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  • Corrupção dentro da PF leva à prisão de delegado e prefeito de Florianópolis

    Corrupção dentro da PF leva à prisão de delegado e prefeito de Florianópolis

    VAZAMENTOS NA PF FAVORECIAM INVESTIGADOS EM OPERAÇÃO ALCATRAZ

    Sete dirigentes da PF, PRF, governo do Estado de Santa Catarina e prefeitura de Florianópolis foram presos, acusados de participar de rede de corrupção em órgãos de inteligência e investigação da polícia. As informações alertando sobre diligências da Operação Alcatraz eram vendidas aos investigados como suborno em troca de pagamento em dinheiro, apadrinhamento e favores políticos, como blindagem nas investigações e empregos em cargos públicos.

    O prefeito de Florianópolis, Gean Loureiro, foi apontado como articulador dessa rede de contra informação em conluio com o delegado da PF, Fernando Amaro de Moraes Caieron, agentes policiais e dirigentes públicos, que só foi desbaratada por delação de um preso da Operação Alcatraz, ocorrida há 20 dias. Ao todo 30 mandados foram cumpridos hoje, 23 de busca e apreensão e sete de prisão temporária, expedidos pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4), em Porto Alegre (RS). O prefeito de Florianópolis Gean Loureiro e o policial rodoviário federal Marcelo Roberto Paiva Winter, diretor de comunicação do sindicato da categoria, foram soltos no início da noite, enquanto outros cinco detidos permanecem presos.

     

     

     

    Polícia Federal entra em ação depois de ser delatado escândalo dentro de sua própria corporação

    O prefeito de Florianópolis, Gean Loureiro (eleito pelo MDB/SC), foi preso na manhã desta terça-feira (18), em Florianópolis pela Polícia Federal em sua casa, no bairro Jurerê, e afastado do cargo por 30 dias por ordem do Tribunal Regional Federal da 4ª Região. Ele está indiciado na Operação “Chabu”, desencadeada para desarticular uma organização que violava sigilo de operações policiais em Santa Catarina, incluindo as Operações Eclipse, Alcatraz e Ave de Rapina, todas ligadas à fraude de licitações e crimes fiscais. Entre os sete mandados de prisão temporária expedidos como parte da Operação Chabu está também o do delegado Fernando Caieron, da Polícia Federal em Florianópolis, preso em Porto Alegre, e o empresário da área de tecnologia José Augusto Alves, que atuaria como uma espécie de contrabandista de informações sigilosas obtidas junto à PF.

    Foram presos temporariamente ainda o diretor de Comunicação do Sindicato dos Policiais Rodoviários de Santa Catarina (SINPRF-SC), Marcelo Roberto Paiva Winter, o colega Luciano da Cunha Teixeira, ex-secretário da Casa Civil no governo de Eduardo Moreira, Luciano Veloso Lima e Hélio Sant’Anna Silva Júnior, delegado aposentado da Polícia Federal. A prisão temporária tem duração de cinco dias, prorrogáveis por mais cinco. Ao todo 30 mandados são cumpridos, 23 de busca e apreensão e sete de prisão temporária, expedidos pelo TRF4, em Porto Alegre (RS), na capital e municípios de Balneário Camboriú, Camboriú e Itajaí.

    Os mandados de prisão alegam prática de associação criminosa, corrupção passiva, violação de sigilo funcional, tráfico de influência, corrupção ativa, além da tentativa de interferir em investigação penal envolvendo organização criminosa, segundo a PF. Mantida em segredo de justiça, sem maiores explicações, a operação tem como relator o desembargador federal Leandro Paulsen.
     
    Junto com os demais presos, o prefeito e o delegado estão implicados na participação de um grande esquema de venda de informações sigilosas envolvendo policiais, dirigentes de órgãos públicos e políticos de partidos governistas que apoiam Bolsonaro em Santa Catarina. As informações dizem respeito principalmente à Operação Alcatraz, que investiga fraude em licitações e contratação de empresas laranja para desviar verbas públicas. Além do celular, os computadores do prefeito foram apreendidos em casa e no seu gabinete, na rua Tenente Silveira, assim como o computador do secretário da Casa Civil, Constâncio Maciel.
    Conforme os vereadores Lino Peres (PT) e Afrânio Boppré (PSol), que tiveram mais tarde acesso a informações do processo, o prefeito é apontado como articulador de uma rede investigada pela Operação Eclipse, que usava alta tecnologia em serviço de inteligência para encobrir desvio de verbas públicas. Ele teria autorizado a instalação de uma “sala segura”, na Prefeitura, blindada contra vazamentos, vigilância e interceptações telefônicas. Nessa sala secreta, esse grupo de hackers e agiotas de contra informação faria sem riscos o assédio aos políticos e empresários investigados, alertando-os sobre diligências dos órgãos da PF. Segundo Boppré, por meio de uma “maleta israelense”, adquirida no Paraguai, o grupo conseguia interceptar telefonemas a 300 metros de distância.

    Após diligências iniciadas em agosto de 2018, dentro da Operação Eclipse, a Polícia Federal apurou que o grupo suspeito construiu uma rede composta por um núcleo político, empresários, e servidores da própria PF e da Polícia Rodoviária Federal (PRF) lotados em órgãos de inteligência e investigação. Seu objetivo seria atrapalhar ou embaçar o trabalho policial em andamento e proteger os investigados dentro da Operação Alcatraz e de várias outras, em troca de subornos financeiros ou de favores políticos, como empregos em cargos públicos. O próprio prefeito apadrinhava alguns membros desse grupo, segundo os vereadores. Ele pleiteou emprego para a esposa do policial rodoviário federal envolvido, Marcelo Roberto Paiva Winter, em cargo no governo estadual. A filha do empresário José Augusto Alves, o “José Mentira”, apontado como pivô da articulação criminosa, tem cargo de confiança no gabinete do prefeito.

    De acordo com o mandado, as diligências apontam prática de crimes de associação criminosa, corrupção passiva, violação de sigilo funcional, tráfico de influência, corrupção ativa, além da tentativa de interferir em investigação penal envolvendo organização criminosa, segundo nota da PF. “Durante as investigações foram apuradas práticas ilícitas, dentre as quais envolve o vazamento de informações a respeito de operações policiais a serem deflagradas até o contrabando de equipamentos de contra inteligência para montar ‘salas seguras’ à prova de monitoramento em órgãos públicos e empresas”, diz ainda a nota PF. Os agentes realizaram uma busca no Grupo Nexxera por mais de três horas, quando apreenderam documentos na empresa especializada em elaborar plataformas integradas de serviços de automação bancária, gestão de cobranças e soluções de tecnologia. O objetivo foi confirmar a suspeita de associação criminosa e corrupção passiva por parte de agentes públicos e empresas.

    O significado de “Chabu”, que nomeia a operação, é provocar falha no sistema, usado para descrever, por exemplo, falha em fogos de artifício. Segundo a PF, o termo era empregado por alguns dos investigados para alertar sobre a existência de operações policiais antes de ocorrerem. A operação é mantida em segredo de justiça, sem maiores explicações, sob a relatoria do desembargador federal Leandro Paulsen. É o desembargador quem vai decidir se o prefeito será substituído por seu vice João Batista Nunes.

     

    Operação Chabu
    Prefeito Gean Loureiro e secretário ex-secretário estadual da Casa Civil, Luciano Veloso Lima agiriam juntos. Foto: James Tavares/Secom

    PLANOS DE REELEIÇÃO AMEAÇADOS

    Eleito pelo MDB/SC, com pretensões à reeleição em 2020, Gean Loureiro, 47 anos, formado em Direito, se desfiliou do partido em 28 de maio por insatisfações com a cúpula. Ainda está sendo cogitada sua filiação para partidos da base governista federal, como PSD e PRB. Ele prestou depoimento à PF, e teve sua prisão relaxada no início da noite de hoje (18/6), mas permanece suspenso do cargo durante os próximos 30 dias, e proibido de retornar à prefeitura ou de conversar com qualquer envolvido na operação.

    Às 21h30, o prefeito deu entrevista coletiva no escritório do seu advogado Dido Ptsica, quando se disse vítima da pior injustiça da sua vida e afirmou não ter qualquer envolvimento com os suspeitos, assim como negou que a sala segura à prova de monitoramento, onde seria vazadas as informações tenha sido instalada no seu gabinete.

    O policial rodoviário federal Marcelo Roberto Paiva Winter, diretor de comunicação do sindicato da categoria (SINPRF-SC), preso igualmente de forma temporária, também foi liberado na noite de hoje. Os demais cinco detidos continuam presos.

    ALCATRAZ: NEGÓCIOS COM EMPRESAS LARANJA LESAM COFRES PÚBLICOS EM R$ 130 MILHÕES

    Ontem a juíza Janaína Cassol Machado, que está a frente do processo criminal da Operação Alcatraz pela Justiça Federal em Santa Catarina, autorizou a prorrogação por 15 dias do prazo para a conclusão do inquérito da Operação. A Alcatraz envolve desvio de recursos, fraudes em licitações e crimes tributários praticados por órgãos de Santa Catarina e de Florianópolis, como a Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri), Secretaria de Estado da Administração e outras empresas terceirizadas. O presidente da Assembléia Legislativa, deputado Júlio Garcia (PSD) também é citado muitas vezes no pedido de prisão de 11 acusados, detidos no dia 31 de maio deste ano, quatro deles em Florianópolis; quatro em São José; um em Antônio Carlos; um em Ituporanga e um em Vinhedo (SP).

