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  • O Amor vai vencer o Ódio – Lula no Encontro Nacional do PT

    O Amor vai vencer o Ódio – Lula no Encontro Nacional do PT

    Companheiras e companheiros do PT,
    Convidados de todo o Brasil e de outros países,
    Minhas amigas, meus amigos,
    Esperei muito tempo para poder falar livremente ao povo brasileiro. Esse dia finalmente chegou, e minha primeira palavra tem de ser de agradecimento, pela solidariedade, pelo carinho e pelas manifestações de quem não desistiu de lutar e vai continuar lutando pela verdadeira justiça.
    Durante 580 dias fui isolado da família, dos amigos e companheiros, apartado do povo, mesmo tendo o direito constitucional de recorrer em liberdade contra a sentença injusta e fraudulenta de um juiz parcial. Um direito que somente agora foi proclamado pelo Supremo Tribunal Federal, para todos, sem exceção.
    Com as armas da verdade e da lei, continuarei lutando para que os tribunais reconheçam, agora, que fui condenado por quem sequer poderia ter me julgado:
    um ex-juiz que atuou fora da lei, grampeou advogados, mentiu ao país e aos tribunais, antes de desnudar seus objetivos políticos. Lutarei para que seja anulada a sentença e me deem o julgamento justo que não tive.
    Aos 74 anos de idade, não tenho no coração lugar para ódio e rancor. Mas quem nesse país já sofreu a humilhação de uma acusação falsa, por causa da cor de sua pele ou por sua origem social humilde, conhece o peso do preconceito e é capaz de sentir o quanto fui ferido em minha dignidade. E isso não se apaga.
    Nada nem ninguém vai devolver o pedaço arrancado da minha existência, mas quero dizer que aproveitei esses 580 dias para ler, estudar, refletir e reforçar meu compromisso com o Brasil e com nosso povo sofrido. Voltei com muita vontade de falar sobre o presente e principalmente sobre o futuro do Brasil.
    Mas logo depois da minha primeira fala, de volta ao sindicato onde passei o último momento de liberdade, disseram que eu deveria ter cuidado para não polarizar o país. Que seria melhor calar certas verdades para não tumultuar o ambiente político, para o PT não provocar uma ameaça à democracia.
    Vamos deixar uma coisa bem clara: se existe um partido identificado com a democracia no Brasil é o Partido dos Trabalhadores. O PT nasceu lutando pela liberdade durante a ditadura. Não tentem negar essa verdade porque nós apanhamos da repressão, fomos perseguidos, presos e enquadrados na Lei de Segurança Nacional por defender essa ideia.
    Desde que foi criado, há quase 40 anos, o PT disputou dentro da lei e pacificamente todas as eleições neste país. Quando perdemos, aceitamos o resultado e fizemos oposição, como determinaram as urnas. Quando vencemos, governamos com diálogo social, participação popular e respeito às instituições.
    Outros partidos mudaram as regras da reeleição em benefício próprio. Nós rejeitamos essa ideia, mesmo gozando de uma aprovação que nenhum outro governo jamais teve, porque sempre entendemos que não se pode brincar com a democracia.
    Não fomos nós que falamos em fechar o Congresso, muito menos o Supremo, com um cabo e um soldado. Em nossos governos, as Forças Armadas foram respeitadas e os chefes militares respeitaram as instituições, cumprindo estritamente o papel que a Constituição lhes reserva. Nenhum general deu murro na mesa nem esbravejou contra líderes políticos.
    Não fomos nós que pedimos anulação do pleito só para desgastar o partido vencedor; que sabotamos a economia do país para forçar um impeachment sem crime; que sustentamos uma farsa judicial e midiática para tirar do páreo o candidato líder nas pesquisas.
    Não fomos nós os responsáveis, ativos ou omissos, pela eleição de um candidato que tem ojeriza à democracia; que foi poupado de enfrentar o debate de propostas, que montou uma indústria de mentiras com dinheiro sujo, sob a complacência da mesma Justiça Eleitoral que, desacatando uma decisão da ONU, cassou o candidato que poderia derrotá-lo.
    São essas pessoas que agora nos dizem para não polarizar o país. Como se polarização fosse sinônimo de extremismo político e ideológico. Como se o Brasil já não estivesse há séculos polarizado entre os poucos que têm tudo e os muitos que nada têm. Como se fosse possível não se opor a um governo de destruição do país, dos direitos, da liberdade e até da civilização.
    Aos que criticam ou temem a polarização, temos que ter a coragem de dizer: nós somos, sim, o oposto de Bolsonaro. Não dá para ficar em cima do muro ou no meio do caminho: somos e seremos oposição a esse governo de extrema-direita que gera desemprego e exige que os desempregados paguem a conta.
    Somos e seremos oposição a um governo que rasga direitos dos trabalhadores e reduz o valor real do salário mínimo. Que aumenta a extrema pobreza e traz de volta o flagelo da fome. Que destrói o meio ambiente. Que ataca mulheres, negros, indígenas e a população LGBT; ataca qualquer um que ouse discordar.
    Somos, sim, radicais na defesa da soberania nacional, da universidade pública e gratuita, do Sistema Único de Saúde, público, gratuito e universal. Nós não somos meia oposição; somos oposição e meia aos inimigos da educação, da cultura, da ciência e da tecnologia. Nós não aceitamos mais censura, tortura, AI-5 e perseguição a adversários políticos.
    Andam negando essa verdade científica, mas a Terra é redonda e nós estamos, sim, em polos opostos: enquanto eles semeiam o ódio, nós vamos mostrar a eles o que o amor é capaz de fazer por este país.
    Companheiras e companheiros,
    Já foi dito que o PT nasceu para mudar o Brasil. E mudou. Porque trazemos na origem o compromisso com os trabalhadores, com os mais pobres, com os que carregaram ao longo de séculos o peso da exclusão e da desigualdade. Porque pela primeira vez fizemos um governo para todos os brasileiros e brasileiras, e isso fez toda a diferença em nosso país.
    Se fosse para governar apenas para uma parte da população, o Brasil não precisaria do PT.
    Para o mercado decidir quem pode e quem não pode se aposentar, quanto vai custar o gás de cozinha, o combustível, a energia elétrica, visando somente o lucro, o Brasil não precisaria do PT.
