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Tag: mídia internacional

  • Hail Trump

    Hail Trump

    Historicamente a imprensa tem um papel fundamental nas sociedades ao escolher, separar, resumir e explicar os acontecimentos mais importantes à maioria da população. Somos historiadores do cotidiano e nossa obrigação principal é, ou deveria ser, fazer a Comunicação Social, ou seja, mostrar o que acontece nos vários setores da sociedade: as demandas, as vitórias, as ideias… Mais que isso, temos a obrigação de analisar os movimentos políticos e sociais e investigar para desnudar os interesses dos vários grupos que se chocam. Mas pelo que se vê pelo mundo hoje, estamos fracassando nessa missão. Tanto o jornalismo hegemônico como as mídias alternativas temos urgentemente de rever nossa atuação, nossos métodos, nossa empáfia. E especialmente no que tange ao jornalismo político, pois o mundo segue célere (também devido à nossa ação ou inação) para uma nova onda de fascismo que pode nos varrer a todos.

    Ao lado dos "carecas", grupo que defende a supremacia branca no Brasil, manifestante pela intervenção militar ostenta o logotipo do DOPS na camiseta - São Paulo 15/03/2014 - foto: www.mediaquatro.com
    Ao lado dos “carecas”, grupo que defende a supremacia branca no Brasil, manifestante pela intervenção militar ostenta na camiseta o logotipo do DOPS, órgão da repressão a esquerdistas e jornalistas durante a ditadura civil-militar de 1964 a 1985 – São Paulo 15/03/2014 – foto: www.mediaquatro.com

    O exemplo mais emblemático disso é a recente eleição nos Estados Unidos, onde apesar da maior parte da imprensa ser crítica à sua candidatura, mais uma vez (como aconteceu na disputa entre Al Gore e Bush Jr em 2000) uma minoria dos votos populares elegeu um presidente pelo Colégio Eleitoral. A campanha do magnata do mercado imobiliário e apresentador de TV Donald Trump já demonstrava que ele poderia contar com os votos dos racistas, homofóbicos e xenófobos. Mas após as eleições, grupos ainda mais radicais como a Ku Klux Klan e os Supremacistas Brancos têm saído às ruas sem qualquer pudor de expor seus perigosos preconceitos. É o caso do Alt-Right, braço do National Policy Institute. No vídeo abaixo, divulgado pelo site The Atlantic, o líder do movimento, Richard B. Spencer, abre seu discurso para mais de 200 participantes da conferência anual da entidade, no último dia 19 de novembro, com a saudação nazista: “Hail Trump, hail our people, hail victory!” (“Salve Trump, salve nosso povo, salve a vitória!”).

    https://www.facebook.com/TheAtlantic/videos/10154823525748487/

    Outros trechos do discurso, lido e não de improviso, disponíveis no vídeo deixam claro que não se trata de qualquer descuido. Ele sabe exatamente o que está fazendo. Assim como os brasileiros que foram às ruas com camisas da seleção brasileira pedir “nosso país de volta”, ele afirma categoricamente: “America was until this past generation a white country designed for ourselves and our posterity. It is our creation, it is our inheritance, and it belongs to us.” (“Os Estados Unidos eram até a última geração um país branco desenvolvido para nós e nossos descendentes. É nossa criação, nossa herança e pertence a nós”).  O racismo fica evidente quando ele diz que “To be a white is to be a striver, a crusader, an explorer, and a conqueror. We build, we produce, we go upward and we recognize the central lie of the American race relations. We don’t exploit other groups, we don’t gain anything from their presence. They need us not the other way around”. (“Ser branco é ser um lutador, um cruzado, um explorador e um conquistador. Construímos, produzimos, vamos para cima e reconhecemos a mentira central das relações raciais americanas. Nós não exploramos outros grupos, não ganhamos nada com sua presença aqui. Eles precisam de nós e não o contrário”.)

    Assim como nos EUA, senhores brancos exigem "seu"país de volta. Marcha com Deus e a Família em 2014 tinha todos os elementos das manifestações pelo golpe em 2015 e 2016 - - São Paulo 15/03/2014 - foto: www.mediaquatro.com
    Assim como nos EUA, senhores brancos exigem “seu”país de volta. Marcha com Deus e a Família em 2014 tinha todos os elementos das manifestações pelo golpe em 2015 e 2016 – São Paulo 15/03/2014 – foto: www.mediaquatro.com