    Os indiciados permanecem presos e fazendo delações entre empresários e agentes públicos investigados por suspeita de envolvimento em esquema de fraude em licitações e contratos. Um dos presos é Nelson Castello Branco Nappi, considerado o cabeça do esquema que fraudava licitações. Os danos aos cofres públicos se aproximam de R$ 30 milhões, segundo estimativas da PF e de mais de R$ 100 milhões em sonegação de impostos, segunda avaliação da Receita Federal.

    Segundo apurou a operação, de 2012 a 2015 a MAAB, empresa do ramo publicitário, emitiu notas frias em nome de empresas de fachada na área de segurança do grupo Ondrepsb e a Orcali, que por sua vez repassariam os valores para agentes públicos do Estado. Já há presos preventivamente na ação. Janaína é a mesma que autorizou a prisão do reitor Luiz Carlos Cancellier. O delegado Igor Gervini pediu a extensão da investigação para que os agentes tenham até o final de junho para concluir o inquérito.

    Atualização:

    Na quarta-feira (19/6), os advogados do prefeito tentaram suspender o seu afastamento no TRF4, mas não obtiveram êxito. Os quatro vereadores da oposição, Afrânio Boppré (PSoL), Marquito (PSoL), Lino Peres (PT) e Vanderlei Farias, o Lela (PDT), já emitiram duas notas conjuntas reivindicando informações da Polícia Federal para se posicionarem com mais clareza sobre o assunto, e evitar julgamentos ou absolvições sem profundidade. Por enquanto quem administra a capital é o vice-prefeito José Batista Nunes (PSDB).
    Em live veiculada nesta sexta-feira, 21, na página do Facebook de Boppré, ele e o vereador Lino Peres afirmam que a oposição está muito apreensiva porque Gean Loureiro tem frequentado a Câmara de Vereadores e o seu gabinete, de onde entra e sai levando pastas e documentos. Querem saber que informações há nos equipamentos e celulares apreendidos e o possível envolvimento de outros funcionários públicos municipais nessa rede de tráfico de informações. “Se Gean diz que é vítima de uma armação, queremos saber quem é esse agente oculto que tem tanto poder e influência na vida da cidade”, afirma Boppré. Por que o prefeito, sendo apontado como o articulador da “Orcrim”, foi solto no mesmo dia da prisão e continua livre para passear no seu gabinete e recolher provas?
    Nesta quinta-feira, 20/6, a revista Isto É publicou reportagem de capa na edição do fim de semana, intitulada “Cerco aos hackers” , afirmando que a PF está investigando as “possíveis ligações” entre a Operação Chabu, a Vaza Jato e a atuação de agentes cibernéticos em Santa Catarina, no Brasil, Dubai e Emirados Árabes. Segundo “investigações preliminares”, a PF teria encontrado conexões entre o jornalista investigativo Glenn Greenwald, do The Intercept, Edward Snowden, refugiado na Rússia, com os irmãos bilionários Nikolai e Pavel Durov. Os Durov são proprietários do programa de conversação em chat, o Telegram, de onde vazaram os diálogos entre o ministro da Justiça Sérgio Moro e o procurador Deltan Dallagnol, revelados por Greenwald e sua equipe no escândalo conhecido também como Brasilgate. Finalmente, a PF teria encontrado ligações com Evgeniy Mikhailovich Bogachev, conhecido como Slavic, procurado pelo FBI sob a acusação de cometer crimes cibernéticos, que criou o vírus Cryptolocker e o código Zeus.
    Conforme o diretor-geral da PF, Maurício Valeixo, o órgão “acredita ter se aproximado dos hackers que invadiram a privacidade dos procuradores”. A relação conspiratória, clara tentativa de criminalizar os jornalistas do The Intercept e levar os denunciadores da tribuna para o banco dos réus, foi levianamente lançada em veículos brasileiros de direita desde o início da semana. Estão aí todas as tintas de mais uma farsa do ex-juiz que fraudou a justiça com seus processos persecutórios e seletivos, baseados numa relação de influência ilícita sobre os procuradores da Lava Jato e na manipulação dos autos de acusação para condenar em tempo record o ex-presidente Lula à prisão. Emparedado pelas revelações do site The Intercept, trazidas a conta-gotas, como uma morte lenta, Sérgio Moro precisa com urgência de qualquer subterfúgio pra sair da berlinda e partir para a ofensiva.
    O único indício apontado pela revista de que a relação apontada por um perfil anônimo no twitter de forma grotesca pode merecer a credibilidade dos seus leitores é o fato de a PF dar importância a ela (SIC). “Embora parecesse inverossímil num primeiro momento, por conter erros de grafia e tradução, ISTOÉ confirmou que a PF segue sim o rastro da pista, considerada importante pelos agentes hoje à frente do caso.” Os métodos caluniosos e fantasiosos são os já conhecidos da sua lavra. Enquanto a PF sege as pistas do “Pavão Misterioso”, em Santa Catarina, ninguém entende os rastros da polícia, que parece encobrir na Operação Chabu a sua própria corrupção interna.

    PRISÃO DE GEAN LOUREIRO: OPOSIÇÃO SE MANIFESTA (NOTA)

    Florianópolis amanheceu com a notícia de que o Prefeito Gean Loureiro (sem partido) foi preso por fazer parte de uma suposta organização criminosa articulada para atrapalhar e impedir investigações da Polícia Federal.

    Os vereadores signatários desta nota assumem o dever legal de se manifestarem publicamente nos termos do art. 37 da Constituição Federal. Somos sabedores que o método Gean de fazer política é questionável. Sem juízo definitivo, sua prisão indica que temos à frente da administração municipal um agente político que construiu sua trajetória por meios duvidosos e com provável quebra de princípio basilar da ética e da honestidade, agindo de modo incompatível com a dignidade e o decoro dos cargos.

    Sua desvinculação recente das fileiras partidárias do MDB foi anunciada como decisão positiva para se afastar dos escândalos promovidos pelo seu partido. Para nós, essa decisão sempre representou mais uma estratégia eleitoral do que uma decisão sincera e de combate aos mal feitos de seu renegado partido.

    Exerceremos nossa função parlamentar de fiscalização e estaremos atentos e vigilantes no nosso dever legal. Não tomaremos decisões por impulsos e nem por motivações midiáticas.

    Certos que preparados estamos para qualquer desafio, buscaremos estar sintonizados com o sentimento de justiça, representando os interesses do povo florianopolitano.”

     

    Afrânio Boppré – Vereador PSOL
    Lino Peres – Vereador PT
    Marquito – Vereador PSOL
    Vanderlei Farias – Vereador PDT

     

    NOTA DO PARTIDO DOS TRABALHADORES DE FLORIANÓPOLIS SOBRE A PRISÃO DO PREFEITO GEAN LOUREIRO

    O Partido dos Trabalhadores de Florianópolis mantém sistemática oposição ao governo de Gean Loureiro, uma vez que a política implementada pelo prefeito é diametralmente oposta à visão de mundo defendida por nosso Partido, tanto que nossa bancada atua como oposição ao paço municipal, com responsabilidade e de forma sempre propositiva, fato é que nosso projeto de cidade não cabe neste projeto implementado por Gean.

    Contudo, mantemos a responsabilidade e coerência na defesa intransigente do estado democrático de direito, rechaçando práticas que ferem o princípio da presunção de inocência, do contraditório, da ampla defesa e do devido processo legal, para dizer o mínimo.

    As prisões pirotécnicas como método tem sido a arma do estado policialesco que tanto combatemos nesses últimos tempos de nítido obscurantismo.

    Que as investigações apurem adequadamente as respectivas responsabilidades cíveis, criminais e administrativas, mas sempre sob o holofote das regras do jogo democrático e das garantias e direitos individuais.

    Vários são os exemplos de excessos cometidos pelas autoridades investigativas do Estado pelo País afora, sendo que em Santa Catarina, por exemplo, passamos pelo fatídico episódio que vitimou o Reitor Cancelier, cujo inquérito recém finalizado conclui sua total inocência.

    Independente de apoiar ou não determinada figura pública e sua política, o foco deste tipo de ação policialesca espetacularizada precisa ser necessariamente pensada a partir do cabimento da prisão, seja ela flagrante, preventiva ou temporária, e o consequente risco que um Chefe do Executivo tem de fuga ou destruição de provas do eventual ilícito. Nesse caso, faz-se necessária uma rápida manifestação da Justiça Federal a respeito. A cidade, tanto quanto os indiciados e presos, merecem saber quais os motivos das suas prisões.

