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Tag: Movimento Estudantil

  • “Nomeação de militar sem experiência com educação é novo desrespeito”

    “Nomeação de militar sem experiência com educação é novo desrespeito”

    Protesto de estudantes secundaristas em São Paulo contra Reforma do Ensino Médio Foto: Tuane Fernandes

    Indicado pela cúpula militar, por sugestão dos almirantes do governo, Carlos Alberto Decotelli é oficial da reserva da Marinha, o primeiro ministro negro do governo Bolsonaro e o terceiro a ocupar a pasta em um ano e meio. Economista e entendedor da área financeira militar, recebe o apoio de Paulo Guedes, ministro da Economia e foi nomeado nesta quinta, 25, à tarde, depois da fuga de Abraham Weintraub para o exterior, mesmo respondendo a inquérito do Supremo Tribunal Federal sobre a disseminação de Fake News e sobre ter evocado a prisão dos ministros do STF, a quem chamou de “vagabundos” em reunião do Governo Bolsonaro.

    O novo ministro da Educação já chega envolto na nuvem de uma suspeita   licitação montada durante sua presidência do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação – FNDE. A licitação tinha como objetivo adquirir, ao preço de R$ 3 bilhões, uma quantidade de computadores muitas vezes maior do que o número de alunos de escolas públicas que pretendiam beneficiar.

    A quantidade a ser comprada superava em muito o número de crianças nas salas de aulas de 355 escolas, conforme o jornalista Marcelo Auler. A Escola Municipal Laura Queiroz, do município de Itabirito/MG, com apenas 255 alunos, receberia 30.030 laptops, o que equivaleria a 117,76 equipamentos para cada aluno, ainda segundo o jornalista. Em setembro passado, a licitação foi suspensa, sem que até hoje ninguém esclarecesse o seu descalabro.

     

    Nota das entidades estudantis sobre a indicação de Carlos Decotelli para o MEC

    O governo anunciou o senhor Carlos Alberto Decotelli da Silva como novo ministro da Educação, o terceiro em menos de 1 ano e meio de governo, o que, por si, já demonstra a falta de compromisso com essa área fundamental. Ele assume após a fuga de Abraham Weintraub, o pior ministro da história do MEC, o que lhe traz certo conforto comparativo para iniciar seu trabalho.

    Embora possua trajetória acadêmica e possa vir a representar um deslocamento do grupo olavista na gestão, o novo ministro não tem experiência vinculada à educação, mas sim nas áreas financeira e militar, o que é sempre motivo de preocupação. A educação não pode ser tutelada nem por grupelhos ideológicos estar a serviço dos interesses do mercado financeiro.

    Os estudantes conduziram grandes mobilizações em defesa da educação durante o governo Bolsonaro e permanecerão mobilizados e atentos contra qualquer tipo de ataque. É preciso superar a lógica que elegeu a educação e a ciência como inimigas, frear o projeto de desmonte das áreas e adotar o caminho de investimentos robustos para assegurar que estas possam cumprir suas missões diante da profunda crise de saúde pública e econômica que o país atravessa.

    Entendemos que o próprio governo Bolsonaro é uma limitação para um projeto de fato compromissado com a educação e com os estudantes brasileiros. Mas reafirmamos nossa luta para que o MEC assuma uma agenda fundamental para o momento, que envolve pautas como: a aprovação urgente do novo FUNDEB permanente; saídas para a educação básica durante a pandemia; realização do Enem de maneira segura e no tempo adequado; garantia de auxílio aos estudantes das universidades privadas para pagar as mensalidades; investimentos emergenciais na ciência e nas universidades públicas para permanência estudantil; valorização e investimento na pós-graduação; e todos os esforços de combate ao COVID-19.

     

    UNE – União Nacional dos Estudantes

    UBES – União Brasileira dos Estudantes Secundaristas
    ANPG – Associação Nacional dos Pós-graduandos

  • Ativista ambiental executada é homenageada em conferência do PCdoB mineiro

    Ativista ambiental executada é homenageada em conferência do PCdoB mineiro

    No sábado, 23, o Partido Comunista do Brasil de Minas Gerais (PCdoB-MG) homenageou Rosane Santiago Silveira, ativista torturada e executada no dia 28 de janeiro, na cidade de Nova Viçosa (BA). A solenidade ocorreu durante conferência extraordinária do partido, no plenário da Câmara Municipal de Belo Horizonte. Os comunistas reuniram-se para discutir a incorporação do Partido Pátria Livre (PPL) ao PCdoB.

