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  • Censura do Supremo Tribunal Federal é inaceitável

    Censura do Supremo Tribunal Federal é inaceitável

    A Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), mais uma vez, vem a público repudiar o evidente caso de censura à imprensa e de impedimento do exercício do Jornalismo cometido pelo presidente e vice-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministros Dias Toffoli e Luiz Fux, respectivamente. A mais alta corte de Justiça do país, que deveria zelar pelo cumprimento da Constituição brasileira, ataca os direitos constitucionais da liberdade de manifestação de pensamento e da liberdade de imprensa, ao impedir que jornalistas entrevistem o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva e que veículos de comunicação divulguem entrevistas, caso tenham sido realizadas.

    Na última sexta-feira (28 de setembro), o ministro do STF, Ricardo Lewandowski, autorizou entrevistas com ex-presidente Lula. A decisão foi imediatamente cassada pelo ministro Fux, a pedido do Partido Novo. Em despacho realizado na manhã de segunda-feira (1º de outubro), Lewandowiski determinou à Justiça de Curitiba o cumprimento de sua decisão, argumentando que Fux “incorreu em vícios gravíssimos”.

    À noite, o presidente do STF, Dias Toffoli, referendou a decisão do vice-presidente Luiz Fux proibindo o ex-presidente Lula de conceder entrevista a jornais e jornalistas. Toffoli respondeu à consulta do Ministério da Segurança Pública, a pedido da Polícia Federal de Curitiba, sobre qual decisão do STF cumprir: se a de Fux ou a decisão anterior do ministro Ricardo Lewandowski.

    Os artigos 5º e 220 da Constituição Federal, que tratam dos Direitos e Garantias Fundamentais e da Comunicação Social, trazem dispositivos claros sobre a livre manifestação do pensamento e a liberdade de expressão. É assegurado a todos o acesso à informação; nenhuma lei pode conter embaraço à informação jornalística em qualquer veículo de comunicação assim como é vedada toda e qualquer censura de natureza política, ideológica e artística.

    Para a Federação Nacional dos Jornalistas, o Supremo Tribunal Federal, além de cometer erros jurídicos apontados por especialistas, incorre no mal maior: impede a manifestação do ex-presidente Lula e estabelece a censura prévia a veículos de imprensa. Vice-presidente e presidente, lembramos, contrariaram todas as decisões anteriores do STF, nas quais o entendimento foi de que a Constituição brasileira não admite censura.

    A FENAJ vem denunciando, desde o final de 2015, que a democracia brasileira está ameaçada porque o Estado Democrático de Direito tem sido violado por instituições que deveriam zelar pela sua manutenção. A sociedade brasileira precisa, urgentemente, enfrentar o arbítrio, refutando toda e qualquer decisão que comprometa ainda mais nossa já abalada democracia. Censura vinda da mais alta corte de Justiça do país é inaceitável. Que o plenário do STF redima-se, urgentemente.

    Brasília, 3 de outubro de 2018.

    Federação Nacional dos Jornalistas – FENAJ.

  • A imprensa do mundo inteiro destaca o documento da ONU, menos a imprensa brasileira

    A imprensa do mundo inteiro destaca o documento da ONU, menos a imprensa brasileira

    https://www.nytimes.com/reuters/2018/08/17/world/americas/17reuters-brazil-election-lula.html

    https://www.aljazeera.com/news/2018/08/human-rights-committee-asks-brazil-lula-run-election-180817143518950.html

    https://www.channelnewsasia.com/news/world/brazil-s-lula-should-have-political-rights—un-human-rights-committee-10627382

    http://www.thisismoney.co.uk/wires/reuters/article-6071349/Brazils-Lula-political-rights–UN-Human-Rights-Committee.html

    https://www.news24.com/World/News/brazil-must-let-lula-run-in-october-vote-un-panel-20180817

    https://sputniknews.com/latam/201808171067278933-Lula-elections-Brazil-October/

    https://www.democraticunderground.org/110862462

    https://www.theguardian.com/world/2018/aug/17/un-brazils-jailed-leader-lula-cant-be-disqualified-from-election

    https://www.reuters.com/article/us-brazil-election-lula/brazils-lula-should-have-political-rights-un-human-rights-committee-idUSKBN1L21L1

    https://www.telesurtv.net/english/news/Intl-Human-Rights-Foundation-Lula-is-a-Political-Prisoner-20180709-0013.html

    https://www.dailystar.com.lb/News/World/2018/Aug-17/460507-brazils-lula-should-have-political-rights-un-human-rights-committee.ashx

    https://ca.reuters.com/article/topNews/idCAKBN1L21L1-OCATP

    https://www.lemonde.fr/ameriques/article/2018/08/17/bresil-selon-un-comite-de-l-onu-lula-doit-pouvoir-se-presenter-a-l-election-presidentielle_5343613_3222.html

    http://www.lefigaro.fr/flash-actu/2018/08/17/97001-20180817FILWWW00184-bresil-l-onu-en-faveur-de-lula.php

