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  • Banco Mundial faz propaganda explícita de apoio ao golpe

    Banco Mundial faz propaganda explícita de apoio ao golpe

    Segundo o dicionário Houaiss, a expressão marketing político designa o conjunto de atividades de marketing destinadas a influenciar a opinião pública quanto a ideias relacionadas à atividade política, ações governamentais, campanhas eleitorais etc.

    Pois bem, a peça de marketing político encomendada pelo governo Temer, produzida pelo Banco Mundial e divulgada ontem (21), com toda pompa no Ministério da Fazenda em Brasília, assusta por sua falta de cerimônia no apoio às políticas econômicas rejeitadas pelo voto dos brasileiros e implantadas pelo governo golpista do PMDB e do PSDB.

    Com o título Um Ajuste Justo: Análise da eficiência e equidade do gasto público no Brasil, o texto do Banco Mundial, capitaneado por Antônio Nucifora, é um material explícito de propaganda e recomendações econômicas de cunho neoliberal dos anos 1980.

    O estudo despreza avanços e constatações, feitos por economistas, pelo próprio Fundo Monetário Internacional e pela Organização das Nações Unidas, que apontam o aumento da desigualdade e a ausência de crescimento como resultado da aplicação dessa linha de pensamento político-econômico.

    O objetivo do pedido do governo ao Banco Mundial já revela a característica central do golpe, quando coloca em último plano o viés social: “realizar uma análise aprofundada dos gastos do governo, identificar alternativas para reduzir o deficit fiscal a um nível sustentável e, ao mesmo tempo, consolidar os ganhos sociais alcançados nas décadas anteriores”. O ganhos sociais são explicitamente secundários nesse objetivo.

    Basta imaginar como seria invertida a motivação para o estudo se a redação fosse: realizar uma análise profunda para consolidar os ganhos sociais alcançados nas últimas décadas sem comprometer a sustentabilidade de longo prazo das contas do governo.

    O objetivo da ilustração acima, página 7 do relatório, é apoiar o congelamento de gastos, aprovado em dezembro de 2016, que vem implicando e continuará a implicar cortes profundos nos gastos sociais como saúde, educação e assistência social. O relatório aceita a medida e a aprova sem questionamento: “Sua implementação exige a redução dos gastos em cerca de 0,6% do PIB ao ano em relação à tendência atual durante a próxima década. Isso corresponde a um corte cumulativo de quase 25% nas despesas primárias federais (em proporção do PIB), o que reduziria o orçamento federal (também proporcionalmente ao PIB) aos níveis do princípio da década de 2000.”

    Traduzindo o linguajar golpista: corte-se um quarto das despesas e dane-se quem for afetado por isso. Não era por acaso que essa medida foi chamada de PEC da Morte, que o Banco Mundial trata agora de referendar.

    Nucifora e companhia continuam sua publicidade dos atos do governo PMDB/PSDB. Agora apoiam a reforma da Previdência: “A fonte mais importante de economia fiscal de longo prazo é a reforma previdenciária. Os grandes e crescentes deficits do sistema previdenciário constituem um fator-chave da pressão fiscal”.

    Mesmo que vários economistas  parlamentares tenham concluído que a Previdência não tem deficit, mas que os recursos designados na Constituição de 1988 são desviados para o pagamento de juros, o relatório insiste que é necessário cortar direitos dos trabalhadores brasileiros. Lembremos aqui que quase todos brasileiros apoiariam uma reforma que cortasse os benefícios extravagantes de certas classes profissionais, mas o voto popular nunca será dado a quem quer piorar as regras de aposentadoria de quem trabalha duro e ganha pouco.

    A figura, página 69 do relatório, repete a argumentação pró-reforma da Previdência tentando incutir o medo de que a Previdência explodirá um dia e deixará todo mundo sem aposentadoria. Não é admissível que um documento com a assinatura do Banco Mundial chegue a nível tão rasteiro e apelativo.