    Comunistas entregam flores aos filhos de Rô Conceição. Da esquerda para a direita: Jô Moraes, ex-deputada federal; Lyra Santiago, filha; Késsia Teixeira, presidenta da União da Juventude Socialista de BH; Thales Santiago, filho; Tuian Santiago, filho; Pedro Camargo, Secretário de Formação do PCdoB de Ouro Preto. Foto: Luana Ramalho

    Rô Conceição, como era carinhosamente conhecida, é natural do Espírito Santo, mas passou a maior parte da vida em Belo Horizonte (MG). Vivia em Nova Viçosa há 18 anos, onde era membro suplente do Conselho da Reserva Extrativista (RESEX) de Cassurubá, e lutava contra a produção e transporte fluvial de eucalipto dentro da área de proteção, que degrada o bioma do manguezal, ameaçado de extinção.

    Em Belo Horizonte, Rosane participou ativamente do movimento por moradia estudantil da Universidade Federal de Minas Gerais, integrando a ocupação estudantil Moradia Borges da Costa. Militava em movimentos culturais, sindicais e de defesa dos direitos humanos. Foi criadora da cantina natural do Diretório Acadêmico do Instituto de Ciências Biológicas da UFMG, onde eram promovidos eventos artísticos, produção de alimentos conscientes e ponto de encontro de gerações de amigos e militantes.

    Tuian Santiago Cerqueira, filho de Rosane, médico, agradeceu o gesto do PCdoB e do PPL. “é um grande ato da memória de uma pessoa que dedicou a vida para a luta”, afirmou. Ele também descreveu o ativismo ambiental de Rosane na RESEX de Cassurubá: “Minha mãe, nos últimos anos, lutava pela preservação de uma reserva extrativista. Lutava contra o dito progresso do capitalismo, com plantação de monocultura de eucalipto, transporte de madeira dentro da área da reserva, dragagem dos rios, morte de fauna e da flora.” Por fim, Cerqueira reforçou a provável natureza política do crime cometido: “Todos os indícios levam a crer que a motivação foi política. A própria polícia diz que foi um ato premeditado, bárbaro e com requintes de crueldade”.

    Cerqueira revelou, ainda, parte de um diálogo de Rosane com um amigo registrada em áudio: “Eu vim pra reflorestar tudo aqui de árvore, mas não eu sozinha. Não estou aqui para impor nada. Realmente eles nunca quiseram saber de montar associação, mas vamos precisar se quisermos fazer alguma coisa. Há 22 anos tento montar a associação [de proteção da Ilha da Barra Velha] se tivesse, a Barra Velha já estaria maravilhosa. Mas graças a Deus estamos vivos e ainda podemos fazer”.

    Sob grande comoção do plenário, a homenagem prosseguiu com o depoimento de Fernando Vaz, Sociólogo, amigo e antigo companheiro de militância de Rô. “Esta conferência pauta a unidade da resistência e ao mesmo tempo este momento triste, que é mais uma demonstração de força, arbitrariedade e falta de humanidade que estamos vendo no país. Este episódio é resultado de uma postura institucional, que intensifica e legitima ações de extermínio praticadas por estas pessoas. Foi um extermínio com traços muito claros de tortura. Precisamos saber o que fazer, as pessoas estão sendo mortas”, desabafou.

    Vaz pontuou que a história de Rosane está intrinsecamente ligado à história da UFMG. Eles militaram juntos na universidade por moradia estudantil e por creche. “Ela lutava para ser mãe, para ser trabalhadora, ter dignidade com seus filhos, um relacionamento com seu marido. Coisas que só quem é mulher no nosso país entende com profundidade. Estive com Rosane no final do ano e ela tinha um sorriso no rosto que era sua marca. Nunca a vi reclamando de nada na vida, só correndo atrás de pagar suas contas e lutar pelas coisas que ela acreditava”, concluiu.

    Na sequência, foi lido um manifesto (confira a íntegra no link) em homenagem a Rosane, que foi aclamado pelos presentes. “Rosane, alguns de nós a conheceram, muitos de nós não tiveram este privilégio, mas nós TODOS não te esqueceremos JAMAIS! Rô Conceição, presente!!”, encerra o texto. Os três filhos da ativista – Lyra, Tuian e Thales Santiago – acompanharam a solenidade e receberam flores, ato que encerrou a sessão solene.

