o dia cheio de atividades de trabalho e lazer, estavam agora num convívio intenso consigo mesmas ou com outros membros da família. Pequenos atos do cotidiano ganhavam  outra dimensão. Convívio com outras pessoas só acontecia através das telas dos aplicativos.

    Tentando entender esse outro jeito de viver que se apresentava e percebendo que os desafios de cada um variavam muito dependendo de suas condições psíquicas, financeiras, familiares e geográficas, resolvi iniciar um projeto fotográfico via tela de computador com a seguinte pergunta: como é que estão as pessoas que então dentro de casa?

    Assim nasceu o projeto “Quarantine”, onde busco retratar em esfera íntima da casa das pessoas esse momento tão preocupante e trágico quanto histórico e mundial.

    Através de um depoimento sobre a experiência pessoal e familiar neste momento de pandemia, eu e o participante decidimos um recorte da rotina que poderia ser retratado fotograficamente durante uma chamada de vídeo. A partir daí, o ensaio fotográfico acontecia.

    São muitos os diálogos e trocas durante esse processo. E ao ser convidada a adentrar na casa destas pessoas, busquei ângulos, luzes e poesia para representar a história que a pessoa resolveu contar. 

    As imagens foram feitas a partir de chamada de vídeo – e claro que isso dá uma textura da própria tela, assumida como linguagem dessa época em que estamos e das ferramentas possíveis referentes ao encontro.

    A internet ganhou uma super importância nesses tempos, e quem vive em grandes cidades onde sua presença já está tão naturalizada muitas vezes nem se dá conta de que uma parcela grande no mundo não tem nem acesso a isso. Nem pra trabalhar, nem pro próprio lazer.

    Então, esse já é um recorte do projeto: uma parcela da população, com pouquíssimo acesso à internet, não pôde estar presente no projeto.

    As diferenças de condições financeiras, geográficas, psíquicas são gritantes no mundo todo. A pandemia só coloca uma lupa nisso tudo. Então, não se trata de algo que acontece só agora, mas a pandemia nos dá a oportunidade de ampliar essa percepção e, quem sabe, proporcionar uma reflexão sobre as diferenças, dificuldades e injustiças do mundo.

    Dani Sandrini
    Dani Sandrini
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    Dani Sandrini
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    Dani Sandrini
    Dani Sandrini
    Dani Sandrini

    MiniBio

    Dani Sandrini é fotógrafa desde 1998, e tem em seu currículo reportagens, ensaios, retratos, gastronomia, palco e interiores, além do desenvolvimento de projetos especiais em diversas áreas. A partir de 2012 começa a dar mais ênfase a seus projetos autorais, transitando entre a fotografia e as artes visuais. É nessa época também que começa a estudar psicanálise e faz a sua formação de acompanhante terapêutica.

    Em 2014, ganhou o primeiro prêmio no The International Lens Award, Festival de Imagens de Amã, pelo projeto Two Cities.

    Em sua pesquisa autoral, estuda o entrelaçamento de materiais e suportes com a imagem fotográfica,  a ação da memória e a passagem do tempo. Seu último projeto, terra terreno território,  sobre indígenas da cidade de São Paulo, conta com imagens impressas em folhas de plantas e papéis sensibilizados com pigmentos naturais, e foi exposto na Biblioteca Mario de Andrade (SP) de outubro a dezembro de 2019.

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    Para conhecer melhor o trabalho da artista

    http://danisandrini.com.br/

    https://www.instagram.com/quarantine_danisandrini/

    https://www.instagram.com/terraterrenoterritorio/

    https://www.instagram.com/dani.sandrini/

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    O projeto Futuro do Presente, Presente do Futuro é um projeto dos Jornalistas Livres, a partir de uma ideia do artista e jornalista livre Sato do Brasil. Um espaço de ensaios fotográficos e imagéticos sobre esses tempos de pandemia, vividos sob o signo abissal de um governo inumanista onde começamos a vislumbrar um porvir desconhecido, isolado, estranho mas também louco e visionário. Nessa fresta de tempo, convidamos os criadores das imagens de nosso tempo, trazer seus ensaios, seus pensamentos de mundo, suas críticas, seus sonhos, sua visão da vida. Quem quiser participar, conversamos. Vamos nessa! Trazer um respiro nesse isolamento precário de abraços e encontros. Podem ser imagens revistas de um tempo de memória, documentação desses dias de novas relações, uma ideia do que teremos daqui pra frente. Uma fresta entre passado, futuro e presente.