    O ataque também vai na direção do funcionalismo público: “A massa salarial do funcionalismo público pode ser reduzida significativamente”. O estudo aponta que a média dos salários dos servidores públicos federais é 67% superior à média do setor privado.

    Pois bem, vamos olhar exatamente quem puxa essa média para cima? Ou vamos simplesmente: “recomendar a suspensão de reajustes nas remunerações do funcionalismo no curto prazo, enquanto se desenvolvem estudos mais detalhados sobre o valor adequado de remuneração das diversas carreiras públicas”? Ou ainda, vamos baixar o já baixo salário da maioria do funcionalismo público ou vamos fazer crescer os salários nas empresas privadas?

    A figura acima, página 39 do relatório, tenta provocar conflito entre funcionários públicos e privados ao passar a ideia de que o “alto salário” do setor publico causa o baixo salário do setor privado e leva a riscos no pagamento da aposentadoria. Tratar esse assunto por média é um erro primário que uma instituição como o Banco Mundial não deveria aceitar.

    Os programas de proteção social brasileiros tiraram o Brasil do mapa da fome, bem como milhões de pessoas da miséria. O relatório vem propor “a transformação do Salário-Família em um benefício condicionado à renda em nível de domicílio (beneficiando-se da capacidade do Cadastro Único) a fim de incentivar os beneficiários do Bolsa Família a migrarem para empregos formais”.

    Além de não levar em conta os resultados do programa até aqui, o que o relatório quer dizer é que não há maior número de empregos formais porque o Bolsa Família não incentiva os beneficiários a ter emprego com carteira assinada. Nem uma palavra sobre a política de austeridade que eleva o desemprego, nem sobre a destruição da Justiça do Trabalho que poderia coibir o trabalho informal. Incentive-se o trabalhador a migrar para um emprego formal, essa é a recomendação.

    “Em síntese, com base em uma análise aprofundada de políticas setoriais, este estudo
    identifica pelo menos 7% do PIB em potenciais economias fiscais em nível federal até 2026.” Desse modo o relatório, no mais absoluto fundamentalismo neoliberal, reafirma que o que importa é cortar os gastos governo.

    Ao compor seu marketing político Temer, Meirelles, Nucifora e companhia ignoram a mensagem das Nações Unidas: “O documento pede que o século 21 traga um novo pacto, em que as pessoas tenham prioridade frente aos lucros. Pontos cruciais de tal transformação seriam o fim da austeridade fiscal, a contenção do “rentismo” (rent-seeking) das empresas e o direcionamento das finanças para a criação de empregos, bem como para o investimento em infraestrutura..”

     

    Nota
    1 Para ver o Relatório de 2017 da Conferência das Nações Unidas para Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD): https://nacoesunidas.org/onu-pede-fim-da-austeridade-fiscal-e-ousadia-para-reequilibrar-economia-global/

    2 Ainda não localizamos a versão em inglês desse documento assinado pelo Banco Mundial. Seria uma tentativa de não mostrar ao mundo essa grotesca peça de marketing político elaborada por essa instituição?

  • ONU aceita denúncia de advogados de Lula

    ONU aceita denúncia de advogados de Lula

    Governo brasileiro terá dois meses para dar explicações

    Publicado em 26/10/2016 no www.lula.com

    A ONU aceitou a de denúncia protocolada pelos advogados do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 28 de julho. A petição ao Comitê de Direitos Humanos da ONU em Genebra, mostra a violação da Convenção Internacional de Direitos Políticos e Civis e abuso de poder pelo juiz Sérgio Moro e procuradores federais da Operação Lava-Jato contra Lula.

    Na ação, os advogados pedem ao Comitê que se pronuncie diante do fato do juiz Sérgio Moro ter violado o direito de Lula à privacidade, de não ser preso arbitrariamente e o direito à presunção da inocência.

