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  • A escola virou campo de batalha: PM e diretor atacam estudantes

    A escola virou campo de batalha: PM e diretor atacam estudantes

    Por Cecília Bacha e Lucas Martins

    Na noite da última quinta-feira, 04/03, a escola Escola Estadual Frederico Barros Brotero, em Guarulhos viveu uma noite de terror. Nas imagens gravadas por estudantes no pátio interno da escola, é possível ver que um PM empurra uma adolescente primeiro com a mão e depois com a ponta da sua arma. O vídeo publicado primeiro pelos Jornalistas Livres viralizou na internet.

    Marcas no corpo da estudante que sofreu agressão de PM dentro da escola

    Tudo começou quando os alunos da escola resolveram marcar uma manifestação para protestar contra o diretor José Maria Stanzani.  Além da jovem ameaçada com a arma, outros dois menores de idade foram apreendidos durante o ato e passaram a noite de quinta-feira presos, acusados de ameaçarem o diretor. Eles foram liberados no final da tarde da sexta-feira, 5. Os Jornalistas Livres acompanharam o momento da soltura e a volta dos alunos a escola.

    Os alunos tinham convocado o ato para durar durante todo a quinta. Ao chegarem para o turno da noite o diretor já havia solicitado a presença da PM e carros da polícia estavam na porta da escola.

    O Boletim de Ocorrência registrado pela apreensão dos dois jovens confirma que a polícia tinha sido convocada “por solicitação do Diretor da Escola”, no BO o protesto é caracterizado como um “tumulto generalizado”. Na descrição da ação policial está registrado que “conforme afirmaram os Policiais, eles empregaram força moderada, por se tratarem de dde muitos adolescentes” e confirma que o próprio diretor “veio a apontar os ora adolescentes infratores”.

    “A gente entrou todo mundo na escola e estavam todos os alunos no pátio protestando, falando ‘abre portão, abre portão. fecha portão’, os gritos de guerra. todo mundo mostrando o celular. ainda são sete horas. O diretor passou pelo pátio, entrou na secretaria fazendo joinha, rindo. Saiu fez joinha e fechou o portão [externo]. Depois, quando ele mandou abrir o portão, desceram três policiais militares e a gente deu uma recuada. Aí eles pegaram um aluno e enquadraram. Aí a gente foi pra cima, falou ‘não, solta o menino’, foi quando aprenderam o menino. três policiais tiraram o menino pela força, menor de idade. Dá pra ver, muito nítido na imagem que o diretor pega aponta pro menino, cochicha com o policial e logo em seguida eles pegam ele. Aí a menina foi falar para o diretor ‘você não tem o direito de deixar isso acontecer, ele é menor’ foi quando o policial empurrou a menina” conta a estudante Sophia Rios, 17 anos.

    O estudante Raul protesta pela liberdade do colega preso
    Foto: Lucas Martins / Jornalistas Livres

    Segundo Sophia, a insatisfação dos alunos com o diretor começou no início deste ano letivo quando José Maria assumiu o cargo e implementou uma política de “tolerância zero” com o fechamento dos portões.

    “A gente sempre teve um regime de tolerância de dez minutos e sempre funcionou muito bem, porque os alunos vinham do trabalho, mas atrasavam cinco, dois minutos, coisa básica. E esse diretor acabou tirando esses dez minutos de tolerância. Ou você entrava às sete horas em ponto ou não entrava mais. E o que acontece? Muitas pessoas trabalham pra sustentar a casa, muitos de nós não têm essa condição de se dar ao luxo de trabalhar só por diversão. A gente tem que ter essa tolerância, não porque a gente quer ‘vagabundar ou fazer vadiagem. Não, a gente precisa porque a gente trabalha para manter a nossa casa, para ajudar nossos pais.”

    Os alunos contam que logo na primeira reunião de pais a nova diretriz foi passada. Nenhum atraso seria tolerado. Eles reclamam ainda que o sinal da escola está adiantado pelo menos três minutos, precipitando o fechamento da escola para os alunos do período noturno. Uma vez atrasados, independente do tempo que for, eles não podem entrar na escola no dia do atraso.

    Além da nova política de horários o diretor tornou constante a presença da polícia na entrada da escola. A estudante Karine, de 15 anos, conta que “isso começou muito frequente esse ano. O ano inteiro, todos os dias, são várias viaturas passando, rondas pela praça e pela escola.”