    https://www.swissinfo.ch/por/comit%C3%AA-da-onu-pede-que-brasil-permita-a-lula-fazer-campanha-da-pris%C3%A3o/44334092

    http://br.rfi.fr/brasil/20180817-onu-pede-que-brasil-permita-candidatura-de-lula

    http://www.ansa.it/sito/notizie/mondo/americalatina/2018/08/17/brasile-onu-chiede-ok-candidatura-lula_ea473449-9403-4be7-adaf-b58efd532701.html

    http://www.rainews.it/dl/rainews/articoli/ContentItem-7597a8c5-98ec-482b-88f2-79b429708927.html

    http://www.elmundo.es/internacional/2018/08/17/5b770d56268e3e72178b45ed.html

    https://www.eldiario.es/internacional/Comite-ONU-Brasil-Lula-candidato_0_804570087.html

    https://24.sapo.pt/atualidade/artigos/comite-da-onu-pede-ao-brasil-que-garanta-direito-de-lula-da-silva-se-candidatar

    https://www.deutschlandfunk.de/genf-uno-lula-darf-bei-wahl-nicht-ausgeschlossen-werden.2932.de.html?drn:news_id=915415

    https://www.derstandard.de/story/2000085557149/uno-brasilien-muss-inhaftierten-lula-bei-wahl-antreten-lassen

  • Regras do Grupo Globo impõem censura a jornalistas

    Regras do Grupo Globo impõem censura a jornalistas

    E eis que a Globo, em nome da isenção que desconhece, como prova, por exemplo, seu apoio ao golpe de 1964, decidiu ampliar seus “Princípios Editoriais” na tentativa de calar seus profissionais, desconhecendo a Constituição federal,  que assegura  a livre manifestação de pensamento. Diante do absurdo da iniciativa, a Federação Nacional dos Jornalistas e pelo menos cinco sindicatos lançaram o seguinte manifesto:

    A Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), entidade máxima de representação da categoria, vem a público denunciar e repudiar a censura prévia que o Grupo Globo estabeleceu para os seus jornalistas contratados.  A pretexto de estabelecer “diretrizes para o uso de redes sociais”, o Grupo Globo atenta contra a liberdade de expressão dos jornalistas, impedindo, sob ameaça, os profissionais de se manifestarem em redes sociais, as que existem e que as vierem a existir.

    As “diretrizes” do Grupo Globo afrontam os direitos e garantias fundamentais da Constituição Cidadã de 1988. O artigo 5º da Constituição Federal, em seus incisos IV, VIII e IX, assegura que é livre a manifestação do pensamento, que ninguém será privado de direitos por convicção filosófica ou política e que é livre a atividade intelectual, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença.

    Já em seu artigo 220, que trata da Comunicação Social, a Constituição Federal também expressa que a manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo, não sofrerão qualquer restrição.

    Pelas novas “diretrizes”, os jornalistas do grupo empresarial não podem compartilhar mensagens que revelem posicionamentos políticos, partidários ou ideológicos, mesmo em grupos em que se exige a confiança absoluta em seus participantes.

    Nas redes sociais, os jornalistas devem se abster de expressar opiniões políticas, promover e apoiar partidos e candidaturas, defender ideologias e tomar partido em questões controversas e polêmicas que estão sendo cobertas jornalisticamente pelo Grupo Globo.

    Os jornalistas, chamados de comentaristas, analistas ou colunistas de opinião, devem ter uma atuação na rede social que não permita a percepção de que são militantes de causas e que fazem parte da luta político-partidária ou de ideias. A eles, como a todos, é vedado apoiar candidatos ou partidos, dentro e fora de eleições.

    Os jornalistas do Grupo Globo também ficam impedidos de fazer publicidade, mesmo que indiretamente, ao citar ou se associar a nome de hotéis, marcas, empresas, restaurantes, produtos, companhias aéreas etc. Isso também não deve acontecer em contas (em redes sociais) de terceiros, e o jornalista deve zelar para evitar tais ocorrências.

    Não satisfeito em cercear a liberdade de expressão, a livre manifestação do pensamento e privar o direito do jornalista de manifestar suas convicções políticas, o Grupo Globo também amordaça os seus colaboradores não-jornalistas. Proíbe os profissionais de outras áreas de atuação de declarar voto ou fazer propaganda para candidatos ou partidos no material produzido especificamente para os veículos para os quais trabalham.

    Ao impor as novas “diretrizes”, incorporadas aos “Princípios Editoriais”, datados de 2011, o Grupo Globo amordaça os seus profissionais, estabelecendo a censura prévia. As “diretrizes” aparecem como “recomendações”, mas fica evidente que quem não segui-las será responsabilizado e sofrerá consequências.

    “As regras são válidas para todos os jornalistas do Grupo Globo e devem ser rigorosamente observadas. As chefias diretas ficam com a incumbência de implementá-las, torná-las uma realidade e, em caso de faltas por parte de jornalistas, dividir os episódios com a direção de redação do veículo, que decidirá então se é o caso de levá-los à apreciação do Conselho Editorial do Grupo Globo”, estabelecem as “diretrizes”.

