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Tag: índios isolados do Brasil

  • O integracionismo tosco e ultrapassado de Bolsonaro

    O integracionismo tosco e ultrapassado de Bolsonaro

    Nas águas limpas – por Eduardo Biral©

     

    por Adelino Mendes

     

    A retórica de Bolsonaro para a Amazônia e para os assuntos relacionados as questões ambientais alinha-se diretamente com a ditadura militar, seguindo uma tendência integracionista para os povos indígenas.

     

    As tentativas de integração consistiram em um processo violento e explícito da colonialidade, buscando um aniquilamento da alteridade, tanto física quanto simbólica. Seria o índio em sua essência um signo a ser esquecido, um entrave ao “desenvolvimento”. Um curso mal sucedido da história. Falta conhecimento ao governo.

    Anúncio – por Eduardo Biral©

     

    Os índios não estão isolados, na verdade nunca o foram. As sociedades indígenas mantém redes sociopolíticas extensas, que “alimentam” suas necessidades sociais e culturais, com língua, crença, costume, e sistema de resolução de conflitos, mesmo não se tratando de um arcabouço estruturado de forma semelhante ao Estado de hoje ou com documentos escritos. Isso é Direito Indígena, constituído pelas sociedades indígenas desde tempos imemoriais, o que é bem diferente do Direito indigenista ou política indigenista. Antes de tudo, o direito do índio.

     

    O “isolamento” é em sua versão mais acertada, um distanciamento proposital, uma escolha, uma fuga para manter distância de experiências mal sucedidas com os não-índios, nós.

    Os índios que habitam o Cuminapanema se reconhecem hoje como “Zo’é”, termo que significa simplesmente “nós”. Os Zo’é são um grupo da família linguística tupi-guarani que habita o interflúvio Cumunapanema/Erepecuru (atual Terra Indígena Zo’é), noroeste do estado do Pará.- Acervo Projeto Xingu

     

    As sociedades indígenas estão aí, estudando e preparando-se para um futuro que ainda acreditam. Mas isso não quer dizer que não necessitam de terras. Pelo contrário. Os povos indígenas desejam manter seu modo de vida e a soberania sobre seus territórios, lutando pelo Direito Indígena, estabelecido por seus antepassados.

     

    Adelino Mendes é antropólogo / HCTE-UFRJ. Em 3 de outubro, no o âmbito do SEPA – Seminário Permanente Sobre Estudos da Amazônia, profere a palestra Kawika – Respeito e Reciprocidade no Alto Xingu, uma conversa sobre Historia e Cultura no sistema multiétnico Xinguano, na Universidade Nova de Lisboa – Campus de Campolide.  

     

    imagem de capa por helio carlos mello, jornalista livre 

     

  • UM TREM PARA AS ESTRELAS, OS ÚLTIMOS HOMENS DA TERRA

    UM TREM PARA AS ESTRELAS, OS ÚLTIMOS HOMENS DA TERRA

    São nove horas da manhã, corro o olhar para não desistir.

    Todo dia é dia de índio, me atropela a ciência em manhã na metrópole. De súbito cruzo gente nativa na via, cortando meu asfalto, minhas faixas. Gente isolada, de recente contato, de repente na rua da cidade.

    Faz silêncio no trânsito, os homens não sabem, mas sozinhos no mundo os Piripkura andam, extinção de um rumo,  caminham entre tantas pernas. Querem a vida, ainda.

    Nem tanto drama, mas uma opção pela vida deslocar os últimos homens de um povo a maior cidade, metrópole antropofágica.  Coisa daqueles que trazem coragem, refúgio ou atitude. Era Tamadua e Baitá, a irmandade em tão frágil aliança, tão infinito remordimento, tão preponderante cuidado nesse momento; pura convicção nos zelos com a vida entre médicos resolutos.

    A problemática dos impactos socioambientais negativos para os Piripkura emerge oficialmente como questão a ser tratada pela Fundação Nacional do Índio (FUNAI) em 1984, a partir de estudos iniciados pela Operação Amazônia Nativa (OPAN), mas desde 1890 há relatos de conflitos entre os Kawahíwa e não-índios. As informações coligidas nessas referências permitem dizer que os massacres sofridos pelos Piripkura contribuíram fortemente para desestruturar sua organização social e os levaram a estabelecer contato com pessoas vinculadas aos empreendimentos agropecuários instalados no interior de seu território tradicional a partir da década de 1970. Na atualidade, a Frente de Proteção Etnoambiental Madeirinha-Juruena (FPE-MJ) tem confirmada a existência de três sobreviventes, sendo uma mulher (Rita Piripkura) e dois homens (Tikum e Monde’i). Rita vive fora de seu território tradicional desde 1980, mas os outros, com os quais a FPE-MJ fez contato pela primeira vez, em maio de 1989, ainda vivem na TI-PRK, arredios ao contato com a sociedade envolvente.     –  Uso de recursos naturais pelos Índios Piripkura no Noroeste de Mato Grosso: uma análise do Conhecimento Ecológico Tradicional no contexto da política expansionista do Brasil na Amazônia Meridional – Tarcísio da Silva Santos Júnior, Jair Catabriga Candor, Ana Suely Arruda Câmara Cabral.

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

    http://periodicos.unb.br/index.php/ling/article/view/26663/18868

     

     

    O Hospital São Paulo, hospital universitário da Escola Paulista de Medicina, da Universidade Federal de São Paulo EPM/UNIFESP, recebe pacientes indígenas desde a década de 1960, quando tiveram início as atividades do Projeto Xingu, programa de extensão universitária, na Terra Indígena do Xingu/MT.

     

    Assim como chegaram, partiram, mais fortes, levando mais vida, enganando o tempo, a multidão, fugindo de nós nos matos de suas almas, terra longe, longe, o corpo que se vai.

    A curva de um rio, um túnel de luz na cabeça, um breve olhar na grande aldeia dos brasileiros.

    Chama sem pavio, luz sem lâmpada, um trem para estrelas. Lá se vai mais um dia.

     

     

     

     

    *imagens por Helio Carlos de Mello – ©Acervo Projeto Xingu / EPM-UNIFESP.

    https://oglobo.globo.com/sociedade/o-drama-dos-dois-ultimos-indios-de-povo-amazonico-num-hospital-em-sao-paulo-23068092?utm_source=Facebook&utm_medium=Social&utm_campaign=O%20Globo