    As evidências de violação e abusos do juiz e dos procuradores do Paraná apresentadas ao Comitê são:

    . a condução coercitiva do dia 4 de março de 2016, completamente fora do previsto na legislação brasileira;

    . o vazamento de dados confidenciais para a imprensa;

    . a divulgação de gravações, inclusive obtidas de forma illegal;

    . o recurso abusivo a prisões temporárias e preventivas para a obtenção de acordos de delação premiado.

    Leia a nota dos advogados do ex-presidente Lula:

    Na qualidade de advogados do ex-presidente Luiz Inacio Lula da Silva recebemos hoje (26/10/2016) documento emitido pelo Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, informando que o comunicado individual feito em 28/07/2016 em favor de Lula passou por um primeiro juízo de admissibilidade e foi registrado perante aquele órgão. O mesmo comunicado informa que o governo brasileiro foi  intimado também nesta data para apresentar “informações ou observações relevantes à questão da admissibilidade da comunicação” no prazo de dois meses.

    Na peça protocolada em julho, foram listadas diversas violações ao Pacto de Direitos Políticos e Civis, adotado pela ONU, praticadas pelo juiz Sergio Moro e pelos procuradores da Operação Lava-Jato contra Lula. 

    Tal Pacto assegura, dentre outras coisas: (a) proteção contra prisão ou detenção arbitrária (Artigo 9º); (b) direito de ser presumido inocente até que se prove a culpa na forma da lei (Artigo 14); (c) proteção contra interferências arbitrárias ou ilegais na privacidade, família, lar ou correspondência e contra ofensas ilegais à honra e à reputação (Artigo 17); e, ainda, (d) do direito a um tribunal independente e imparcial (Artigo 14). 

    A ação pede ao Conselho que se pronuncie sobre as arbitrariedades praticadas pelo Juiz Sergio Moro contra Lula, seus familiares, colaboradores e advogados. As evidências apresentadas na ação se reportam, dentre outras coisas: (i) à privação da liberdade por cerca de 6 horas imposta a Lula em 4 de março de 2016, por meio de uma condução coercitiva sem qualquer previsão legal; (ii) ao vazamento de materiais confidenciais para a imprensa e à divulgação de ligações interceptadas; (iii) a diversas medidas cautelares autorizadas injustificadamente; e, ainda, (iv) ao fato de Moro haver assumido em documento enviado ao Supremo Tribunal Federal, em 29/03/2016, o papel de acusador, imputando crime a Lula por doze vezes, além de antecipar juízo de valor sobre assunto pendente de julgamento. 

    A ação cita precedentes da Comissão de Direitos Humanos da ONU e de outras Cortes Internacionais, os quais mostram que, de acordo com a lei internacional, o Juiz Moro, por já haver cometido uma série de ações ilegais contra Lula, seus familiares, colaboradores e advogados, perdeu de forma irreparável sua imparcialidade para julgar o ex-Presidente. 

    Avançamos mais um passo na proteção das garantias fundamentais do ex-Presidente com o registro de nosso comunicado pela ONU. A data é emblemática porque justamente hoje nos encontramos em Boston, para discutir o fenômeno do lawfare com especialistas da Universidade de Havard. É especialmente importante saber que, a partir de agora, a ONU estará acompanhando formalmente as grosseiras violações que estão sendo praticadas diariamente contra Lula no Brasil.

    Cristiano Zanin Martins

    Fonte: √http://www.lula.com.br/onu-aceita-denuncia-de-lula-0

     

  • Temer sofre descompostura no Instagram

    Temer sofre descompostura no Instagram

    Lê-se na legenda da ONU:

    “O Brasil, país mais biodiverso do mundo, detentor de matriz energética das mais limpas, é uma potência ambiental que tem compromisso inequívoco com o meio ambiente.”

    O presidente do Brasil Michel Temer juntou-se a 150 líderes mundiais na Assembleia Geral das Nações Unidas em Nova York nesta semana para encontrar pontos em comum e trabalhar unidos por soluções aos desafios globais.

