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  • Globo promove um “Diretas-já às avessa” pra chamar paulistas pra rua: discurso na tela não batia com imagens nas ruas

    Globo promove um “Diretas-já às avessa” pra chamar paulistas pra rua: discurso na tela não batia com imagens nas ruas

     

    Essa a manifestação pela Democracia chamada pela Globo. Foto: Vio Mundo

    A tática foi muito clara: de manhã, manifestações fracas Brasil afora (com exceção de Belo Horizonte e Brasília) serviram pra Globo fazer o “esquenta” para a tarde.

    O que interessava era um “show” na tela, pra animar a paulistada a sair de casa. O Esporte Espetacular da Globo era interrompido a cada dez minutos para “giros de repórteres”. O âncora Alex Escobar (aquele que Dunga humilhou em 2010 — “tu és um cagão de merda”) tinha a frase pronta pra chamar as entradas ao vivo: “vamos acompanhar as manifestações pela Democracia, contra a corrupção e contra Dilma”.

    Diretas-já às avessa

    Nessa imagem, Globo viu 15 mil pessoas no Rio

    No Rio, três repórteres ao vivo. Conheço todos eles, devem estar envergonhados do que foram obrigados a fazer. Frases ensaiadas: “muitas famílias, protesto pacíficos, camisas amarelas, famílias inteiras.” Ops, mas atrás do repórter passa um rapaz com cara de ódio, e a foto do Bolsonaro estampada na camiseta. O câmera, esperto, desvia para um plano geral.

    Números no Rio. “Os manifestantes falam em cem mil pessoas, mas a PM diz que são 15 mil“. O diabo é que esqueceram de combinar com o diretor de TV, que tasca um plano aberto da avenida Atlântica. Eram 5 mil pessoas, no máximo. Entra matéria (excelente, por sinal) sobre Jairzinho e a Copa de 70. “Noventa milhões em ação…”.

    Como dizia Dunga…

    Mas Escobar chama a rua de 2015, de novo: outra repórter, agora do alto de um prédio na avenida Atlântica. Pior ainda: tá na cara que está vazio. E a jornalista comete ato falho glorioso: “muitos cartazes mostram Contentamento com Dilma”. Ops.

    Jornalistas da Globo estavam instruídos para chamar as manifestações como “ato pela Democracia”. O diabo são as imagens ao vivo, fora de controle. Ao fundo, um cartaz pede “intervenção militar já”.

    No Rio, apareceu uma suástica e cartazes pedindo “intervenção militar”. De Belo Horizonte, imagens de mais gente nas ruas. Mas parece que ali a Globo estava menos preparada.

    Repórter faz entrada sóbria, não precisa apelar. Discrição mineira.

    Brasília também: bastante gente. Mas não as “40 mil pessoas” que a Globo comprava como verdade. O Plano aberto desmentia a narrativa montada por Ali Kamel.

    Fora do circuito Rio-Brasilia, o Escobar sofria mais. Ele chama Aracaju, e a moça não percebe que já está a vivo. A repórter grita pra meia dúzia ali na frente: “canta o hino, canta o hino”. O aúdio vaza, o povo xinga Dilma. De repente, ela percebe a gafe, fala um pouco, e o povo obediente começa o hino.

    A Globo está no comando. Um cartaz erguido diz: “FFAA salvaram o Brasil em 64″. Parceria bonita essa!

    Fortaleza entra pela segunda vez e…. Surpresa: “os manifestantes já se dispersaram“, diz o repórter meio envergonhado. Rua vazia.

    Com essa imagem na tela, a repórter falou em “30 mil contra a corrupção” em Ribeirão Preto.

    O mais constrangedor: entrada de Ribeirão Preto. E a repórter: “muita gente nas ruas contra a corrupção, são 30 mil pessoas”. As imagens mostravam ruas quase vazias…

    Belém também: pouca gente.

    Volta pro Rio. A classe média chega ao fim de sua gloriosa marcha na manhã ensolarada. O local escolhido para o “gran finale”? Copacabana Palace — símbolo da aristocracia decadente carioca, símbolo das lilys e blochs com seu dinheiro escondidinho na Suíça.

    Ali Kamel passou a manhã tentando insuflar os números, encher a bola da manifestação.

