Em resposta aos “cristãos” que defendem a violência.
Sou cristão e não voto no candidato da violência. Não voto neste candidato porque é despreparado intelectualmente e politicamente; porque apoia abertamente a tortura; porque trata a mulher como inferior; porque não respeita os quilombolas, os índios, os homossexuais e outras minorias; porque trata o trabalhador como um ser inferior. Não voto no candidato da violência porque, como cristão, não posso concordar com o expediente da violência, com a Lei de Talião.
Estou escrevendo porque um “bom cristão” – mas desconfio fortemente que não seja um bom conhecedor da Bíblia – mostrou-se estarrecido pelo fato de muitos cristãos e, inclusive Pastores, votarem no Haddad. Quanta ignorância! Não estamos escolhendo um Papa. O que está em jogo não é a escolha de um líder para os cristãos. Estamos escolhendo/avaliando um candidato a Presidente; também não se trata de escolher um xerife.
E, na minha opinião – como cristão que defende um Estado laico – um Presidente, além de condições intelectuais e políticas precisa reunir condições humanas, éticas e democráticas. Como cristão preciso votar em um presidente que, após vencer as eleições, seja o representante de todos e não de alguns segmentos e algumas teses. Precisamos de um presidente que não destile ódio a cada palavra que pronuncie; precisamos de um presidente que não legitime, por sua conduta irrefletida, a violência contra a mulher, a violência contra o diferente.
Eu não quero ver torturas e mortes em meu país, de nenhuma forma, por nenhum tipo de expediente, sob nenhum pretexto. Não quero ver torturas e mortes causadas pelo aprofundamento das diversas formas de exploração do povo trabalhador; não quero ver torturas e mortes causadas pela imposição ditatorial de paradigmas monolíticos; não quero ver torturas e mortes alimentadas pela ignorância e ódio de muito “religiosos”.
Muitos evangélicos estão sendo sequestrados pelo ódio e intolerância de alguns líderes. Muitos são vítimas aprisionadas pelo discurso do medo alimentado pela mentira e pelo horror ao diferente, ao divergente. Onde erramos? Qual Cristo esses cristãos seguem? Existe um outro Cristo? Um Cristo que inspire palavras como “bandido bom é bandido morto”? Será que o Cristo verdadeiro é pacato demais? Será que Ele ama demais? Onde está a incompatibilidade? O que fere mais o Cristo que ama, votar no PT ou votar na intolerância?
Precisamos resolver nossas crises existenciais primeiro, realinhar nossa vida. Primeiro aplicamos em nós e, depois, somente depois, podemos tentar contribuir com a resolução da crise humanitária que atinge nossa sociedade.
Chega de preconceito, chega de ódio e, por favor, um pouco mais de cristianismo.
Márcio Greik é Professor, Jornalista e Pastor Evangélico.