    Se fosse para entregar ao estrangeiro as riquezas naturais, o petróleo, as águas, as empresas que o povo brasileiro construiu, o Brasil não precisaria do PT.
    Se fosse para queimar a floresta, envenenar a comida com agrotóxicos, deixar impunes crimes como os de Marielle, Mariana, Brumadinho, ignorar desastres como o óleo no litoral do Nordeste, quem precisaria do PT?
    Para o filho do rico estudar nas melhores universidades do mundo e o filho do trabalhador ter de largar a escola pra sustentar a família, o Brasil não precisaria do PT.
    Se é para alguns terem mansão em Miami e muitos viverem debaixo do viaduto; para o rico ficar isento até do imposto de herança e o trabalhador carregar o peso do imposto de renda, o Brasil não precisaria do PT.
    Para manter a mais escandalosa concentração de renda do planeta Terra, para o rico continuar cada vez mais rico e o pobre ficar cada dia mais pobre, aí mesmo é que o Brasil não precisaria do PT.
    Porque o maior inimigo do Brasil hoje e desde sempre é a desigualdade, esse vergonhoso fosso em que 1% da população detém 30% da renda nacional e para a metade mais pobre sobram 17%, as migalhas de um banquete indecente.
    Mas se este país quer superar a chaga imensa da desigualdade, recuperar a soberania e o seu lugar no mundo, se quer voltar a crescer em benefício de todos os brasileiros e brasileiras, o Partido dos Trabalhadores é mais do que necessário: ele é imprescindível.
    Esta é a enorme responsabilidade que estamos recebendo. O Brasil nunca precisou tanto do PT. E o PT tem de ser grande o bastante para corresponder ao que o país espera de nós. Tem de estar unido, forte e cada vez mais conectado com o povo brasileiro.
    Temos a responsabilidade de renovar o partido, compreender o que mudou na sociedade brasileira nesses 40 anos e buscar as respostas para os novos desafios. Fomos forjados na luta em defesa da classe trabalhadora.
    O peso da injustiça recai hoje sobre os motoristas de aplicativos, os jovens que perdem a saúde e arriscam a vida fazendo entregas em motos, bicicletas, ou mesmo a pé. Os que não têm a quem recorrer por seus direitos, porque a única relação de trabalho que conhecem não é a carteira profissional, mas um telefone celular que ele precisa recarregar desesperadamente.
    Esse é o lugar que resta aos deserdados de um modelo neoliberal excludente, cada vez mais desumano. Um mundo em que o mercado é deus e em que a solidariedade deixa de ser um valor universal, substituída por uma competição individualista feroz.
    É com esse mundo novo que o PT precisa dialogar, sem abrir mão de nossos compromissos históricos, mantendo os pés firmes no presente e mirando sempre o futuro. Se as formas de exploração mudaram, a injustiça e a desigualdade permanecem e são cada vez mais cruéis. Temos de estar mais organizados, mais fortes, conscientes e mais decididos do que nunca a construir um país mais generoso, solidário e mais justo. É por isso que o Brasil precisa tanto do PT.
    Companheiras e companheiros,
    Salvar o país da destruição e do caos social que este governo está produzindo não é tarefa para um único partido. Fomos eleitos e governamos em aliança com outras forças do campo popular e democrático. Por mais que tentem nos isolar, estamos juntos na oposição com partidos da centro-esquerda e estamos com os movimentos sociais, as centrais sindicais e importantes lideranças da sociedade.
    Embora tantos tenham cometido erros antes e depois dos nossos governos, é somente do PT que exigem a autocrítica que fazemos todos os dias. Na verdade, querem de nós um humilhante ato de contrição, como se tivéssemos de pedir perdão por continuar existindo no coração do povo brasileiro, apesar de tudo que fizeram para nos destruir.  Preciso dizer algumas verdades sobre isso.
    O maior erro que nós cometemos foi não ter feito mais e melhor, de uma forma tão contundente que jamais fosse possível esse país voltar a ser governado contra o povo, contra os interesses nacionais, contra a liberdade e a democracia, como está sendo hoje.
    Deveríamos ter feito mais universidades do que fizemos, mais reforma agrária, mais Luz Pra Todos, mais Minha Casa Minha Vida, mais Bolsa Família e mais investimento público.
    Teríamos de ter conversado muito mais com o povo e com os trabalhadores, conversado mais com os jovens que não viveram o tempo em que o Brasil era governado para poucos e não para todos.
    Também tínhamos de ter trabalhado muito mais para democratizar o acesso à informação e aos meios de comunicação, apoiado mais as rádios comunitárias, fortalecido mais a televisão pública, a imprensa regional, o jornalismo independente na internet.
    Antes que a Rede Globo me acuse outra vez pelo que não disse nem fiz, não ousem me comparar ao presidente que eles escolheram. Jamais ameacei e jamais ameaçaria cassar arbitrariamente uma concessão de TV, mesmo sendo atacado sem direito de resposta e censurado como sou pelo jornalismo da Globo.
    Eu sempre disse que jamais teria chegado onde cheguei se não tivesse lutado pela liberdade de imprensa. Hoje entendo, com muita convicção, que liberdade de imprensa tem de ser um direito de todos, não pode ser privilégio de alguns.
    Não pode um grupo familiar decidir sozinho o que é notícia e o que não é, com base unicamente em seus interesses políticos e econômicos.
    Entendo que democratizar a comunicação não é fechar uma TV, é abrir muitas. É fazer a regulação constitucional que está parada há 31 anos, à espera de um momento de coragem do Congresso Nacional. É fazer cumprir a lei do direito de resposta. E é principalmente abrir mais escolas e universidades, levar mais informação e consciência para que as pessoas se libertem do monopólio.
    Enfim, penso que teríamos de ter lutado com mais vontade e organização, fortalecido ainda mais a democracia, para jamais permitir que o Brasil voltasse a ter um governo de destruição e de exclusão social como voltou a ter desde o golpe de 2016.