    Nesta manhã de domingo, a Globo promoveu um “DiretasJá às avessas” (para os mais novos: em 1984, milhares foram as ruas pedir a volta à Democracia; no dia 25 de janeiro de 84, havia 300 mil na praça da Sé, e a Globo noticiou como ‘festividades pelo aniversário da capital paulista”; Ali Kamel escreve artigos até hoje para negar que Globo tenha manipulado 1984, assim como nega que haja racismo no Brasil).

    Aliás, nas imagens de Salvador (a Globo falou em 4 mil manifestantes no Farol da Barra, a imagem mostrava uns mil no máximo) chamava a atenção a ausência de negros. “Parecia Blumenau”, escreveu um internauta. Peraí: nas manifestações do Ali Kamel não há racismo. Esse é o Brasil branquinho que está nas ruas…

    E segue Escobar, mais entradas, mais vivos… A ideia era animar os paulistas de classe média — que acordam tarde e gostam de aumentar o barrigão em festins gastronômicos nas padarias, nas manhãs de domingo.

    Vendo as imagens na Globo, centenas botaram suas camisas amarelas e foram pra Paulista — onde certamente o ato seria grande.

    Na GloboNews, os comentaristas jogavam junto com os manifestantes. Mas havia dissonâncias. Um apresentador pergunta a Cristiana Lobo: ‘as manifestações contra Dilma no Nordeste foram só em bairros ricos — Boa Viagem no Recife, Farol da Barra -você acha que o PT vai explorar isso”. E a Cristiana: “veja bem…”

    Diretasjá às avessas, para insuflar São Paulo contra Dilma. O Brasil repete 1954 e 1964.

    Dilma, se ainda tiver um pingo de sangue brizolista nas veias, enfrenta a Globo agora. A Globo é o centro do golpe. Põe gente nas ruas, sim — especialmente em São Paulo, Brasília. No Rio, põe menos. A Globo tem força, mas o #globogolpista e o #famíliaMarinhonoHSBC comandando as redes sociais mostram que a direita não vai dar um passeio.

    (relato provisório, escrito antes da manifestação em São Paulo)


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  • Em maior ato do ano, São Paulo dá seu recado contra o impeachment

    Em maior ato do ano, São Paulo dá seu recado contra o impeachment

     

    Cerca de 100 mil pessoas — de acordo com os organizadores da manifestação — tomaram as ruas da capital para pedir a reforma política, protestar contra os ajustes fiscais e defender a Petrobras e a democracia diante do acirramento dos movimentos golpistas

    São Paulo ficou mais vermelha na tarde desta sexta-feira (13). Convocado pela Central Única dos Trabalhadores (CUT), com o apoio do Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST), Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) e outros movimentos sociais, a manifestação contra o levante golpista que vem se acirrando no país reuniu, de acordo com os organizadores do protesto, cerca de 100 mil pessoas (a Polícia Militar fala em 12 mil, número que é facilmente desconstruído com os registros do evento).

    Foto: Mídia NINJA

    Recado contra o impeachment

    A ideia do ato não foi necessariamente apoiar o governo de Dilma Rousseff, e sim protestar contra os recentes ajustes fiscais promovidos pela presidenta e que têm afetado os direitos dos trabalhadores. Diferentemente daqueles que pretendem ir às ruas no próximo domingo (15), no entanto, a manifestação dos movimentos sociais teve como mote, também a defesa da Petrobras e da democracia.

    “Quem está achando que é um ato de guerra está muito enganado. Tem uma parcela querendo dividir o Brasil. Nós queremos unificar. Quem quer derrotar o governo, que o faça daqui a quatro anos, na próxima eleição”, afirmou o presidente da CUT, Vagner Freitas, salientando ainda que os movimentos vão “apresentar propostas de política econômica para ajudar o país a voltar a crescer”.

    Foto: Mídia NINJA

    Adilson Araujo, presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), foi além: “Não podemos vacilar. Há uma onda golpista e conservadora querendo se aproveitar do momento. Além disso, essa onda conservadora está no Congresso e coloca em risco os direitos da classe trabalhadora”, afirmou.

