O ministro do STF, Teori Zavascki, deferiu o pedido da Procuradoria Geral da República e afastou Eduardo Cunha do mandato de deputado federal.
Consequentemente, Cunha não preside mais a Câmara, que será assumida por Waldir Maranhão (PP-MA), outro investigado da Lava Jato.
A liminar do ministro deverá ser avaliada e julgada por toda corte em breve.
Essa decisão não interfere no julgamento marcado para hoje, no qual o STF julgará ADPF assinada pela REDE, que questiona o fato de Cunha ser réu e estar na linha sucessória da presidência.
Pela segunda semana consecultiva, as mulheres pararam o centro do Rio. Elas prometem voltar em atos cada vez maiores, até Cunha cair.
Nenhuma mulher veio da costela de um homem, mas todos os homens vieram do útero de uma mulher. Em plena ruína do patriarcado, quando todos os privilégios são postos em xeque e os preconceitos se tornam definitivamente velhos, elas se levantam munidas do amor e da criatividade do gênero feminino para parir um tempo novo para toda a humanidade.
Foto: Roberto Setton/Jornalistas Livres
No Brasil inteiro, mulheres de todas as idades tomam as ruas para lançar luz sobre as trevas do obscurantismo que ameaça o país colocando na agenda pública sérios retrocessos políticos. As mulheres não assistirão caladas e já começaram uma nova primavera! A democracia é um processo de permanente construção e elas definitivamente assumem seu protagonismo como construtoras de um novo impulso democrático a partir da resistência ao machismo e a todos os fundamentalismos que desafiam nosso futuro comum.
Fotos: Ato das Mulheres no Rio de Janeiro, pela Mídia NINJA e Ato de São Paulo, por Roberto Setton/Jornalistas Livres
Elas não estão sozinhas em sua luta justa e urgente. Trazem em seus braços seus bebês, em suas mãos os cartazes com dizeres que abrem um tempo novo e elas vem ainda de mãos dadas com aqueles que também sofrem com a opressão secular: LGBTs, negros, indígenas, trabalhadores e estudantes, todos juntos na reconstrução da esperança que brota nas ruas sob a forma de uma nova agenda política para o século XXI. Nenhum passo atrás será permitido! A pílula fica e Cunha sai, afirmam estas mulheres vindas de todos os territórios do Rio. E impedir a retirada de direitos não basta. Elas querem mais! Querem alargar sua participação política e avançar na conquista de mais direitos e liberdades.
Foto: Roberto Setton/Jornalistas Livres
Apesar de uma considerável redução da mortalidade materna, 43% desde a década de 90, o fato é que as complicações derivadas do aborto seguem como uma das principais causas de morte materna no Brasil. Apesar dos avanços legislativos, como a Lei Maria da Penha, nos últimos 10 anos o assassinato de mulheres aumentou 21% no país vitimando sobretudo as negras. É violência doméstica e violência institucional por onde quer que se olhe! Mas os tempos mudaram e elas não serão mais silenciadas. As questões do feminismo estão na ordem do dia, na prova do ENEM, nos debates públicos e dentro de nossas próprias casas, obrigando-nos a uma verdadeira reeducação sentimental, desafiando-nos a construir uma nova cultura de equidade e respeito que nos fará mais livres a todos.
Ato das Mulheres no Rio de Janeiro. Foto: Mídia NINJA
“Um, dois, três, quatro, cinco, mil… Pelo #ForaCunha nós paramos o Brasil!” Assim saíram as mulheres, cantando em passeata pelo centro do Rio de Janeiro. Um dia antes de novas manifestações no resto do país, as mulheres do Rio e SP apontam o caminho da mobilização permanente e da organização popular como resposta contundente aos absurdos desta crise institucional na qual os setores conservadores mergulharam o país. Juntas contra Eduardo Cunha e contra o ajuste fiscal do Governo Dilma, as brasileiras gritam pra quem quiser ouvir: “Fora já, fora já daqui o Eduardo Cunha junto com o Levy!”