    Veja mais:
    Da Rede Brasil Atual:
    _ Ativista assassinada em Nova Viçosa tinha recebido ameaças de morte. (Entrevista com Tuian Santiago Cerqueira)
    _ Polícia Civil amplia investigação de tortura e morte de ativista ambiental

    Do Brasil de Fato:
    Investigadores do assassinato de ativista na Bahia ignoram hipótese de crime político

  • Jovem beatboxer vence transtorno e agradece inspiração a ídolos do HIP HOP

    Jovem beatboxer vence transtorno e agradece inspiração a ídolos do HIP HOP

    Era o último dia de nossa cobertura especial da Virada de Ano na vigília Lula Livre em Curitiba, sábado 5, quando fui surpreendida por um jovem de 24 anos, militante da UJS (União da Juventude Socialista) de Novo Hamburgo (RS), pedindo para gravar uma homenagem em forma de agradecimento e beatbox aos seus dois grandes ídolos musicais, Mano Brown e Fernandinho Beatbox. Além de militante, Bily Ânderson Beatbox, como prefere ser chamado, se apresentou como beatboxer e B-Boy, e depois de uma surpreendente conversa, ele pergunta: “Me ajuda a realizar um sonho? O HIP HOP, o Beatbox e o Breaking salvaram a minha vida! Eu preciso agradecer esses caras. Eles são mais que referências pra mim, eles são luz.”  

    Ao perguntar de onde vinha e o por que de tamanha gratidão, Bily explica. “Fui diagnosticado aos sete anos de idade com TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade), além de um leve autismo, por um médico e uma assistente social muito bons do SUAS (Sistema Único de Assistência Social), um programa de Saúde Pública da época do governo Lula que defendo até hoje. Mas, o transtorno e principalmente o preconceito das pessoas não são fáceis de driblar, e aos 16 anos tentei o suicídio. Ainda bem que a esperança que tenho em me tornar um músico do HIP HOP e beatboxer profissional, mais a inspiração em meus mestres da cena pulsando na mente, mais a dança que pulsa em meu corpo, me mantiveram vivo.”

    Não me restava outra opção senão tentar ajudá-lo. Gravei e enviei o vídeo aos artistas pelas redes que, sensibilizados com a história de Bily Ânderson Beatbox, postaram ontem, quarta-feira 9, em seus perfis oficiais do Instagram: Mano no feed, com mais de 200 mil visualizações, e Fernandinho nos stories. Abaixo, o vídeo na íntegra:

    Desde os nove anos de idade, Bily já frequentava aulas de Breaking e Artes Visuais na Escola Municipal de Artes Carlos Alberto de Oliveira, antigo Ateliê Livre. Logo depois, durante seu tratamento do TDAH no CAPS (Centro de Assistência Psicossocial) de Novo Hamburgo, o médico e a assistente social que os atendia perceberam outro desafio clínico para sua saúde, que o levou a fazer uma cirurgia de retirada de um nervo com pontos de ligação nos mamilos e axilas, que hoje o possibilita andar e ter uma vida completamente normal. “Graças à minha mãe, que sempre me acompanhou, à equipe médica maravilhosa que cuidou de mim, ao movimento estudantil e ao meu sonho profundo em ser um beatboxer e um B-Boy reconhecido, hoje posso te contar tudo isso nessa entrevista”.  

    Entre os 15 e 16 anos, durante o Ensino Médio e um pouco antes dele conhecer a UJS e entrar para o movimento estudantil, o Beatbox entrou na vida do jovem após ele assistir ao programa Brothers, do Supla e do João Suplicy, na Rede TV.  “Tinha um cara fazendo Beatbox, achei incrível e pensei: vou juntar o Breaking, que eu já pratico, com o HIP HOP que adoro, mais a experiência no SUAS e no CAPS, vou me manter saudável e virar um beatboxer”. Foi então que Bily começou a treinar exercícios de respiração, movimentos com a boca e as mãos e nunca mais parou.  

    Logo depois, o jovem militante conheceu o B-Boying, uma dança de rua originada no Break, e se reconheceu também como um B-Boy, um dançarino que capta a essência do HIP HOP e suas batidas para dançar a qualquer hora, em qualquer lugar e dia, inclusive quando desafiado por outro dançarino, b-boy ou b-girl, em uma “batalha”, que é uma espécie de competição de rua.  