    Em um trajeto que foi do prédio da Petrobras na avenida Paulista até a Praça da República, no cento da capital, as milhares de pessoas presentes resistiram à forte chuva e, aos gritos de “Democracia, democracia” ou palavras de ordem contra o retrocesso nas políticas sociais, mostraram que estão dispostos a cobrar o governo federal sem se render à onda conservadora que pede o impeachment de Dilma Rousseff.

    Adriano Digo, ex-deputado estadual pelo PT, enalteceu o fato das pessoas estarem se mobilizando conta o golpe que, na sua opinião, já está armado. O petista ainda fez críticas ao governo por permitir que esse tipo de movimento — o que pede volta dos militares ou impeachment — cresça de maneira tão exponencial.

    “Os caras estão preparando esse golpe desde a Copa e ninguém está fazendo nada, nada, nada! Parece que está pedindo pra tomar um golpe. O PSDB financiando reunião, organização de manifestação de direita e o PT parado, nós não fazemos nada. Como deixam armar um golpe desse jeito? É loucura total. Ainda bem que hoje há essa mobilização, é hora de ragir!”, disse.

    O ex-senador Eduardo Suplicy e atual secretário de Direitos Humanos de São Paulo, Eduardo Suplicy, também esteve presente e saiu em defesa da manutenção do atual governo.

    “Em 2014, foi a sétima eleição livre e direta que tivemos. Felizmente, a presidenta Dilma venceu, e isso precisa ser respeitado e apoiado. Eu apoio a presidenta Dilma, apoio a democracia e não quero saber de nenhum tipo de golpismo. Estou aqui em solidariedade aos trabalhadores e ao povo de São Paulo, que mostra sua vontade em respeitar a democracia”, afirmou.

    Revoltados ignorados

    Depois de prometer fazer um ato no mesmo local que a manifestação dos movimentos sociais, os membros dos “Revoltados Online”, grupo que vem puxando mobilizações em prol do impeachment, bem que tentaram chamar atenção, mas foram completamente ignorados pelos presentes.

    Na última quinta-feira (12), um de seus líderes, Marcello Reis, havia informado que esperava confronto com os trabalhadores da CUT e os defensores do governo mas não foi exatamente isso o que aconteceu.

    Ainda no início da manifestação, quando os movimentos estavam concentrados em frente ao prédio da Petrobras, três membros que se disseram “simpatizantes” dos Revoltados Online estavam presentes entre os trabalhadores. Facilmente identificáveis por suas bandeiras do Brasil, eles selecionavam os militantes que passavam nas proximidades para gritar jargões do tipo “Fora Dilma”, “Viva o Brasil” ou abrir cartazes com ofensas ao governo.

    “Esses caras são todos comprados, todos recebem Bolsa Família”, diziam, intercalando algumas vezes com um “Domingo tamo junto!”, em um claro tom provocativo.

    Bem que tentaram seguir os objetivos de Marcello Reis e incitar o confronto, mas não adiantou. Completamente ignorados, os manifestantes pró impeachment serviram, nesse dia, apenas para integrar as cerca de 50 pessoas que ficaram no local depois que a manifestação da CUT seguiu para a Praça da República.

    Só a chuva, que inflamou a manifestação dos movimentos sociais, foi o suficiente para acabar com o “esquenta” dos revoltados.e

    Independente da repercussão do protesto convocado para o dia 15, os movimentos sociais, por sua vez, prometem ocupar as ruas inúmeras outras vezes para cobrar mudanças e defender a manutenção da democracia.

    *Jornalistas Livres é uma rede de comunicadores independentes espalhada pelo Brasil que nasceu com o intuito de construir novas narrativas diante da cobertura da imprensa tradicional para com o cenário político.

     

  • O dia em que Reinaldo Azevedo me ameaçou no metrô

    O dia em que Reinaldo Azevedo me ameaçou no metrô

     

     

    Desde que eu saí da Folha, no passaralho de novembro passado, sigo cobrindo protestos, manifestações e outros eventos político-sociais por conta própria, para registrar um momento que de repente só passou na minha frente. E foi exatamente o que aconteceu hoje.