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  • Política externa do Brasil desagrada até ala bolsonarista

    Política externa do Brasil desagrada até ala bolsonarista

    Por Laís Vitória e Juliana Medeiros

    O governo brasileiro já não reconhece os diplomatas de Maduro. No dia 4 de setembro, foi lançado um comunicado oficial do Ministério de Relações Exteriores dizendo que o corpo diplomático, assim como membros administrativos, são ‘personae non gratae’, ou seja, não são bem vindos no Brasil.

    Mas o que isso significa na prática? Segundo o advogado Gustavo Jorge Silva, de acordo com a Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas (CVRD), os diplomatas estrangeiros têm algumas imunidades, como impossibilidade de prisão, a própria residência deles também é inviolável, assim como a embaixada. No caso a embaixada continua sendo um espaço protegido por lei, mas não as residências dos diplomatas.

    Tendo em conta toda a história de cooperação entre o Brasil e a Venezuela, nem os próprios apoiadores de Bolsonaro estão felizes com isso, como é o caso do senador Telmário Mota (PROS/RR), que explicitou seu descontentamento em um ofício dirigido ao presidente na semana passada: ‘Diante desse quadro, Senhor Presidente, são preocupantes as crescentes hostilidades da parte do Chanceler Ernesto de Araújo para com o governo da Venezuela. O quadro atual, que já é desfavorável para os negócios, será agravado absurda e desnecessariamente com a escalada de medidas provocativas, irresponsáveis e contrárias ao interesse nacional (…)’.

    O ofício do Senador foi motivado pela visita do Secretário de Estado Mike Pompeo, que ao invés de se reunir em Brasília com o chefe do Itamaraty, se dirigiram ambos à Boa Vista, na fronteira de Brasil e Venezuela. Ernesto Araújo foi convocado na última quinta-feira (23) a dar explicações em audiência pública da Comissão de Relações Exteriores do Senado por conta da visita. A atitude foi vista como um sinal de uso do território e cenário político brasileiros para promover a campanha de Donald Trump e conseguiu desagradar parlamentares da esquerda, da direita e até o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, que chegou a afirmar que a visita de Pompeo era uma “afronta às tradições de autonomia e altivez” da política externa brasileira.

    Nem gregos nem troianos estão contentes com a política atual do Itamaraty, que está sendo usada não para os interesses do povo brasileiro, como deveria, mas para interesses dos Estados Unidos. Como nos relatou o deputado Paulo Pimenta (PT/RS), ‘trata-se de mais uma medida autoritária cujo objetivo principal nesse momento é criar factóides que possam refletir nos EUA para ajudar na eleição de Trump. Uma perseguição permanente à Venezuela e uma postura insana de um governo que submete o Brasil a uma pauta que não interessa ao povo brasileiro, e sim aos EUA.’

    As relações entre os dois países, que já vinha se deteriorando, atingiu seu ponto máximo quando o governo Bolsonaro decidiu reconhecer o deputado de extrema direita Juan Guaidó, que se autoproclamou presidente da Venezuela. Uma “embaixadora” chegou a ser nomeada para o Brasil e recebeu do Itamaraty as credenciais oficiais, em atitude inédita na história da diplomacia brasileira. Em novembro de 2019, um grupo de extremistas ligados à embaixadora tentou invadir a Embaixada da Venezuela. Ação que não só não obteve sucesso, como evidenciou os impulsos golpistas do grupo ligado a Juan Guaidó – que já tentou em território venezuelano golpe de estado, fraude eleitoral, patrocínio de mercenários armados pela fronteira colombiana com apoio dos EUA, dentre outros.

    Em março deste ano, o Itamaraty removeu os funcionários da embaixada brasileira em Caracas e outras cidades do país vizinho. A medida já sinalizava uma posterior medida hostil. A remoção dos diplomatas foi publicada no DOU sem explicações. Em seguida, o governo brasileiro pediu formalmente ao governo da Venezuela que os diplomatas venezuelanos fossem retirados. Mas com a chegada das medidas de distanciamento social relativas à pandemia que atingiu o mundo, a situação ficou em suspenso.

    No final de março, uma mensagem foi enviada pelo Itamaraty dando prazo de saída para os diplomatas até o dia 2 de maio. Ainda no dia 30 de março, o governo da Venezuela divulgou comunicado assinado pelo chanceler venezuelano Jorge Arreaza que em nota acusou o governo Bolsonaro de ser “abertamente subordinado” aos EUA. O procurador-geral da República, Augusto Aras, chegou a enviar ofício ao Itamaraty pedindo que a medida fosse suspensa por contrariar tratados e convenções internacionais diante da situação sanitária global. Em maio, o STF atendeu ao pedido de Habeas Corpus impetrado pelo deputado e advogado Paulo Pimenta, em caráter liminar, suspendendo os efeitos da decisão do Ministério de Relações Exteriores brasileiro. A decisão monocrática favorável, tomada pelo Ministro Luis Roberto Barroso, perdura enquanto durar o estado de calamidade decretado pelo governo brasileiro, em razão da pandemia.