    “A arte do HIP HOP, do Beatbox e do B-Boying tem sido as armas mais poderosas pra derrotar o preconceito que eu sofri por ter o TDAH, o Autismo e todos os meus medos e fantasmas por consequência disso. A batalha da vida é grande, mas não é impossível se manter de pé. É preciso acreditar nos nossos potenciais e sonhos e correr atrás”, acredita Bily.  

    Há pouco mais de dois anos, ele criou um canal no YouTube para tornar o seu trabalho artístico conhecido. Mas, só conseguiu começar a investir profissionalmente em seu sonho no final de 2018, quando conseguiu juntar um pouco de recursos vindos de seu trabalho formal como auxiliar de atendimento em uma lanchonete no centro da cidade, de onde também tira ajuda no sustento da casa que mora com sua mãe. E, de sonho em sonho, Bily Ânderson Beatbox vai resistindo, buscando, persistindo e realizando na Arte, onde mais se sente humano, potente e feliz. 

  • Estudantes da UFMT na Luta para garantia de Direitos  — Alimentação como permanência Universal na Universidade Pública

    Estudantes da UFMT na Luta para garantia de Direitos  — Alimentação como permanência Universal na Universidade Pública

    No dia 9 de Fevereiro de 2018, a Administração Superior da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT) convocou os Diretório de Central dos Estudantes dos 5 campi do estado, para apresentar uma Política de Alimentação Estudantil na Universidade. No dia 20 de Fevereiro essa proposta foi apresentada no site da UFMT. A Política anterior — e vigente até o momento — proporciona que estudantes de graduação presencial paguem R$ 0,25 no café da manhã e R$ 1,00 no almoço/jantar. Com a primeira proposta os subsídio de 90% cobertos pela Instituição seriam de responsabilidade cada estudante, a menos que comprovasse renda de até 1,5 salário mínimo per capita.
    Após o anúncio do aumento das refeições, começaram as movimentações estudantis de todos os campi. Na UFMT em Cuiabá foram feitas vários Conselhos de Base Estudantil (CEB) e protestos, em diversos espaços da Universidade, principalmente no Restaurante Universitário (RU) que alertavam o provável aumento das refeições.

    Estudantes ocupam Conselho Diretor UFMT. Fonte: DCE Cuiabá

    Inicialmente não parecia muito nítido que o Movimento Estudantil (ME) conseguiria se reerguer, unindo grande parte dos estudantes da Instituição. No entanto, com força ainda maior, mais de 20 cursos ocuparam seus blocos e mais de 27 cursos deflagraram Greve Estudantil. E por fim, no dia 08 de maio é deflagrado Greve Geral Estudantil no Campus Cuiabá.
    No interior as greves iniciaram ainda antes, com grande parte dos campi em greve e ocupados pelos estudantes. Os campi com maiores movimentos são Araguaia, Sinop e Rondonópolis.

    Protesto no campus Araguaia. Foto: DCE Araguaia

    Por parte da Administração Superior da UFMT foram feitas Audiências Públicas em cada campus na tentativa de justificar os reajustes. Em Cuiabá, por exemplo, estavam presentes apenas a Pró-reitora de Planejamento (PROPLAN) Tereza Christina Mertens Aguiar Veloso e a Pró-reitora de Assistência Estudantil (PRAE) Erivã Garcia Velasco. Muitos questionamentos foram feitos pelos discentes, contudo, poucas respostas foram apresentadas pela Mesa que regia a Audiência.

    Audiência Pública na UFMT Cuiabá. Foto: Anne Martins

    A justificativa da mudança no valor do RU é feito pela redução do orçamento da Instituição. Segundo a PROPLAN da UFMT, em 2017, o Governo Federal fez um corte de mais 37 milhões. Já em 2018, o corte foi de 5 milhões. Segundo a Administração Superior os custos com alimentação chegam a 15 milhões por ano. Com a nova Política de Alimentação a UFMT atenderia mais estudantes com gratuidade na alimentação, aos que comprovarem renda inferior a 1,5 salário mínimo.
    Ao longo dos protestos dos estudantes, depois de ocupações de guaritas, blocos e deflagração de Greve Estudantil a Reitoria decide “começar o diálogo” com os estudantes. No entanto, ainda com muitas dificuldades, como por exemplo não comparecer a reunião marcada com os estudantes. Foi necessário mais resistência estudantil. Marchando para sede da Reitoria conseguiram que fossem atendidos por Myrian Serra — reitora da Universidade.