    Florianópolis 18 de Junho de 2019
    Executiva Municipal do Partido dos Trabalhadores de Florianópolis

     

    https://www.facebook.com/afranioboppre50/videos/438509180323097/?t=1

  • Justiça confirma denúncias contra delegada Erika Marena e suspende censura à blog

    Justiça confirma denúncias contra delegada Erika Marena e suspende censura à blog

    Ex-delegada da PF, Erika Marena disse à Justiça que reportagens sobre ela se baseavam em “notícias falsas”, Segundo a Turma Recursal, ela é quem mentira
    Decisão da 1ª Turma Recursal dos Juizados Especiais de Curitiba, afirma que não configuram crime de honra as duas reportagens publicadas pelo Blog Marcelo Auler em 2016 criticando a ação da delegada da Polícia Federal Erika Marena à frente da Lava-Jato em Curitiba. A sentença considera informativa e fundamentada em fatos reais as denúncias sobre a condução espetacularizada e abusiva da Operação Lava-Jato pela delegada.
     
    Mesmo censurado, no final de 2017, o Blog mostrou que a mesma estratégia de vazamento de informações sobre investigação da PF empreendida pela delegada provocou o linchamento moral do reitor da UFSC, Luiz Carlos Cancellier. Preso e humilhado sem direito à defesa prévia e vendo sua reputação destruída pela grande mídia e redes sociais, o professor acabou cometendo suicídio, sem chance de provar o que a própria justiça provou recentemente: o reitor não tinha qualquer implicação com as suspeitas de irregularidades na concessão de bolsas do Programa Universidade Aberta cometidas em períodos anteriores ao seu.

     

    Por Marcelo Auler

    Após três anos, a Justiça do Paraná considerou que as acusações que o jornalista Marcelo Auler noticiou em seu Blog sobre a delegada federal Erika Mialiki Marena, então coordenadora da Operação Lava Jato na Polícia Federal do Paraná, são verdadeiras e estão calçadas em provas. Em consequência, a 1ª Turma Recursal dos Juizados Especiais de Curitiba acolheu, por unanimidade, o voto da juíza Maria Fernanda Scheidemantel Nogara Ferreira da Costa e refez a sentença que condenou o Blog a pagar R$ 10 mil à delegada. Acompanhando o parecer da relatora do processo, o juizado decidiu que não procede a queixa da delegada por crime contra a hora, alegando que o jornalista se baseava em falsas informações.

    A decisão do Tribunal Recursal (leia íntegra ao final) suspende a censura imposta ao Blog, desde março de 2016, pelo 8º Juizado Especial Civil de Curitiba. Ela era fruto de decisão liminar do juiz Nei Roberto de Barros Guimarães, sem ouvir a parte contrária, isto é, o autor das reportagens. Embora o Supremo Tribunal Federal (STF), em junho de 2018, tenha derrubado essa decisão liminar, o juiz não atendeu à ordem da 1ª Turma do STF, alegando que já existia sentença mantendo a proibição das reportagens. Ao refazer a sentença, a Turma Recursal elimina a proibição inconstitucional que vetou as matérias e permite aos leitores terem acesso a elas: Novo ministro Eugênio Aragão brigou contra e foi vítima dos vazamentos (16/03/2016) e Carta aberta ao ministro Eugênio Aragão (22/03/2016).

    No julgamento do recurso do advogado Rogério Bueno da Silva, em 9 de maio, a relatora e presidente da turma, Vanessa Bassani, e o juiz Nestario da Silva Queiroz, acolheram a tese da defesa de que o Blog apenas noticiou fatos. Em seu voto, a juíza relatora deixou claro:

    Após a análise das provas constantes dos autos, tenho que o requerido logrou êxito em comprovar que as matérias apenas retrataram fatos que efetivamente teve ciência por pessoas e dados reais, sendo as reportagens meramente informativas”.

     

     

     

     

    Em outro trecho, o voto registrou que o reportado tinha embasamento concreto, tal como sustentou Bueno da Silva:

    Portanto, concluo que restou comprovado que o requerido se utilizou de embasamentos concretos para transcrever suas reportagens, de modo que não houve abuso à liberdade de expressão. Ainda, tenho que a autora não logrou êxito em comprovar os alegados danos morais suportados em decorrência das matérias, ônus que lhe incumbia, nos termos do art. 373, inciso I, do CPC.”

    Ministro Luiz Fux: “Delegada deveria ter maior  tolerância à exposição pela mídia e opinião pública”

    A decisão do Tribunal Recursal segue o entendimento já reafirmado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) de que não pode haver censura. Mesmo entendimento mantido pela 1ª Turma do STF ao acolher a Reclamação 28.747 que o Blog, junto com a Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ) e o Instituto Vladimir Herzog, apresentaram àquela corte contra a decisão do Juizado Especial de Curitiba, tal como noticiamos em STF, ao rever censura ao Blog, criticou a DPF Érika.

    Nesta decisão a favor do Blog – não acatada pelo juiz de primeiro grau – os ministros voltaram a deixar claro que agentes públicos estão sujeitos a críticas prevalecendo a liberdade de expressão e da liberdade de imprensa acima de qualquer direito individual. O ministro Luiz Fux, autor do voto divergente que derrubou a censura que o juiz Barros Guimarães insistiu em manter, chegou a tecer críticas à delegada Érika:

    “As circunstâncias concretas deveriam sujeitar a Delegada a um maior nível de tolerância à exposição e escrutínio pela mídia e opinião pública, e não menor. É dizer, seu cargo público é motivo para que haja ainda maior ônus argumentativo apto a justificar qualquer restrição à liberdade de informação e expressão no que toca à sua pessoa e o exercício de suas atividades públicas.”

     

    A tese de que agentes públicos estão sujeitos a críticas foi encampada também pela relatora da 1ª Turma Recursal, no Paraná:

    Ressalto, também, que à época da publicação das reportagens, a autora, enquanto Delegada da Polícia Federal atuando em uma das maiores investigações anticorrupção do Brasil, tornou-se pessoa pública, conhecida da maioria dos brasileiros, portanto, sujeita a críticas decorrente de sua atuação.

    Logo, tenho que no presente caso, sob a análise do conflito entre a liberdade de expressão, opinião e crítica e entre a liberdade individual, não restou demonstrado qualquer abuso ou excesso apto a ensejar a condenação do requerido ao pagamento de danos morais e supressão de conteúdo jornalístico.”

    Como a Justiça do Paraná comprovou, as duas postagens do Blog censuradas judicialmente a pedido da delegada Erika estavam corretas, com informações verdadeiras.

    Negando a realidade – Os abusos e excessos, na realidade, ocorreram por parte da delegada e de sua irmã, Márcia Eveline Mialiki Marena, que atuou como advogada no processo.

    Elas, na inicial, acusaram o Blog de narrar fatos que teriam sido “construídos sem embasamento probatório MÍNIMO” (grifo do original). Classificaram ainda as informações, que agora a Justiça comprovou reais, como “acusações delirantes”.

    Tentaram negar a realidade. Sobre uma representação contra o então subprocurador da República Eugênio Aragão, provocada por documento que a delegada assinou, em 2005, junto com outros policiais federais, disseram que o Blog “idealiza sobre uma representação que a Autora teria feito contra o ministro, sem, no entanto, provar (ou averiguar minimamente) essa informação”.

    E sustentaram: “A Autora afirma que nunca representou contra o atual Ministro da Justiça, por isso que o Réu sequer tem cópia de tal representação”.

    Na reportagem publicada e por elas censurada o próprio Eugênio Aragão, na época da publicação ministro da Justiça do governo Dilma Rousseff, narrou a existência da representação. Ele e o ex-diretor-geral da Polícia Federal, delegado Paulo Lacerda, foram ouvidos antes da publicação das matérias. Os dois, em depoimento judicial como testemunhas do Blog, confirmaram tal fato – terem sido consultados antes da publicação da reportagem – e a veracidade do que foi noticiado.

    Erika e outros delegados da Polícia Federal queixavam-se por ter Aragão, em missão oficial a Nova Iorque, interferido junto a autoridades americanas para que documentos oficiais só fossem entregues a polícias e procuradores da República por vias diplomáticas. Medida imposta para se evitar a anulação de provas importantes.

    As queixas dos delegados antes mesmo de chegarem ao Ministério Público Federal vazaram para a imprensa e foi manchete do jornal Folha de S. Paulo. A partir deste documento, houve representação contra Aragão que acabou respondendo a uma sindicância administrativa. Nela, foi inocentado.

    No seu voto, a juíza Maria Fernanda constata o que sempre defendemos, ou seja, a veracidade das informações do Blog, ainda que tenha feito reparos à forma narrada:

    Veja-se que, pelas provas dos autos, restou comprovado que a autora, enquanto Delegada de Polícia, encaminhou relatório de missão (mov. 123.3, págs 24 a 28), juntamente com outros cinco Delegados da Polícia Federal.

    Em que pese não ter sido a autora quem representou contra o Min. Eugênio Aragão, certo é que o relatório encaminhado pela mesma e por seus colegas foi o ponto de partida para que a Corregedoria-Geral do MPF apresentasse referida representação.

    Portanto, tenho que houve mera inexatidão técnica nas palavras utilizadas pelo requerido.

    Ademais, deve-se constatar que o fato de ser publicado que alguém representou outro alguém, por si só, não traz qualquer abalo aos atributos da personalidade. Até porque, se assim tivesse-o feito, a autora apenas estaria agindo em seu exercício regular de direito de representar um superior hierárquico, conforme comprovado pelo depoimento da testemunha Paulo Fernando da Costa Lacerda”.