    A autocrítica que o Brasil espera é a dos que apoiaram, nos últimos três anos, a implantação do projeto neoliberal que não deu certo em lugar nenhum do mundo, que vai destruir a previdência pública e que ao invés de gerar os empregos que o povo precisa está implantando novas formas de exploração.
    A autocrítica que a democracia e o estado de direito esperam é daqueles que, na mídia, no Congresso, em setores do Judiciário e do Ministério Público, promoveram, em nome da ética, a maior farsa judicial que este país já assistiu.
    O mundo hoje sabe que, ao contrário de combater a impunidade e a corrupção, a Lava Jato corrompeu-se e corrompeu o processo eleitoral e uma parte do sistema judicial brasileiro. Deixou impunes dezenas de criminosos confessos que Sérgio Moro perdoou e que continuam muito ricos.
    Como podem dizer que combateram a impunidade se soltaram pelo menos 130 dos 159 réus que ele mesmo havia condenado? Negociaram todo tipo de benefício com criminosos confessos, venderam até o perdão de pena que a lei não prevê, em troca de qualquer palavra que servisse para prejudicar o Lula.
    Que ética é essa que condena 2 milhões de trabalhadores, sem apelação, destruindo empresas para salvar os patrões acusados de corrupção?
    Não tem moral, não tem autoridade para discutir ética quem deu cobertura aos procuradores de Deltan Dallagnol e Rodrigo Janot quando eles entregaram a Petrobrás aos tribunais dos Estados Unidos, um crime de lesa-pátria que já custou quase 5 bilhões de dólares ao povo brasileiro.
    Temos muito o que falar sobre ética, sobre combate à corrupção e à impunidade. Mas acima de tudo temos que falar a verdade.
    Meus amigos e minhas amigas,
    Alguns professores de deus defendem um modelo suicida de austeridade fiscal e redução do estado, que não deu certo em nenhum lugar do mundo. Tiveram o apoio da mídia e das instituições para culpar os governos do PT por tudo de ruim que havia no Brasil. Mentiram que tirando o PT do governo tudo se resolveria, por obra do mercado e do ajuste fiscal. E os problemas se agravaram ainda mais.
    Os indicadores econômicos do Brasil pioraram: a balança comercial em queda, a economia paralisada, setores da indústria destruídos, o investimento público e privado inexistente, o rombo nas contas aumentado irresponsavelmente por razões políticas. O custo de vida dos pobres aumentou e as pessoas voltaram a cozinhar com lenha porque não podem comprar um botijão de gás.
    É preciso dizer umas verdades sobre isso também.
    A primeira delas é que o Brasil só não quebrou ainda por causa da herança dos governos do PT. Por causa dos 370 bilhões de dólares em reservas internacionais que acumulamos e querem queimar na conta dos juros. Por causa dos mercados internacionais que abrimos e que uma política externa irresponsável está fechando. Por causa do pré-sal que descobrimos e que estão vendendo na bacia das almas.
    O Brasil só não está passando por uma convulsão social extrema por causa da herança dos governos do PT. Porque não conseguiram acabar com o Bolsa Família, último recurso de milhões de deserdados. Porque milhões de famílias ainda produzem no campo, para onde levamos água, energia, tecnologia e recursos em nosso governo. E também porque não conseguiram destruir ainda os sistemas públicos de saúde, educação e segurança, mas fatalmente isso irá ocorrer pela criminosa política de cortes do investimento público.
    Sempre acreditei que o povo brasileiro é capaz de construir uma grande Nação, à altura dos nossos sonhos, das nossas imensas riquezas naturais e humanas, neste lugar privilegiado em que vivemos. Já provamos que é possível enfrentar o atraso, a pobreza e a desigualdade, desafiando poderosos interesses contrários ao país e ao povo.
    Soberania significa independência, autonomia, liberdade. O contrário é dependência, servidão, submissão. É o que está acontecendo hoje. Estão entregando criminosamente a outros países as empresas, os bancos, o petróleo, os minerais e o patrimônio que pertence ao povo brasileiro. Trair a soberania é o maior crime que um governo pode cometer contra seu país e seu povo.
    A Petrobrás está sendo vendida em fatias a suas concorrentes estrangeiras.
    Fiquem alertas os que estão se aproveitando dessa farra de entreguismo e privatização predatória, porque não vai durar para sempre. O povo brasileiro há de encontrar os meios de recuperar aquilo que lhe pertence. E saberá cobrar os crimes dos que estão traindo, entregando e destruindo o país.
    Tão importante quanto defender o patrimônio público ameaçado é preservar os recursos naturais e nossa riquíssima biodiversidade. Utilizar esse patrimônio, fonte de vida, com responsabilidade social e ambiental.
    Um país que não garante educação pública de qualidade a todas as suas crianças, adolescentes e jovens não se prepara para o futuro.
    Mas parece que enfiaram o Brasil à força numa máquina do tempo e nos enviaram de volta a um passado que a gente já tinha superado. O passado da escravidão, da fome, do desemprego em massa, da dependência externa, da censura, do obscurantismo.
    O Brasil precisa embarcar de volta para o futuro. E não tem ninguém melhor para pilotar essa máquina do tempo do que a juventude desse país. Porque essa juventude, seja ela branca, negra ou indígena, ela quer ensino de qualidade, quer adquirir conhecimento, quer de volta as oportunidades de trabalho digno, sem alienação e sem humilhações.
    Essa juventude quer e merece um mundo melhor do que este em que estamos vivendo.
    Hoje me coloco à disposição do Brasil para contribuir nessa travessia para uma vida melhor, vida em plenitude, especialmente para os que não podem ser abandonados pelo caminho.
    Sem ódio nem rancor, que nada constroem, mas consciente de que o povo brasileiro quer retomar a construção de seu destino; de que temos de fazer juntos um Brasil soberano, democrático, justo, em que todos e todas tenham oportunidades iguais de crescer e sonhar.
    O futuro será nosso, o futuro será do Brasil!
    Muito obrigado!
    Luiz Inácio Lula da Silva
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    Os Jornalistas Livres também fizemos a transmissão ao vivo que pode ser assistida em https://www.youtube.com/watch?v=XJTUbyFB5II&feature=youtu.be