    O QUE OS ALUNOS REIVINDICAM?

    Problemas das propostas: atualmente a Universidade não atende todos alunos com bolsas de assistências estudantil. O número de alunos assistidos pela Pro-reitoria de Assistência estudantil não passa de 2 mil alunos, sendo que todo ano, o número de alunos que necessitam das bolsas cresce.
    Segundo estudos realizados por um grupo estudantes da UFMT que envolve alunos dos cursos de Saúde Coletiva, Biologia e diversas Engenharias, baseado no Relatório Anual de Gestão (RAG), o orçamento total da universidade em 2017 foi mais de 1 bilhão de reais. Além disso, denunciam que os corte estão sendo diretamente em auxílios estudantis, como bolsas do PIBID que, em 2015, atendiam 647 bolsistas, já em 2018 não há previsão de abertura a novos bolsistas.
    E principalmente não aceitam que a empresa Novo Sabor, pertencente ao empresário Alan Malouf, continue lucrando mais de 9 milhões de reais por ano só com o contrato com a Universidade.
    Os estudantes reivindicam a construção de uma Política de Alimentação que seja construída com toda comunidade acadêmica, que seja auto gerida. Acusam que os recursos da Universidade está sendo destinada ao lucro de empresas privadas que visa aumentar seus lucros.
    “Dizemos não aos cortes na Educação. Dizemos que Universidade Pública não serve para dar lucro a empresas privadas. E sim fortalecer Ensino, Pesquisa e Extensão da Universidade através dos atuação dos estudantes no Restaurante Universitário” afirmam os estudantes.
    Um grande questionamento dos estudantes frente a Reitora é: Qual é a relação com a empresa Novo Sabor e a atual Gestão da UFMT? Sendo o proprietário envolvido em grandes esquemas de corrupção em Mato Grosso.

    DIÁLOGO E AÇÃO?

    A promessa eleitoral da atual Gestão da Administração Superior da UFMT é “Diálogo e Ação”. No entanto, é fácil perceber que a Reitora utilizou esses dois termos apenas para campanha eleitoral — algo frequente no Brasil. Foram várias as tentativas dos estudantes para começar um diálogo com a Gestão da Universidade, porém, em todas as vezes houve sabotagem, implosão dos espaços e, como sempre, criminalização aos estudantes.

    E POR ISSO A RESISTÊNCIA CONTIUNA

    Mesmo após mais de quatro meses de resistência, os discentes demostram que a Luta por uma democracia direta e efetiva é possível. Sempre lembrado que GREVE NÃO É FÉRIAS, os estudantes realizam Assembleias, Plenárias, Oficinas, Palestras e outras atividades todos os dias, fortalecendo e construindo a Luta.

    Foto: CG UFMT Cuiabá

    Os estudantes seguem mobilizados em Greve e Ocupando o prédio da Reitoria da UFMT. Mesmo sendo pressionados e criminalizados pela Administração Superior da UFMT, os estudantes se esforçam para continuar a mobilização. Os mesmos exigem que a Reitora Myrian Serra assine um termo de compromisso de manter o RU a R$ 1,00 Universal até o final de sua gestão em 2020. E nesse período de mandato se busque através de Estudos, GTs, Fóruns e demais, um novo modelo de gestão do Restaurante. Com o propósito de garantia do valor possibilitando a permanência dos estudantes da Universidade.

    Foto: Olhar Direto

  • Justiça do Mato Grosso não sabe a diferença entre docentes e discentes

    Justiça do Mato Grosso não sabe a diferença entre docentes e discentes

    Fotos: Pedro Mutzenberg Filho – Especial para os Jornalistas Livres

    Os estudantes da Universidade Federal de Mato Grosso – UFMT estão há quase um mês em luta contra o aumento de quase 500% no preço que pagam pelas refeições nos Restaurantes Universitários – RUs. A instituição paga a uma empresa terceirizada (contratada primeiro sem licitação e que depois teria vencido uma concorrência e conquistado pelo menos quatro aditivos no contrato) cerca de R$ 1 milhão por mês apenas no Campus Cuiabá. O custo por refeição passa de R$ 10,00, mas os alunos pagam apenas R$ 1,00 para almoço ou jantar, com a Universidade arcando com o restante dentro da política de garantir a permanência de estudantes de famílias de baixa renda. Em uma vitória parcial na semana passada (veja aqui https://jornalistaslivres.org/2018/04/alunos-da-ufmt-conquistam-primeiras-vitorias-na-luta-contra-aumento-no-restaurante-universitario/), os discentes conseguiram adiar o aumento por pelo menos um mês. Mas na noite dessa sexta-feira (04/05) foram surpreendidos com uma decisão judicial de reintegração de posse dos cinco blocos de salas de aula e da guarita ocupados.