    Em carta aos jornalistas, João Roberto Marinho tenta justificar o injustificável, afirmando que o objetivo da medida é garantir a isenção, princípio basilar do Jornalismo. Paradoxalmente, Marinho esquece que a isenção jornalística nunca foi a marca do Grupo Globo que, inclusive, já veio a público pedir desculpas por ter apoiado a ditadura civil-militar.  E, provavelmente, terá de vir a público no futuro pedir desculpas pelo apoio ao golpe político de 2016.

    A FENAJ não admite o estabelecimento da servidão intelectual e, junto com os Sindicatos de Jornalistas do país, vai procurar as medidas legais cabíveis, tanto na Justiça do Trabalho quanto na Justiça comum, para pôr fim à censura prévia estabelecida e devolver a dignidade aos jornalistas do Grupo Globo.

    Brasília, 4 de julho de 2018.

    Federação Nacional dos Jornalistas – FENAJ

    Sindicato dos Jornalistas de Minas Gerais

    Sindicato dos Jornalistas de Pernambuco

    Sindicato dos Jornalistas do Município do Rio de Janeiro

    Sindicato dos Jornalistas do Distrito Federal

    Sindicato dos Jornalistas de São Paulo

  • Liberdade de Imprensa ameaçada em Mato Grosso

    Liberdade de Imprensa ameaçada em Mato Grosso

     

    Na véspera da data em que se comemora o Dia Nacional da Liberdade de Imprensa (07/06), mais de cem jornalistas se manifestaram contra uma das mais fundamentais premissas para assegurar o direito dos profissionais de comunicação de investigar e publicar informações de forma livre, sem interferência do Estado.

    Ameaças veladas e tentativas de intimidação que não são raras àqueles que praticam o jornalismo não podem passar desapercebidas, especialmente em um momento tão delicado como o vivenciado pelo país.
    Chamou a atenção da imprensa mato-grossense as declarações do presidente da Associação Mato-Grossense de Magistrados (Amam) e vice-presidente de Associação dos Magistrados do Brasil (AMB), José Arimatéa Neves Costa, em entrevista a uma emissora de rádio na manhã desta quarta-feira (06/06), acerca de uma matéria publicada em um jornal impresso de circulação estadual.
    “Já decidimos a nível de diretoria da associação que nesta semana ainda estaremos ingressando com uma interpelação judicial em face do jornal A Gazeta para que eles nos informem que são os desembargadores ou desembargador que teria feito qualquer tipo de cogitação desse tipo de negociação”, afirmou o presidente em entrevista à rádio Capital FM.
    Questionado sobre o direito constitucional de preservação do sigilo da fonte, o magistrado rebateu: “A Gazeta pode optar pelo sigilo da fonte, aí nós vamos ter que processar o jornal por dano moral porque este tipo de notícia fere a honra de toda a magistratura mato-grossense e em especial dos membros do Tribunal de Justiça”.
    O presidente da Amam chegou a esclarecer que suas declarações referiam-se apenas à interpelação para revelação dos nomes dos supostos envolvidos – trabalho este que a sociedade espera que seja feito pela Corregedoria da Justiça, dentro de suas obrigações, e devidamente noticiado para o cidadão. No entanto, ao colocar, na condição de acusador e julgador, a prerrogativa de processo como consequência do exercício de um direito constitucional (a inviolabilidade do sigilo da fonte), o magistrado, ainda que por via indireta, ameaça a liberdade da imprensa.

    Em resposta às declarações, os jornalistas reagiram ao que se considera uma ameaça velada com o seguinte abaixo assinado:Os jornalistas de Mato Grosso, abaixo assinados, repudiam de forma veemente as tentativas de intimidação e ameaça à liberdade de imprensa e ao exercício profissional. Ainda que de forma velada, declarações que buscam, por vias obtusas, driblar as garantias constitucionais que permitem a nós, cidadãos, o direito à informação, causam repúdio e indignação.

    Assim aconteceu com as recentes declarações do presidente da Associação Mato-grossense de Magistrados (Amam), José Arimatéa Neves Costa, na manhã desta quarta-feira (06), quando na ânsia de defender sua categoria, esqueceu-se do principal mister de sua função: a defesa dos direitos e garantias fundamentais.
    Ao colocar como opcional um direito tão caro ao jornalista e à sociedade, como a preservação do sigilo da fonte – instrumento esse garantidor da liberdade de imprensa -, o magistrado coloca como opcional e acessória a própria democracia.

