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  • Qual é o limite entre a “arte” e a calúnia, a injúria e a difamação?

    “O cineasta José Patilha – apelido adquirido pelo formato de sua barba –, diretor de Tropa de Grafite, e a provedora de filmes Netsucks receberam milionário apoio financeiro da CIA (Central de Inteligência Artificial) e dos irmãos Koch, familiares do ex-tenista brasileiro, para produzir e divulgar seu novo trabalho: O Maquinismo. A série, nesse ano eleitoral, visa buscar apoio dos brasileiros a políticos que mantenham e ampliem a subordinação do Brasil aos interesses de Washington.”

    Essa afirmação, cunhada somente para exemplificar o método usado por Padilha, pode ser encarada como liberdade artística? Poética? Não há um propósito claro de criar suspeitas sobre a dupla cineasta e provedora de filmes?
    Ruffo e Verena, policiais, são adoráveis, meus heróis. O juiz é sóbrio, correto, firme e discreto. Como não se apaixonar? O Cláudio, procurador, faz jus à qualificação que Ruffo lhe carimba na testa, no final. Em meio a exemplos de virtude e de velhacaria, Padilha e Netflix enquadram Lula e Dilma no segundo time. A série, O Mecanismo, da dupla Padilha e Netflix seria uma boa diversão, se não fosse uma obra empreendida para apoiar o golpe, ao criticar genericamente a corrupção e atribuir atos não comprovados à Lula e ao PT.

     

    Chamar a Petrobras de Petrobrasil, Dilma de candidata Janete Ruscok, Lula de presidente, Temer de Thames, a JBS de “açougueiros de Goiânia”, entre outras charadas frívolas, dá, a Padilha e à Netflix, o direito de caluniar, injuriar e difamar?

    “Estancar a sangria”, frase proferida pelo senador Romero Jucá (MDB), aliado fiel de Temer, foi gravada pela Polícia Federal, vazada e amplamente divulgada pelos meios de comunicação e mídias sociais. Pois bem, a dupla Padilha Netflix coloca a frase na boca do presidente Lula. Além de mostrá-lo, no apartamento do Guarujá, tentando obstruir a Lava Jato.

    O filme mostra um ex-ministro da justiça, Mário Garcez Brito, tentando negociar o fim das investigações com um grande acordo entre os empreiteiros e o procurador-geral. Esse ex-ministro, chamado de “o mago” e na sequência “o bruxo”, esteve no governo de 2003 a 2007 e se apresenta, na série, com graves problemas pulmonares. Essa caracterização não é exatamente igual a dizer que se tratava de Márcio Thomaz Bastos, ministro da justiça entre 2003 e 2007, que morreu de câncer no pulmão em novembro de 2014?

    Estarão Padilha e Netflix, bem como seu panfleto, acima da lei?

    Dizer que é uma “ficção inspirada livremente em eventos reais” confere poderes à dupla Padilha Netflix de misturar fatos com invencionices politicamente dirigidas? Nos créditos finais informam, ainda, que “Os personagens e eventos representados neste programa são fictícios. Não há intenção de retratação de pessoa e/ou eventos reais.” A intenção de Padilha é evidente. É coerente com sua posição política amplamente conhecida.

    Padilha assegurou, em entrevista (2016) ao Instituto Millenium – que congrega expoentes da direita nacional – que a Lava Jato “não tem viés político nenhum”. Perguntado – no que a corrupção do governo petista se diferencia da que se via antes? – Padilha assegurou que:

    A política no Brasil – nas esferas municipal, estadual e federal – sempre funcionou assim: os partidos elegem seus representantes e indicam pessoas para cargos-chave com poder de contratar serviços públicos. Depois, superfaturam as obras e embolsam um pedaço do dinheiro, que vai para pessoas físicas e o financiamento de campanhas. O PT fez isso em volumes muito maiores – vide a compra da Refinaria de Pasadena. E o caso do PT também é pior porque o roubo sistêmico se soma a um enorme cinismo. Lula, antes, fazia o discurso da ética e da moralidade. Mas, quando chegou ao poder, não só montou seu esquema como levou ao limite da sustentabilidade o assalto a empresas estatais e órgãos públicos. Um político assim só poderia chamar para si mais ódio do que os outros, obviamente.

    Precisamos de mais alguma informação para saber de que lado Padilha está?
    A Lava Jato, há 4 anos, revira a vida de Lula e, para condená-lo, baseou-se em um apartamento que não está em seu nome, nunca foi de sua posse. A acusação não conseguiu demonstrar atos que liguem Lula, à Petrobras e à empreiteira. A Polícia Federal, o Ministério Publico e o Judiciário não conseguiram comprovar o que a dupla Padilha e Netflix afirma, sob uma cortina de fumaça que tentar nublar os fatos, com apelidos pueris na série o Mecanismo.

