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  • INSTALAR USINA NUCLEAR EM ITACURUBA FERE A CONSTITUIÇÃO

    INSTALAR USINA NUCLEAR EM ITACURUBA FERE A CONSTITUIÇÃO

    por Daniel Filho

    O sertão de Pernambuco, especificamente a cidade de Itacuruba, com uma população de 4.754 pessoas (de acordo com IBGE 2015), além da pandemia convive, ainda, com a possibilidade de se ver materializar em seu território a construção de um complexo com seis reatores nucleares.
    O debate perdura ainda que contrariando a própria Constituição do Estado de Pernambuco que em seu artigo 216 reza:

    “Fica proibida a instalação de usinas nucleares no território do Estado de Pernambuco enquanto não se esgotar toda a capacidade de produzir energia hidrelétrica e oriunda de outras fontes”.

    Conversamos com Célio Bermann, professor associado do Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo que nos aponta: o Estado está longe de esgotar as possibilidades de geração de energia. Nas suas próprias hidrelétricas é possível, a um custo 20 vezes menor da construção do complexo de usinas, garantir a metade dessa produção energética:

    “Meus cálculos sobre o investimento necessário para colocar as oito turbinas e os oito geradores faltantes nas usinas hidrelétricas de Itaparica e Xingó, se tiver água suficiente para tanto no rio São Francisco:

    Itaparica: quatro turbinas de 250 MW cada – 600 milhões de dólares

    Xingó: quatro turbinas de 500 MW cada – 1 bilhão e duzentos milhões de dólares

    Ou seja, para se ter quase a metade da energia das usinas nucleares que querem construir em Itacuruba ou em qualquer outro lugar nas margens do São Francisco (3.000 MW contra 6.600 MW) vai se gastar um total de 1 bilhão e oitocentos milhões de dólares, contra 36 bilhões de dólares.
    Ou seja: vinte (20) vezes mais barato.
    E sem precisar fazer nenhuma grande obra, bastando motorizar as duas usinas colocando as oito turbinas e os oito geradores faltantes.”

    No próximo sábado (4 de Julho) o canal “Conexão Xô Nuclear” fará uma roda de Conversa Antinuclear que contará com a participação do relator da PEC em discussão na Assembleia, Deputado João Paulo (PCdoB) e Anivaldo, presidente do Comitê da Bacia do Rio São Francisco.
    A partir das 16H00min no YouTube e Facebook:

    https://www.youtube.com/ConexãoXôNuclear

    https://www.facebook.com/XoNuclear/live

  • Ativistas debatem sobre a construção de usina nuclear em Pernambuco

    Ativistas debatem sobre a construção de usina nuclear em Pernambuco

    Há aproximadamente 450 km de Recife, sertão de Pernambuco, está a cidade de Itacuruba, com uma população de 4.754 pessoas. Nesse pequeno município existe um projeto do Governo Federal, para construção de um complexo com seis reatores nucleares e uma emenda à Constituição de Pernambuco pretende liberar a construção desta usina nuclear no Estado. Nesta primeira transmissão da série #LIVESANTINUCLEARES, o ativista Chico Whitaker entrevistou a cacica Evani Tuxá, da aldeia Tuxá, cujo território pode se tornar canteiro de obras das usinas de Itacuruba e o bispo de Floresta, Dom Gabriel Marchesi, que tem lutado contra esse projeto.

     

     

    REPORTAGEM SOBRE O PROJETO FEDERAL DA USINA NUCLEAR EM ITACURUBA:

    A luta ambiental dos índios Tuxás contra o retrocesso da usina nuclear

  • A luta ambiental dos índios Tuxás contra o retrocesso da usina nuclear

    A luta ambiental dos índios Tuxás contra o retrocesso da usina nuclear

    Com a promessa de empregabilidade em uma região carente e que já sofreu uma tragédia, quando na década de 1980, a construção da barragem de Itaparica, inaugurada em 1988, inundou todo o território das cidades de Itacuruba, Petrolândia e Rodelas, atingindo assim as comunidades indígenas e quilombolas, o Governo Federal vem prometendo mundos e fundos para a pequena população de menos de 5 mil habitantes da cidade de Itacuruba.

     

     

    Sobre a inundação, no livro “Tuxá, os Índios do Nordeste, o autor Orlando Sampaio lembra o fato: “Com a cidade de Rodelas, ficaram sob as águas as habitações e as ilhas dos índios Tuxá. A ilha da Viúva, a mítica terra em que esses índios faziam a agricultura e praticavam seus rituais, tornou-se um acidente histórico submerso no lago.”