    Em seu primeiro discurso na Assembleia Geral, o Presidente Temer mencionou a turbulência política em seu país: “Impedir um Presidente não é tarefa trivial num regime democrático. Mas, não há democracia sem Estado de direito – sem normas que se apliquem a todos, inclusive aos mais poderosos”.

    Até a quinta pela manhã (22/09), a foto tinha sido vista por quase 30 mil pessoas. Enquanto outros chefes de Estado tinham, no máximo, algumas centenas de comentários, o presidente ilegítimo brasileiro tinha mais de 17 mil.

    Analisamos 400 comentários. Foram 397 contra Temer e pedindo sua saída.

    Segue uma pequena amostra dos comentários.

    • impeachment process was everything but democratic or law-abiding! a coup d’etat took place in Brazil! #foratemer #coupinbrazil #golpista (o processo de impeachment foi tudo menos democrático ou dentro da lei! Um golpe de Estados aconteceu no Brasil!)

    Shame on you United Nations!

    You are supposed not To supporting coups!!!!

    (Que vergonha Nações Unidas, vocês não deveriam apoiar golpes!)

    • Temer is not a legitimate president. He is only there though a coup. #OutTemer 8#ForaTemer #StopCoupInBrazil (Temer não é um Presidente legítimo. Ele só está lá por um golpe.)
    • My president is Dilma!!!!! #foratemer (Minha presidenta é Dilma!!!!!)

    A president without a single vote. #foratemer

    (Um Presidente sem um único voto.)

    • Presidento de Ninguém! #FORATEMER #GOLPISTA
    • Out with this man! Traitor of the country! Burglar! Enemy of the nation! (Fora com esse homem! Traidor do país! Ladrão! Inimigo da Nação!)
    • #StopCoupInBrazil We need help! There is no democracy now #TemerOut (#ParemGolpeNo Brasil Precisamos de ajuda! Não existe democracia agora @ForTemer)

    As long as we have Temer in power we have no justice or any trust in Brazil’s institutions. This country suffered a coup d’état.        OUT TEMER

    (Enquanto tivermos Temer no poder, não temos justiça nem qualquer confiança nas instituições. O país sofre um golpe de Estado.      Fora Temer)

    • What the hell UN? Please inform yourselves before recognizing this guy as a legitimate president (glenn greenwald explained what happened here on several occasion for the intercept)! There was a soft coup in brazil! Temer is a criminal and one of the most corrupt brazilian politician. (Que diabos ONU? Por favor, informem-se antes de reconhecer esse cara como presidente legítimos (Glenn Greenwald explicou o que aconteceu aqui em vária ocasiôes para O Intercept)! Houve um golpe sem armas no Brasil! Temer é um criminoso e um dos políticos brasileiros mais corruptos.)
    • Na delação de Marcelo Odebrecht, o próprio Temer foi citado por pedir uma doação de R$ 10 milhões, em pleno Palácio do Jaburu, que teria sido entregue, como caixa dois, parcialmente, a um de seus principais auxiliares, o ministro Eliseu Padilha.
    • Fora canalha. Fora corrupto. Fora golpista. Fora vampiro do capeta.
    • Nosso real problema são as siglas sem um rosto ou com vários rostos sem vergonha na cara. STF, STJ, PGU, MPF, PF ,e por aí vai…

    Help BRAZILIAN DEMOCRACY!!!!

     (Ajudem a democracia brasileira!!!!)

    • Democracia is beein robbed in Brasil.We need justice!! (A democracia está sendo roubada no Brasil. Nós precisamos de justiça.)
    • ONU. O Brasil pede socorro #Foratemer #Diretasjá
    • #foraTemer a democracia morreu quando vc TOMOU o lugar de uma PRESIDENTA ELEITA!!!