    Estava na linha vermelha do metrô em direção à República, e depois, à Paulista, para cobrir o protesto marcado para este 15/3, filmando as pessoas quase todas vestidas de verde e amarelo, quando de repente entra no vagão o bastião dos manifestantes no jornalismo brasileiro: Reinaldo Azevedo, blogueiro da Revista Veja e colunista da Folha de S. Paulo.

    Segui filmando e fotografando o vagão, desta vez, dando foco ao ilustre personagem. A gente toda o saudava e dizia coisas como “reinaldo, você nos representa”. A casualidade seria apenas cômica não fosse a ira de Azevedo, que passou a me fotografar. “Vou tirar fotos suas porque se você fizer alguma merda com a minha imagem, eu te processo” disse.

    Descemos na mesma estação para fazer baldeação e como as pessoas seguiam pedindo fotos, autógrafos e o bajulando de todas as maneiras possíveis, acreditei que aquele personagem poderia continuar rendendo e segui de perto o jornalista.

    Reinaldo Azevedo me ameaçou no metrô

    Incomodado com a minha presença, sempre a pelo menos dois metros de distância, Azevedo pediu que eu saísse da estação e respondi que não, afinal, sou cidadã, e que assim como ele (que também filmava e fotografava a movimentação das pessoas), tenho direito de usar o metrô e fazer registros respeitando limites.

    Quando descemos na estação Paulista, Reinaldo puxou meu braço até chegarmos perto dos seguranças do Metrô. Azevedo se queixou aos guardas, de que eu o estava perseguindo havia três horas, e eu respondi que apenas estava trabalhando e o havia encontrado há poucos minutos.

    Os seguranças me perguntaram se eu era jornalista e eu disse que sim. Me perguntaram para qual veículo eu trabalhava e respondi que agora sou freelancer, mas que havia trabalhado para a Folha até ano passado. Me liberaram, e seguiram escoltando Azevedo até a saída da estação, quando ele começou a me filmar, dizendo:

    – Vou filmar bem você e te colocar no meu blog. Isso não vai ficar assim!

    Já na esquina da Consolação com a Paulista, o jornalista pediu ajuda à polícia, fazendo a mesma queixa que havia feito aos seguranças do Metrô.

    Um policial tentou me impedir de seguir pela Paulista, mas não permiti, dizendo que não estava fazendo nada de errado e que eles não poderiam me impedir de seguir. Outro policial impediu que eu passasse e me pediu documento. Me fichou e disse que faria o mesmo com Azevedo. O que na verdade não aconteceu.

    Ao perceber que a ira do jornalista estava crescendo, perguntei se toda aquela animosidade se devia ao fato que eu estava usando uma camisetinha vermelha. Se fosse esse o problema, eu poderia trocar de roupa.

    Já na Avenida Paulista, o blogueiro começou a encontrar amigos e a apontar para mim, de longe. Senti que minha integridade física poderia entrar em risco, caso seguisse trabalhando à sua vista em meio àquela aglomeração de gente que sequer admitia que alguma peça de roupa atravessasse a manifestação. Ao caro colega de profissão, um recado: foi a ausência do ideal democrático que me assustou, não você.


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  • Os defensores do impeachment são brancos

    Os defensores do impeachment são brancos

     

    A população negra não foi aos atos de 15 de março. Entre os cerca de 1 milhão de manifestantes — segundo a PM, ou 210 mil, segundo o Datafolha — na avenida Paulista, em São Paulo, e os seis mil, na orla da Barra, em Salvador, havia pouquíssimos negros. Considerando que a grande maioria (76,3%) da população da Bahia é negra e que o estado de São Paulo concentra 34, 6% de negros, as manifestações contra a presidente Dilma não foram representativas. A explicação é evidente: as políticas associadas especificamente a essa parte de brasileiros — 51% da população do país — não estavam sequer consideradas.

    Foto: Mídia NINJA

    Os defensores do impeachment são brancos

    “O principal objetivo das manifestações do dia 15 de março não contempla os anseios da comunidade negra”, explica o sociólogo Marcelo Arouca, 34 anos, um dos fundadores do Núcleo de Estudantes Negros da Universidade Federal da Bahia. A pouca presença de negros nos protestos de domingo evidencia algo ainda mais grave. O que uniu tanta gente nas ruas é também reação às conquistas do movimento negro nos últimos 10 anos, como direitos trabalhistas das domésticas e adoção de cotas em universidades federais.