    A imprensa ameaçada pelo Poder Judiciário (como acusador e julgador da própria causa), também Estado, não pode ser livre. Sem imprensa livre, não há cidadania.1. Abdalla Zarour
    2. Adilson Rosa
    3. Alair Ribeiro
    4. Alan Cosme
    5. Alana Casanova
    6. Alice Matos
    7. Aline Almeida
    8. Aline Brito
    9. Aline Coelho
    10. Aline Romio
    11. Alline Marques
    12. Ana Karla Costa
    13. Ana Paula Barros
    14. Ana Sampaio
    15. Andréia Fontes
    16. Anselmo Pinto
    17. Antônio Pacheco
    18. Arthur Santos
    19. Augusto Pereira
    20. Bárbara Bini Pereira Rosa
    21. Barbara Sá
    22. Camila Piacenti
    23. Camila Ribeiro
    24. Camilla Zeni
    25. Carlos Gomes
    26. Carolina Alonso
    27. Caroline Rodrigues
    28. Celly Alves Silva
    29. Cida Capelassi
    30. Cínthya Rocha
    31. Cíntia Borges
    32. Claryssa Amorim
    33. Claudete Castro de Barros
    34. Cleide Dantas
    35. Cristiane Sagioratto
    36. D`Laila Borges
    37. Daffiny Delgado
    38. Daniele Danchura
    39. Dayanne Dallicani
    40. Débora Siqueira
    41. Derik Bueno
    42. Eder Gomes
    43. Edinice Gomes Segura
    44. Elayne Mendes
    45. Eliana Bess
    46. Elloise Guedes
    47. Eridson Vieira
    48. Érika Oliveira
    49. Everaldo Galdino
    50. Felipe Leonel
    51. Flávia Rosane dos Santos
    52. Gabriela Galvão
    53. Gabriele Schimanoski
    54. Gilson Nasser
    55. Gustavo Nascimento
    56. Hérica Teixeira
    57. Hugo Fernandes
    58. Iury Lupaudi
    59. Iviusch Beloto
    60. Jacques Gosch
    61. Jad Laranjeira
    62. Janaiara Soares
    63. Jardel P. Arruda
    64. Jonas da Silva
    65. Josemar Santos
    66. Julia Munhoz
    67. Julia Oviedo
    68. Kamila Arruda
    69. Karina Silva Cabral
    70. Katiana Pereira
    71. Kleber Mendes Santos
    72. Laís Canto
    73. Laíse Lucatelli
    74. Larissa Malheiros
    75. Laura Nabuco
    76. Laura Petraglia
    77. Lázaro Borges
    78. Leonardo Heitor
    79. Liana D’ Menezes
    80. Lidiane Barros
    81. Ligiani Silveira
    82. Lina Obaid
    83. Lorena Bruschi
    84. Lorrana Carvalho
    85. Luana Daubian
    86. Lucas Bellinello
    87. Lucas de Senna
    88. Lucas Rodrigues
    89. Lucielly Alinne
    90. Luciene Lins
    91. Luiz Gonzaga Neto
    92. Luiz Patroni
    93. Mak Lucia Forte
    94. Marcella Magalhães
    95. Marcelo Martins
    96. Marcia Andreola
    97. Márcio Eça
    98. Marcos Silva
    99. Maria Clara Cabral
    100. Mariane Xavier
    101. Marianna Marimon
    102. Maricelle Lima Vieira
    103. Marisa Batalha
    104. Marisol França
    105. Max Aguiar
    106. Michelle Cândido
    107. Mikhail Barros e Favalessa
    108. Najylla Nunes
    109. Nara Assis
    110. Natacha Wogel
    111. Noelisa Andreola
    112. Noelma Oliveira
    113. Olímpio Vasconcelos
    114. Onofre Ribeiro
    115. Pablo Rodrigo
    116. Paola Carlini
    117. Patrícia Sanches
    118. Patrícia Xavier
    119. Paula Ruhling
    120. Peterson Paulo Prestes
    121. Rafael Costa Rocha
    122. Regina Botelho
    123. Renan Marcel
    124. Renê Dióz
    125. Roberta de Cássia
    126. Robson Fraga
    127. Rodrigo Vargas
    128. Ronaldo Pacheco
    129. Sandra Amorim
    130. Silvana Bazani
    131. Silvia Marques Calicchio
    132. Simone Alves
    133. Sissy Cambuim
    134. Suelen de Alencar
    135. Tarley Carvalho
    136. Thais Teles
    137. Thalyta Amaral
    138. Thiago Andrade
    139. Valquiria Castil
    140. Victor Cabral
    141. Vinícius Lemos
    142. Vinicius Souza
    143. Volney Albano
    144. Walmir Santana
    145. Wellyngton Souza
    146. Welyda Cristina de Carvalho
    147. Adir Ribeiro Carioca
    148. Magda Matos

    https://peloamordedeus.com/wp-content/uploads/2016/10/dsgfg5654654.jpg

  • “Está na hora dos jornalistas deixarem as redações”

    “Está na hora dos jornalistas deixarem as redações”

    Há cinquenta anos, um movimento popular, operário e estudantil de denúncia da autoridade e defesa da liberdade de expressão expandiu-se no mundo inteiro. Na França, onde teve ampla repercussão, nasceu o célebre slogan “É proibido proibir”. Era a época das utopias concretas em plena guerra no Vietnã.