    Quando fala da imprensa, Spencer se aproxima ainda mais do nazismo, usando duas expressões em alemão: ‘Lugenpresse’ (imprensa mentirosa, usada nos anos 1940 pra se referir à mídia crítica à ascensão do Nacional Socialismo) e ‘Golem’ (ser mítico da cabala judaica que ganha vida a partir de coisas inanimadas). “The mainstream media, or perhaps we should refer to them in the original German ‘Lugenpresse’ […] It’s not just they’re leftists and cucks. It’s not just many are genuinely stupid. Indeed, one wonders if these people are people at all, or instead soulless ‘Golem’ animated by some dark power to repeat whatever talking point John Oliver stated the night before.” (“A grande mídia, ou talvez devêssemos nos referir a eles no original alemão ‘Lugenpresse’ […] Não são apenas esquerdistas e idiotas. Não se trata de muitos serem apenas genuinamente estúpidos. De fato, deveríamos nos perguntar se essas pessoas são realmente pessoas, ou, em vez disso, algum ser sem alma, um ‘Golem’ animado por algum poder negro para repetir qualquer opinião que John Oliver –apresentador do programa sobre jornalismo Last Week Tonight da HBO – tenha dito na noite anterior.”).

    O símbolo do sigma em preto no círculo branco sobre o fundo vermelho era usado pelos integralistas de Plínio Salgado, versão brasileira do nazismo - São Paulo 15/03/2014 - foto: www.mediaquatro.com
    O símbolo do sigma em preto no círculo branco sobre o fundo vermelho era usado pelos integralistas de Plínio Salgado, versão brasileira do nazismo – São Paulo 15/03/2014 – foto: www.mediaquatro.com

    E ele continua, demonstrando claramente nossa culpa nesse estado de coisas: “The press has cleary decided to double down and wage war against the legitimacy of Trump and the continued existence of White America. But they are really opening the door for us.” (“A imprensa claramente decidiu nos abater com uma guerra contra a legitimidade de Trump e a contínua existência da América Branca. Mas na verdade o que fizeram foi abrir as portas para nós.”). Veja a matéria completa em inglês sobre o episódio em https://www.theatlantic.com/politics/archive/2016/11/richard-spencer-speech-npi/508379/?utm_source=atlfbcomment

    Aqui no Brasil, a mídia hegemônica nacional ou apoiou abertamente ou não conseguiu desconstruir os falsos discursos moralistas e de eficiência empresarial que levaram (sem uma contrapartida efetiva da mídia independente) a eleições como a de Curitiba num sujeito que vomita na presença de pobres, no Rio de Janeiro de um pastor racista e homofóbico e em São Paulo de um ex-presidente da Embratur expulso no governo Sarney por corrupção (!) cuja esposa acha que o problema da pobreza é ser obrigada a contratar funcionárias desnutridas que não sabem fazer o serviço ou já vêm com “vícios” de outras patroas.

    Cerca de 200 pessoas se concentram na Plaza de Oriente de Madrid para recordar e homenagear o ditador Francisco Franco quando se completam 41 anos de sua morte. Foto: EFE/Zipi - Fonte: http://www.publico.es/politica/activista-lagarder-agredido-200-nostalgicos.html
    Cerca de 200 pessoas se concentram na Plaza de Oriente de Madrid para recordar e homenagear o ditador Francisco Franco quando se completam 41 anos de sua morte. Foto: EFE/Zipi – Fonte: http://www.publico.es/politica/activista-lagarder-agredido-200-nostalgicos.html

    Para mostrar que o movimento não se restringe aos Estados Unidos ou o Brasil, vejam o a matéria em espanhol do jornal Público sobre as manifestações pela volta do regime franquista na Espanha no último domingo 20 de novembro (http://www.publico.es/politica/activista-lagarder-agredido-200-nostalgicos.html). Apesar de um ativista sem teto ter sido agredido, não há notícia de nenhum manifestante detido e processado, da mesma forma como ninguém foi preso pela invasão do plenário o Congresso brasileiro na semana passada por saudosos da ditadura de 1964 (https://www.nexojornal.com.br/expresso/2016/11/16/Grupo-pr%C3%B3-interven%C3%A7%C3%A3o-militar-invadiu-a-C%C3%A2mara.-Como-reagiu-quem-foi-eleito-para-estar-ali). Os partidários da “intervenção militar constitucional”, aliás, foram os verdadeiros ideários das manifestações pelo impeachment da presidenta Dilma Roussef, como pode ser facilmente comprovado em nossa matéria cobrindo a reedição da Marcha Com Deus e Família em 15 de março de 2014, portanto exatamente um ano antes da primeira grande manifestação em São Paulo. As fotos brasileiras que ilustram esse artigo vêm dela, disponível em https://brasilmais40.wordpress.com/2014/03/26/a-volta-dos-que-nao-foram/.

    Urge mudarmos a nós e a nossa imprensa para voltarmos a fazer do jornalismo um bem público para o bom desenvolvimento cultural, social, intelectual e econômico de TODAS as pessoas, especialmente as mais necessitadas.

  • Os coleguinhas fotógrafos não querem ser chamados de golpistas

    Os coleguinhas fotógrafos não querem ser chamados de golpistas

    São golpistas sim e agora aguentem as consequências!