     

     

  • Lula: “Urna não é lugar para digitalizar ódio”

    “Companheiros e companheiras, 

    Urna não é lugar para digitalizar ódio, mas sim esperança. Dia 7 o povo vai decidir o futuro do Brasil

    votando para presidente da República, governadores, senadores e deputados federais e estaduais. 

    De todos os partidos, o PT é o que tem a experiência mais bem sucedida de governar o Brasil,

    com a mais forte política de inclusão social. 

    Por isso, vote em Haddad para presidente. Haddad é Lula, Haddad é 13. 

    Um grande abraço de Lula, 

    Sem medo de ser feliz”

  • Os que sempre estimularam o ódio político

    Os que sempre estimularam o ódio político

    Em editorial publicado no último domingo (29), o jornal Estado de São Paulo de alguma maneira volta aos tempos em que dava sustentação ao regime dos generais que controlou o país durante 21 anos.

    Traz uma análise do atentado a tiros contra o acampamento de apoiadores de Lula em Curitiba onde o jornal sustenta que a origem dos disparos seria, na verdade, o próprio PT – que, nas suas palavras, estimulara o confronto político durante 30 anos.

    É demais. Mesmo para Estadão.

    Eu só posso me perguntar como é possível que um veículo que apoiou dois golpes presidenciais em sua relativa breve existência, que silenciou sobre sequestros de militantes, torturas sistemáticas e que sempre deu guarida a políticos do ramo mais podre da institucionalidade, como Aécio Neves, insinuar que o PT é que sempre foi intolerante, enquanto seus aliados seriam pacíficos democratas.

    Ora, o PT nasceu das lutas da esquerda contra a ditadura que Estadão apoiou, e não o contrário.

    Sejamos sinceros sobre quem efetivamente lutou para que não houvesse democracia e qualquer forma de tolerância política no Brasil. Nós sabemos que nas páginas de Estado de São Paulo não são publicadas opiniões contrárias à linha editorial que as empresas anunciantes simpatizam. E que não há espaço para contraditório nem equilíbrio no tom crítico.

    Recentemente, numa espécie de déjà vu, nós vimos Estadão apoiar manifestações verde-amarelo protagonizadas por grupos ultraconservadores, anti-esquerdistas e até favoráveis à outra intervenção militar.

    Apoiou também o processo de impeachment que logrou sacar da presidência da República a vencedora da última eleição, ainda que sem apresentar um crime que ela tenha cometido, ao custo de uma radicalização da política que teve como principal fenômeno para sociedade a ascensão do conservadorismo fascista que ameaça as instituições democráticas. A verdade é que o jornal se comprometeu com uma linha radical que chamou a atenção do mundo sobre uma guinada autoritária, e que seus donos têm problemas em reconhecer-se assim, preferindo divulgar, por exemplo, que o sucesso do deputado fascista nas pesquisas para presidente é culpa de “mau humor dos eleitores” ou até mesmo das redes sociais. Isentem-se como parte fundamental no processo de aderência popular ao conservadorismo intolerante. E não poderiam fazer isso.

    Nos últimos meses houve ataques a sedes de partidos de esquerda, que foram vandalizadas e até alvos bombas. Ao mesmo tempo, o partido campeão de denunciados pela Operação Lava-Jato, o PP, conseguiu costurar nos bastidores do Congresso para atrair novos parlamentares e se tornar a segunda maior bancada partidária. Se essa contradição existe, em parte deve-se, sim, a uma cobertura de imprensa que criminaliza seletivamente a esquerda e blinda de conteúdo negativo políticos que se comprometem com uma agenda de favorecimento aos empresários.

    A diminuição drástica de prefeituras comandadas por partidos de esquerda na última eleição municipal foi apoiada por Estadão como se o compromisso do veículo de imprensa fosse com uma militância partidária, e não com a cobertura isenta dos fatos, e o resultado a ser notado é um début à cena nacional de fundamentalistas religiosos, demagogos da segurança pública e latifundiários simpatizantes do trabalho análogo à escravidão. Não há no Brasil grupos mais intolerantes que estes.

    As redes sociais estão tomadas de robôs e os principais comentários nas caixas de interação dos principais jornais são, normalmente, de perfis falsos e com conteúdo ultradireitista. Quem paga por este aparato é que deve se juntar a Estadão para explicar o clima de intolerância que estamos vivendo.

    Devemos identificar com nitidez os que sempre estimularam o ódio político.

  • Por que as elites brasileiras odeiam Lula?

    Por que as elites brasileiras odeiam Lula?

     

    Artigo de Rodrigo Perez Oliveira, professor de Teoria da História da UFBA, com foto de Guilherme Santos/Sul21

    Nada diz mais sobre o Brasil, sobre o que somos há muito tempo, que a caravana de Lula pelo sul do país. Em terras sulistas, por onde Lula passou foi hostilizado pela classe proprietária, pela elite da terra.

    Não!
    Chamar de “hostilidade” é pouco.

    O que aconteceu na etapa sulista da caravana “Lula pelo Brasil” foi uma sucessão de atentados contra a vida de Lula e de seus correligionários políticos. Começou com chicotadas, agressões e pedradas e chegou, no último dia 27 de março, a tiros de arma de fogo.

    Não foi ovo, não foi cocô. Foi tiro. Tiro de arma de fogo.

    Como entender essa escalada de violência na política Brasileira?

    Muitos falam em “fascismo”, termo que tem notória força política e que por isso seu uso no debate público talvez tenha lá alguma importância.

    Mas estou convencido de que se quisermos fazer uma interpretação mais rigorosa da realidade, o termo é equivocado, pois mais confunde do que esclarece. Definir como “fascista” a escalada da violência na política brasileira demandaria tantos reparos e observações para mostrar como o “fascismo brasileiro” é diferente daquele “fascismo clássico” europeu de meados do século XX que o próprio conceito perderia força explicativa.