    Para comemorar o cinquentenário desse movimento que ainda hoje destaca-se como um dos maiores desde o fim da Segunda Guerra mundial, o consulado da França no Rio de Janeiro promoveu uma série de atividades sobre a censura e a liberdade de expressão. Entre os convidados, o jornalista Edwy Plenel, ex-diretor no jornal Le Monde e fundador, em 2008, de Mediapart, um jornal independente online, participativo e 100% FINANCIADO por cerca de 140 mil assinantes. Na sede da Aliança Francesa do Rio de Janeiro, ele concedeu entrevista à ativista francesa da democratização da mídia e residente no Brasil, Florence Poznanski, para os Jornalistas Livres. Plenel luta por um jornalismo independente capaz de cumprir sua função social e fornecer à sociedade as ferramentas para exercitar plenamente sua cidadania. Um jornalismo que não olhe a sociedade do alto, mas que deixe todas as vozes se expressarem.

    Independentemente das bolhas, dos algoritmos e da nefasta cultura da gratuidade na Internet, ele continua um entusiasta das possibilidades que o sistema digital permite para investigar e produzir a custo baixo informações de alta qualidade que não se encontram na mídia de massa, atrelada aos interesses dos monopólios. Cruzando os olhares entre o Brasil e a Europa, ele faz um rápido balanço sobre o papel da mídia na construção do golpe no Brasil e manda um recado desafiador para os jornalistas brasileiros: “Não está na hora de deixarem suas redações para fundar um jornal verdadeiramente independente? Se não o fizermos, se os jornalistas não mostrarem seu compromisso democrático, se não defenderem seus ideais profissionais, não há razão para o público confiar em nós”. Confira a entrevista:

    Florence Poznanski: O que significa para você, vir ao Brasil nesse período para falar sobre censura?

    Edwy Plenel: A censura hoje se disfarça de liberdade de comércio, liberdade de empreendimento, liberdade de transmitir opiniões. Ela assume a forma de mídia controlada por patrões que defendem seus interesses e se asseguram que as informações que os incomodam não apareçam. Ela está nas redes sociais onde existem algoritmos que trabalham com publicidade e que transforma você em uma mercadoria que, por um lado, utilizam seus dados pessoais e, por outro lado, lhe enviam opiniões apenas e não informações que podem incomodá-la. Eu nunca venho a um país estrangeiro como um doador de lições. Na França, há dez bilionários que controlam a maioria dos meios de comunicação privados. E eles os controlam não para nos impedir de fazer o nosso trabalho, mas para evitar que esses meios perturbem seus interesses e para que não possamos mudar a ordem das coisas. Temos de lutar hoje por um novo ecossistema democrático, podemos chamar isso de revolução, de refundação, de reforma radical, para acompanhar a revolução tecnológica, regular e defender os direitos dos jornalistas, impedir situações de monopólio e fortalecer o ‘direito ao saber’ dos cidadãos. O direito fundamental de saber o que é do interesse público e o que os poderes políticos e
    econômicos escondem.

    “Esses bilionários controlam os meios de comunicação para que não perturbem seus interesses e que não possamos mudar a ordem das coisas”

     

     

     

     

    FP – Aqui no Brasil estamos em uma situação de monopólio que controla mais de 90% dos meios de comunicação. A mídia pública é muito fraca e as iniciativas regulatórias sempre foram reprimidas. Quando falamos de regulação para esses meios, eles chamam isso de censura. Na Argentina, a “ley de médios” foi aprovada e a Clarin está empenhada em acabar com essa lei desde então. Parece-me que na América Latina esses monopólios têm muito mais poder. Você acha que temos as mesmas armas que a Europa para chegarmos lá?

    EP – Nós não podemos ser a favor dos monopólios, devemos necessariamente ter leis anti-concentração. O monopólio é como o fim das espécies vivas, não podemos querer preservar espécies ameaçadas e ser a favor dos monopólios. O monopólio é a morte. “Regulação não é um palavrão. O monopólio é como o fim das espécies vivas, o monopólio é a morte”. Na Europa, temos um mínimo de regulamentação. Não é a lei da selva. Não podemos aceitar que um setor tão importante quanto a informação seja simplesmente o reino dos mais fortes e poderosos. Você precisa de regras. Essas regras devem ser democraticamente discutidas e deliberadas. E o poder estatal não deve se considerar o fiador. Porque existe o risco de que seja usado a serviço do poder político do momento. Essas regras devem ser a favor da independência profissional e da pluralidade do jornalismo, da diversidade das redações. Falar de regulação não é absolutamente um palavrão. Deve-se regular os monopólios privados e também o poder estatal. Na França, temos uma mídia pública paga pelos impostos porque ela é a serviço do bem comum. Mas este serviço público deve ser independente em sua gestão, não pode depender do poder político.