    Viajamos até lá e entrevistamos várias pessoas de comunidades indígenas, quilombolas e das cidades de Itacuruba e Floresta, onde se concentra o movimento da igreja católica que é contrária a construção da Usina Nuclear com seis reatores na região e que conta com dois lobistas do Governo Federal e Estadual respectivamente: Fernando Bezerra Coelho, senador (MDB) e Alberto Feitosa, deputado estadual (SD).

     

    tuxas contra usina nuclear
    Entrada do aldeia do povo Tuxá, em Itacuruba, Pernambuco

    Em breve traremos novas entrevistas sobre um assunto tão absurdo e surreal, pois é totalmente na contramão da tendência mundial, que é desligar todas as Usinas Nucleares, a exemplo da Alemanha e Japão, que já vem nesse processo há alguns anos, mas que se tratando de desgoverno Bolsonaro, a gente até entende.

    Videorreportagem: Sergio Gaspar, Veetmano Prem, Daniel Barros e Eduardo Nascimento

    Texto: Rodrigo Pires

    #XôNuclear #Itacuruba #UsinaNuclear #Pernambuco

    LEIA MAIS EM NOSSO SITE SOBRE O PROJETO DE CONSTRUÇÃO DA USINA NUCLEAR EM PERNAMBUCO

    Carta de Floresta, 06 de novembro de 2019

    BACURAU E ITACURUBA: A HISTÓRIA SE REPETE, A PRIMEIRA COMO FICÇÃO, AMBAS COMO TRAGÉDIAS

    *Essa matéria faz parte de uma série de reportagens que iremos fazer a respeito da construção do complexo nuclear em Itacuruba, sertão de Pernambuco. Para viabilizar nossas viagens, estamos realizando campanhas boca a boca em Recife, junto aos parceiros que podem de alguma forma, contribuir para o bom jornalismo.

    Patrocinadores:

    FETAPE – Federação dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares do Estado de Pernambuco

    Mandato do Vereador Ivan Moraes (PSOL)

    SINDSPREV – Sindicato dos Trabalhadores Públicos Federais em Saúde e Previdência Social no Estado de Pernambuco

  • Itacuruba recebe palestra sobre danos da usina nuclear

    Itacuruba recebe palestra sobre danos da usina nuclear

    Há aproximadamente 450 km de Recife, sertão de Pernambuco, está a cidade de Itacuruba, com uma população de 4.754 pessoas (de acordo com IBGE 2015). Nesse pequeno município existe um projeto do Governo Federal, para construção de um complexo com seis reatores nucleares.

    Aconteceu no último sábado (08.02) uma palestra sobre os impactos sociais da construção da usina. O evento teve a palestra com a professora da Universidade Federal Fluminense (UFF) e doutora em Auditoria Social, Fátima Pinel. Logo após a roda de conversa, foi exibido o filme Bacurau, de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dorneles.

    “Tenho estudos acadêmico-científicos para afirmar, como também evidenciar, porque sou totalmente contra a construção da usina nuclear no entorno de Itacuruba, local escolhido estrategicamente pela presença do urânio 235. Esta usina provavelmente gerará empregos radioativos, contaminação e radiação para o entorno, como câncer no pulmão e tireoide, vide o caso de Caetité na Bahia, além da morte do Rio São Francisco” disse a professora, que é autora do Livro Modelo de Auditoria Social para Transnacionais que Destroem a Natureza e colonizam os Povos.

    “Como consequência das pressões internacionais, que exigem um planeta livre da radiação dos acidentes fatais nucleares, como vimos o exemplo Fukushima e Chernobyl, estas usinas estão sendo desativadas em países desenvolvidos o que é um processo complexo, duradouro e caro, devido aos resíduos tóxicos que permanecem durante décadas na natureza”, conclui.

     

    cacica tuxa usina nuclear
    A cacica Evani Tuxá Campos evidencia que é muito claro o interesse de grandes empresas na construção da usina nuclear

    Para a cacica Evani Tuxá Campos, a palestra foi muito importante. “Até agora, todos os debates que tivemos até hoje, se assim posso falar, foram só com quem defendia a construção da usina nuclear. Diferente de hoje. Para além disso, trouxe elementos importantes que apontam o interesse das grandes empresas nesse projeto”, salientou.