    Por isso, prefiro seguir uma via interpretativa doméstica, tomando as manifestações de violência contra a caravana de Lula no sul do Brasil como representativas daquilo que o Brasil é, do que sempre foi.

    É este o meu esforço neste ensaio: tomo a violência contra a caravana de Lula como ponto de partida para uma interpretação do Brasil.

    Começo, então, com a pergunta que não quer calar, com a pergunta que, talvez, seja a mais importante de ser feita no atual momento da história do Brasil:

    Por que as elites brasileiras odeiam Lula?

    Nem de longe Lula foi um Presidente revolucionário, nem de longe relou no “sagrado” direito de propriedade privava. As elites brasileiras não perderam dinheiro nos governos de Lula. Muito pelo contrário, nunca ganharam tanto.

    De onde vem todo esse ódio?

    Não penso que seja necessária a importação de um conceito específico da história europeia para a compreensão de uma realidade que é tão brasileira quanto a jabuticaba. Não é fascismo não, não tem nada a ver com fascismo.

    O fascismo é moderno, é o desdobramento mais grotesco da modernidade.

    O ódio a Lula é arcaico, deita suas raízes nos velhos valores aristocráticos, pré-modernos, na lógica da Casa Grande, em uma racionalidade de tipo antigo.

    Não é fascismo não. É o Brasil mesmo.

    Sei que é difícil reconhecer, mas no fundo, bem no fundinho, é só o velho Brasil de sempre. Em pouco mais de uma década de bonança, nos enganamos, fomos ingênuos, achando que o Brasil estava mudando, melhorando. Mudou não. Melhorou não. Tá igualzinho ao que sempre foi.

    Não há como falar nessa atualização do “Brasil de sempre” sem dedicar alguma atenção à “instituição Lula”.

    Pois sim, o “homem Lula” já morreu e deu lugar a uma instituição.

    Lula é a maior instituição política da história do Brasil. É tolo quem acha que uma instituição pode ser morta com uma bala ou com uma facada. Todos os brasileiros e brasileiras terão que conviver com a “instituição Lula” daqui para frente. Ninguém mais faz política no Brasil sem passar por Lula, seja para negá-lo ou para reivindicar o seu legado.

    Mas o que significa essa instituição?

    Há pouco tempo, escrevi um ensaio sugerindo que no final da década de 1990 aconteceu dentro do PT a “guinada lulista”, que teve efeitos contraditórios para o maior partido político da história da esquerda latino-americana: o lulismo, ao mesmo tempo em que catapultou o PT à chefia do Poder Executivo, representou o seu colapso ideológico.

    É que o lulismo aposta na conciliação de classes e ao fazê-lo acaba negando o princípio da luta de classes, que é o núcleo da identidade ideológica de qualquer partido que pretenda estar à esquerda.

    O lulismo achou que era possível “ajudar os pobres sem incomodar os de cima’, na certeira formulação de Marcelo Odebrecht.

    No frigir dos ovos, essa conciliação seria mesmo possível.
    Com algum sacrifício da classe média e com uma situação econômica relativamente favorável, seria possível distribuir renda para os mais pobres sem contrariar os interesses dos grandes capitalistas.

    Dinheiro no bolso do povão, expansão do crédito, incentivo ao consumo, bancarização das relações comerciais, investimento na exportação de commodities. Todo mundo saiu ganhando, ainda que uns tenham ganhado mais que outros.

    Com o boom do consumo, ganhou o capital produtivo.

    Com a bancarização das relações comerciais, ganhou o rentismo.

    Com o micro-crédito, ganhou o pobre, que comprou geladeira, TV de plasma e viajou de avião pra lá e pra cá.

    A fórmula funcionou durante dez anos. O fator “Dilma Rousseff” foi o principal elemento de desestabilização do sistema. Não foi o único elemento, é claro que não. Mas foi o principal.

    É que Dilma tensionou demais.

    Dilma tensionou com o rentismo na batalha dos spreads, tensionou com a classe política, quando acreditou que a “Operação Lava Jato” seria de fato republicana.

    O golpe de 2016 não foi exatamente contra o lulismo. Foi contra o dilmismo.

    Duvido que Lula cairia, duvido muito. Mas não é disso que quero falar, não aqui, não agora.

    O que estou querendo dizer é que pela lógica racional do mercado, do capitalismo, não há nenhum motivo para as elites brasileiras odiarem Lula.

    Os donos de terra do sul do Brasil receberam muito dinheiro do governo federal durante a Era Lula, pois a exportação das commodities era o grande combustível econômico da conciliação lulista. Era importante para o governo que os proprietários produzissem, vendessem, ganhassem dinheiro.
    Lula tratou o agronegócio com muito carinho, com muito carinho mesmo.

    De onde vem esse ódio? Por que os proprietários sulistas tentaram matar Lula? É por causa da corrupção?

    Não, não tem nada a ver com corrupção. Há outros políticos notoriamente corruptos que não despertam o mesmo ódio. Nunca é demais lembrar que os mesmos que hoje odeiam Lula aplaudiram Eduardo Cunha e votaram em Aécio Neves. O problema dessas pessoas nunca foi a corrupção.

    O ódio é arcaico, é de tipo antigo.

    Lula é o nordestino, trabalhador manual, homem de berço plebeu que ousou governar.

    Num país em que a política formal sempre foi assunto a ser tratado entre iguais, entre oligarcas, Lula representa o radicalismo, ainda que na posição de mandatário maior da República tenha sido bem tímido, talvez até um tanto conservador.

    É que o radicalismo de Lula independe de suas ações. Lula é o próprio radicalismo, é o radicalismo em pessoa, não importa o que faça, não importa o que deixe de fazer, não importa o quanto tente conciliar.

    Com aquela “alma de pobre”, com aquelas escorregadelas nas concordâncias e nos plurais, Lula jamais conseguirá conciliar por muito tempo, pois para conciliar carece antes de ser aceito como mediador. Precisa sentar à mesa.