    Depoimento do delegado federal Paulo Renato Herrera, de cujo conhecimento pelo blog a delegada duvidou

    A delegada e sua irmã/advogada também se insurgiram contra a informação de que ela era considerada por colegas seus como “estrategista de vazamento da Operação Lava Jato”.

    Isto, como noticiamos, foi dito em depoimento por um delegado federal de Curitiba, não identificado na reportagem.

    Tratava-se de Paulo Renato Herrera, delegado então sob investigação, acusado injustamente – como depois ficou comprovado no inquérito 737/2015 -, de aprontar dossiês contra a Lava Jato.

    As duas duvidaram da capacidade desta apuração pelo Blog pois o inquérito tramitava em segredo de justiça.

    Para elas, seria impossível ao Blog ter conhecimento do depoimento por se tratar de “um inquérito de extremo sigilo, sobre o qual nem a CPI da Petrobrás obteve acesso ao conteúdo, e nem o Réu, que se tivesse tido acesso, com certeza publicaria informações mais substanciais, não meras fábulas e especulações de uma pessoa qualquer depondo ao vento.”

     

    Ao analisar esta queixa a juíza constatou, mais uma vez, a veracidade da informação reportada:

    De igual forma em relação a alegação de que a autora era uma das “estrategistas dos vazamentos na Operação Lava Jato”. Isso porque, ao mencionar que a autora foi citada em um depoimento no Inquérito Policial 737/2015, tenho que o requerido se cercou das cautelas necessárias, inclusive apresentando a origem de tal informação. Conforme documentos de mov. 52.3 a 52.6, a autora foi sim citada em um depoimento como a responsável pelos vazamentos, de modo que a notícia do requerido apenas se baseou em tal fonte.

    Danos morais inexistentes – Confundindo as obrigações de um agente público com as do jornalista, a delegada e sua irmã acharam que o Blog, ao reportar o conteúdo de um inquérito que tramitava em segredo de justiça estaria incorrendo no crime de vazamento de informações. Na ação apresentada no 8º Juizado Especial, afirmaram:

    “Pois bem, as afirmações do Réu referente a Autora são vazias e desconexas da realidade, principalmente quando usa como embasamento o IPL 737/2015, porém se fossem verdadeiras, estaria o Réu fazendo exatamente aquilo do qual acusa a Autora, tornando público detalhes de investigação sigilosa (…)”.

    Parece desconhecerem que jornalistas têm por obrigação divulgar fatos que tome conhecimento, desde que comprovadamente verdadeiros. O próprio Supremo Tribunal já deixou claro que aos jornalistas não cabe respeitar segredos de justiça em documentos que tomam conhecimento.

    No voto apresentado à Turma Recursal em que acolheu as teses defendidas pelo advogado Bueno da Silva, a juíza Maria Fernanda esclareceu:

    Ainda, em que pese restar comprovado que, quando da publicação da reportagem, o referido inquérito corria em Segredo de Justiça, tal fato, por si só, não impede o requerido de utilizá-lo como embasamento para a notícia, vez que juntou prova testemunhal da existência do referido inquérito. Inclusive, frisa-se que a Constituição Federal resguarda ao jornalista o direito de sigilo da fonte”.

    Não apenas por comprovar que o Blog noticiou fatos reais, mas também recorrendo a decisões antigas do Supremo Tribunal Federal, como no julgamento da ADPF 130, de abril de 2009, na qual o relator, o então ministro Carlos Ayres Brito, destacou a possibilidade de agentes públicos serem criticados, a juíza Maria Fernanda negou os danos morais que a delegada e sua irmã queriam indenizados. Ela transcreveu parte do voto de Ayres Brito:

    Em se tratando de agente público, ainda que injustamente ofendido em sua honra e imagem, subjaz à indenização uma imperiosa cláusula de modicidade. Isto porque todo agente público está sob permanente vigília da cidadania. E quando o agente estatal não prima por todas as aparências de legalidade e legitimidade no seu atuar oficial, atrai contra si mais fortes suspeitas de um comportamento antijurídico francamente sindicável pelos cidadãos“.

    Blog continua censurado – A prevalecer o enunciado da Súmula 7 do Superior Tribunal de Justiça, que impede o reexame de provas em recursos àquela corte, o processo se extingue com a sentença da Turma Recursal, ainda mais por ela ter sido acolhida por unanimidade.

    A mesma delegada, porém, move outras duas ações contra o editor deste Blog por conta de reportagem publicada na revista CartaCapitalcom teor idêntico ao das reportagens publicadas no Blog que a Justiça do Paraná reconheceu como verdadeiras.

    No Rio de Janeiro tramita ação criminal na qual o juiz Elder Fernandes Luciano, da 10ª Vara Federal Criminal, em janeiro passado, afastou a possibilidade de crimes de calúnia e difamação. Resta sob análise o possível crime de injúria.

    No Paraná há uma ação de indenização por dano moral e à imagem em tramitação na 10ª Vara Cível. Nela a delegada reivindica R$ 50 mil de indenização. Na inicial ela também pediu a censura do site da revista, mas não obteve êxito junto à juíza Carolina Fontes Vieira.

    Como o Tribunal Recursal concluiu, as reportagens não poderiam ter ofendido a delegada na medida em que apenas relataram fatos reais, devidamente comprovados. As ações, portanto, servem apenas para dificultar a vida do Blog além de gerarem despesas seja com custas processuais, viagens – foram várias a Curitiba e a Brasília – e ainda o tempo gasto na preparação da defesa. Servem também como tentativa de intimidação aos jornalistas.

    Apesar da decisão do Tribunal Recursal suspendendo a censura das duas matérias – que a partir de agora estão disponibilizadas aos leitores – o Blog continua censurado em outras reportagens por decisões judiciais que contrariam o Supremo Tribunal Federal. Decisões contra as quais estamos recorrendo.

    Os leitores permanecem sem acesso às reportagens “Juíza perdeu jurisdição e haitianos visitaram filhos“; “Juíza do PR imita Trump e separa haitianos“; “PM mineira: extorsão, sequestro e tortura“; “PMs de MG torturam a céu aberto; de dia“; e “PM de MG na trilha da PM do Rio: e agora, Pimentel?“.

    Ou seja, nossa luta contra a censura continuará.

    Uma luta que travamos com o apoio da FENAJ e do Instituto Vladimir Herzog que conseguiram enxergar neste caso um risco não apenas ao Blog e seu editor, mas ao jornalismo como um todo.

    Infelizmente, o apoio pedido à antiga diretoria da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e à Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (ABRAJI) resultaram apenas em notas de protesto. Elas, assim como a Associação Nacional dos Jornais (ANJ), não quiseram endossar a Reclamação levada ao Supremo, cuja decisão reforçou a liberdade de imprensa e o direito de críticas aos agentes públicos, a favor de toda a categoria e dos leitores.

    Nesta luta contra a censura tem sido fundamental também o apoio e o incentivo de leitores, seguidores e amigos do Blog. Apoio, inclusive, financeiro. As doações feitas por estes é que ajudaram a bancar os custos que todos os processos nos têm trazido, bem como a nossa sobrevivência. Mais uma vez renovo o agradecimento a todos.

    Abaixo, a íntegra do acórdão que reconheceu como verdadeiras as denúncias noticiadas pelo Blog

    Tribunal Recursal confirma denúncias do Blog contra Delegada Erika

    Leia os detalhes e a íntegra da decisão em: https://marceloauler.com.br/justica-comprova-denuncias-do-blog-contra-dpf-erika-marena/

     

     

  • UFSC DENUNCIA À OAB MAIS UM GRAVE ATAQUE FEDERAL À AUTONOMIA

    UFSC DENUNCIA À OAB MAIS UM GRAVE ATAQUE FEDERAL À AUTONOMIA

    Controladoria Geral da União (CGU) processa reitor e vice-reitora da UFSC por nomeação de corregedor respaldada pelo Conselho Universitário há mais de um ano. Também afasta corregedor Ronaldo Viana Barbosa e interdita seu acesso à universidade. A medida respalda ataques à reputação de gestores universitários apresentados pelo ex-corregedor Rodolfo Hickel do Prado, nos mesmos moldes das ofensivas que levaram o reitor Cancellier à prisão abusiva, linchamento moral  e suicídio.

     

    Velório do reitor suicidado, Luiz Carlos Cancellier

    Eleito pela comunidade universitária após a morte de Luiz Carlos Cancellier, em outubro de 2017, vítima de violento abuso de poder, o reitor Ubaldo C. Balthazar responde a Processo Administrativo instaurado pela Controladoria Geral da União na quarta-feira (10/4). Balthazar e a vice-reitora, Alacoque Eidrman Lorenzini, estão sendo processados por terem tomado há mais de um ano, decisão  respaldada constitucionalmente pelo Conselho Universitário, que aprovou a nomeação do novo corregedor geral, Ronaldo David Viana Barbosa. Ele assumiu em fevereiro de 2018, quando Rodolfo Hickel do Prado, apontado como o principal pivô do suicídio do reitor Cancellier, foi exonerado do cargo. Hickel, cujo mandato expirou em maio do ano passado, está por trás do novo ataque à autonomia universitária.

