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Tag: intolerância

  • Grupos antirracismo denunciam  parada Ku Klux Klan em Portugal

    Grupos antirracismo denunciam parada Ku Klux Klan em Portugal

    Menos de um mês depois da sede do SOS Racismo ter sido vandalizada em Lisboa, com a frase racistas e xenofóbicas “Guerra aos inimigos da minha terra”, a associação foi, mais uma vez, vítima de perseguição. No último sábado, 8 de agosto, um grupo neofascista de Portugal, nomeado “Resistência Nacional”, juntou seus membros em frente a sede do SOS Racismo para uma “parada Ku Klux Klan”, que exaltava os agentes da Política de Segurança Pública (PSP) e atacava a luta antirracista travada em Portugal pela SOS Racismo e outras associações, frentes, coletivos e partidos políticos.

    Para tal, o grupo utilizou máscaras brancas e tochas, numa iconografia semelhante à dos supremacistas brancos Ku Klux Klan, organização que surgiu no século XIX, nos Estados Unidos, para perseguir, assassinar, incendiar e espancar pessoas negras e quem mais defendia os direitos civís para os afrodescendentes norte-americanos.

    Segundo jornal Público, o grupo “Resistência Nacional”, que atacou a Associação SOS Racismo, tem nas suas fileiras ex-membros da suspensa Nova Ordem Social, organização neonazista criada por Mário Machado; o grupo supremacista Portugal Hammer Skins; o grupo de adeptos 1143, afeto ao Sporting; o Partido Nacional Renovador; e o partido de extrema-direita Chega, de André Ventura, que já organizou duas manifestações de cunho fascista em Portugal neste ano.

    O dirigente do SOS Racismo, Mamadou Ba, afirmou que a página da associação recebe centenas de ameaças da extrema-direita. A associação está a juntar todas estas ocorrências para uma queixa no Ministério Público de Portugal, por ofensa à integridade física, ofensas morais, danos patrimoniais e incitamento ao ódio e violência.

    “Nenhuma ação criminosa nem nenhuma manobra intimidatória nos desviará do combate sem tréguas contra o racismo”, afirmou Mamadu Ba.

    Coletivos e associações da luta antirracista de Portugal expressaram sua solidariedade aos companheiros de luta da SOS Racismo e não se intimidaram frente às ameaças fascistas e supremacistas dos grupos de Portugal.

    O Coletivo Esquerda Revolucionária postou  em suas páginas na internet o ato tinha a dupla finalidade de intimidar os militantes antirracistas e em defesa do insignificantes agentes dos órgãos de repressão do Estado burguês.

    “As manifestações anti-racistas e anti-fascistas deste ano mostram claramente não apenas que as camadas mais pobres e racialmente oprimidas do proletariado não vão mais tolerar que este tipo de violência continue impune – incluindo a violência racista de Estado, como o enorme potêncial revolucionário que têm — como se verificou em particular na manifestação de 6 de Junho onde marcharam mais de 20.000 trabalhadores e jovens negros. São os fascistas que vivem intimidados (…) nós, a classe trabalhadora, somos capazes de destruir o sistema capitalista, raíz de todas as opressões, e por conseguinte de os purgar da nova sociedade, da sociedade socialista. A Esquerda Revolucionária manifesta toda a sua solidariedade com os companheiros do SOS Racismo e compromete-se uma vez mais com a luta anti-racista e anti-fascista. Não passarão! Está na hora da organização e da luta!”

    O Coletivo Consciência Negra também expressou sua firmeza diante da polarização que está sendo criada em Portugal e enviou uma mensagem aos fascistas:

    “Aos fascistas, nomeadamente os ‘antigos elementos da Nova Ordem Social’: se sabem quem somos, onde moramos e o que fazemos, sabemos igualmente quem são, ondem moram e o que fazem e, sempre que se justificar, sem quaisquer hesitações, faremos uso da legítima defesa – artigo 32 do Código Penal. Nem um passo atrás! Não passarão!”

    https://www.instagram.com/p/CDwMZTFBY_i/
  • Terror Colorido: a intolerância contra LGBTs ontem e hoje

    Terror Colorido: a intolerância contra LGBTs ontem e hoje

    Texto de Ivanilda Figueiredo, professora de direito e pensamento político da UERJ, advogada, coordenadora do GT contra a intolerância da CDH/OAB-RJ, exclusivo para os Jornalistas Livres 