    #GOLPISTO #GOLPISTO! #BORAGOLPISTO

    • Mordomo dos EUA! Fora Temer!
    • ONU offends brazilian people with this disgusting picture. #stopcoupinBrazil (A ONU ofende o Brasil com essa foto repugnante.)

    RIP BRAZILIAN DEMOCRACY

    (Descanse em paz, democracia brasileira)

  • “Aqui, um outro mundo é possível se a gente quiser!”

    “Aqui, um outro mundo é possível se a gente quiser!”

    A ideia de discutir sobre sustentabilidade não é tão nova; na década de 1970, a partir da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano — United Nations Conference on the Human Environment (UNCHE), em Estocolmo, as questões ambientais e ecológicas ganharam maior destaque em alguns países.

    No início, sustentabilidade resumia-se em meio ambiente e cuidados com ele; após estudos e problematizações, em 1987, a partir do Relatório Brundtland (disponível em: http://www.un-documents.net/our-common-future.pdf), a sustentabilidade começou a ser trabalhada comodesenvolvimento sustentável, o qual analisa não só o meio ambiente, mas o contexto social e econômico dos países.

    É o chamado tripé da sustentabilidade.

    A partir desse debate sobre desenvolvimento, mudou-se a noção de sustentável e levou-se em consideração não apenas o meio ambiente, como separar o lixo, cuidar dos rios, não poluir as matas e diversas outras atitudes de extrema importância, mas que não podem estar isoladas de outras. Ser sustentável é planejar, pensar além — e também no agora –, sonhar e organizar; mas acima de tudo é estar disposto à mudança. Hoje, pensar o consumo e as formas dele é essencial para sustentação do tripé; além disso, como pensar nisso e não levar em consideração a fome, a miséria, o trabalho escravo e as condições sub-humanas de vida em diversas regiões do mundo? Sustentabilidade é pensar no todo.

    Foto: Amanda Souza

    O debate é essencial para compreender que não se deve pensar somente no meio ambiente, mas problematizar diversos outros fatores, sejam políticos, econômicos, sociais e relacionais e a Universidade tem papel fundamental em meio a isso. De acordo com Luciede Ribeiro, professora responsável pelo NIS — Núcleo Interdisciplinar de Sustentabilidade da PUCPR, “a Universidade contribui com debates e novidades que acontecem no mundo sobre como viver melhor, como lidar com o consumismo que obriga a sociedade a consumir mais e mais e quais são as consequências disto para a vida como um todo. Adotamos a sustentabilidade como tema central dos nossos debates por acreditarmos que ações simples do cotidiano podem tornar o ambiente que nos cerca muito melhor para se viver”, explica.

    A terra como forma natural de subsistência e saúde

    Os problemas e desafios ainda são latentes na sociedade, mas há (muitas) atitudes sendo criadas para começar esse processo de mudança. Aos poucos, algumas pessoas tornam-se protagonistas da transformação e da fuga dos padrões de consumo e de vida e, além disso, também se tornam multiplicadores dessas ações.

    Uma delas é a Carolina Veiga, de Curitiba; ela é artista, cantora e microempreendedora e a cada dia tem uma nova ideia para modificar a sua vida e a vida de outras pessoas com práticas sustentáveis. “Tudo começou em casa. Meu vô era muito simples e prezava muito o reaproveitamento de tudo que fosse possível. A nossa casa, por exemplo, é uma antiga casa que estava em estado de demolição. Madeiras excelentes e ainda em perfeito estado seriam destruídas, então resolvemos aproveitar tudo e construir a nossa casa”, relata Carolina. Ela participa do coletivo MUP — Minifúndios Urbanos Produtivos há dois anos; um coletivo de hortas urbanas que foi iniciado por um grupo de amigos e hoje se expandiu para diversos lugares.

