Fernando Padula, ex-chefe de gabinete da Secretaria da Educação, aquele que declarou guerra aos estudantes que ocuparam escolas no final de 2015 em SP, foi interrogado na CPI da Máfia da Merenda, na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo. Mostrando-se frio com os parlamentares, mas visivelmente incomodado com a presença dos estudantes que ocuparam as escolas e a Assembleia Legislativa, Padula negou —como era esperado— qualquer tipo de envolvimento no esquema.
Foi a 12ª reunião da CPI da Máfia da Merenda. Para quem não lembra, Padula queria desmontar de vez a educação no Estado de SP com o projeto da reorganização escolar em novembro/15. Ele não contava com a presença dos Jornalistas Livres numa reunião, em pleno domingo, onde anunciou para os dirigentes de ensino que o decreto da reorganização sairia na terça-feira e que “estava pronto na quinta passada (26/11) para o governador assinar”. Na sala, além dos Joralistas Livres, que entraram incógnitos, somente agentes públicos “de confiança” do governo e membros da juventude tucana. Padula ainda completou: “Aí teremos o instrumento legal para a reorganização”.
Na mesma ocasião, ele disse que era necessário organizar “ações de guerra” contra os estudantes que “invadiam” as escolas contra o projeto. No entendimento dele, essa seria a melhor maneira de desqualificar as ocupações. Só que toda essa conversa estava sendo gravada. Depois de divulgada a gravação, o projeto da reorganização escolar foi adiado e Padula ficou sob uma espécie de blindagem promovida pelo governador Alckmin. Hoje, ele coordena o Arquivo Público do Estado de São Paulo.
Durante a Comissão Parlamentar de Inquérito, os deputados da bancada petista não deram moleza. O deputado Enio Tatto, por exemplo, fez questão de relembrar fatos reais da história do gestor: “Vou contar uma história sobre irresponsabilidade. Padula era chefe de gabinete da Secretaria de Educação em 28 de junho de 2014. (…) Nesse dia, houve um incêndio na escola Tancredo Neves, no Grajaú. [Hoje] morreu o jovem Matias de Freitas, atingido por um tiro disparado por um policial militar, quando entrou nessa quadra para jogar futebol, em companhia de dois ou três amigos. Um policial atirou no estudante Matias de Freitas, de 24 anos. Quando a pessoa se omite nestes casos, também se omite para casos mais simples de serem resolvidos, como por exemplo, quando Padula se negou a receber um atestado probatório da qualidade da merenda. Essa é a cara da educação do Estado de São Paulo.”
Como pratica costumeira de outros depoentes nessa CPI, Padula negou qualquer proximidade com os representantes da Cooperativa Agrícola Familiar (COAF), a cooperativa suspeita de fraudar a merenda no Estado de São Paulo. “Eu nunca estive com esses caras. Não tive conversas com eles. Não tem acusação contra mim. É absolutamente ridículo insistir nessa tese”, afirmou Padula.
Em depoimento na Corregedoria-Geral do Estado, Luiz Roberto dos Santos, o “Moita”, outro suspeito e depoente do dia, disse que tratou do ajuste no contrato da COAF com Padula.
“Que o depoente [Luiz Roberto dos Santos, o “Moita”] se recorda de que falou com o chefe de gabinete da Secretaria de Educação, para tratar de assunto diverso por várias vezes, através de telefone fixo e celular corporativo, e numa delas aproveitou para comentar com o chefe de gabinete da Secretaria de Educação que o representante da COAF iria procurar a secretaria…”
Padula, entretanto, disse hoje aos deputados que não se lembra da conversa. “Em algumas vezes, conversei [com “Moita”] (outro depoente do dia), como conversava com qualquer chefe de gabinete.”
O deputado João Paulo Rillo (PT) foi duríssimo em sua intervenção. Em uma das inúmeras negações (para a imprensa) de envolvimento com o esquema da merenda, Padula chegou a declarar que é “uma espécie em extinção” referindo-se a sua suposta honestidade. Rillo rebateu dizendo que Padula é o responsável pelo desastre da desorganização na educação e que tem um sorriso de “bom moço”, como Aécio Neves. Veja o vídeo:
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Padula sofre amnésia, mas “Moita” lembra bem das conversas
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Operador da Máfia da Merenda aparece em foto com dinheiro que teria recebido do esquema
A foto apreendida pela Polícia Cívil mostra o vendedor da Cooperativa Orgânica Agrícola Familiar (Coaf), Carlos Luciano Lopes, em uma mesa cheia maços de notas de R$ 50, R$ 20, R$ 10 e R$ 2.
Carlos Luciano Lopes declarou à Polícia Civil e ao Ministério Público Estadual que o atual presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), Fernando Capez, do PSDB, recebia parte de comissão entregue ao lobista Marcel Ferreira Júlio por contratos suspeitos de superfaturamento com prefeituras na venda de produtos agrícolas e suco de laranja.
A imagem estava no celular de um dos investigados e foi divulgada hoje, 14/04, com exclusividade pelo repórter Walace Lara, no Jornal Hoje, da TV Globo.