    FP – Aqui, a Empresa Brasil de Comunicação (EBC) foi recentemente transformada em uma agência estatal. Este é um exemplo concreto do que o Estado pode fazer para controlar informações.

    EP – Pois é. Ademais, em relação à mídia privada, disposições que defendam a independência das redações são fundamentais. Os jornalistas não são objetos, bens, propriedades daqueles que possuem esses meios, e os jornalistas precisam lutar pela integridade de seu trabalho.

    FP – Nesse contexto, muitos jornalistas no Brasil estão revoltados com a linha editorial dos meios de comunicação de massa, mas as alternativas do jornalismo independente permanecem frágeis.

    EP – Reconhecer isso é uma coisa. Mas o melhor para os profissionais da informação é mostrar que existe uma alternativa, que ela está na criação de uma mídia independente e de fazê-la funcionar. O Brasil é um país muito grande, muito conectado e existem varias iniciativas na mídia alternativa que estão sendo criadas. Acredito que os profissionais que observam a situação do país, a maneira pela qual o caso jurídico em volta do Lula serve para desacreditar o campo progressista e servir os interesses econômicos dominantes, são perfeitamente capazes de enxergar o que a sociedade precisa saber para reagir. Eu venho de um jornal totalmente digital. E minha mensagem é que é preciso parar de se lamentar, bater a cabeça contra as paredes. Temos que comprovar que existem alternativas, que podemos produzir jornais profissionais independentes que funcionam e não dependem de nenhum poder econômico porque só vivem com o apoio de seus leitores. A experiência de Mediapart é reproduzível em outros lugares. E este é o chamado que faço todas as vezes aos jornalistas que reclamam da mídia tradicional. Eu falo para eles: arrisquem, procurem aproximar-se do público, procurem o apoio dele e vocês verão que isso pode funcionar. É preciso dar-se as condições para fazer um grande jornal digital brasileiro.

    FP – Qual a sua opinião sobre o papel da mídia na construção do golpe no Brasil?

    EP – Eu não tenho conhecimento suficiente para dizer coisas específicas. Vi como todo mundo que durante seus anos de poder o PT não saiu ileso. Existem fatos reais e o jornalismo investigativo comprova isso. Não se pode dizer que são calúnias, há atos e fatos reais que não correspondem aos princípios e ideais do PT. E, ao mesmo tempo, não podemos acreditar na fábula de que seria o maior caso de corrupção da história do Brasil, na medida em que são os próprios corruptos que afirmam isso e que instrumentalizam amplamente o sistema penal. A Justiça deve ser capaz de agir de forma independente e não deve ser usada para solução política.

    Também vi, como todo mundo, a mídia dominante que não dá voz à sociedade, não mostra o que está acontecendo na sociedade. Eles olham de cima para a sociedade. Também existe isso na França, não quero dar lições de fora (nos subúrbios, com os migrantes). Há sempre esse olhar de cima. Na França, por exemplo, os movimentos de solidariedade com os migrantes têm dificuldade em estar presentes nos meios de comunicação de massa. Basta alguns incidentes violentos em uma manifestação para que se fale apenas disso e não da razão da mobilização. Bairros populares são descritos como o inferno, lugares de perigo, enquanto há uma grande vitalidade que sempre passa despercebida.

    “A mídia dominante não dá voz à sociedade, não mostra o que está acontecendo na sociedade. Eles olham de cima para a sociedade”

     

    FP – Você fala da oportunidade do digital para superar os monopólios, mas a Internet é um espaço ainda mais monopolizado do que o sistema de mídia.

    EP – Existem problemas reais sobre a neutralidade digital, um debate para que a Internet não se torne propriedade de operadores privados e para que possamos sempre transmitir nosso conhecimento. O escândalo Facebook/Cambrige Analitica mostrou como a publicidade gratuita é prejudicial à informação e como toda a imprensa é cúmplice disso. Esta publicidade gratuita corrompe a informação livre e valiosa. Nesta arena é preciso lutar, especialmente pela regulação desta arena. Médiapart é totalmente digital e isso é a sua força. Nós usamos as armas democráticas do digital.

    Pegando o contraponto dessa gratuidade publicitaria, eu falo de gratuidade democrática que são nossos programas de TV, que são universidades populares e ajudam na transmissão do conhecimento. E isso não custa muito. Hoje existe o financiamento coletivo, por exemplo, que nós não tínhamos quando criamos o Médiapart. O principal fator que trava o debate público é o reinado das opiniões. E com essas opiniões tudo se torna relativo e não há mais verdade. Nós devemos liderar este debate sobre a verdade. Eu ainda temo esse aspecto da crítica da mídia que só trabalha com críticas políticas. Na minha jornada de 40 anos de jornalismo, tanto sob governos de esquerda quanto de direita, entendi muito bem que não basta acreditar que se pensa politicamente correto para informar a verdade. Você tem que fazer este trabalho de informação e você tem que lutar.