    O terror lilás foi uma política de perseguição a homens gays e mulheres lésbicas, que proibia sua contratação pelo governo dos Estados Unidos e gerou a demissão de mais de 5 mil pessoas suspeitas de serem homossexuais, estabelecida em 1953 e revogada oficialmente apenas em 1995. Naquele período a demissão não gerava apenas a perda do emprego, a vida de muitas dessas pessoas se tornava insuportável após a exposição pública de sua homossexualidade com o afastamento de familiares e amigos. Centenas cometeram suicídio. À época, a Associação de Psiquiatria dos EUA e a Organização Mundial de Saúde (OMS) tratavam a homossexualidade como um transtorno mental. Vejam que naquele período sequer se falava em pessoas trans, pois a marginalização era tão intensa que elas sequer conseguiam tornarem-se servidoras públicas.

    Conhecer essas histórias torna-se um modo de valorizar as conquistas das pessoas LGBTs nos últimos anos tanto lá quanto aqui e vai além, pois ela representa exatamente o que precisamos ter em mente hoje, Dia Mundial de Combate a LGBTfobia: (1) a data representa o dia em que a OMS deixou de considerar a homossexualidade uma doença; (2) argumentos e razões muito similares as lá usadas embasam a perseguição as pessoas LGBT no Brasil pelo atual presidente.

    Fonte: O Jornal, 26 de março de 1952. Disponível na hemeroteca da Biblioteca Nacional

    A ordem emitida pelo presidente Dwight D. Eisenhower previa a demissão das pessoas que praticassem perversidade sexual, mas não só, por meio dela eram investigadas todas as pessoas suspeitas de serem contrárias aos interesses nacionais (como seriam os comunistas). Na lógica da época, por terem medo de serem expostas, as pessoas LGBTs estariam mais suscetíveis a chantagem e a colocarem em risco a segurança do país. Até hoje, não foi identificado pelo FBI nenhum caso em que essa suposição se mostrou verdadeira e obviamente não eram demitidas apenas pessoas com acesso a segredos de estado, mas qualquer sob suspeita de ser homossexual.

    “Não digo que todo homossexual é um subversivo e não digo que todo subversivo é um homossexual (…) mas um homem de baixa moral é uma ameaça no governo, qualquer que seja ele é, e todos estão unidos”, dizia o senador Kenneth Wherry, à época.

     

    “O Brasil não pode ser o país do turismo gay, temos famílias”;” Prefiro que meu filho morra num acidente do q apareça com um bigodudo por aí”; “As minorias têm de se adequar as maiorias. As minorias se adequam ou simplesmente desaparecem” são frase ditas nos últimos anos pelo atual presidente. Ele também chegou a ir no jornal televisivo noturno de maior audiência na época de campanha com um livro sobre sexualidade em mãos, dizendo que ele havia sido distribuído pelo Ministério da Educação e ensinaria as crianças a serem homossexuais. Não só o livro nunca havia sido distribuído como também é um livro voltado a adolescentes e voltado quase exclusivamente para instruir sobre sexualidade com base numa visão heterossexual. Recentemente, a OMS também foi acusada por ele de incentivar a homossexualidade de crianças. Toda a ideia de que existe um interesse em converter crianças está por traz do pânico moral contra LGBTs que hoje se organiza contra a falsa ideia de uma tal “ideologia de gênero” e embasa projetos de lei para proibir debates sobre gênero e sexualidade nas escolas e a perseguição professores. O Supremo Tribunal Federal julgou inconstitucional leis estaduais e municipais neste sentido, mas a ameaça não se detém.

    Esse pânico moral voltado às pessoas LGBTS, infelizmente, funciona e, por isso, é tão perigoso. Estimula a violência física, fomenta a LGBTfobia no seio das famílias, legitima inúmeras expressões de discriminação e elege muitas pessoas com base na retórica de que a um inimigo a combater e o inimigo somos nós. Fomos alçados á inimigos pelos regimes fascistas do início do século XX, assim como somos hoje na Hungria e no Brasil, pois há uma base política reacionária que enxerga o potencial emancipatório de nossas lutas. Se nos atacam é porque somos relevantes. Mas nossa luta não pode ser enclausurada, para ser capaz de movimentar as estruturas ela precisa estar unida as pautas feministas, antirracistas, a favor de uma educação pública, laica e de qualidade, pelo direito à saúde e contra todas as demais formas de opressão e intolerância.

    Ivanilda Figueiredo, professora de direito e pensamento político da UERJ, advogada, coordenadora do GT contra a intolerância da CDH/OAB-RJ e ativista do Movimento Unificado pela Diversidade (Mudi).