    A E.E Frederico Barros Brotero, que fica na região central da cidade, é uma escola modelo em Guarulhos. Muitos pais transferem os filhos de outras escolas para a Frederico buscando proporcionar um melhor ambiente escolar, como é o caso da Roseli, mãe da Juliana, que

    “devido a qualidade do Brotero eu trouxe ela pra cá. Por causa do ensino, professores. A referência aqui em Guarulhos que é a escola.Trouxe ela no ano passado. [Mas] devido ao ocorrido de ontem eu me senti completamente insegura agora. não pelo fato dos alunos terem feito esse motim, que eu falo, esse manifesto, essa manifestação. Sim pela insegurança dos alunos dentro da escola por causa da própria direção, da própria escola que deveria estar dando segurança para eles, dentro da escola chamar a polícia para dentro da escola.”

    A confiança no trabalho realizado pelos educadores da escola é recorrente entre pais e alunos da Frederico. É o caso também de Eliane de Gouveia, mãe do João Vitor, 17, um dos rapazes detidos durante o protesto. Ela diz que inicialmente concordou com a medida do diretor “que queria colocar ordem na escola”. Segundo ela, de seis anos para cá, quando seu filho entrou na escola, a escola vem perdendo qualidade. “O problema foi justamente essa falta de tolerância do diretor. Nenhuma mudança pode ser feita assim da noite para o dia”, explica.

    Estudantes reunidos em frente a escola Frederico Barros Brotero, um dia após violência policial Foto: Lucas Martins / Jornalistas Livres

    A manifestação a que Roseli se refere é a convocada pelos alunos para acontecer durante toda a quinta-feira passada e pressionar a diretoria a voltar atrás na decisão de retirar a tolerância de 10 minutos para os retardatários. Foi durante ela que aconteceram as cenas de barbaridade realizadas pela Polícia Militar do estado de São Paulo. Os alunos, que já tentavam dialogar com o diretor desde o começo do ano, chegaram ao limite na quarta-feira passada, 03/03.

    O aluno Raul Martins, 18 anos, explica “um dia antes do protesto [o protesto ocorreu na quinta, então na quarta-feira] eu tinha vindo para escola, não posso andar muito rápido porque eu acabei de ter uma lesão no tornozelo por conta do esporte que pratico, então eu cheguei na escola eram 18:58. Eu me deparei com viaturas na porta da escola e quando eu desci para tentar entrar na escola o portão estava fechado e o diretor falou assim para a gente ‘vocês me dão um minutinho só que eu vou organizar aqui dentro e vocês já entram’, só que nisso ele deu voz para os policiais [que estavam na frente da escola] nos abordarem. Várias vezes os policiais falaram ‘eu to deixando de fazer o meu trabalho, que é pegar bandido porque estou recebendo reclamação do diretor da escola desse bando de maconheiro vagabundo que nao quer entrar para a escola. Sendo que nisso eu tinha chego antes do horário do fechamento.”

    A abordagem foi presenciada por outros estudantes que de dentro da escola tentaram conversar com o diretor “no dia que aconteceu esse enquadro [quarta-feira, 03/03] os alunos que estavam lá dentro ficaram sabendo do enquadro e começaram a perguntar para as tias e para o diretor. O diretor não falou com nenhum aluno. Pais bateram na porta da escola e ele nao abriu para os pais. Ele saiu para fora e não deixou os pais entrarem.” contou Karine.

    Raul conta que a abordagem seguiu o padrão da PM “violência verbal e violência física” e que durante a revista, que ocorreu na entrada da escola, Raul afirma que um dos policiais “falou que iria deixar todos nós de cueca e iríamos embora de cueca. Só não aconteceu isso porque as tias intervieram, as inspetoras da escola” e completa “eu não gosto disso, de sair de casa pra entrar pra escola e acabar levando enquadro na porta da escola. Levar tapa na cara encostado no portão da escola.”

    Segundo o site G1 o governo de João Doria (PSDB) declarou em nota para o veículo que  o policial militar que empurrou a estudante com uma arma foi “foi afastado”.