    Por outro lado existem pessoas que são favoráveis a construção da usina, como é o caso de Marcineide Freire, dona da pousada Três Irmãos, que argumenta a mesma coisa que os pró-usina falam: geração de emprego e renda! Mas nós sabemos que não é bem assim e já publicamos aqui uma entrevista com Angelo Bueno, do Conselho Indigenista (CIMI) que pontuou: “como é que essa população será empregada se ninguém tem especialização de energia nuclear! Lógico que esse empregos são pra quem é de fora.”

    “Achei muito representativo quando os estrangeiros entraram na cidade para matar todos e o povo se organizou para lutar. Isso pra mim mostra que mesmo com o interesse econômico das grandes multinacionais se a gente se organizar podemos vencer” disse Netinho Tuxá, da Comissão de Jovens Indígenas de Pernambuco (COJIPE), quando perguntamos qual a opinião dele sobre o filme Bacurau.

    Esse evento faz parte de um série de atividades que serão realizadas neste ano contra a construção do complexo nuclear em Itacuruba.

    LEIA MAIS SOBRE O PROJETO DE CONSTRUÇÃO DA USINA NUCLEAR EM PERNAMBUCO

    Carta de Floresta, 06 de novembro de 2019

    BACURAU E ITACURUBA: A HISTÓRIA SE REPETE, A PRIMEIRA COMO FICÇÃO, AMBAS COMO TRAGÉDIAS

    O INDIGENISTA ANGELO BUENO EXPLICA OS INTERESSES POR TRÁS DA CONSTRUÇÃO DA USINA 

     

    *Essa matéria faz parte de uma série de reportagens que iremos fazer a respeito da construção do complexo nuclear em Itacuruba, sertão de Pernambuco. Para viabilizar nossas viagens, estamos realizando campanhas boca a boca em Recife, junto aos parceiros que podem de alguma forma, contribuir para o bom jornalismo.

    Patrocinadores:

    FETAPE – Federação dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares do Estado de Pernambuco

    Mandato do Vereador Ivan Moraes (PSOL)

    SINDSPREV – Sindicato dos Trabalhadores Públicos Federais em Saúde e Previdência Social no Estado de Pernambuco

  • BACURAU E ITACURUBA: A HISTÓRIA SE REPETE, A PRIMEIRA COMO FICÇÃO, AMBAS COMO TRAGÉDIAS

    BACURAU E ITACURUBA: A HISTÓRIA SE REPETE, A PRIMEIRA COMO FICÇÃO, AMBAS COMO TRAGÉDIAS

    Bacurau, filme de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, dá nome à cidade fictícia em que o enredo se desenvolve. A distopia trata de desigualdade, descaso político, morte, resistência, mas, principalmente, ilustra a atual polarização brasileira: os que lutam para sobreviver e os que lutam pelo direito de matar.

    Itacuruba, município do sertão de Itaparica, Pernambuco. Pouco mais de 4 mil habitantes. Desde a década de 80 a receber “boas novas” sobre um progresso excludente.

    As semelhanças entre vida e arte ora são explícitas, ora se revelam nas diversas camadas que permeiam a trama.

    Partindo do cenário temos o mesmo sertão semiárido e a ambígua convivência entre alta tecnologia com a mais profunda desigualdade social. Acesso à internet é mais fácil que acesso à comida e água, no retrovisor do caminhão pipa vemos drones… as contradições soariam caricaturas exageradas da ficção, não fossem caricaturas da vida real.

    Às camadas que exigem mais do olhar temos a primeira semelhança (ou profecia dos cineastas?): assim como Bacurau, Itacuruba pode “sumir do mapa”.

    Caso a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do Pacto Federativo seja aprovada municípios com menos de 5 mil habitantes deixam de existir.

    Itacuruba possui cerca de 4.369 habitantes e, segundo a PEC, passaria a ser incorporada aos vizinhos Belém de São Francisco ou Floresta, deixando de existir enquanto cidade, identidade, cultura, história, povo. E, tristemente, não seria a primeira vez.

    Itacuruba, no final da década de 80, foi inundada para a construção da usina hidrelétrica Luiz Gonzaga (conhecida como Usina Hidrelétrica de Itaparica) e obrigou a transferência dos moradores dos seus lugares de origem.