  • Mordaça: Globo demite colunista por criticar a PF

    Mordaça: Globo demite colunista por criticar a PF

    Depois de fazer duras críticas à Polícia Federal e ao governo de Michel Temer em sua coluna semanal em O Globo, o economista Paulo Nogueira Batista Jr. ouviu do departamento de RH do jornal que, devido à linha editorial seguida pelo autor, o jornal deixaria de publicar sua coluna. Na publicação ele denunciava outra perseguição do governo Michel Temer, dando nomes aos bois inclusive, que o destituiu de forma traiçoeira do cargo de Vice-Presidente do Banco de Desenvolvimento dos BRICS, o qual ajudou a fundar, e depois de servir ao Brasil por mais de 10 anos como representante junto ao FMI (Fundo Monetário Internacional).

    Quem revela essa história é um grupo de voluntários que criou um evento chamado “Precisamos Falar Sobre o Fascismo”, que acontece mensalmente no Rio de Janeiro, reunindo intelectuais e psicanalistas interessados na defesa dos direitos humanos e no combate ao discurso de intolerância e ódio.

    Premonitoriamente, a última edição do evento, ocorrida segunda-feira (11/12), foi intitulada “Mordaça”, e Paulo Nogueira Batista Jr. teve a oportunidade de se aprofundar no tema que abordou em sua coluna em O Globo sobre as perseguições políticas nas instituições públicas. No dia seguinte ele foi demitido.

     

     

    Leia a Nota de Solidariedade escrita pelo coletivo Precisamos Falara Sobre o Fascismo.
    Assista ao vídeo com a fala de Paulo Nogueira Batista Jr. no evento.
    Abaixo reproduzimos também a coluna do economista, restrita aos assinantes de O Globo, por entendermos se tratar de fato de interesse jornalístico.

     

     

    Nota de Solidariedade
    A Paulo Nogueira Batista Júnior

    Ao longo do ano de 2017 realizamos uma série de debates intitulado: Precisamos Falar Sobre o Fascismo.
    O projeto se originou da necessidade do enfrentamento a práticas e discursos que tinham a intolerância e o ódio e, consequentemente, a aniquilação à diferença como motor.

    Assim, vocalizamos pontos nodais que se acirraram e, em alguns momentos, atualizaram- se violentamente. A pretensão de erigir o modelo homem-branco, heterossexual e burguês nos fez falar de nossa história escravocrata e racista, do extermínio das etnias indígenas, dos que estão à margem do processo produtivo, dos relegados à indigência social e excluídos da lógica do capital, dos fora da normatividade sexual e de suas pretensas expressões degeneradas. Enfim, as diferenças foram convocadas à fala.

    No nosso último debate, enfrentamos as Mordaças de nossos dias.
    Estavam lá falas e corpos interditados pela lógica hegemônica vigente. Um de nossos convidados foi o economista Paulo Nogueira Batista Júnior, que viveu recentemente não um processo de demissão, mas uma cassação, em toda truculência que esta palavra significa . Sua destituição do cargo de Vice-Presidente do Banco de Desenvolvimento dos BRICS foi urdida por um governo que se alçou ao poder através de espúrias negociações, que são evidenciadas à luz do dia.

    Se fosse legítima sua demissão, já que demissões são possíveis, por que Paulo foi cerceado em seu direito de defesa? Por que lhe foi negado acesso e comunicação aos seus colegas e funcionários e até mesmo a sua sala e ao local em que trabalhava? Por que sua presença causava tanto mal-estar e inquietude?

    Antes de sua participação no debate, Paulo faz um relato direto e esclarecedor no jornal O Globo, onde mantinha coluna desde seus tempos como representante do Brasil junto ao FMI. Há nomes e sobrenomes em seu relato. Esta trama sórdida foi detalhada e aprofundada em sua fala no nosso debate.

    Mas não se rasga a mordaça. Ao contrário, afirma-se a palavra interditada em um retorno à violência do silêncio coagido.

    Paulo Nogueira Batista Júnior teve sua palavra cassada novamente pelo referido jornal, sem justificativas sustentáveis. Sua coluna não será mais publicada!
    Foi descartado, reduzido ao silêncio desejado.

    Sabemos que os bois sempre tem nome e Paulo não vai dizê-los sozinho.
    Sem medo ou mordaças, estamos com ele!

    Precisamos Falar, Resistir e agir sobre o Fascismo.


     

    Reprodução da Coluna de Paulo Nogueira Batista Jr em O Globo (08/12/2017)

    PAULO NOGUEIRA BATISTA JR.