    Os dois menores detidos dentro da escola passaram quase 24h na Vara da Infância e da Juventude em Guarulhos. Do lado de fora, dezenas de estudantes faziam vigília até o momento da soltura. O movimento era acompanhado por algumas mães. Após a liberação os alunos caminharam cerca de 20 minutos pelas ruas do Centro de Guarulho até a escola onde os dois alunos foram recebidos como heróis pelos colegas.

    Assista no vídeo a ação da policia dentro da escola e a comemoração pela liberdade dos estudantes, nesta última sexta-feira: 

     

     

     

     

     

  • ESCOLA ESTADUAL VIRA CAMPO DE CONCENTRAÇÃO!

    ESCOLA ESTADUAL VIRA CAMPO DE CONCENTRAÇÃO!

    Brutal violação dos direitos de adolescentes!
     
    Absurda e violenta ação policial hoje na Escola Estadual Frederico Barros Brotero, em Guarulhos.
     
    Dois estudantes estão detidos no 1*DP de Guarulhos.
     
    Professores protegeram com seus próprios corpos os alunos ameaçados pela truculência dos PMs.
    Veja o vídeo, clicando AQUI
     
    O episódio aconteceu nesta quinta (4/4), durante protesto dos estudantes, que pedem a saída do diretor José Maria Stanzani. Desde o início do ano, os alunos que chegam atrasados têm sido impedidos de entrar na escola, mesmo na segunda aula. Hoje, quando tentavam negociar com a direção da escola, os alunos foram surpreendidos com essa ação covarde e insana da polícia, que poderia ter acabado em tragédia.
     
    via Passe Livre Guarulhos
  • Retomada da Terra Sagrada

    Retomada da Terra Sagrada

    Cinco guerreiros caminham pela trilha na mata nativa. “Tudo limpo”, avisa alguém. No local escolhido, começam a limpar onde será o “Apy”, Casa de Reza, na língua Tupi. “Aqui é onde nossos filhos crescerão”, afirma Awaratan Wassu, líder indígena em Guarulhos, a 20 Km de São Paulo, capital. “Você viu que lugar lindo?”, pergunta Alex, liderança do povo Wuerá Caimbé, “ali tem um lago, ali uma nascente. Águas cristalinas”, diz com olhos de quem observa ancestrais. Enquanto os facões cortam a vegetação rasteira, chegam as mulheres com os mantimentos. 

    Foto: Christian Braga

    Rosa Pankararu é a primeira a entrar no espaço sagrado. “Paz, tranquilidade. Este local é como se eu estivesse na minha aldeia, na minha terra. A mente da gente vai longe, sabia? Acho que cada parente aqui está com a mente longe, tenho certeza que cada um está na sua terra”. Rosa nasceu em Pernambuco, na Aldeia Brejo dos Padres, vive em Guarulhos há 32 anos, onde teve dois filhos. “Nós vamos poder fazer uma casa de farinha aqui?”, grita para todos mirando longe. Respondem com sorrisos, afirmativas e exemplos de como era a casa de farinha em suas aldeias.

    Área da Terra Sagrada em Guarulhos que há 40 anos está sem uso, antigamente usado para a criação de porcos. Foto: Christian Braga

    A aldeia multiétnica, Projeto Terra Sagrada, começou a ser gestado em 2002 pelas lideranças dos povos indígenas de Guarulhos. Em 2008 foi feito projeto junto à Prefeitura e neste ano, em abril, o Subsecretário de Igualdade Racial, de acordo com os indígenas, levou-os até duas terras, dois locais para que escolhessem onde seria a aldeia. “Aqui tem nascentes, tem mata nativa. Aqui escolhemos”, diz Alex Wuerá Caimbé. “Se é aqui que vocês querem ficar, é aqui que vão ficar, essa terra será de vocês. Não se surpreendam se em agosto tudo já estiver resolvido, disse o secretário. Gerou expectativa, fomos a nossas casas, falamos com nossos filhos, nos preparamos, fizemos um projeto para aqui viver”.