    “O coletivo surgiu com a ideia de utilizarmos espaços para o plantio do nosso próprio alimento. Tudo começou na minha casa, um grupo veio e fizemos um plantio coletivo; depois da colheita, dividimos todos os alimentos entre nós. Essa ideia foi crescendo e agora, hora ou outra, vem alguém querendo fazer a sua hortinha. Então nós vamos lá, levamos nossas ferramentas, cada um leva um conjunto de mudinhas e botamos a mão na massa”.

    A artista também é produtora da Ghee, uma manteiga clarificada, muito utilizada na culinária indiana e na medicina ayurvédica. “A ideia de produzir o próprio alimento é incrível. Você assistir todo o processo, ter o cuidado e a atenção com aquilo que você vai consumir e principalmente a atenção à saúde, pois as manteigas comuns têm altos índices de toxina; na produção da Ghee, as toxinas vão embora e consumimos somente a manteiga natural e saudável”.

    Foto: Amanda Souza

    Curitiba, mesmo com inúmeros problemas ambientais e uma metrópole que ainda não valoriza as opções sustentáveis que vem sendo implantadas pelos moradores, tem algumas iniciativas que se preocupam com essa discussão e também proporcionam a integração e atuação direta da comunidade. As hortas urbanas, que fazem parte do projeto de Agricultura Urbana em Curitiba, da Secretaria Municipal de Abastecimento, são espaços utilizados pela comunidade, em parceria com a Prefeitura e associações de moradores, que visam o plantio de alimentos pela própria população, “cada família possui uma horta e ela é responsável pelo cuidado, irrigação e plantio. A Prefeitura disponibiliza as mudas, o adubo, o espaço, a terra e o apoio técnico; as famílias realizam o trabalho com o alimento”, explica o chefe da Unidade de Agricultura Urbana, Rodolfo Queiroz.

    Enormes pés de alface, cheiro verde, couve, morangos, manjericão e diversos outros alimentos fazem de dona Rose Mari Szkulny uma figura conhecida na horta comunitária da Vitória Régia, no bairro CIC. Cuidadosa, perfeccionista e muito deliciada, Rose diz que aquele espaço é onde ela é feliz. Produz alimentos, consome e doa a toda família; até mesmo flores ela planta para decorar o ambiente. “Todos os dias eu acordo e venho aqui, cuido das minhas plantinhas e dou muitas risadas com minhas amigas. É uma comunidade, como se fossemos todas irmãs”, conta dona Rose. Durante todo ano, ela recolhe mais de 100 garrafas pet e, no Natal, constrói uma grande árvore decorada que é colocada em meio à horta. “Todo mundo que passa por aqui tira fotos. Fico muito feliz com isso! Em janeiro eu desmonto e dou o material para os catadores de material reciclável”. Um grande ciclo de reaproveitamento.

    Logo ao lado da horta de dona Rose, uma senhora muito alegre e espontânea distribui pés de alface a duas crianças que a observam. Cenoura, mais de quatro tipos de alface, repolho, brócolis e é claro, o coentro, fazem parte da horta da paraibana Maria Ana da Conceição. Amante da terra e da roça, ela mora em Curitiba desde a década de 1990, mas não dispensa as origens que a criaram. “A terra para mim é tudo. Ela me tira o stress, me anima e eu amo ficar aqui. Por mim, eu ficava o dia todo. Não consigo mais comer as verduras do mercado, parece papel! Aqui é tudo fresco e sem veneno”, conta dona Maria.

    Foto: Amanda Souza

    De acordo com a Prefeitura, o objetivo inicial do projeto era o plantio de alimentos; no entanto, os benefícios foram muito maiores do que esse. A maioria dos moradores relaciona o cuidado com a horta com a atividade terapêutica e o relaxamento. Há alguns quilômetros da horta do bairro CIC, se encontra uma das hortas do bairro Tatuquara; lá mora Rosimere Rocha Santos, enfermeira que há alguns anos foi diagnosticada com depressão grave. Foi internada durante sete meses em uma clínica psiquiátrica, mas, segundo ela, foi a atividade do plantio que a curou. “Eu fui curada pela terra”, diz.