    “O principal fator que trava o debate público é o reinado das opiniões. Em 40 anos de jornalismo, entendi muito bem que não basta acreditar que se pensa politicamente correto para informar a verdade”

    FP – No Brasil, várias iniciativas de mídia digital surgiram nos últimos anos, algumas com orientação ideológica e outras comprometidas com a independência editorial. Mas estudos sobre o comportamento da mídia na sociedade mostram que o nível de confiança na mídia online permanece muito baixo em comparação com a televisão e a imprensa tradicional. Como superar esse dilema diante de um público que muitas vezes prioriza o entretenimento frente ao interesse geral?

    EP – Reconquistar a confiança do público significa defender o valor da informação. Temos que provar que o jornalismo é útil por causa da qualidade, da originalidade e da necessidade de sua informação. E, em contrapartida, devemos convencer o público de que esse trabalho tem um preço, o preço do jornalismo independente a serviço exclusivo do direito de saber dos cidadãos. Em outras palavras, é uma batalha que devemos peitar contra o reino do entretenimento, da opinião e do Ibope. Se não o fizermos, se os  jornalistas não mostrarem seu compromisso democrático, se não defenderem seus ideais profissionais, não há razão para o público confiar em nós.

  • Silêncio como cúmplice

    Silêncio como cúmplice

    Há pouco mais de uma semana, os noticiários se viram diante da missão de informar e provocar reflexão sobre os eventos racistas em Charlottesville, na Virgínia, Estados Unidos. A imprensa estadunidense escolheu alcunhar os protagonistas da marcha de “supremacistas brancos”, de acordo com uma história em que um dos atores principais é a Klu Klux Klan. Os jornais brasileiros seguiram a mesma tendência.

    Reprodução do vídeo da materia da Vice.

    A novidade no noticiário do Brasil foi a utilização da palavra “racismo”, como pontuou a ombudsman da Folha, Paula Cesarino Costa. Ela destaca o excelente artigo de Janio de Freitas, que afirma que a palavra “supremacista” é um jeito de atenuar o que na realidade é “racismo”.

    Correto. O espantoso é que um evento racista como o que vimos, com suas consequências e revelações, não provoque um debate interno no Brasil sobre o nosso próprio racismo. Os jornais refletem essa postura. Aqui, a não ser nos estádios de futebol, o racismo não é escancarado e explosivo como na marcha da Virgínia. É contínuo desde que o Brasil é o Brasil. É diário. Mostra-se, em sua expressão mais aguda e letal, nas altas taxas de homicídios contra jovens negros: nosso País mata, a cada ano, cerca de 42 mil vidas negras, 70% do total de homicídios. Não enxergar a dimensão racial dessa violência é outra forma de racismo. Mas a notícia parece que só se torna relevante quando o racismo é flagrado pelas câmaras de TV nos estádios.

    Nas páginas dos jornais e no noticiário televisivo, nosso racismo se expressa silenciosamente. Está nas omissões e negligências jornalísticas. Faz parte de uma cultura que tenta, a todo custo, atenuar, relativizar e esconder o nosso racismo. É o que o dramaturgo, escritor e grande intelectual, Abdias Nascimento, classificou como “eufemismos raciais”, em seu livro O genocídio do negro brasileiro – Processo de um racismo mascarado ( Editora Perspectiva). “Não se trata de ingênuo jogo de palavras, mas sim de proposta vazando uma extremamente perigosa mística racista, cujo objetivo é o desaparecimento inapelável do descendente africano, tanto física quanto espiritualmente, através de um malicioso processo de embranquecer a pele negra e a cultura do negro”, escreve Abdias.

    Temos, arraigado no coração das redações, o antigo conceito de “democracia racial” por trás da construção das notícias e artigos de opinião. O maior defensor da democracia racial foi o historiador Gilberto Freyre, autor de Casa Grande e Senzala. Mario de Andrade, o poeta angolano, foi um dos primeiros a refutar essa ideia, colocando-a como uma das ferramentas ardilosas do colonizador. O sociólogo Florestan Fernandes também se opôs a essa falsa noção de democracia racial.

    De acordo com a teoria da democracia racial, o Brasil seria uma espécie de “paraíso racial”, em que a miscigenação seria uma forma evolutiva e harmoniosa de convivência. Contestar essa suposta relação racial seria nossa função como jornalistas, se não por óbvia observação (se o jornalista for branco), pelo menos por meio da mera associação de dados sobre indicadores sociais e a base da pirâmide: a população negra segue sendo a mais vulnerável de toda a nossa sociedade. Ponto. Esse é o nosso contexto. Nós, brancos, somos privilegiados diante de uma parcela muito significativa da nossa sociedade. Isso não seria uma forma de “supremacia branca”? Mas vamos nos ater ao uso da expressão “racismo”.