    Toda a estrutura de concreto que já estava no local será derrubada e cada etnia vai ter uma área na aldeia. Foto: Christian Braga

    Projeto que começa com a Casa de Reza. Local onde tudo acontece, o coração da aldeia. Nele são realizados os torés, cerimônias de canto e dança para conectar com os ancestrais, a cultura e a tradição de suas etnias. Nos torés, as diferenças, as questões, as propostas da aldeia são tratadas. Ao chegarem na Terra Sagrada, a primeira providência foi limpar o terreno para fazer a Casa de Reza. Entre tirar as folhas, revirar a terra e preparar a fogueira, Xukuru explica “a casa de reza é a primeira. Nela a gente faz orações, reza, dança o toré. Casa de Reza é a base para todas as etnias, e cada um em sua área poderá fazer seu templo. Temos diferentes religiões. O importante na aldeia é estar todo mundo junto, porque para ser aldeia o índio tem que estar junto. E é importante conhecer os costumes uns dos outros, acompanhar os saberes”. Cada etnia das 14 representadas nesta retomada de terra terá uma área própria em que irá desenvolver as tradições de seu povo.

    A limpeza no local foi feita rapidamente pelas nove etnias que vão morar no local. Foto: Christian Braga

    “Terra é amor. Terra para índio é um sonho, o nosso sonho de consumo”, diz o líder Caimbé. Pai de quatro filhos, dentre eles um bebê de seis meses, Alex se mudou para a Terra Sagrada. “Não estamos aqui brincando de casinha, a partir de segunda-feira meu endereço e dos meus filhos é aqui”. A decisão de retomar a terra foi tomada há cerca de 15 dias após reunião das lideranças com a Prefeitura de Guarulhos. “A Terra Sagrada existe? – indagamos ao subsecretário. Ele abaixou a cabeça, cruzou as pernas e disse ‘não’. Ficamos sem chão”.

     

    Há cerca de 1600 indígenas em Guarulhos, 14 etnias têm representantes na Associação Arte Nativa Indígena, organização com sede no Centro de Referência Indígena Kuaray Werá, de acordo com seu coordenador Awaratan Wassu. “Cada povo tem seu representante”. Nenhum indígena é Guaru, os donos primeiros da terra, aqueles que deram nome a Guarulhos. Os Guarus foram exterminados, suas terras tomadas, sua cultura e tradição extintas. A retomada da Terra Sagrada é uma homenagem aos parentes, como os indígenas se consideram e se chamam, além de representar a real possibilidade de vivenciar usos e costumes, de estar em contato com a natureza e de que os donos primeiros possam cuidar da mata, do local sagrado dos ancestrais, garantindo condições de vida a povos em situação de vulnerabilidade.

    A aldeia multiétnica Terra Sagrada ocupará 130 mil metros quadrados de área de mata ao norte da cidade de Guarulhos, próximo ao Rodoanel. O projeto prevê uma área comum, cujo centro é a Casa de Reza, e espaços próprios para cada etnia atuantes na Associação Arte Nativa Indígena e no Centro de Referência Indígena Kuaray Werá de Guarulhos. “Já conta com uma enfermeira, uma auxiliar de enfermagem e com a futura assistente social da aldeia”, diz Vanusa Caimbé. Para ela, morar na aldeia significa conviver com a natureza, ter hortas, plantas e não depender de remédios para uma simples dor de cabeça ou de barriga. A proposta é valorizar a cultura indígena em seus mais diferentes aspectos, dando suporte para que tradições não se percam, como no caso dos Guarus.

    “Sabe aquela árvore ali que eles podaram?”, aponta a diretora da Associação Arte Nativa Xukuru, “é ameixa. Serve para fechar ferimentos, ferida de útero. É cicatrizante, une a carne. A floresta é rica em tudo. A gente pode sobreviver desta terra”. Para o líder dos Wassu e coordenador do movimento indígena, Awaratan “este é um projeto pedagógico para cultivar, preservar, viver uma cultura profundamente vinculada à sacralidade da terra. É terra indígena. Nós cuidamos da terra, preservamos a mata. Temos respeito e cuidado com a natureza”. O discurso comum das lideranças presentes na retomada da Terra Sagrada foi o de buscar evitar a destruição de mais uma área de mata em Guarulhos.

    “É uma área de mata, os não-indígenas estão entrando, destruindo já, queremos reverter isso”.

    Foto: Christian Braga

    Após a base da Casa de Reza, da fogueira pronta e do compartilhar do café, acontece a primeira dança sagrada no espaço prometido. O toré reúne saberes e ritmos. Retoma a conexão com a ancestralidade, reforça a beleza da cultura nativa brasileira.