    Mesmo desligado da UFSC há mais de um ano e tendo retornado ao órgão de origem (AGU/SC), Hickel representou denúncia contra Barbosa, levantando acusações não comprovadas sobre descumprimento do horário de expediente.

    Nesta semana, o atual corregedor, que nunca respondeu qualquer processo administrativo, sofreu “afastamento preventivo” do cargo e se encontra impedido de entrar na universidade por determinação de portaria emitida pela CGU. A medida segue os mesmos padrões usados para justificar a prisão do professor Luiz Cancellier: evitar influência nas investigações em torno do processo produzido por Hickel.

    Rodolfo Hickel do Prado, apontado como o pivô da tragédia da UFSC com o suicídio de Cancellier
    Foto: AGECOM/UFSC

    Hickel do Prado intrigou o reitor Luiz Carlos Cancellier com a delegada da PF, Érika Marena, hoje integrante da equipe de Sérgio Moro no COAF, com denúncias de desvios de verbas nunca comprovadas pela Operação Ouvidos Moucos. Ao dar ouvidos a suas acusações, a Polícia Federal invadiu o campus em 13 de setembro de 2017, e prendeu o reitor em presídio de alta periculosidade, sem processo judicial e sem direito à defesa, sob a alegação de tentar interditar a investigação da PF.  Hickel foi afastado por demonstrar publicamente ânimo contra a instituição universitária incompatível com o cargo e também por levantar novas calúnias contra o reitor morto, que já não podia se defender.

    Além disso, como alegou Balthazar, estava sendo investigado em processo administrativo por abuso de poder, difamação, assédio moral, assédio sexual, tortura psicológica, tratamento grosseiro e perseguição contra dezenas de  estudantes, servidores e professores. No início deste semestre, a própria CGU esteve na UFSC ouvindo inúmeras testemunhas para o inquérito, cujo teor é mantido sob sigilo pelo órgão.

    Coletiva com o reitor e a vice-reitora
    Foto AGECOM/UFSC

    Em entrevista coletiva ontem, às 16 horas, Balthazar denunciou as arbitrariedade da CGU, que está sob o comando do controlador Gilberto Waller Júnior, à comunidade universitaria e à sociedade em geral. Segundo o reitor e professor de ciências jurídicas, os abusos estão sendo encaminhados à OAB – Ordem dos Advogados do Brasil e à Andifes (Associação Nacional de Dirigentes de Ensino Superior), como flagrantes de violação da autonomia constitucional. Balthazar e a vice Alacoque argumentam que, passado um ano e dois meses da nomeação de Barbosa (corregedor chefe) e de Fabrício Guimarães (assistente) para a Corregedoria Geral da UFSC, em decisão aprovada pelo CUN, a CGU toma uma decisão extrema e abusiva sem nunca antes tê-la contestado formalmente.

     

    Atualização – 13/4, 12:10 –

    Ao final desta última sexta-feira (12/4), o corregedor Ronaldo David Viana Barbosa, nomeado em maio de 2018 com aprovação do Conselho Universitário, enviou uma carta ao reitor Balthazar pedindo exoneração do cargo para não prejudicar os dirigentes da universidade. “A minha manutenção na função de Corregedor da UFSC pode acarretar prejuízos a outras pessoas, como demonstra o desproporcional e despropositado processo instaurado contra Vossa Magnificência”, diz um trecho da carta.
    Seu gesto foi visto como uma forma de proteger a instituição do Estado de Exceção vivido hoje pelas universidades no governo Bolsonaro. Ao contrário do ex-corregedor, Hickel do Prado, que impôs sua presença mesmo depois de ter produzido o processo de abuso de poder que causou a morte de Cancellier,  preferiu sacrificar o cargo a ser um pivô de discórdia e impasse. Recusou o lugar de pretexto para a perseguição desmedida, que tenderia a se agravar com o movimento de reação da equipe e da comunidade à sua interdição pela CGU. Na sequência, o reitor informou a decisão do corregedor ao órgão federal e emitiu uma nota oficial comunicando o afastamento por decisão própria do servidor e o cumprimento da arbitrariedade imposta pela controladoria.
    A queda de braço em torno do direito a nomear o corregedor interno é apenas uma das frentes dos violentos ataques federais para destruir a autonomia administrativa, financeira e pedagógica das universidades  e enfraquecer as instituições de ensino como centros de produção críticos, pluralstad e democráticos de pesquisa e pensamento. O único caminho é o da luta e da resistência para não entregar ao estado fascista uma independência conquistada a duras penas com o movimento constitucional pós-golpe de 64.

    LEIA A MATÉRIA OFICIAL DO SITE DA UFSC

     

  • UM ANO DA PRISÃO DE CANCELLIER: Universidade prepara ação judicial contra abusadores

    UM ANO DA PRISÃO DE CANCELLIER: Universidade prepara ação judicial contra abusadores

    “Que ninguém mais seja julgado, condenado e executado sumariamente como vocês e meu irmão foram”

    (Acioli Cancellier, irmão do reitor suicidado)

    Da esquerda para a direita: o irmão Júlio, o filho Mikhail, o irmão mais velho Acioli e o reitor

    Há um ano, o então reitor da UFSC, Luiz Carlos Cancellier de Olivo, tornou-se a primeira vítima fatal explícita da prisão preventiva abusiva e da espetacularização da justiça no Brasil. Muito pouco, ou nada se conseguiu para reparar justiça à memória do reitor e a sua família, além de algumas derrotas à perseguição que os responsáveis pelo abuso de poder continuaram a promover contra professores e dirigentes da universidade. Esse quadro, contudo, começou a mudar. O novo reitor Ubaldo César Balthazar começa a desencadear uma vigorosa ofensiva para levar à investigação e à punição dos abusadores. A Procuradoria da Universidade deve entrar nos próximos dias com um processo judicial contra os responsáveis pelo linchamento moral e jurídico de Cancellier, desde a sua base na Corregedoria Geral da UFSC. Nesta sexta-feira pela manhã, o professor Marcos Dalmau, preso junto com Cancellier e igualmente banido da instituição com outros quatro colegas, retornou a UFSC, depois de vencer mandado de segurança impetrado no TRF4.  Foi recebido numa cerimônia emocionada pelo reitor e equipe, na qual a solidariedade e o sentimento maior de defesa da instituição e dos direitos jurídicos falou mais alto do que as intrigas e manchas na reputação lançadas pela Operação Ouvidos Moucos no seio da comunidade universitária.

    Reitor Ubaldo Balthazar e pró-reitor de Relações Institucionais, Gelson Albuquerque entregam memorial dos abusos de poder a pedido do ministro Raul Jungmann

    Um outro passo para a criminalização dos procedimentos abusivos da Ouvidos Moucos na UFSC foi dado na quinta-feira (13/9), quando o reitor Ubaldo Balthazar e o pró-reitor de Relações Institucionais, Gelson Albuquerque, entregaram um dossiê ao ministro da Segurança Raul Jungmann, a  pedido dele, no seu gabinete em Brasília. O conjunto de documentos e testemunhos relata todos os desmandos, violações dos direitos humanos e jurídicos que envolveram a prisão do reitor, dos cinco professores e de um funcionário celetista. Na mesma hora, o memorial foi encaminhado à Corregedoria do Ministério para investigar a conduta dos agentes dos órgãos federais de representação local implicados na Operação e nas perseguições: Corregedoria Geral da UFSC, Polícia Federal, Justiça Federal, Ministério Público Federal e Controladoria Geral da União. São relatos da prisão e testemunhas dos abusos da Operação que já corriam de boca em boca na UFSC, mas foram sistematicamente ignorados pelos investigadores e juízes. Em dezembro do ano passado, o ministro da Justiça, Torquato Jardim, devolveu ao irmão do reitor uma representação da família contra a delegada Érika Mialik Marena, após a realização de uma apuração sumária e viciosa, comandada pelo próprio diretor de comunicação da servidora, Luiz Carlos Korff, quando ela ainda era superintendente da Polícia Federal em Santa Catarina. Dessa vez, com o escândalo da perseguição às vítimas, a denúncia alcançou outra dimensão.

    O pedido do dossiê foi motivado por manifestação do ministro Gilmar Mendes, que provocou Jungmann a investigar a delegada Érika Marena em razão do caráter absurdo e corporativista das perseguições e intimidações promovidas pela Polícia Federal aos dirigentes da UFSC, o chefe de gabinete Áureo Mafra de Moraes e o reitor Ubaldo Balthazar, numa tentativa de criminalizá-los pelas manifestações de dor e protestos da comunidade universitária pela morte de Cancellier. A primeira parte do dossiê denuncia os procedimentos persecutórios do corregedor geral da UFSC, Roldolfo Hickel do Prado, que alimentaram e subsidiaram a prisão de Cancellier e dos demais por tentativa de interdição das investigações, mesmo não tendo nenhum envolvimento com as suspeitas de desvios de verbas. Em seguida, o relatório reúne relatos que denunciam com detalhes as condições abusivas da prisão e tratamento dos professores em presídio de segurança máxima, solicitada pela delegada federal, com a anuência da juíza federal Janaína Cassol. A Corregedoria Geral da União e o Ministério Público Federal de Santa Catarina também são responsabilizados por terem encampado a  perseguição de professores e dirigentes da comunidade.