    Somente a Guarita 2 está ocupada, mas os pedestres podem passar sem problemas – foto: Pedro Mutzenberg Filho

    A decisão expedida pelo juiz Raphael Casella de Almeida Carvalho, da Justiça Federal, Seção Judiciária de Mato Grosso SJMT-TRF1, no entanto está repleta de erros e imprecisões. Para começar, apesar do cabeçalho trazer como réus “discentes não identificados”, no texto inteiro diz que a Autora (Fundação Universidade Federal de Mato Grosso FUFMT) narra da seguinte forma os fatos: “DOcentes não identificados estão bloqueando o acesso da UFMT, prejudicando o acesso de servidores e professores àquela IES, bem como dos demais usuários daquela instituição e moradores daquela região. Inclusive tais docentes ocuparam a Reitoria, tendo deixado o local apenas após conversa mantida com o Reitor”. Ora, o movimento, até agora, tem sido apenas dos alunos. O sindicato dos professores chamou uma assembleia extraordinária para terça-feira 08/05, às 7:30, para discutir os fatos e talvez deliberar uma greve, já que a categoria não chegou a uma decisão a esse respeito na assembleia geral ordinária de sexta-feira 04/04.

    Apesar da greve estudantil já atingir mais de 20 cursos da universidade, poucos blocos estão efetivamente ocupados – foto: Pedro Mutzenberg Filho

    A decisão, segue em erro ao afirmar que os acessos à universidade estão bloqueados. Existem duas guaritas principais para a entrada de automóveis, mais uma somente para pedestres e outro portão utilizado em geral para saída mas que eventualmente é aberto também para a entrada de carros. O movimento estudantil ocupa a Guarita 2, mas não impede o trânsito de pessoas em nenhum local e nem o de veículos nas demais entradas. Assim, até a tarde dessa sexta, os cursos que não estavam em greve estudantil (até o momento 20 decidiram por paralização) continuavam com suas atividades normais.

    Um dos primeiros blocos ocupados no final de abril foi o Didático II, pelos estudantes de Várzea Grande, que além de pagarem pelo cara deslocamento desde a cidade vizinha, agora estão ameaçados pelo aumento do RU – foto: Pedro Mutzenberg Filho

    Além disso, o próprio texto da decisão judicial (que traz ainda erros de concordância verbal), expressa que a tentativa de ocupação da reitoria foi resolvida com diálogo direto entre o então reitor em exercício, o vice-reitor Evandro Silva, e os alunos. Desse modo, causa estranheza que o juiz oficie à “Polícia Federal e ao Comando Geral da Polícia Militar/MT para que um contingente acompanhe o oficial de justiça no cumprimento da decisão , bem como mantenha a ordem no local”, o que aos ocupantes soa como uma ameaça de ação violenta contra os alunos na reintegração prevista para as 16:00.

    Possibilidade de violência policial na reintegração de posse preocupa estudantes inclusive porque alguns levaram os filhos pequenos para as ocupações – foto: Pedro Mutzenberg Filho

    Em resposta, os estudantes lançaram na manhã desse sábado, 05/05, uma nota oficial conforme íntegra abaixo:

    Os estudantes da UFMT do campus Cuiabá estão ocupados desde 24 de abril de 2018 e os estudantes do Campus Várzea Grande, desde o dia 26 de abril. O movimento de ocupação se iniciou na guarita 1 e se alastrou por 27 cursos.

    Ocupamos para pressionar a administração superior a barrar a proposta de aumento do valor do restaurante universitário.
    Entendemos que a nova política atende a um projeto de universidade que visa a educação como um espaço de expandir seus lucros.

    Hoje, estamos lidando com uma reintegração de posse da guarita 2, onde estamos ocupados, aguardando o tão esperado diálogo com a reitora.