     

    Pode-se, através de pretenso trabalho artístico, acusar desse modo impunemente?

    Perversidade vergonhosa desse folhetim foi, também, usar o mestre Nélson Cavaquinho e a música Juízo Final. Ele, Nélson, não merecia essa afronta, Patilha.

    Do mal será queimada a semente
    O amor será eterno novamente

    A Lava Jato queimará a semente do mal? Sei…

  • Narcos mente sobre o papel de Pinochet no combate as drogas

    Narcos mente sobre o papel de Pinochet no combate as drogas

     

    Todo mundo confundindo a série “Narcos”, do Netflix, produzida e dirigida por José Padilha, com documentário, certo? Pois o próprio José Padilha alimenta essa ideia ao mesclar cenas filmadas agora com outras, extraídas do noticiário da época em que o meganarcotraficante Pablo Escobar reinava, aterrorizando a Colômbia. Em entrevista à “Deutsche Welle”, Padilha defendeu a historicidade de sua série: “Na Colômbia, quando você fala em realismo mágico, os colombianos dizem: ‘Olha, realismo mágico para os outros. Para nós, é documental.’ Por isso que eu usei material de arquivo na série: se eu não contasse a história por material de arquivo, as pessoas não iriam acreditar.”

    Pois é bom não acreditar mesmo, apesar das aparências e do marketing agressivo da série.

    “Narcos” abre com um texto em off, supostamente representando o pensamento do personagem da vida real Steve Murphy, agente da DEA (Drug Enforcement Administration) responsável pela caçada a Escobar.

    Está lá, sem contestação ou contexto:

    “Veja Richard Nixon, por exemplo. As pessoas esquecem, mas 47 milhões de pessoas votaram no Nixon. Nós achávamos que ele era um dos mocinhos. E Nixon achou que o general chileno Pinochet era um dos mocinhos porque ele odiava os comunistas. Então, nós ajudamos Pinochet a tomar o poder. Depois, Pinochet acabou matando milhares de pessoas. Talvez ele não seja um dos mocinhos. Mas, às vezes, os vilões fazem coisas boas. Ninguém sabe, mas em 1973, o Chile estava a caminho de se tornar o maior centro processador e exportador de cocaína do mundo. Havia desertos para esconder laboratórios e quilômetros de litoral não patrulhado para despachar o produto. Mas Pinochet estragou a festa. Ele fechou 33 laboratórios e prendeu 346 traficantes de drogas. Depois, sendo Pinochet, mandou matar todos eles.”

     

    É Padilha sendo Padilha. Como se fosse verdade, Padilha faz um daqueles seus previsíveis jogos de prestidigitação que garantiram o sucesso de “Tropa de Elite”, no qual pretende mostrar que mocinhos às vezes comportam-se como bandidos e vice-versa.

    Então, a plateia é levada a crer que apesar de vilão, Pinochet fez “coisas boas” porque estragou a festa da cocaína no Chile quando “fechou 33 laboratórios”, “prendeu 346 traficantes de drogas” e “mandou matar todos eles”.

    Só que não! Isso é apenas a fantasia de Padilha –sempre tão diligente em seu esforço para encontrar o “lado bom” em torturadores como o capitão Nascimento e, agora, em agentes da DEA, em grupos de extermínio colombianos e no campeão do terror de Estado, Augusto Pinochet.

    Já está bem assentado o papel dos sicários a serviço de Augusto Pinochet no tráfico internacional de drogas. Coube a Manuel Contreras, braço direito do ditador e chefe da sinistra Dina (Direção de Inteligência Nacional), a polícia secreta do regime militar, a tarefa de transformar plantas inteiras do Exército chileno em unidades de processamento da coca.

    Contreras deu proteção a narcotraficantes em troca de financiamento para as atividades da Dina e do lobby cubano anticastrista. Em depoimento à Suprema Corte do Chile, em 1998, o próprio Contreras declarou que nada empreendeu nessa área que não fosse de conhecimento prévio do ditador Pinochet. Em nova acusação, feita em 23 de junho de 2006, Contreras afirmou que a origem da fortuna de Pinochet, estimada em 28 milhões de dólares, foi o tráfico internacional de cocaína.

    Segundo reportagem do jornal inglês “The Guardian” de 10 de dezembro de 2000, “apenas entre 1986 e 1987, 12 toneladas de drogas (…) saíram do Chile com destino ao território espanhol. A distribuição na Inglaterra e em outros países europeus era controlada pela polícia secreta baseada nas embaixadas de Estocolmo e Madri.”

    Pinochet era isso. Um vilão sem lado bom, apesar da boa vontade de Padilha.

    Mais informações:
    http://www.theguardian.com/world/2000/dec/10/chile.pinochet
    http://elpais.com/diario/2000/12/11/internacional/976489218_850215.html
    http://www.pagina12.com.ar/diario/elmundo/4-69699-2006-07-10.html