    Ainda que a situação na Venezuela, em relação ao controle da pandemia de Covid-19, seja muito melhor que a do Brasil (que ultrapassou essa semana a marca dos 140 mil mortos), ainda é impossível para os diplomatas – especialmente os que estão em Brasília – retornar ao país, já que a fronteira está fechada e não há voos previstos entre Brasil e Venezuela.

  • Projeto Futuro do Presente, Presente do Futuro #50 – #FumaçaAntifascista

    Projeto Futuro do Presente, Presente do Futuro #50 – #FumaçaAntifascista

    Sinal de fumaça [ou: Sobre a potência ambivalente da fumaça]

    Fumaça antifascista

    Estamos sem governo, é necessário sinalizar isso. Com o que houver pra sinalizar. Sinalizar sim que há fumaça, há fogo, há indignação, há corpos mortos não sendo velados. E não há governo. Estamos sem governo, com um presidente que joga, com desfaçatez, com cortinas de fumaça, contra a imensa maioria da população. Estamos há quase 1 mês sem alguém minimamente competente cuidando da saúde de 210 milhões de habitantes. Há que se sinalizar que isso é irresponsável, abjeto, criminoso.

    Se a fumaça era então entendida como sinal perigoso, alarmista, provocador, indutor de desconfiança (proibida junto a torcidas no estádios, por exemplo) há que se enxergar a via de mão dupla que as fumaças nas últimas manifestações representam. Foram vistas há pouco junto a uma rara união de torcidas paulistas em alerta contra o fascismo. Fascismo sim, que não se banalize o termo, mas que se dê nome às atitudes deste governo.

    Fumaça sim, como desejo de novos ares, de renovação espiritual, de louvação a entidades sagradas (o catolicismo, religiões de origem afro, povos indígenas e uma série de rituais de cura confluem no uso de fumaça).

    Faz-se sinal de fumaça em pedido de SOS ao SUS, em socorro das políticas públicas, contra a política enfumaçada e entorpecente que apaga o corpo que vibra, impede a vida, e que afasta a viabilidade de futuro. E a aparente imaterialidade da fumaça não pode turvar o que ela representa.

    Há muitas novas ambiguidades nas fumaças de hoje: é ritual ascendente, é possibilidade de transmutação, é desejo de ventilação, é mensagem codificada de comunicação e é atitude crítica. Pois na signagem das fumaças coloridas e intensas que acontecem pela democracia, entende-se que não é mais possível ser imparcial diante da pandemia, diante do racismo, diante do armamentismo, do fascismo notório e emergente.

    E se as bombas da polícia produziram fumaças contra as manifestações democráticas no dia 31 de maio na Av. Paulista, foram nitidamente um sinal de intolerância aos ares progressistas vitais que emanam de mais de 70% da população, o que não é admissível.

    Então há que se distinguir as fumaças que importam e suas codificações. Entre o que é política de morte e o que é potência de vida. As fumaças que vemos agora em apoio à democracia tem seu fogo ventilado por ideais de grandeza humanitária, universais – _e há que se acreditar que não vamos ficar isolados sob um governo tirano em uma perspectiva pós-pandemia.

    Bem, no campo da arte, as peças vaporosas de Robert Morris (Sem título, 1968-1969), foram utilizadas para comentar o que seria a imagem crítica ou dialética. É assim, a partir da cultura e da arte que a distinção de fumaças se processa. A imagem dialética é uma imagem em crise, uma imagem que critica a imagem. Uma imagem que convida à experiência de dizer: chega, basta, precisamos construir o que importa em uma sociedade que luta pelo coletivo e não contra o comum.

    #FumaçaAntifascista
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    O projeto Futuro do Presente, Presente do Futuro é um projeto dos Jornalistas Livres, a partir de uma ideia do artista e jornalista livre Sato do Brasil. Um espaço de ensaios fotográficos e imagéticos sobre esses tempos de pandemia, vividos sob o signo abissal de um governo inumanista onde começamos a vislumbrar um porvir desconhecido, isolado, estranho mas também louco e visionário. Nessa fresta de tempo, convidamos os criadores das imagens de nosso tempo, trazer seus ensaios, seus pensamentos de mundo, suas críticas, seus sonhos, sua visão da vida. Quem quiser participar, conversamos. Vamos nessa! Trazer um respiro nesse isolamento precário de abraços e encontros. Podem ser imagens revistas de um tempo de memória, documentação desses dias de novas relações, uma ideia do que teremos daqui pra frente. Uma fresta entre passado, futuro e presente.

    Outros ensaios deste projeto: https://jornalistaslivres.org/?s=futuro+do+presente