    O desenvolvimento tecnológico, econômico e social, prometido com o empreendimento, não veio. As desigualdades sociais foram aprofundadas e os altos índices de depressão e suicídio, em todas as faixas etárias, são reconhecidos nacionalmente.

    A nova proposta consegue ser ainda mais cruel, pois lhe nega a condição de identidade.

    NOVOS ATAQUES, VELHAS MENTIRAS

    Em abril, no Rio de Janeiro, durante uma articulação mundial de empresas nucleares através da “World Nuclear Spotlight” (WNA), foi apresentado um plano de expansão de usinas nucleares, onde o Ministério de Minas e Energia declarou um Plano Nacional de Energia 2030 (PNE 2030) que prevê a construção de quatro a oito usinas nucleares no País.

    Itacuruba foi apresentada como um local já estudado e apto a receber propostas para construção de um Sítio Nuclear com 6 reatores, ao custo inicial de 120 bilhões de reais.

    Aldeia dos Pankarás com Rio São Francisco ao fundo. Onde será construído a usina

    A não emissão de carbono é apontada como pressuposto de uma “energia limpa”, não revelando que a cadeia do urânio, o combustível das usinas, seu processo de extração e “enriquecimento” são extremamente poluentes.

    Os custos da desmontagem, descontaminação e armazenamento das usinas são altos e não são considerados nos custos totais da obra, o que implica ao final em riscos de abandono do sítio nuclear e aumento das tarifas de energia para arcar com os custos do descomissionamento.

    A nova investida, portanto, traz os clichês de sempre: promessa de geração de empregos, desenvolvimento social e econômico à cidade e região, omissão de dados acerca dos impactos do empreendimento, protagonistas e antagonistas clássicos.

    PERSONAGENS

    A poderosa corporação estrangeira, os arautos das “boas novas”, lobistas, a resistência…todos os elementos estão tanto no filme quanto na história de Itacuruba.

    Tal qual a personagem interpretada por Thardelly Lima, o prefeito inescrupuloso Tony Júnior, que vende seu próprio povo aos interesses escusos de estrangeiros, o deputado estadual Alberto Feitosa (partido Solidariedade), acompanhado por um time de especialistas pró-usina nuclear, se tornou o principal lobista a “abrir caminho” ao empreendimento nuclear.

    A comissão antinuclear, formada por lideranças de povos tradicionais, sindicatos, movimentos sociais, com apoio de parte da igreja católica, resiste. Campanhas e mobilizações permanentes de conscientização dos riscos e impactos trazidos por um modelo de energia que já é descartado em diversos países apontam também caminhos sustentáveis de geração de energia como a solar e eólica, abundantes na região.

    Entre os paralelos da ficção com a realidade ficam as incertezas de quantas almas mais serão sacrificadas até que a resistência dos que lutam para continuar a existir sobressaia-se aos que impõem seus anseios em destruir em nome do lucro.

    por Daniel Filho, mestre em psicanálise na educação, Pós-Graduado em Programação do Ensino de Língua Portuguesa pela Universidade de Pernambuco, Especialista em Filosofia pela Universidade Federal de Pernambuco, professor da rede estadual de ensino de Pernambuco.

  • Carta de Floresta, 06 de novembro de 2019

    Carta de Floresta, 06 de novembro de 2019

    Carta de Floresta

    Floresta, 06 de novembro de 2019

    A todas as pessoas de boa vontade,

    Às lideranças políticas do País, dos Estados da Bacia do Rio São Francisco

    E, mais precisamente, do Sertão de Itaparica

    “Alegrai-vos com os que se alegram, chorai com os que choram” (Rm 12,15)

    Nós, bispos, presbíteros, diáconos, religiosas, leigos e leigas, representantes das comunidades quilombolas e de povos indígenas, pesquisadores e estudantes, reunidos em Floresta – PE nos dias 5 e 6 de novembro de 2019, chamados, como cristãos, a sermos solidários com toda criatura humana e com a natureza, e a fazer da nossa vida e da nossa fé um sinal e um instrumento do amor de Deus para com todas as suas criaturas, sentimo-nos impelidos a escutar o povo de Itacuruba e da região do Sertão de Itaparica a respeito das esperanças e dos temores suscitados pelo projeto de implantação de um complexo nuclear naquele município, à beira do rio São Francisco. Escutar para entender, para se informar, para solidarizar-se, escutar como estilo de caminhar juntos, a fim de que todos possam ser protagonistas das suas vidas e do seu futuro. Em tudo, fomos conduzidos e iluminados pela constatação de que progresso e desenvolvimento só são verdadeiros e reais quando promovem a vida, a partir da vida dos mais necessitados, e não a economia e o lucro de uma restrita elite.