    “Essas políticas incomodam a elite branca. Os mesmos que estiveram reivindicando hoje são aqueles que enriqueceram à custa da escravidão negra e que não se conformam com o mínimo de reparação do Estado”, avalia Arouca.

    Para minimizar o desequilíbrio representativo entre os manifestantes de domingo, organizadores fizeram questão de posicionar os poucos negros que participaram do ato em destaque.

    Foto: Ana Menendes

    Seria uma forma de tentar maquiar o que ficou explícito: a demanda por combater a corrupção é uma pauta comum a qualquer um, mas não reflete os anseios das parcelas mais reprimidas e desfavorecidas da sociedade brasileira. Essas demandas continuarão fora da pauta se depender da motivação daqueles que protestaram neste domingo. “Como a população negra teve acesso aos bens de consumo, a elite — que sempre teve privilégios — reclamou o posto de elite”, afirma Jorge X, militante do movimento negro da Bahia e servidor da defensoria pública do estado. “Por outro lado, o que mais me espanta é que a vida é o bem mais precioso que existe. Mesmo assim, essas pessoas nunca foram às ruas para se manifestar pelo direito à vida”, completa Jorge, que é contra a corrupção e crítico ao governo atual.

    “Porque a vida ceifada, em sua grande maioria, é da população negra,
    o que não sensibiliza.”

    A dívida do Brasil com a comunidade negra ainda não começou a ser reparada. Seguiu como perseguição durante a ditadura e persiste na prática violenta contra os jovens negros, cerca de 70% das vítimas de homicídios no país. Prova disso é o relatório divulgado pela Comissão Estadual da Verdade de São Paulo na última quinta-feira, 12/03, que é taxativo: “A população pobre e negra é atingida até os dias de hoje com práticas instauradas no período da ditadura.” A CEV Rubens Paiva recomenda que “o Estado brasileiro reconheça e peça desculpas pela perseguição à população negra, não somente durante o período da ditadura no país, quanto pelos anos de escravidão e opressão até os dias atuais; que o Estado reconheça as práticas abusivas contra negros e as reprima como forma de garantia da igualdade e da democracia; que seja valorizada a memória da resistência da população negra contra a ditadura e que sejam homenageados seus militantes.”


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  • Sexta-feira, 13: dia de terror para os poderosos

    Sexta-feira, 13: dia de terror para os poderosos

    As forças sociais que elegeram a presidente Dilma Rousseff reuniram-se na  sexta-feira, 13  de março, pela primeira vez desde o início deste segundo mandato presidencial para exigir a reforma política, defender a democracia, os direitos dos trabalhadores (atacados pelo ajuste fiscal promovido pelo pacto de governabilidade), a Petrobras e o Pré-Sal.

    Um ato de luta, que exigiu o respeito ao mandato das urnas.

    Sexta-feira, 13 – um dia há se lembrar

    No mesmo dia, há 51 anos, o presidente trabalhista João Goulart, também enfrentando uma oposição feroz, realizou o Comício da Central do Brasil, no Rio de Janeiro. Diante de uma multidão de 150 mil pessoas, o próprio Goulart discursou em favor das chamadas Reformas de Base (reformas agrária e urbana), e do direito de voto para analfabetos e soldados. Como demonstração da centralidade da Petrobras desde então, Goulart assinou decreto de desapropriação de refinarias de petróleo que ainda estavam de posse da iniciativa privada.

    São Paulo. Foto: Renato Stockler

    Mas as semelhanças param aí. Nos atos públicos realizados neste ano em 24 cidades e no Distrito Federal, Dilma Rousseff não foi. Seus ministros tampouco. E contavam-se nos dedos os dirigentes do Partido dos Trabalhadores que deram as caras. Entre as honrosas e aclamadas exceções estavam o ex-senador Eduardo Suplicy e o ex-deputado estadual Adriano Diogo, para o qual o partido precisa voltar para o campo das lutas populares.