    Outra importante vitória foi o acolhimento nesta semana da manifestação do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), para que o corredor do órgão, Orlando Rochadel, investigue o procurador do MPF/SC, Marco Aurélio Dutra Aydos por ter insistido em apelação de denúncia contra o reitor Balthazar e seu chefe de gabinete, mesmo depois de rejeitada pela juíza federal Simone Barbisan Fortes. O Conselho considerou suspeita a atitude do procurador que, “com consciência e vontade, desviou-se do interesse público e se utilizou do cargo público por ele ocupado para censurar a liberdade de expressão de acadêmicos, docentes e servidores da UFSC, movimentando todo o aparato de Justiça criminal para tutelar interesse próprio, com base em sentimento pessoal de justo ou injusto”.

    Até então, os algozes não só não foram punidos, como continuaram a intimidar suas vítimas. Sequer a lei que pune autoridades por abuso de poder foi aprovada. O Projeto de Lei 7596, batizado em outubro de 2017 como Lei Cancellier, por proposição do senador Roberto Requião, teve decisão favorável no Senado, mas ficou engavetado no Congresso Nacional desde o dia 10 de maio do ano passado. Essas vitórias iniciais, contudo, mostram que nem todo sistema judiciário é conivente com a rede de horrores acionada contra a UFSC desde a prisão de Cancellier.

    14 DE SETEMBRO: DATA DE HORRORES

    O reitor Luiz Carlos Cancellier teve sua reputação arruinada por uma rede de intrigas e calúnias que se estendeu das páginas da Polícia Federal para a grande mídia e redes sociais. De jurista e acadêmico respeitado, ganhou os noticiários como chefe de uma quadrilha que teria roubado R$ 80 milhões da universidade, após ser detido em presídio de segurança máxima, junto com outros cinco professores da UFSC e um funcionário terceirizado.

    No início da manhã do dia 14 de setembro, Cancellier dormia no seu apartamento vizinho a UFSC quando, surpreendido  por uma escolta de mais de cem policiais de várias partes do país, atendeu a porta enrolado numa toalha de banho. Não tinha antecedentes criminais, não respondia um processo administrativo sequer, mas foi submetido à prisão preventiva, algemado nas mãos e acorrentado nos pés, sem direito à presunção de inocência ou à defesa prévia. No Presídio Masculino de Florianópolis, foi humilhado e desnudado na frente de outros presos por duas horas, antes de vestir o uniforme laranja. Até mesmo o acesso ao seu remédio para o coração foi boicotado, como seu irmão Acioli Cancellier de Olivo constatou com uma carcereira no dia seguinte ao relaxamento da prisão. Segundo os relatos do dossiê, ao reconhecer o reitor, um aluno seu atuante na carceragem teria mostrado no celular mensagem da delegada Marena com a ordem expressa: “É para tratar como preso comum”. Como era um homem alto, cardíaco e sedentário, o professor teve muita dificuldade de se abaixar de costas para ser submetido ao exame de revista anal. “Vejam, que chances ele teria de introduzir algo no seu corpo, se foi arrancado da cama por um esquadrão de policiais?”

    Do dia pra noite, um órgão federal de polícia levou um homem de vida acadêmica ao sacrifício, transformando-o em chefe de quadrilha

    Aos 59 anos, o reitor havia sofrido uma recente cirurgia cardíaca e a interrupção do tratamento pode ter sido fatal para desencadear o estado de depressão que o levou a suicidar-se dezoito dias depois. O verdadeiro horror, contudo, ainda viria. Com o relaxamento da prisão, foi proibido pela justiça de ingressar na UFSC, à qual se dedicou nos últimos 20 anos, como aluno, professor, diretor de centro e finalmente reitor. Sabendo por fontes do Ministério Público Federal em Santa Catarina que não poderia retornar à instituição, pagou seus advogados para não deixar dívidas à família e no dia seguinte, em 2 de outubro, jogou-se de cabeça do sétimo andar do Beira-mar Shopping, em Florianópolis com um bilhete no bolso, no qual atribuía sua morte ao banimento da universidade.

    Hoje, o irmão mais velho, Antônio Acioli Cancellier de Olivo, 67 anos, matemático, sindicalista, pesquisador aposentado do INPE, em São José dos Campos, dedica sua vida para a recuperação da memória e da reputação que Cau, filho de uma família muito pobre de Tubarão, construiu a duras penas, comendo pão de trigo com banana para conseguir estudar e se sustentar em Florianópolis. A mãe, costureira e o pai trabalhador no Lavador de Carvão em Capivari, não davam conta de sustentar os sonhos de formação dos três filhos, Acioli, Luiz Carlos e Júlio, o mais novo. É com o carinho do irmão mais velho que tomava conta dos demais, que ele conta e reconta, pacientemente, sem se exaltar com os detalhes mais perversos da sua perseguição, a história do mártir da Ouvidos Moucos. Ele foi, segundo Acioli, um adolescente rebelde e genial, intransigente diante das injustiças, “com uma produção científica espantosa para quem iniciou a vida acadêmica aos 40 anos e aos 59 já era reitor”. Com Cau, Acioli aprendeu o apreço pela luta política, “embora eu, ao contrário dele, tenha começado muito mais tarde nessa esfera”.

    Líder estudantil, jornalista fichado pelo SNI durante a Ditadura, o intrépido militante do Partido Comunista Brasileiro compreendeu na maturidade que o caminho para a luta era a conciliação política e adotou-a como princípio ideológico em sua administração da reitoria. Foi quando mais ele repudiava radicalismos e acreditava na harmonia entre todas as tendências que os aparatos de repressão de Temer puxaram o seu tapete, sem deixar-lhe outra saída, a não ser oferecer a própria vida em sacrifício para denunciar a violação total dos direitos humanos, jurídicos e democráticos que ele apregoava em sala de aula. Abaixo a carta escrita por Acioli em homenagem aos professores que continuam banidos da universidade. Ao mesmo tempo ele homenageia o próprio irmão, mostrando que todos são vítimas da mesma supressão de direitos e do mesmo Estado de Exceção que vitimou Cancellier.

    “Cau se foi, seu gesto nos doeu muito, mas, em seguida, atentamos que o fez não por sua imagem enlameada, mas para mostrar a cada um de seus carrascos, que não se pode tirar o que de mais importante um homem digno possa ter: a honra. E passamos a nos orgulhar daquele gesto corajoso e heroico”.

    “E me comprometo, a cada dia, com mais intensidade, envidar esforços na luta pela rediginficação do Cau e de todos vocês. Lutar pela recuperação da honra maculada de cada um é lutar pela garantia que nenhum ser humano seja julgado, condenado e executado sumariamente como vocês todos foram. E conclamo aos que não se conformam com o arbítrio a se juntarem nessa escalada”

    (Acioli Cancellier de Olivo)

    Irmãos Cancellier, na formatura do reitor em Direito

    Meus caros professores,

    Há exatamente um ano atrás eu nunca havia ouvido falar de seus nomes. Naquela manhã fui acordado com um telefonema de uma amigo que me perguntava: Você é parente do reitor da UFSC? Ao responder que eu era irmão, disse-me que ele acabara de ser preso.

    Naquela manhã, quando a Polícia Federal invadiu as suas residências e a do Cau, a violência da ação mudou drasticamente a vida de vocês e de suas famílias; foi o ato inicial de uma tragédia que nos levou o Cau, abalou profundamente nossa família, seus familiares, os amigos em comum, a UFSC e por que não dizer, o país inteiro que não se submete à ditadura dos tanques e togas, citando um jornalista.

    Daquela data em diante, seus nomes começaram a me soar familiares e mesmo sem conhecê-los, uma empatia imensa me ligou a cada um de vocês. O sofrimento de cada um de seus familiares me fazia sofrer, pois refletia o sofrimento de cada uma dos meus.

    Cau se foi, seu gesto nos doeu muito, mas, em seguida, atentamos que o fez não por sua imagem enlameada, mas para mostrar a cada um de seus carrascos, que não se pode tirar o que de mais importante um homem digno possa ter: a honra. E passamos a nos orgulhar daquele gesto corajoso e heroico. Se no dia 14 de setembro de 2017, arrancaram da cama um homem digno, o cadáver que nos devolveram 18 dias após, não o reconhecemos. Não por seus ossos estraçalhados; não por sua carne dilacerada; não por sua face desfigurada. Não o reconhecemos porque aquele cadáver não tinha a mínima semelhança da pessoa que o Cau fora em vida: honrado, humanista, generoso e solidário.

    Um ano se passou e, em todos esses dias, minha luta tem sido em uma única direção: resgatar a honra de meu irmão. Buscar que o Estado reconheça que seus agentes erraram. Erraram em caluniá-lo; erraram em humilhá-lo; erraram em castrá-lo, apartando daquilo que ele mais se orgulhava, servir a UFSC.