Esta não é a única novidade sobre o caso esta semana.
O deputado estadual João Paulo Rillo, denunciou recentemente que a bancada tucana da Alesp vem boicotando reuniões para tentar impedir que requerimentos de convocação de autoridades ligadas ao caso sejam protocolados. Apenas hoje a Rádio CBN deu a notícia.“Era para ser a nona reunião da Comissão. Por que não está acontecendo? Porque o governo do Estado está em meio a denúncias da Máfia da Merenda. Como a base blinda o governador, não conseguimos instalar uma CPI. O que nos resta são os requerimentos de convocação protocolados na Comissão. Aí os deputados não comparecem, fugindo da responsabilidade de se posicionar”, questinou Rillo, que é membro da Comissão, no site da bancada petista.
Um dos requeridos para dar depoimento na Comissão é o atual secretário da Educação José Renato Nalini. Segundo divulgado pela assessoria de imprensa da Liderança do PT na Alesp, ele poderá esclarecer como um documento tido como prova importante para o andamento das investigações da operação sumiu da Secretaria conforme denunciou a imprensa na semana passada.
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Um debate sobre a investigação da máfia das merendas sem o principal investigado
“Cadê o Capez? Cadê o Capez? “
“Capez, Capez, Chegou a sua vez: ou devolve a merenda ou vai parar lá no xadrez!”
Pega ladrão!!
“A merenda ele roubou, o Capez é só Caôôôôôôôôôô”Com frases como essas, a Assembleia Legislativa de SP foi tomada na tarde desta terça (23) por mais de 700 integrantes de movimentos sociais, de moradia, estudantis e entidades sindicais. Gente de luta, disposta a pressionar os deputados tucanos pela investigação do roubo do dinheiro das merendas.
Mas, dessas 700 pessoas presentes, somente 200 conseguiram acompanhar o debate sobre a CPI na parte interna do plenário Juscelino Kubitschek. As demais foram impedidas pela Polícia Militar que alegou superlotação para o espaço. Ainda assim, cenário que se viu foi de muitas cadeiras vazias e muita gente em fila do lado de fora, aguardando para entrar. Era a tentativa de vencer os manifestantes pelo cansaço. Manobra orientada pela bancada dos deputados do PSDB – onde estão os principais envolvidos na máfia e que por isso, são os “pressionados” à assinarem para que a CPI aconteça.
E por falar em manobra, essa tarde de terça vai entrar para história da Alesp, como bem falou o deputado do PSOL, Carlos Gianazzi em uma de seus desabafos para a deputada Analice Fernandes, que presidiu a sessão na maior parte do tempo: “A senhora está sendo submissa ao pedido dos deputados do PSDB. Está burlando o regimento interno, numa tentativa de desmobilizar os movimentos que vieram assistir o debate. Isso tem que entrar para a história da Assembleia”. Isso porque, a parlamentar do PSDB suspendeu a sessão por pelo menos por cinco vezes, a pedido de parlamentares como Campos Machado e Coronel Telhada, numa tentativa de fazer com que o povo presente desistisse de esperar e esvaziasse as galerias.
Coronel Telhada foi um capítulo à parte. Já na tribuna, tendo seu direito de fala respeitado, chegou a dizer que os manifestantes estavam recebendo sanduíche de mortadela para protestar, e debochado, ofereceu sanduíches de presunto e queijo para calar os presentes: “Sanduíche de presunto e queijo é um pouco melhor.” disse ele. Antidemocracia, desrespeito e preconceito foram as características do tratamento do parlamentar com os manifestantes. Nada surpreendente para o perfil do Coronel.
A bancada do Psol e do PC do B fez inúmeras defesas para a instalação da investigação. Os deputados do PT não ficaram atrás. Críticas à qualidade da merenda também não faltaram: “O roubo tira o dinheiro da merenda e coloca veneno no prato das crianças”. comentou o deputado João Paulo Rillo. Inclusive, os petistas citaram nominalmente os personagens que estão envolvidos na máfia: o secretário estadual de Logística e de Transportes, Duarte Nogueira, e o ex-chefe de gabinete da Casa Civil de Geraldo Alckmin, Luiz Roberto dos Santos, conhecido como “Moita”, numa crítica à cobertura que a mídia tradicional vem dando para o assunto, sem citar nomes e blindando especialmente, o de Fernando Capez, presidente da Assembleia, principal investigado e que hoje demonstrou que teme as manifestações democráticas, pois diferente de como faz na maioria das terças-feiras na Alesp, ficou durante toda a tarde dentro de seu gabinete, acompanhando o debate pela TV da Assembleia. “Ficou reprovado” no quesito democracia.Para a próxima semana, a discussão promete pegar fogo. Os deputados que já assinaram a CPI farão pressão para angariar novas adesões e terão conversas massivas com Capez, para que ele incentive sua base aliada de deputados tucanos a assinar, numa ação de transparência para o caso. No próximo debate, petistas, psolistas e bancada do PC do B esperam que Capez não fuja dos braços da democracia.