Foto: Mídia NINJA
Ninguém pode proibir o futuro. Ninguém pode mais calar as questões da sexo-gênero-diversidade que mobilizam milhões em todo o mundo. Na Era da Alteridade que está apenas começando, o biopoder e as questões da subjetividade e das liberdades individuais não poderão mais ser aprionadas pelo cárcere dos velhos sistemas de poder. As fissuras no ordenamento econômico mundial, a fragilidade dos sistemas políticos frente à crise de representantividade do mundo contemporâneo, o colapso ambiental que ameaça todo o planeta e comoveu o país inteiro na última com o crime ambiental da Samarco/Vale em Mariana matando todo o Rio Doce, as agressões envolvendo o Secretário Executivo do Município do Rio, Pedro Paulo-PMDB, contra quem mais de 10 mil cariocas já assinaram petição pública exigindo a imediata demissão, nada disto escapou das milhares de mulheres que trouxeram sua lucidez para as ruas da cidade no 2.o Ato das Mulheres Contra Cunha.
Daqui pra frente será assim… E amanhã vai ser maior! Porque as mulheres estão parindo um novo imaginário político para o século XXI e doa a quem doer, o futuro delas lhes pertence. O machismo que mata agora agoniza. Em breve morrerá. É assim que nasce o mundo novo!
Ativistas grávida durante ato das mulheres em SP. Foto: Roberto Setton/Jornalistas Livres
por Helio Carlos Mello, especial para os Jornalistas Livres
Numa tarde de sexta-feira piso no negro chão da rua na cidade grande. Uma estranha sensação me remete à uma aldeia xinguana em dia de Yamuricumã*. Aqui na avenida as mulheres também entoam cantos de cunhã**, vozes de mulher, como em aldeia. Aqui e agora são elas, é música de regra.
Penso logo nos desatinos que aqui me conduzem e trazem as mulheres pra rua em inúmero número. A palavra de ordem é Fora Cunha, um imbecil do gênero masculino, que não me representa, mas é homem, e como no mito de aldeia, onde o índio matou o jacaré que namorava as mulheres em beira de rio, aqui me resigno e devo me portar sóbrio e pronto a apanhar delas.
Somos um país de presidenta, cineasta e geneticista abrido caminhos. O vermelho proibido na avenida em outros dias, aqui ressurge hoje em pontos de útero, trompas e tambores. É música, é dança é protesto.
Importante aqui citar Lia Zanotta Machado (1):
“-Antes do feminismo dos anos setenta, a diferença de gênero era a diferença de sexo posta no biológico; era a diferença percebida como inferioridade do sexo feminino ou como complementaridade dos sexos na divisão sexual do trabalho.
-Nos últimos anos, o direito à diversidade cultural se constituiu em discurso globalizado e politizado. Na arena dos acordos internacionais, o direito à diversidade cultural tem se constituído em moeda de troca para arrefecer a intensificação das reivindicações de direitos individuais à igualdade de gênero e acesso a direitos sexuais, sem que, no entanto, tenham se intensificado os direitos coletivos ou comunitários dos povos indígenas. A diversidade cultural tem sido reivindicada especialmente por estados nações onde os interditos da divisão sexual e dos lugares das mulheres são postos não somente como regulados pelos costumes tradicionais e orais, mas sim por leis seculares e códigos religiosos.
-O conceito de gênero é entendido como tornando-se ou podendo tornar-se em outra forma, não mais identidades, mas identificações, propondo uma ruptura das dicotomias como a heterossexualidade e a homossexualidade, masculinidade e feminilidade”.
Não quero ser o poeta de um mundo caduco ou negociarei desigualdades. Nem Drummond o foi ou fez, e como Simone de Beauvoir (2) renascida em solo secundarista me pergunto feminino
“quem somos nós? Sem marido, sem filho, sem lar, sem nenhuma superfície social e vinte e seis anos: nessa idade, tem-se vontade de pensar um pouco no mundo”.
Na avenida encontro um país que pulsa na ressignificação cultural e avança em antigas questões de direitos e dominação patriarcal e corta o machismo de cena. Em canto e cantos há todas as cores do mundo, e vermelho é regra e marco. Num mundo possível, livre de opressão, reinventado , onde homem no resguardo e mulher dona de si avançam de mãos dadas.
Na Avenida, como diante de rio, me sinto em fluxo.
Fora Cunha. Somos Cunhã.
*Yamurucumã : rito de Yamurikumã (na terminologia kamaiurá, mais difundida na região), realizado na estação seca, no qual as mulheres atuam com armas, movimentos tipicamente masculinos e ornamentos de penas e chocalhos nos tornozelos, que normalmente são usados por homens; lutam, inclusive, ohuka-huka.