    O aristocrata não aceita sentar à mesa com o plebeu.

    As elites brasileiras têm nojo de Lula, sempre tiveram. Mesmo ganhando dinheiro durante o governo Lula, elas continuaram sentindo nojo, odiando. É que para as elites brasileiras o mais importante não é, exatamente, o dinheiro. O mais importante é a distinção.

    Não importa se o aquecimento do consumo é positivo para a cadeia produtiva. Quando a empregada usa o mesmo perfume que a patroa, quando o filho do porteiro começa a estudar na universidade, é o regime da distinção que está sendo abalado.

    Patroa e empregada, sinhá e mucama, não podem ter o mesmo cheiro. Não importa se a empregada “tirou” o tal perfume no cartão de crédito, pra pagar em 12 suaves prestações. Não importa se a empregada, depois da jornada de trabalho, vai sacolejar duas horas no trem e no ônibus para chegar em casa, no outro lado da cidade.
    O que importa é o cheiro, é o signo de distinção.

    Não importa se o morador do 10° andar vai passear em Paris nas férias, enquanto o porteiro vai visitar “mainha” em Santo Amaro. O que importa mesmo é que quando começar o semestre, o filho do porteiro estará lá, na mesma sala que filho do morador do 10° andar. Olhando de longe, bem de longe, eles são iguais, são estudantes. O absurdo está aqui. O ódio vem daqui.

    É isso: não tem nada a ver com fascismo. O que explica a escalada de violência na política brasileira é o ódio de uma elite arcaica que goza com a distinção.

    Não é fascismo. O fascismo é a tragédia da Europa moderna. Nossa tragédia é outra.

    É a tragédia de uma sociedade de modernização incompleta, forjada no escravismo e controlada por uma elite historicamente comprometida com o atraso.

  • A morte, os moraes e os moros

    A morte, os moraes e os moros

    Quando alguns se colocam no papel de justiceiros

    contra inimigos escolhidos a dedo

    e insistem em permanecer nesse pedestal de barro é evidente que, enquanto o fazem, consideram que suas ações são incólumes e que não serão julgadas pela história. Os nazistas pensavam assim, os generais latino americanos pensam e pensavam assim, os Botha pró apartheid da África do Sul pensavam assim, os colonizadores escravocratas nas américas e etc. Estavam todos fazendo o bem para as pessoas que escolhiam defender, proteger, adular e fazendo o bem ao matar, torturar e explorar os inimigos desde suas posições de prestígio e poder institucional que grupos determinados e/ou uma parcela significativa da população lhes conferia. Não estavam sozinhos. Gozavam do apoio ou da omissão de muitos.

    Difícil afirmar qual o papel que o massacre à Lula e sua família tiveram na debilitação e morte de Dona Marisa. Ataques contínuos, odiosos, violentos e arbitrários contra a história, filhos e honra matam pessoas, mas é difícil aferi-los porque se misturam a muitos outros fatores que também determinam uma morte prematura ou um sofrimento que, pouco a pouco, conduz à debilidade psíquica e física que desencadeia o fim de uma vida.

    O ódio mata, sempre matará e continuará matando,

    mas ele o faz de modo invisível,

    sorrateiro e poucas vezes pode ser flagrado para ser julgado.

    Por isso é capaz de ceifar muitas vidas na obscuridade e na covardia.

    É claro que muitos odiosos, além do promotor público Rômulo Paiva Filho, ou do médico Richam Faissal Ellakis e tantos outros bem formados, bem alimentados e vestidos, nesse exato momento devem estar celebrando a morte da esposa de Lula. E desejando a morte do próprio Lula, se possível, com requintes de crueldade.

    Mas o ódio gera uma alegria imbecil para o odioso e destrutiva para o conjunto da comunidade e a sociedade onde vivem os odiosos, porque não se sacia com a morte de um. Ele migra para outros, nos quais os odiosos vestem uma carapuça de ferro por eles mesmos inventada, e neles atiram até aniquilá-los, e mais outro, gerando o círculo de violência que quando iniciado é muito difícil estancar. Tal prática não é episódica e eventual. Alguém imagina o que deve sentir o médico Raicham Faissal Ellakis por pacientes que o importunam no meio de um jantar ou o que pensa o promotor Rômulo Paiva Filho por colegas de profissão que lhe são adversários? O ódio é um hábito para alguns.

    Por vezes uma morte é a resultante de

    uma impossibilidade de resistir e um desejo de partir.

    Outras vezes é efeito da arrebentação de uma onda de injurias

    que destrói o sentido da vida

    e corrói as esperanças no futuro.

    Mas assim como surgem algozes, surgem também os que resistem aos algozes. Não são heróis, mas revoltados, injuriados, indignados e podem se tornar violentos diante da falta de alternativas. Isso acontece diante de um sentido de urgência, uma ininteligibilidade radical que orienta a reagir sempre que a sobrevivência está ameaçada. Se pessoas forem reduzidas a bichos, reagirão como bichos.

    Por mais desacreditado que esteja o sistema judiciário e de saúde no Brasil, fato é que quando flagramos os operadores do direito defendendo a injustiça e os médicos propugnando o ódio e a morte é sempre incitador de profunda revolta e medo no conjunto dos cidadãos. Os membros da sociedade letrada e rica têm defendido impropérios, violências e instigado a truculência mas não sabem com o que estão mexendo.

    Eles que chamam de bandidos os que lutam por um pedaço de terra;

    de vagabundos os que lutam por teto e abrigo e

    de vândalos os que lutam por educação digna,

    pecam por ignorância profunda e

    medo rasteiro de perder privilégios de classe.

    Cindem os movimentos sociais do sentido de suas lutas porque é exatamente o que tem de fazer para odiar. Inventar categorias que não existem; cindir causa e efeito; apartar os sujeitos de suas histórias; os homens de suas responsabilidades e dinamitar o pensamento e a reflexão sem ter o que por no lugar.