     

    Foto: Christian Braga | Foto: Guilherme Silva

    “Não tem processo ”, foi a constatação que as lideranças chegaram na reunião com a Secretaria de Igualdade Racial. “Cadê o número do processo?”, pergunta Awaratan Wassu, “como podemos acompanhar o andamento sem um número de processo?” Ao perceberem que a Terra Sagrada pode ser promessa vazia, as lideranças indígenas decidiram retomar a terra dos Guarus.

    “Hoje serão só os guerreiros, homens e mulheres. Crianças e mais mulheres entrarão no final de semana”, conta Awaratan Wasu. “A gente não quer morar em apartamento, a gente quer pisar na terra. É um direito que a gente tem, é um direito que a gente vai correr atrás”, reafirma Neide Xukuru. “Queremos conversar com o Prefeito, queremos um posicionamento”, diz Aléx Wuerá Caimbé. Na concentração da caravana em rumo à Terra Sagrada, Awaratan Wassu avisa:

    “De lá eu só saio amarrado. Arrastado pelo trator”.

    Histórico da Retomada Sagrada

    A retomada ocorreu na tarde de 27 de outubro, sexta-feira. Após concentração no Centro de Referência Indígena Kuaray Werá, uma pequena caravana levou as guerreiras e os guerreiros até imediações da Terra Sagrada, no limite das obras do Rodoanel Norte. No dia anterior, as lideranças indígenas entregaram documento com reivindicações para a Chefe de Gabinete do Prefeito de Guarulhos. Dentre elas, está a imediata cessão da terra para a construção da aldeia multiétnica e a transferência da coordenação indígena para outra secretaria. “Não estamos satisfeitos com a Secretaria da Igualdade Racial”, reafirma Awaratan Wassu.

    27 de outubro de 2017 – Retomada da Terra Sagrada – entrada das lideranças indígenas na área prometida.
    26 de outubro de 2017 – Entrega de documento reivindicatório da Terra Sagrada ao Prefeito de Guarulhos.
    Início de outubro de 2017 – Subsecretaria de Igualdade Racial diz não ter o número do processo de efetivação da Terra Sagrada.
    Abril de 2017 – Escolha do local da Terra Sagrada e compromisso da Subsecretaria de Igualdade Racial na entrega do local ainda este ano.
    Janeiro de 2017 – Apresentação do projeto Terra Sagrada para a nova gestão municipal de Guarulhos.
    2008 – Elaboração e entrada do projeto junto à Prefeitura de Guarulhos.
    2002 – Concepção do Projeto Terra Sagrada pelas lideranças indígenas de Guarulhos.

    Texto: Caru Schwingel | Fotos: Christian Braga

     

    Foto: Christian Braga
  • Parada do orgulho LGBT de Guarulhos proibida

    Parada do orgulho LGBT de Guarulhos proibida

     

    Foi aprovada na quarta (11/06) na Câmara de Guarulhos com nove votos a favor, oito contrários e uma abstenção, a apreciação do Projeto de Lei da vereadora Dona Maria (PT), que proíbe a realização da Parada do orgulho LGBT “em vias e logradouros públicos” da cidade. A proibição estende-se a eventos similares que utilizem“carros de som, trios elétricos e artistas da noite que promulgam e defendam o comportamento homossexual” . A possível vitória dessa PL, quando voltar para votação do plenário, vai dar a Guarulhos o sórdido título de primeira cidade a institucionalizar a homo-lesbo-bi-transfobia no Brasil.

    O setorial LGBT do PT se apressou em pedir a cassação da vereadora Dona Maria que, em sua fanpage, se apresenta como “uma mulher de DEUS a serviço dos cidadãos e cidadãs abençoados”. Em nota ao partido e aos parlamentares petistas de Guarulhos, o setorial escreveu que “Não há espaço no PT para militantes que incitem a intolerância e que afrontem os direitos humanos. O Setorial LGBT do PT exige a retirada imediata do projeto e defende que vereadora seja submetida ao Conselho de Ética, recomendando sua expulsão.”

    Viviany Beleboni, a modelo e atriz transexual que realizou a performance desfilando crucificada na 19° Parada do Orgulho LGBT não poderia imaginar a repercussão e a reação imediata das bancadas católica e evangélica contra aquilo que classificaram como “Cristofobia”.


    “Cristofobia? Medo de Cristo? Isso não existe. Deus ama a todos, a todos… eu estava interpretando eu mesma e representando os GLBT que são vítimas de preconceito. É chocante porque a realidade que vivemos é chocante” diz Viviany.