    No jornal Folha de S. Paulo, por exemplo, um dos primeiros artigos sobre Charlottesville se intitula “Racismo no Brasil é real, mas não se manifesta como ódio racial”, do economista Joel Pinheiro da Fonseca. Branco, mestre em filosofia, colaborador do Instituto Millenium, do Instituto Mises Brasil (que publicou texto de um dos líderes do movimento nazista em Charlottesville) e palestrante do movimento liberal brasileiro, se classifica como “libertário”. Corretamente, diz que os protestos em Charlottesville são racistas e “repugnantes”. Em seguida, minimiza o ato, ao considerar o grupo como “uma franja minoritária nos EUA”. Talvez para salvar a própria pele, ressalva que “não representa o grosso da direita americana”, a mesma que o inspira. Joel, então, adentra por um argumento que acaba por expor o seu próprio racismo. Afirma que um protesto como esses é “impensável por aqui”, País em que o racismo existe, mas “não se manifesta como ódio racial. Não temos, nem historicamente, nem no presente, grupos supremacistas brancos ou racistas com qualquer relevância. Nossa mistura das raças produziu uma realidade diferente da americana”. Essa argumentação não é cegueira. É o racismo perverso que faz com que a injustiça racial se perpetue eternamente. Nega-se o óbvio. “Mesmo grupos neonazistas brasileiros contam com mestiços em suas fileiras”, segue o jovem Joel, em uma afirmação sem sentido algum. Atrás de polemizar assuntos dessa natureza, a Folha deixa de cumprir sua função social como veículo jornalístico na engrenagem da democracia. Isso a ombdsman preferiu não dizer.

    Engana-se, no entanto, quem pensa que as escolhas de Joel são falta de conhecimento ou ingenuidade. O racismo no Brasil se fortalece em altas esferas intelectuais, tecnológicas e econômicas. “Não há inocência nem ignorância. O racismo nunca foi assunto de ignorantes. Há intencionalidade na escolha das palavras”, alerta a filósofa e doutora em Educação, Sueli Carneiro, uma das maiores representantes do movimento negro no Brasil. “A mídia vem oferecendo desde sempre um acordo de silêncio”, afirma. O silêncio não permite o debate. Nubla a realidade. Isso é uma forma bastante cruel de racismo.

    Nos jornais, o silêncio se impôs também na seleção dos articulistas, principal espaço de formação de opinião: desde sábado passado não houve, nem no Estadão, nem na Folha ou no Globo, sequer 1 (um) artigo produzido por alguns dos inúmeros intelectuais negros brasileiros acerca do que está ocorrendo nos Estados Unidos. Isso é jornalismo? É compromisso com informar o leitor? Não. Mas é uma maneira exitosa de amenizar a nossa responsabilidade.

    “A maneira como a sociedade americana trata raça é profundamente diferente de nós pois eles romperam o silêncio sobre racismo. E curiosamente chamamos eles de racistas e nós, não”, revela a socióloga negra Márcia Lima, professora da disciplina Desigualdades Raciais na USP. “A polícia no Brasil mata muito mais negros do que a polícia americana. Lá o assassinato de jovens negros é tratado pela imprensa brasileira como racismo. As nossas mortes, não.” A negligência jornalística se faz presente quando, sabendo que a abordagem policial é motivada pela cor da pele, esse tipo de atitude racista da polícia não é questionada pela imprensa. “A sociedade finge não perceber isso”, diz Márcia. E o jornalismo reafirma o “paraíso racial”, onde todos se relacionam alegremente.
    Questão doméstica

    No jargão jornalístico chamamos de “gancho” o período que favorece a publicação de uma determinada reportagem ou análise por conta do interesse gerado por determinado assunto. Assim, tanto melhor a audiência de do texto ou vídeo, quanto melhor for o ‘timing’ de sua publicação. Nesta segunda-feira 21, o Estadão publicou uma reportagem sobre o número muito elevado de homicídios no primeiro semestre deste ano. São 155 mortes diárias, 6 por hora, o que demonstra tendência de aumento em relação aos índices de 2016. “As características das mortes se repetem: ligada ao tráfico de drogas e tendo como vítimas jovens negros pobres da periferia executados com armas de fogo”. Essa é uma informação fortíssima que, se as vítimas fossem brancas, ganharia não só a manchete e a primeira página, como também os espaços de discussão do jornal. A função seria influenciar a demanda por políticas públicas específicas, constranger as esferas de poder para que façam algo para proteger os jovens negros. Mas é o silêncio que se destaca. Como se não tivéssemos nada para fazer diante disso. Como se fossem mortes naturais, “matáveis”. Como se o corpo negro tivesse mesmo que ser contido, restringido e eliminado, seguindo o curso da nossa história. A notícia teve a importância de uma notinha corriqueira para o Estadão.

    É no reconhecimento do racismo como elemento central da nossa sociedade que poderia se estabelecer uma discussão na tentativa de superar a realidade em que vivemos. Enquanto silenciarmos, seguiremos sendo cúmplices das milhares de mortes, da ferida aberta e cotidianamente aprofundada, da dor e da vulnerabilidade da população negra.

    Como disse Oracy Nogueira, um dos sociólogos brasileiros mais importantes, sobre esse silêncio: “em casa de enforcado não se fala em corda”.