    Crianças de 3 anos podem fazer isso. Empurram o irmão da escada para destruir o que acham que seria um obstáculo à sua alegria e felicidade. Tornam-se, por essa via, cúmplices e artífices de violências e reações contra elas mesmas. Passarão logo a serem vítimas de crueldades que estão incitando, proclamando e defendendo, mas não serão capazes de cessá-las.

    Querem causar o desastre,

    mas jamais se responsabilizarão pelas consequências

    e jamais saberão como evitá-las.

    Não é possível acusar ninguém por uma morte cuja causa se esgota nas explicações sobre o corpo, mas é preciso ficar atento para rastro que o ódio deixa e que promete deixar mais óbitos atrás de si. A morte, efeito de ódios, é o caldo que faz recrudescer desejos de vingança e por aí os círculos da revolta se fecham, porque quando iniciados imantam a violência infinita que reduz toda disputa à contenda física paralisando por muito tempo o pensamento. Todo argumento perde valor e sentido e tudo se resume ao gosto ou desgosto do momento. Amo ou odeio e ponto final.

    A paz só reina duradouramente quando há

    senso de justiça, igualdade e futuro,

    ela precisa de nossa capacidade de imaginar, pensar e inventar. Sem isso somos bichos, predadores e presas, que podemos conduzir a um mar de dores insuperáveis, que só quem as viveu em outros momentos de crise pode testemunhar.

    Quando isso acontece o ódio veste sua armadura, autoriza-se e reage rompendo barreiras de decência e eliminando limites antes construídos com lutas e dificuldades em nome de um convívio possível e duradouro entre diferentes e divergentes. Estamos no Brasil muito longe da paz e muito próximos da guerra. Sempre estivemos, mas agora tudo assume ares de iminência.

    Há muitas maneiras de interpretar a morte de alguém. Pode ser mera casualidade, pode ser o destino, pode ser uma fatalidade, mas há outras interpretações que veem na morte a resultante de um processo de crueldades que não puderam ser cessadas pelas instituições e pessoas investidas de representação e legitimidade para fazê-lo e que deviam, por obrigação moral e ética, tentar evitar o pior e não insuflá-lo. O efeito colateral de interesses que dependem de mortes para se manterem ativos será a revolta e as ações sem previsão que elas engendram.

    Não temos mais como nos enganar,

    morreu Dona Marisa,

    o alvo agora é Lula,

    a despeito dos abraços comovidos e dos cumprimentos cínicos que povoaram o hospital Sírio-Libanês. Outros, milhares de alvos são exterminados nesse momento em muitas cidades brasileiras. Depois outros virão.

    A escória das elites brasileiras não pretende apenas atacar pessoas. Seu plano é muito mais ambicioso. Conduzir o Brasil ao que era: um imenso latifúndio de escravos e miseráveis com açoites em poucas mãos. Todavia muitos que se aproveitam desse momento não estão interessados nisso exatamente. Eles aproveitam a oportunidade para demonizar, matar, cruelizar e praticar, sem condenação, inefáveis maldades a céu aberto. O promotor Rômulo Paiva Filho e o médico Raicham Faissal Ellakis foram porta vozes de muitos. Um deveria zelar pela justiça o outro pela vida. Se formaram para isso. Porém num segundo tornaram-se boçais que instigam outros a beberem vísceras e sangue. Hienas roendo carcaças. Estamos no fundo do poço e o caminho só pode ser para cima.

    A morte cruel não encerra nada,

    mas dá início a um processo de dor e ressentimento

    que dificilmente poderá ser cessado

    com abraços protocolares à beira do caixão.

    A morte poderá nos instruir a nos levantarmos antes que outras mortes ocorram. E diante da premência de uma onda de maldades que não encontra termo, teremos de estancá-las de um jeito ou de outro.

    Teori morto, Moraes já vestia a toga para substituí-lo. Mal termina o sepultamento de Marisa e as armas já estão engatilhadas para Lula. Enquanto isso corpos são empilhados em todas as cidades brasileiras e aqueles que reclamarão seus mortos se multiplicam.

    Estaremos próximos de ter de decidir entre matar ou morrer?

     

    Nota

    Esse texto foi publicado, em 08/02/2017, no site dos Psicanalistas pela Democracia: http://psicanalisedemocracia.com.br/2017/02/a-morte-os-moraes-e-os-moros/

  • Por que tanto ódio a Lula? Nossos leitores com a palavra.

    Por que tanto ódio a Lula? Nossos leitores com a palavra.

    No artigo ‘Por que tanto ódio?’ pedimos ajuda para entender a matriz de tanta energia negativa contra Lula. Obtivemos muitas contribuições e agradecemos muito por elas. Cerca de 85% dos comentários e explicações tentativas foram de pessoas que não nutrem ódio pelo ex-presidente.

    Mas, claro, não faltaram aqueles que o detestam e julgam que “ele é o cara mais corrupto do Brasil”, que “ele traiu as camadas populares”, que “ele tem um fundo de investimento em marketing de 1 bilhão de dólares” e, até, que “ele mesmo plantou o ódio dividindo a sociedade em classes e incitando uma contra a outra”.

    Como o discurso gerador do ódio é facilmente encontrado na mídia tradicional, optamos por focar nas explicações do ódio por parte daqueles que não odeiam Lula. Selecionamos cinco vertentes que nos pareceram principais nas contribuições dos leitores e reproduzimos algumas aqui.

    Então vamos lá: Por que tanto ódio contra Lula? Nossos leitores têm a palavra.