    Barbárie

    Poucas coisas são mais importantes no Brasil hoje do que apurar o ocorrido na UFSC

    O estado de direito, as garantias individuais, o amplo direito à defesa, a proteção contra o abuso de autoridade, a presunção de inocência — tudo isso é como o ar que se respira, a água que se bebe. Só nos damos conta da sua importância vital quando nos são retirados.

    O Brasil parece caminhar a passos largos para um estado de exceção, em que prevalecerá o arbítrio, a truculência, o desrespeito aos direitos humanos. A barbárie avança a olhos vistos. Nos últimos dias, tivemos um ataque à Universidade Federal de Minas Gerais — episódio que parece fazer parte de uma ofensiva contra as universidades públicas.

    Mais uma vez, assistimos ao abuso da prisão coercitiva do reitor e de professores da universidade, uma humilhação desnecessária e ilegal. Mais uma vez, integrantes do Poder Judiciário e da Polícia Federal se aliaram à mídia para fazer operação espalhafatosa e arbitrária de combate à corrupção. Soldados armados até os dentes, como se estivessem enfrentando perigosos inimigos, invadiram uma universidade para expor professores à execração pública.

    Ainda pior foi o que aconteceu há pouco tempo em Florianópolis, na Universidade Federal de Santa Catarina. Prenderam o reitor Luiz Carlos Cancellier, sob a acusação de que ele estava obstruindo investigações. A mídia se encarregou de jogar o seu nome na lama, como corrupto e responsável por desvio de imensas somas. Na prisão, foi submetido a humilhações. Depois de solto, foi proibido de entrar na universidade.

    O trabalho na universidade era sua vida. Poucos dias depois, o reitor Cancellier atirou-se do alto de um shopping em Florianópolis. No bolso, trazia o bilhete: “A minha morte foi decretada quando me baniram da Universidade!!!”. Poucas coisas são mais importantes no Brasil hoje do que apurar o ocorrido na Federal de Santa Catarina e punir os responsáveis pelo abuso de poder.

    O caso do reitor Cancellier me tocou particularmente, leitor. É que há algumas semelhanças com o que eu mesmo vivenciei. Também sofri recentemente um processo administrativo irregular e arbitrário que levou a meu afastamento da vice-presidência no Banco do Brics em Xangai. Dou nome aos bois. A iniciativa foi de alguns integrantes do governo brasileiro, nomeadamente do presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, acolitado por Marcello Estevão, um assessor irresponsável e bisonho do Ministro da Fazenda. Acusaram-me, sem base, de quebrar o código de conduta, em alguns artigos publicados nesta coluna. Acusaram-me, também sem qualquer base, de ter assediado moralmente um funcionário brasileiro, um certo Sergio Suchodolski, cuja demissão havia recomendado por desempenho pífio no período probatório.

    Depois, acusaram-me, sem provas, de obstruir investigações. Negaram-me o direito de defesa. Fui condenado em uma reunião de diretoria, que ocorreu pelas minhas costas, quando estava em viagem de trabalho. Meus funcionários foram instruídos a não fazer qualquer contato comigo. Fui proibido de entrar no banco, e minha sala foi lacrada.

    Mas, enfim, poderia ter sido pior. Estou vivo, com saúde, próximo à família, aos amigos e aos correligionários. E disposto a fazer minha parte, por pequena que possa ser, na luta contra a maré ascendente da barbárie.

    Paulo Nogueira Batista Jr. é economista e foi vice-presidente do Novo Banco de Desenvolvimento e diretor executivo no FMI pelo Brasil e mais dez países.


    vídeo com a fala de Paulo Nogueira Batista Jr. no evento Precisamos Falar Sobre o Fascismo

     https://www.facebook.com/jornalistaslivres/videos/654143161376231/

     

    Os Jornalistas Livres tentaram por diversas vezes questionar o jornal sobre os motivos da demissão, mas a redação de O Globo informa que as questões devem ser feitas ao SAC da empresa.
    O SAC de O Globo não possui sistema de comunicação com não leitores.

    As perguntas enviadas seriam:

    1. Qual o motivo da demissão do colunista Paulo Nogueira Batista Jr., depois de mais de 10 anos de contribuição para o jornal “O Globo”?

    2. O governo Michel Temer e/ou a Polícia Federal intercederam pela demissão de Paulo Nogueira Batista Jr. do jornal “O Globo”?

    Caso a empresa responda, atualizaremos a matéria.