    É muito triste que os estudantes tenham que lidar com essa pressão psicológica, enquanto lutam por seus direitos!

    Essa atitude de Myrian Serra, reitora da UFMT, não nos surpreende. Em 2013, enquanto pró-reitora de assistência estudantil, utilizou da mesma tática arbitrária contra a luta por moradia estudantil, em conjunto com a então reitora Maria Lúcia Cavalli, atual candidata a senadora.

    Atualmente, nos deparamos com retiradas de direitos e a repressão é a medida utilizada pelo governo golpista contra as pessoas que lutam para defende-los.

    Convocamos a comunidade a prestar solidariedade à nossa luta em defesa dos estudantes e da universidade pública.

    Decisão Judicial – Reintegração de Posse da UFMT

     

  • “UNE Volante: uma universidade chamada Brasil”

    “UNE Volante: uma universidade chamada Brasil”

    Por Camila Ribeiro para os Jornalistas Livres

    Teatro Guaíra lotado e filas do lado de fora. Ao abrir as cortinas o grupo de jovens, entre eles Carlos Lyra e Oduvaldo Viana Filho, além de se impressionar com a pequena multidão, logo anuncia: “O espetáculo não está pronto! Vamos montar no caminho. Vocês deram azar de ser a primeira cidade. Então vamos ler o texto aqui.” Foi assim que a UNE Volante estreou em Curitiba em meados de 62. Dentro de um mesmo ônibus a diretoria da União Nacional dos Estudantes (UNE) e do Centro Popular de Cultura (CPC), prestes a percorrer todo o Brasil levando o debate da reforma universitária defendida pela UNE e que fazia parte de um conjunto de reformas de base propostas pelo governo de João Goulart. Uma experiência que uniu as pautas reivindicatórias do movimento estudantil ao processo de criação estética.

    A peça em questão era o “Auto dos 99%”. Produzida pelo CPC da UNE, o espetáculo retratava a realidade da universidade e criticava o seu caráter elitista, que permitia a apenas 1% da juventude o acesso ao ensino superior no Brasil. De lá pra cá muita coisa mudou. A luta pela democratização do ensino empunhada pelo movimento estudantil avançou, principalmente após a última década de governos populares. O conjunto de políticas públicas que colocou no centro da política educacional a expansão do número de vagas, interiorização das universidades, criação de programas de acesso e as cotas, transformou radicalmente a base social da universidade.

    A Nossa geração passou a experimentar a sala de aula mais interessante da história do Brasil em termos de representação do povo brasileiro. Isso transformou qualitativamente as universidades. Dados do segundo relatório do Reuni apontam um crescimento substancial da pesquisas, o que gerou avanços nas áreas da saúde, medicina e engenharia, contribuindo substancialmente para o desenvolvendo de territórios e avanço da indústria nacional.

    Essa nova realidade do ensino superior impôs também novos grandes desafios como o combate à evasão, o que nos levou à necessidade urgente de lutar pela ampliação da política de permanência dessa nova base social. Outra questão central presente no interior da pauta da permanência estudantil é a necessidade de reconhecimento simbólico dos sujeitos e das classes que passaram a acessar um espaço que lhes foi historicamente negado. A universidade precisa criar condições para que todas as pessoas participem da criação e recriação de significados e valores culturais de seu povo. Nesse sentido, o acesso é insuficiente, sem a transformação dos currículos, dos modelos de pesquisa, a defesa da democracia interna das Instituições de ensino e a defesa da autonomia do movimento estudantil na ponta.

    No entanto, todo esse processo de transformação está sendo duramente interrompido pelos efeitos da crise econômica e política que o Brasil atravessa. Ainda, a Emenda Constitucional 95, que coloca o teto nos investimentos a partir de 2018, representará um desafio enorme para manter a universidade pública funcionando.

    É preciso dizer que as universidades públicas ainda passam por um forte ataque a sua autonomia. Operações policiais vem praticando conduções coercitivas de dirigentes de universidades que nunca se negaram a prestar esclarecimento, como foi o caso recente da UFMG e da UFSC que teve um desfecho trágico com a morte do professor Cancellier.

    Nossa geração tem a responsabilidade histórica de fazer a defesa da universidade pública, gratuita e de qualidade. É nesse contexto que mais uma vez a União Nacional dos Estudantes e o CUCA da UNE relançam o desafio de percorrer o Brasil com mais uma edição da UNE Volante.