     


    A explosão religiosa em “defesa de Cristo” constitui-se em mais um fato em uma sequência de ataques que tem como objetivo minar direitos, anular conquistas e impedir novos avanços na luta pelos direitos civis de populações socialmente vulneráveis. E a justificativa é sempre a mesma: defender uma “família” que elegeram como a natural e cristã — descendentes de Adão e Eva, imagem fiel do modelo Maria, José e Jesus Cristo. É o que o Projeto de Lei 6583/13, o chamado Estatuto da Família quer definir.

    Em 26 de março a frente parlamentar formada por católicos, evangélicos e bancada da bala, com apoio de aproximadamente 80 deputados apresentou um projeto de decreto legislativo com o objetivo de derrubar uma resolução do Conselho Nacional de Combate à Discriminação de LGBT que prevê a adoção do chamado “nome social” em escolas e em concursos públicos.

    Dia 11, sob pressão dos fundamentalistas católicos e evangélicos, o projeto original do Plano Municipal de Educação de São Paulo, que previa o combate à discriminação por identidade de gênero e orientação sexual, foi derrotado e um outro, aprovado, de onde foram excluídas todas as referências a gênero e orientação, com a exclusão também de expressões como ‘diversidade’, ‘transexual’ e ‘travesti’

    Além da PL de Dona Maria, outros projetos já foram apresentados nos dias subsequentes da parada.

    O líder do PSD na Câmara Federal, o evangélico Rogério Rosso, apresentou em 08/06 um PL que quer tornar crime hediondo o ‘ultraje ao culto’ com pena de até oito anos de prisão para quem praticá-lo: “A intenção desse projeto de lei é proteger a crença e objetos de culto religiosos dos cidadãos brasileiros, pois o que vem ocorrendo nos últimos anos em manifestações, principalmente LGBTs, é o que podemos chamar de “Cristofobia”, com a prática de atos obscenos e degradantes que externam preconceito contra os católicos e evangélicos”, escreveu o deputado no projeto de lei.

    O presidente da Câmara dos deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), prometeu colocar em regime de urgência a votação do PL da “Cristofobia”. Cunha é um dos 40 acusados de envolvimento na operação Lava Jato e também autor do vergonhoso projeto para a instituição do “Dia do Orgulho Heterossexual” no Brasil.

    Outro PL foi apresentado no dia 10 pela vereadora Pastora Luciana da bancada evangélica do Partido Progressista de Manaus, que propõe que “atitudes discriminatórias contra a religião cristã” sejam punidas na capital amazonense.

    Também no dia 10, parlamentares católicos e evangélicos protestaram não só contra a Parada do Orgulho LGBT, mas também contra a Marchas das Vadias e Marcha da Maconha. Gritando com cartazes com supostas cenas desses eventos, rodearam o evangélico-mór Eduado Cunha, e de mãos dadas rezaram o Pai Nosso, ofendendo o laico das instituições republicanas brasileiras.

    Em nota, o Cardeal Arcebispo Dom Odilo Scherer se uniu aos evangélicos contra a tal “Cristofobia”:

    “Nós, Bispos Católicos das Dioceses do Estado de São Paulo, reunidos na 78ª Assembleia do Regional Sul I da CNBB, diante dos acontecimentos da recente “parada gay 2015”, ocorrida na cidade de São Paulo, com claras manifestações de desrespeito à consciência religiosa de nosso povo e ao símbolo maior da fé cristã, Jesus crucificado”

    As bancadas católica e evangélica são compostas por 78 representantes e superam bancadas importantes da Câmara como a sindical ou a feminina, com 51 integrantes cada uma. Com o Congresso mais conservador desde 1964, o PL da “Cristofobia” tem grandes chances de ser aprovado.

    ‘Cristofobia’ assim como ‘Ideologia de Gênero’ são expressões usadas por fundamentalistas religiosos para desqualificar manifestações e lutas por direitos civis. É uma cruel ironia que não contém aquilo que eles dizem defender: o amor cristão.

    O futuro da democracia no Brasil está ameaçado. O Estado laico está sob ataque furioso de uma nova ofensiva conservadora de viés neo-fascista que se torna perigosa quando os protagonistas são políticos teocráticos.

    É hora de unirmos forças!