    Rio de Janeiro. Foto: Mídia NINJA

    Foi resultado da coragem dos dirigentes da Central Única dos Trabalhadores, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, da União Nacional dos Estudantes, dos movimentos de moradia, e de inúmeras outras organizações populares e de juventude, o grande reencontro da esquerda com sua vocação reivindicatória, expressa nos atos públicos realizados. Centenas de milhares de pessoas manifestando a disposição de lutar pelo aprofundamento da democracia e por mais direitos.

    Desde o Palácio do Planalto, durante toda a semana, saíam recriminações aos atos do dia 13. Dizia-se que seria um fracasso, um tiro no pé, que acabaria dando munição aos defensores do impeachment, que demonstraria a fragilidade da base social do governo.

    Mas foi bem diferente o que se viu..

    Avenida Paulista. Foto: Mídia NINJA

    O maior de todos os atos aconteceu em São Paulo, o Estado que deu esmagadora vitória ao candidato tucano Aécio Neves na última eleição presidencial, terra de bandeirantes e de preconceitos, mas também berço do Partido dos Trabalhadores, do movimento estudantil e das greves operárias dos anos 1970/80, que ajudaram a derrubar a ditadura e a reconquistar a democracia.

    Na avenida Paulista, 100.000 pessoas (segundo a CUT) e 41.000 (segundo o DataFolha) vestiram-se de vermelho debaixo de céu preto e ameaçador. Não demorou e a tempestade desabou. Mas aí foi que a festa começou.

    São Paulo. Foto: Renato Stockler

    “Pode chover, pode molhar, ninguém segura a resistência popular”, gritavam os manifestantes. Ninguém arredou pé.

    Foto: Mídia NINJA
    Avenida Consolação. Foto: Jornalistas Livres

    Para a militância, que passou o último mês encolhida –humilhada pelas denúncias de corrupção envolvendo dignitários petistas e gente de todos os partidos — , foi uma apoteose. O MST apareceu com seus homens e mulheres de rostos tostados de sol, os professores vieram depois de decretar greve em assembleia realizada no vão livre do Masp. Os metalúrgicos, os sambistas da Rosas de Ouro, os negros, os cotistas, os moradores de rua. Os jovens do Levante Popular da Juventude.

    São Paulo, 13 de Março de 2015 — Foto: Maurício Lima
    São Paulo, 13 de Março de 2015 — Foto: Maurício Lima

    “A mídia golpista quase fez a gente acreditar que estava derrotada, mas a gente está firme e forte e não vai permitir que o Brasil seja tomado de assalto pelos ricos e poderosos”, disse a dona de casa Eurides Camargo de Souza, 65 anos, enrolada em uma bandeira do PT que ela mesma bordou em 1982, durante a primeira campanha eleitoral que teve Lula como candidato.

    São Paulo. Foto: Hélio Mello
    Rio de Janeiro — Foto: Dado Galdieri

    Muitos militantes portavam cartazes em que se lia ‪#‎globomente‬ e ‪#‎globogolpista –aliás, a hashtag #globogolpista foi a campeã de citações no twitter, comprovando que até mesmo na guerra virtual, a esquerda retomou a iniciativa. Pela primeira vez em meses, hashtags identificadas com os movimentos sociais tiveram a maioria das citações nas redes sociais‬. “O povo não é bobo, abaixo a Rede Globo!”

    São Paulo. Foto: Mídia NINJA

    Ficou até chato ver o repórter da Globo andando com capacete de guerra na avenida Paulista, entrando no Jornal Nacional. Para enfatizar o ridículo do equipamento de segurança, o próprio Jornal Nacional afirmava terem sido absolutamente pacíficos os atos realizados em todo o país.

    Igualmente destoante foi a presença de 50 militantes do grupo de ultra-direita “Revoltados Online”, que se postou na avenida Paulista em clara atitude provocativa. Mas ninguém lhes deu ouvidos. E eles ficaram ali, com o farol baixo, gritando o seu “Fora Dilma” sem eco entre os transeuntes.

    Na chegada à praça da República, as professoras Adriana e Sonia, encharcadas e exaustas, ainda tiveram forças saltar bem alto, na coreografia do “Quem não pula é tucano, quem não pula é tucano.” Na segunda-feira, as duas estarão em greve contra o governo Geraldo Alckmin (PSDB-SP) e por reajuste salarial.

    É a luta que segue.

    Foto: Renato Stockler

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