    Criatividade sustentável

    Iniciar uma prática sustentável em si mesmo é fundamental, mas em coletividade o resultado é muito mais satisfatório e fortifica as relações humanas. Desde que a astróloga Adriana Beltrame resolveu modificar suas atitudes em prol ao desenvolvimento econômico e social colaborativo, diversas pessoas foram, aos poucos, aderindo à sua ideia. Ela e uma amiga criaram a Casa Terracanto, uma casa aberta que tem a intenção de movimentar a economia criativa e colaborativa e “colaborar com a criatividade, fazer parcerias, experimentar ser responsável por um espaço que não tem um dono específico e também ter um refúgio de tranquilidade no meio da vida urbana com muita simplicidade”, explica Adriana, que é starter da Casa. A casa possui projetos permanentes abertos à comunidade: atendimentos com Astrologia, o Reiki, a Gineterapia, o grupo de estudos e prática de Comunicação Não Violenta, o trabalho com a horta e as PANC´s (Plantas Alimentícias Não Convencionais). “Recentemente iniciamos um Bazar que será mensal e estamos organizando palestras na área da saúde, alimentação, gestão de rotina, psicologia feminina”, conta. Todo dinheiro arrecadado com essas atividades — as quais são oferecidas com preços acessíveis –, mais as contribuições espontâneas e o dinheiro que também sai do bolso, voltam para a manutenção do espaço e para a criação de projetos.

    Foto: Fellipe Gaio

    A decoração, a horta, móveis e vários espaços da casa são de materiais reaproveitáveis doados por amigos, empresas, familiares e simpatizantes da ideia. Para Adriana, “pensar na sustentabilidade é uma necessidade vital para a gente, não pensar nela é que seria estranho”.

    Também é possível entrar no grande mercado e trabalhar de forma consciente e diferente do que é proposto pelas grandes empresas. O Flamingos Garden Hair, salão de cabeleireiros que fica na Rua São Francisco, em Curitiba, iniciou com um propósito diferente. “A ideia inicial do salão era trabalhar com uma marca que seja sustentável para shampoos, produtos em geral, com preocupação voltada para essa área. Trabalhamos com as tendências do “Happy”, do “Eco” e Sustentável. Quase tudo no espaço físico do Flamingos foi construído com materiais reutilizados, muitos encontrados na rua, ou com peças selecionadas, restauradas, devido a suas histórias”, conta Aline Marchese, uma das gerentes e fundadoras do salão. O salão começou com uma antiga sala comercial, toda repaginada e modificada de acordo com a criatividade do casal Aline e Vinícius. Os móveis foram restaurados e reconstruídos à mão por eles próprios: a parede com tijolos aparentes, o piso, a pintura; tudo foi construído sem a ajuda de profissionais.

    “A indústria da beleza polui muito a água com as químicas e consome muita água para os serviços, além de estimular essa necessidade nas pessoas de quererem sempre algo novo, o cabelo mais bonito, o corte mais perfeito”, relata Aline. Além disso, outra iniciativa muito avaliada pelos frequentadores do salão é a possibilidade de doar o cabelo para produção de perucas para crianças com câncer.

    O monopólio midiático, que é financiado por grandes marcas, reproduz a ideia de que consumir o que deseja é a melhor forma de encontrar a felicidade. Atitude ilusória é claro. O consumo desenfreado é uma das principais causas dos grandes problemas ambientais e sociais. Não basta separar o lixo entre reciclável e orgânico e continuar produzindo toneladas de lixos todos os dias. O lixo sai da sua casa, mas continua no Planeta. Discutir o consumo e, principalmente, o consumo consciente é uma tarefa que ousa estremecer interesses políticos e econômicos.

    Tomar partido de uma prática sustentável é um ato revolucionário!

    Foto: Fellipe Gaio