    Nossa primeira preocupação é com a vida de quantos moram na região, com o trabalho, a cultura, o futuro, a possibilidade de um crescimento e de um desenvolvimento de acordo com as suas caraterísticas, tradições, possibilidades e aspirações.

    O povo que mora em Itacuruba e na região tem rosto e tem nome, história que fala de promessas não cumpridas, quando foi tirado de sua terra pela construção das barragens da hidrelétrica, de esperanças frustradas pela impossibilidade de continuar a trabalhar dignamente para a sua vida, de depressão, de suicídio entre os jovens que não aceitam ter uma vida fútil e sem sentido, reduzida ao consumismo. Sentimos, nas falas deste povo, o drama de quem desejaria mostrar suas forças e energias para o presente e o futuro, mas não tem perspectivas. Esse povo não sente a necessidade de usina nuclear, não acredita em promessas que já ouviu trinta anos atrás e que resultaram na situação problemática em que hoje vive.

    Progresso não pode ser palavra bonita, mas vazia, não pode significar imposição de um modelo de vida baseado no ter e que acarreta problemáticas sociais muito fortes. Com quais instrumentos de conhecimento, com quais estruturas sociais o povo de Itacuruba e região irá enfrentar a transformação decorrente da chegada de muitas pessoas na sua terra? Quais serão as possibilidades de desenvolver harmoniosamente a sua vida no futuro próximo? Temos, de fato, uma grande responsabilidade também com as próximas gerações, pois as nossas escolhas, ainda mais em casos como este, sempre vão gerar consequências importantes. Diz o Papa Francisco na sua Encíclica Laudato Sí: “Que tipo de mundo queremos deixar a quem vai suceder-nos, às crianças que estão crescendo? Esta pergunta não toca apenas o meio ambiente de maneira isolada, porque não se pode pôr a questão de forma fragmentária. Quando nos interrogamos acerca do mundo que queremos deixar, referimo-nos sobretudo à sua orientação geral, ao seu sentido, aos seus valores… se esta pergunta é posta com coragem, leva-nos inexoravelmente a outras questões muito diretas: Com que finalidade passamos por este mundo? Para que viemos a esta vida? Para que trabalhamos e lutamos? Que necessidade tem de nós esta terra? Por isso, já não basta dizer que devemos preocupar-nos com as gerações futuras; exige-se ter consciência de que é a nossa própria dignidade que está em jogo” (LS 160). Por toda esta série de considerações, denunciamos os erros do passado e pensamos que eles deveriam nos ajudar a refletir melhor para que não sejam repetidos e, sobretudo, a não tomar decisões sem escutar os interessados.

    Projeção da Eletronuclear, feita em 2011, para a usina em Itacuruba, com seis reatores

    A saúde do rio São Francisco também nos preocupa, porque, dele e com ele, o nosso povo vive e cresce, e não pode ser considerado como um instrumento de lucro por uma técnica que sabe fazer muitas coisas, mas que, até agora, raramente foi colocada a serviço da vida plena da nossa casa comum.

    Todos aceitam com entusiasmo a possibilidade de uma vida melhor, mas isso significa acesso à educação e à saúde, possibilidade de um trabalho real e contínuo, justiça social e defesa das culturas; significa, sobretudo, unir a população e vislumbrar outros modelos de desenvolvimento pautados no princípio da dignidade da vida humana. É esse o tipo de desenvolvimento de que estamos precisando, algo que faça do povo de Itacuruba e região não pessoas que recebem uma “recompensa” por hospedar um complexo nuclear difícil de aceitar, mas que poderão afirmar sua plena pertença a um País e contribuir para o crescimento dele com humildade e ousadia.

    Conclamamos todos os homens e mulheres de boa vontade, independentemente de suas convicções político-ideológicas, a conhecerem os estudos técnicos e sócio-antropológicos relativos à temática, e a se comprometerem com a defesa e a promoção da vida dos povos, do Rio São Francisco e do meio ambiente como um todo, a fim de que “todos tenham vida e vida em abundância” (Jo 10,10).

    Foto destaque: CPT