    Meus caros amigos, se assim posso chamá-los, pois um sentimento de amizade e fraternidade nos uniu pela tragédia. Meus irmãos: vocês foram também vítimas da mesma injustiça; injustiça que não os levou deste mundo, mas que certamente causou perdas e danos irreparáveis. Que lhes irá devolver as angústias, sofrimentos e dores que cada um de vocês passou nestes últimos anos? Quem devolverá a cada um de seus entes queridos a alegria de viver, o brilho nos olhos e o sorriso que minguaram nestes 365 dias? Quem irá garantir que a sua tão esperada reintegração a UFSC ocorra sem traumas? Quem poderá dizer que vocês poderão ensinar, orientar e frequentar o meio acadêmico com a segurança de homens honestos e dignos, sem a certeza de um dedo acusador na figura de um aluno ou de seus próprios pares?

    Em ocasião recente fiz uma analogia, que reitero: O Cau morreu, vocês sobreviveram. Mas esta sobrevida, sem a reparação integral da honra e dignidade feridas, equivale a uma morte em vida. Tramita no Congresso Nacional projeto de Lei que pune o abuso de autoridade, cujo relator no Senado, Roberto Requião, a denominou de Lei Cancellier. Mas não podemos esperar. A cada dia que passa, sem a devida reparação da honra de cada um de vocês, um pouco de cada um morre.

    Então, meus queridos amigos e irmãos, nesta data simbólica, uno meus pensamentos aos seus; nosso familiares são solidários aos seus familiares. E me comprometo, a cada dia, com mais intensidade, envidar esforços na luta pela rediginficação do Cau e de todos vocês. Lutar pela recuperação da honra maculada de cada um é lutar pela garantia que nenhum ser humano seja julgado, condenado e executado sumariamente como vocês todos foram. E conclamo aos que não se conformam com o arbítrio a se juntarem nessa escalada, pois citando o mesmo jornalista, “nas ditaduras, não há lugar para míopes inocentes.”

    Um fraterno abraço
    Acioli Cancellier de Olivo

     

    ​COMEÇA A DESABAR NA JUSTIÇA OS DESMANDOS DA “OUVIDOS MOUCOS”

    Docente preso por Érika Marena na UFSC vence mandado de segurança no TRF4 e volta hoje ao trabalho na UFSC

    Abraço coletivo ao professor reintegrado fortalece a própria comunidade, dividida pelo processo calunioso. Foto Ítalo Padilha/AGECOM

    O professor de Administração Marcos Baptista Lopez Dalmau foi restabelecido hoje (14/9) em suas atividades docentes no Curso de Administração da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), de onde estava proscrito desde o final do ano passado pela Operação Ouvidos Moucos. Em cerimônia de boas vindas realizada hoje (14/9) pela manhã, ele foi recepcionado no gabinete do reitor Ubaldo Balthazar e equipe, alem de gestores da área e colegas de trabalho. Seu retorno cumpre decisão da 7ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4), tomada na terça-feira (11), que acatou o mandado de segurança da defesa do professor contra as medidas cautelares impostas pela Justiça Federal de Florianópolis que o afastaram da instituição. A vitória de Dalmau em habeas corpus individual abre importante precedente para que os outros quatro professores banidos da universidade possam retornar à sala de aula, como seu colega da Administração Eduardo Lobo, que teve seu pedido para retornar negado pelo mesmo TRF4 no início do ano passado.

    Dalmau recebe o abraço de Acioli que estende luta pela memória do irmão a todos os perseguidos. Foto: Ítalo Padilha/AGecom

    A cerimônia reuniu, além do reitor, pró-reitores e secretários da UFSC, o chefe de Gabinete Áureo Mafra de Moraes; o irmão do ex-reitor Cancellier, Acioli de Olivo; o chefe do Departamento de Administração, Pedro Antônio de Melo; o diretor do Centro Socioeconômico, Irineu Manoel de Souza, que foi candidato de oposição a Ubaldo, e a vice-diretora Maria Denize Henrique Casagrande. Abraçado por todos eles, o primeiro professor a ser reintegrado às atividades docentes desde a prisão, se disse, mais tarde, “emocionado e feliz com a solidariedade e o carinho com que foi recebido no campus e nas instalações do Curso de Administração”.

    Dalmau foi preso em 14 de setembro com outros quatro professores, um servidor terceirizado e o reitor da universidade, Luiz Carlos Cancellier de Olivo, todos incriminados pela Operação Ouvidos Moucos, sob suspeita de desvio de verbas do Ensino a Distância do Programa Universidade Aberta. Comandada pela delegada Érika Marena, responsável pela prisão de Cancellier, com o aval da juíza da 1ª Vara Criminal Federal de Florianópolis, Janaína Cassol, a operação prometia desvendar um esquema milionário de desvios de verbas da educação. Passado um ano da prisão, o braço catarinense da Lava Jato nada concluiu e postergou a investigação, depois de emitir um relatório que resultou no indiciamento de outros 23 docentes da UFSC.

    Outros quatro professores – Marcio Santos, Rogério da Silva Nunes, Gilberto de Oliveira Moritz e Eduardo Lobo -, também investigados pela operação, continuam impedidos de retornar às suas atividades. Eles recorreram ao próprio TRF-4 em mandados diferentes, mas como tiveram seus pedidos negados, apelaram ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) e ainda aguardam decisão.

    Reitor e equipe manifestam solidariedade ao professor reabilitado Marcos Dalmau e aos demais que permanecem afastados. Foto: JL

    Pela decisão unânime, Marcos Dalmau deveria reassumir seu cargo de professor e atuar em sala de aula com a notificação da universidade, o que aconteceu ontem (13/9). A relatora responsável por analisar o mandado de segurança em favor de Dalmau, Salise Monteiro Sanchotene, votou a favor do retorno do docente, seguida pelos desembargadores Luiz Carlos Canalli e Claudia Cristina Cristofani. O parecer foi unânime, mas com restrições: até o final das investigações, Dalmau está impedido de “atuar nas atividades que gerem percepção ou pagamento de bolsas relacionadas ao ensino à distância (EAD) e ao Laboratório de Produção de Recursos Didáticos para Formação de Gestores (LabGestão)”.

    “Essa decisão vem reparar uma injustiça perpetrada contra o impetrante, que ficou impedido de exercer seu trabalho durante quase um ano, por conta da ilegalidade do afastamento indeterminado, sem mera previsão de formação de culpa, em face de uma marcha pré-processual confusa, retardatária e revestida de autoritarismo injustificável”, afirmou o advogado Adriano Tavares da Silva, que defende o professor da UFSC .

     

     

    Conselho propõe inquérito contra procurador que criminalizou manifestações na UFSC

    Por Marcelo Auler
    O conselheiro Leonardo Acciolly da Silva quer que o corregedor do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), Orlando Rochadel investigue o procurador da República de Santa Catarina, Marco Aurélio Dutra Aydos por ele “com consciência e vontade, desviou-se do interesse público e se utilizou do cargo público por ele ocupado para censurar a liberdade de expressão de acadêmicos, docentes e servidores da UFSC, movimentando todo o aparato de Justiça criminal para tutelar interesse próprio, com base em sentimento pessoal de justo ou injusto”. Na suposta defesa da honra da delegada federal Erika Mialik Marena, Aydos tentar processar o reitor da Universidade Federal de Santa Catarina, Ubaldo Cesar Balthazar e o seu chefe de gabinete, Áureo Mafra de Moraes, por conta de críticas feitas por manifestantes não identificados, em cerimônia na UFSC, aos responsáveis pela Operação Ouvidos Moucos que levou o antigo reitor, Luiz Carlos Cancellier, ao suicídio. Depois de ver sua denúncia rejeitada, Aydos continua tentando processar o reitor e o chefe de gabinete.

    Insistência de Aydos

    Apesar de a denúncia do procurador Aydos contra o reitor e seu chefe de gabinete ter sido rechaçada pela juíza Simone Barbisan Fortes, em 30 de agosto, como informamos em Juíza rejeita denúncia contra reitor e “adverte” agentes públicos, ele não se deu por vencido.

    Quatro dias depois, em 3 de setembro, recorreu da decisão à 3ª Turma Recursal de Santa Catarina. Insiste na sua posição de processar os dois por não terem impedido que durante uma cerimônia na universidade, em dezembro de 2018, manifestantes não identificados expusessem uma faixa com críticas à delegada, a juíza Janaína, ao procurador da República, André Stefani Bertuol,  ao corregedor-geral da UFSC, Rodolfo Rickel do Prado e ao superintendente da CGU, Orlando Vieira de Castro Junior. Ou seja, cobrou de ambos a censura à livre manifestação da comunidade acadêmica.