    1 Preconceito

    • É o ódio ao pobre “que não sabe seu lugar”. Só isso.
    • Pq eh nordestino, pobre, sem curso superior, chegou aqui num pau de arara, ex sindicalista, mãe analfabeta, pq a mulher foi babá, pq quando pega o microfone estraçalha o adversário, pq tem a melhor oratória do mundo, pq é sábio, pq é povo, pq é reconhecido no mundo inteiro como grande líder, pq acham q eh o maior ladrão da história.
    • O ódio sempre esteve presente – pobres e pretos sentiam mais. Lula só tirou a casca da ferida e expôs o que sempre esteve lá. A caixa de pandora foi aberta e o erro foi não ter encarado problemas antigos de frente como: um judiciário acovardado, mídias em mãos de pessoas erradas (Globo, Veja e CIA) que forneceram mais gasolina para o fogo.
    • Primeiro, o preconceito. Segundo, ele fez pelo Brasil e para os pobres o que nenhum deles invejosos fizeram. Eles não aceitam o sucesso de Lula no mundo todo e o respeito por ele conquistado.
    • Equação simplérrima: burrice+preconceito+Globo= ódio ao LULA
    • Durante muitos séculos nos fizeram acreditar que ser pobre, ou menos favorecido, era motivo de vergonha, falta de capacidade, preguiça, etc.
    • Lula faz algumas pessoas lembrarem do que elas são, de onde vieram…
    • Porque é difícil para uma “elite” preconceituosa saber que a maior autoridade do país por duas vezes foi um nordestino, sindicalista e carismático
    • É ódio de classe. Começa assim: narciso acha feio o que não é espelho. Depois: quero ser narciso.

    2 Falta e manipulação de informação

    • A imprensa medieval, golpista e partidária, convenceu parte da classe C que subiu para B, com pequenos negócios, restaurantes, farmácias, panificadoras, lojas, etc, que pertenciam a classe A e AA, que eram capitalistas e por méritos próprios. Que os avanços sociais, políticos, econômicos e culturais adquiridos nestes últimos treze anos, não foram por medidas governamentais e sim a capacidade de empreendedor.
    • Porque com o golpe a elite escravocrata perdeu a pudor de externar seu ódio de classe, sua prepotência aristocrata. Porque esse ódio é cultivado dia a dia na televisão e nas revistas e jornais da mídia tradicional, conquistando uma imensidão de mentes mal instruídas.
    • Infelizmente o brasileiro se forma e informa com os grandes meios de comunicação de massas, não lê livros ou fontes mais confiáveis de informação.
    • O preconceito escravagista contra trabalhadores e trabalhadoras, mulheres, racismo, trans, lesbo, homofobia. O poder é só para um punhado de homens brancos e ricos. E a mídia que destila um ódio cotidiano ao PT. E não se tem um contraponto. E os partidos políticos que estão nas pequenas e médias cidades dominam a imprensa local e destilam diariamente em seus editoriais este ódio cotidiano. Repercutem matérias da grande mídia.
    • O Lula deu muita liberdade a meios de comunicação inescrupulosos pensou que esses meios de comunicação que na verdade é controlada pela elite ele pensou que nunca iria se rebelar contra os governo do PT e contra os partidos que governam para as pessoas menos favorecidas.

    3 Inveja

    • Infelizmente, pessoas simples como ele, se perguntam por que ele chegou lá. A inveja mata, olhar para si mesmo e se sentir menor, não é fácil.
    • É que Lula incomoda de várias formas. Incomoda o homem escolarizado, que teve tudo ao seu alcance para ter, por exemplo, o poder de síntese que o Lula tem e ele com tudo na mão, não consegue.
    • Por que por mais que tentam, ninguém tem a luz do Lula. A oratória dele, comove e faz pensar. Ele desperta uma emoção tão grande que incomoda o nada.
    • Inveja, maldade, burrice, tudo junto!
    • Nunca perdoaram Lula por ele não ter absorvido a empáfia presunçosa, por exemplo, de FHC. A raiva que têm de Lula é porque ele circula abraçando favelado, suado, com a mesma naturalidade que sorri e se senta ao lado da Rainha Elizabeth II (suprema inveja!)

    4 Distribuição de renda

    • Porque aqueles que fazem o bem são rejeitados e humilhados, é só acompanhar ao longo da história mundial, todos os que fizeram um bem a humanidade, foram execrados, ex; Jesus Cristo, Gandhi, Lincoln, Mandela, Getúlio Vargas, e agora Lula.
    • Por sua visão em ajudar os destituídos.
    • Por que tanto ódio? Porque as chamadas “zelites” não perdoam a “audácia” que ele teve de ser Presidente do Brasil!
    • Lula permitiu aos pobres não só sonharem com dias melhores, mas incentivou e permitiu que boa parte dos esquecidos viessem a exigir seus direitos. Essa subversão sempre custará muito caro. Muitos que ousaram pagaram com a vida. Fato!!!
    • A distribuição de renda é o maior motivo. As pessoas ainda não conseguem amar o seu próximo!
    • Acredito que assim como outras lideranças populares que tiveram grande importância cada um dentro dos seus propósitos, Lula foi eleito se tornou presidente, veio do povo é governou por um país melhor, menos desigual, mexeu com a estrutura colonial que vivíamos e por isso não é bem vindo para as elites e por quem se deixa enganar por esse pensamento conservador que faz parte de nossa sociedade.
    • Pq a senzala, os srs. do engenho, as sinhazinhas, as mucamas e os escravos têm que continuar existindo…absurdo eu estar constatando isso em 2017

    5 Jogo político

    • É bem simples, por ter sido o maior sucesso da esquerda que o país já teve precisaram demonizar e transformá-lo no principal inimigo público do país.
    • Nunca houve uma quebra na estrutura de poder desse país e quem conta a história é quem vence. O povo nunca é apresentado aos fatos que lhe interessam.
    • Nordestino, pobre e “analfabeto” vira um líder jamais visto no país, incomoda a elite e aos grandes empresários que sempre manipularam o povo e sempre tiveram o controle da situação. Lula é um grande líder e isso incomoda os donos do Brasil.
    • Pq ele governou pra todos e a elite não suporta isso! Simples!
    • Porque o foco de seu governo foi o favorecimento aos mais pobres. Isso incomoda e muito.
    • Lula é aquele que fala como a vida é sem rodeios!
    • JÁ VIU ALGUÉM CHUTAR CACHORRO MORTO??? CACHORRO MORTO NÃO INCOMODA MAIS. LULA É AMEAÇA PRA ELES.

    Confira aqui todos os comentários e e-mails enviados até o fechamento desta.
    (excluímos aqueles que continham discurso de ódio ou fugiam ao tema.)