    Quando começou todo o processo do impeachment, eu era a única voz entre os fotógrafos que cobrem o Palácio do Planalto que dizia que era um golpe. Chegava todos os dias para trabalhar e, em alto e bom som, soltava um “bom dia mídia golpista!”. No começo, os coleguinhas levavam na brincadeira, mas o tempo foi passando e o golpe se consolidando.

    Quando o processo passou na Câmara, eu virei alvo de piadinhas nos corredores, coberturas jornalísticas e nos bares. Fui chamado de louco, disseram que eu precisava tomar remédio. Ouvi muita piadinha dentro do Planalto e no Congresso dos fotógrafos machões, homofóbicos, preconceituosos, arrogantes e misóginos. São analfabetos políticos. E, ainda se acham melhores do que qualquer trabalhador por ter uma credencial para entrar nos Palácios.

    Nos anos do PT, ouvi frases como: “Como o ar esta fedido hoje aqui”, referindo-se aos integrantes de movimentos sociais que participavam de cerimônias. Que nojo! Para esse tipo de gente, pobre não tem direito a frequentar aeroporto. Isso sem falar dos comentários misóginos sobre a presidenta Dilma. É de dar asco!

    O que esperar de um fotógrafo que fala que o maior problema do casamento são as mulheres?! A misoginia ajudou a derrubar a primeira mulher eleita desse País. Se fosse um homem no lugar dela, não teria passado pelo que Dilma passou. Para esse tipo de gente, as suas mulheres devem ser lindas, recatadas e do lar.

    Ouvi também dos coleguinhas jornalistas que eu estava remando contra a maré. Era maluco de ser uma voz solitária no meio daquele massacre midiático. Olhares de reprovação. É como se falassem: o que esse petista está fazendo aqui? O jornalismo que idealizamos morreu e um novo jornalismo alternativo está surgindo e expondo as “grandes” redações, que transformaram fotógrafos em meros apertadores de botão. Recebem uma pauta e sequer sabem o que está por trás dela. Há uma grande diferença entre petista e jornalista e espero que procurem no dicionário a resposta.

    Agora não querem ser chamados de golpistas?

    SÃO GOLPISTAS e a nossa imprensa está na lata de lixo da

    história, ao contrário da mídia internacional, que enxergou o golpe.

    Quando estavam batendo na presidenta Dilma não queriam saber o que viria depois, agora aguentem as consequências de ter que ir para as ruas e serem escrachados durante as coberturas das manifestações contra o governo golpista, contra a mídia golpista e contra os corruptos que vocês ajudaram a colocar no poder.

    Aguentem e paguem pelas mentiras ditas, mentiras fotografadas e por ter ajudado a derrubar uma presidenta eleita com mais de 54 milhões de votos. Não é por acaso que a credibilidade da imprensa vai ladeira abaixo. Os leitores/eleitores estão cobrando. Fizeram agora paguem.

    Não venham com a desculpa de que são trabalhadores

    e a culpa é dos donos dos jornais.

    Vocês são os jornalistas que estiveram na linha de frente na hora buscar as informações e sabiam muito bem o que seus editores queriam e fizeram direitinho para manter seus empregos. Ligaram o foda-se para o País e a democracia. Não tentem arrumar um culpado pelo seus erros, vão ser chamados de golpista sim. Seus chefes golpistas, que ajudaram o golpe, vão continuar nas suas salas com ar condicionado e vocês vão ter que ir para ruas e as ruas os esperam.

    Estou na profissão há 35 anos, cobri a redemocratização, reforma constitucional, impeachment do Collor, anões do orçamento e fiz tantas outras matérias maravilhosas. Nos últimos anos, no entanto, a parcialidade virou rotina, omissão, manipulação… dois pesos e duas medidas. O objetivo era tirar o PT do poder. Não vi nada parecido com outros partidos. E hoje, a mídia altenativa, como os jornalistas livres, mídia ninja e tantos outros surgiram com o compromisso com a verdade e a democracia.

    Ontem fui acusado de viver para ter likes.

    Nós, verdadeiros jornalistas queremos divulgar a verdade

    e os likes são resultado do nosso trabalho sério e honesto.

    Mostramos a verdade, sem manipulação, ao contrário dos veículos tradicionais. Não concordo com a violência e me solidarizo com meus colegas, Lula da Record e Kleiton do UOL, profissionais que respeito. Venceram na profissão e foram atacados por radicais de esquerda. Sigo na luta para acabar com a corrupção e desigualdade social.

    Minha escola de jornalismo sempre foi a liberdade e democracia.

    Não faço e nunca vou fazer parte de grupinhos que se comunicam e trocam mensagens pelo WhatsApp para não perderem uma foto e serem demitidos. Meu compromisso é com o leitor. Não tentem arrumar o culpado de tudo que vocês provocaram. Um dia espero que a consciência mostre o quando foram pequenos.