    Neste recurso (leia aqui) chega a dizer que a juíza Simone, invertendo os papéis, perdoou os agressores da delegada mesmo sem procuração para tal.  Na peça com 13 laudas, ele expõe:

    Exorbitou a decisão recorrida em excesso passional e argumentativo que normalmente fazem parte da defesa prévia, fazendo-se lamentável disfunção de justiça, consistente na condenação da vítima, de um lado, e perdão, ilegítimo, dos agressores, de outro lado. A ninguém é conferido direito de “perdoar por procuração” – um “horror” que deturpa a essência da Justiça, segundo extraordinária lição do filósofo Emmanuel Lévinas (in Quatro leituras talmúdicas, São Paulo: Perspectiva, 2003, p. 56).” (grifo do original)

    Em seguida insistiu nas críticas à juíza:

    “A decisão recorrida abrigou no largo guarda-chuva da justa causa tudo quanto encontrou para perdoar por procuração. A magistrada simplesmente substituiu-se à Ofendida para decidir que ela não devia ter representado criminalmente. Mas com que direito? O cenário do equívoco é metajurídico. Construiu-se uma narrativa histórica de alegado progresso, não apenas questionável, mas também falseável (segundo o método de Popper, que aqui é aplicável, por tratarmos de uma teoria, não de um fato). Em primeiro lugar, é preciso resgatar a autoridade do Supremo Tribunal Federal, que não ampara essa narrativa.”

    Procurador contesta afirmações de Nassif sobre o fascismo

    Onde está o fascismo?

    Nesta sua apelação, ele também criticou o jornalista Luís Nassif de tentar intimidar a Justiça, ao escrever no JornalGGN – MPF denuncia reitor da UFSC por não censurar manifestação – que ele, Aydos, “colocou o MPF na ante-sala do fascismo”. Para o procurador, o fascismo esteve próximo da manifestação ocorrida na universidade com críticas à delegada. Diz na sua peça:

    “(…) é oportuno refutar com veemência tentativas de intimidação à Justiça, mal disfarçadas sob o manto sempre sagrado da crítica, exemplificadas na verve do jornalista Luís Nassif, que deseja ver na denúncia do Ministério Público a “ante-sala do fascismo”. No nascimento da modernidade, criou-se a imprensa como uma instituição liberal, bem retratada por Jürgen Habermas como a primeira grande “transformação estrutural do espaço público”. Naquele tempo havia publicistas. Mas Leibnitz (1646-1716), contemporâneo do nascimento da modernidade, já registrava, a propósito, que essa criação típica da Inglaterra, a dos “public spirits” inspirados pelo amor à coisa pública que praticaram outrora gregos e romanos, já estava desaparecendo e ficando fora de moda em seu tempo (…)

    Hoje os publicistas desapareceram. Remanescem os ideólogos, tipos forjados da adulteração do original, que decretam respostas antes de fazerem as perguntas. Uma via de esclarecimento mútuo consiste em usar o esquecido ponto de interrogação do teclado e reformular seus decretos. Podemos perguntar, por exemplo. Onde fica a ante-sala do fascismo?

    Assim como outras formas de dominação descobertas pela modernidade, o fascismo não é uma experiência completamente reeditável. Ocorreu na Itália, sob circunstâncias dadas, e não se repetirá jamais de modo completamente igual, porque a história não se repete. Mas um fenômeno desses, depois de descoberto, integra o arsenal de agressões que forma o subterrâneo bárbaro de nossa civilização. Elementos de fascismo, assim como dos totalitarismos nazista e soviético, eventualmente podem emergir na superfície civilizada de democracias. Normalmente emergirão em contextos fortemente ideologizados, à revelia da consciência dos atores.

    Vale então conhecer um bom retrato da ascensão do fascismo italiano no extraordinário romance de Ignazio Silone, Fontamara. Numa das cenas memoráveis do livro, presenciamos uma cerimônia típica do Fascismo, o exame da população em praça pública a partir de duas perguntas: Viva quem? Abaixo quem?

    A solenidade de que trata a presente causa ecoa vividamente as cerimônias daquela descoberta italiana. Ergue-se a fotografia de um servidor público em praça pública com a descrição, sempre sumária, de seus alegados malfeitos. Como o fascismo é um movimento de massas, é sempre suficiente que se grite “Abaixo” alguém, para liberar o exército de seguidores para barbarizarem. É extraordinariamente curto o passo da violência simbólica para a violência física”.

    Leia os detalhes e conheça os documentos em: https://marceloauler.com.br/por-querer-censura-na-ufsc-procurador-sera-investigado/

     

     

     

     

     

  • Deduragem e prisão espetacular matam reitor da Federal de Santa Catarina. Chega!

    Deduragem e prisão espetacular matam reitor da Federal de Santa Catarina. Chega!

    “Minha morte foi decretada no dia de minha prisão”, escreveu o reitor da UFSC, Luiz Carlos Cancellier de Olivo, no bilhete que deixou ao se suicidar nesta segunda-feira, 2/10, em Florianópolis.

    Não foi um suicídio discreto. Cancellier, morto aos 60 anos, deixou à vista de todas e todos o seu corpo inerte no meio do vão central às 10h30, no mais tradicional shopping da capital catarinense, o Beiramar.

    Trata-se de suicídio que cobre de vergonha todo o país, que consagrou como métodos de investigação a deduragem, a humilhação pública e a prisão estrepitosa, sob os holofotes de uma mídia linchadora e vulgar.

    Reconhecido como intelectual e jurista comprometido com os Direitos Humanos e a diversidade, Cancellier militou no movimento estudantil durante a resistência à Ditadura Militar (1964-1985), tendo participado ativamente das campanhas pela anistia, pelas diretas-já e pela Constituinte.

    Nada dessa trajetória, entretanto, foi capaz de frear o ânimo da delegada Erika Mialik Marena, da Polícia Federal, que pediu e conseguiu da Justiça a decretação da prisão temporária do reitor Cancellier por supostas irregularidades cometidas com relação às prestações de contas dos contratos do Ensino à Distância (EaD) oferecidos pela instituição entre 2008 e 2014. Ressalte-se que Cancellier tornou-se reitor da UFSC apenas em maio de 2016. A mesma delegada pediu e obteve a decretação do “AFASTAMENTO CAUTELAR DO EXERCÍCIO DO CARGO/FUNÇÃO PÚBLICA de todos os servidores públicos abaixo relacionados [inclusive o reitor], com proibição de que exerçam cargo público de qualquer natureza, de que entrem na UFSC e de que tenham acesso a qualquer material da UFSC…”

     Como sempre tem ocorrido, foi uma delação que serviu de gatilho às investigações –“ao que tudo indica feita por um professor do Curso de Física e dirigida ao MPF/SC”.

    Na edição de 14 de setembro, o “Bom Dia Brasil” abriu com informações sobre a operação da Polícia Federal desencadeada naquele mesmo momento em Santa Catarina e Brasília contra “fraudes no ensino à Distância”. A apresentadora Ana Paula Araújo assim comentou a notícia: “É roubalheira para tudo que é lado! (…) O reitor da Universidade de Santa Catarina foi preso!”

    Em artigo publicado no jornal “O Globo”, apenas quatro dias antes do suicídio, o reitor Luiz Carlos Cancellier de Olivo relatou o sofrimento moral que lhe foi imposto:

    “A humilhação e o vexame a que fomos submetidos — eu e outros colegas da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) — há uma semana não tem precedentes na história da instituição. No mesmo período em que fomos presos, levados ao complexo penitenciário, despidos de nossas vestes e encarcerados, paradoxalmente a universidade que comando desde maio de 2016 foi reconhecida como a sexta melhor instituição federal de ensino superior brasileira; avaliada com vários cursos de excelência em pós-graduação pela Capes e homenageada pela Assembleia Legislativa de Santa Catarina. Nos últimos dias tivemos nossas vidas devassadas e nossa honra associada a uma “quadrilha”, acusada de desviar R$ 80 milhões. E impedidos, mesmo após libertados, de entrar na universidade.”

    Em entrevista à jornalista livre Raquel Wandelli, Júlio Cancellier, irmão do reitor morto, disse Luiz Carlos “deu todos os sinais em público de que estava fortemente deprimido e se sentindo exilado, mas não pôde receber o apoio dos amigos porque a juíza responsável pela primeira ordem de prisão mantinha-o incomunicável. Essa foi a grande mágoa dele: estava se sentindo humilhado e vexado e ainda privado do convívio com as pessoas”.

    A Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), emitiu uma nota pública em que expressa o pesar pela morte prematura de Cancellier ao mesmo tempo em afirma a “absoluta indignação e inconformismo com o modo como foi tratado por autoridades públicas o Reitor, ante um processo de apuração de atos administrativos, ainda em andamento e sem juízo formado.”

    “É inadmissível que o país continue tolerando práticas de um Estado policial, em que os direitos mais fundamentais dos cidadãos são postos de lado em nome de um moralismo espetacular. É igualmente intolerável a campanha que os adversários das universidades públicas brasileiras hoje travam, desqualificando suas realizações e seus gestores, como justificativa para suprimir o direito dos cidadãos à educação pública e gratuita.”

    Só para lembrar, a narrativa inspiradora do juiz Sergio Moro é a Operação Mãos Limpas, levada a cabo durante os anos 1990 na Itália. Também baseada em delações, vazamentos seletivos, prisões e humilhações públicas, a Mãos Limpas teve relação causal direta com 11 suicídios em 1992, 10 em 1993 e outros 10 em 1994, que foram os anos em que as fogueiras estiveram mais acesas.

    Quantos mais aceitaremos que morram, literalmente “de vergonha”, até que paremos com a máquina de moer gente que está instalada no Judiciário brasileiro?