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  • Bolsonaro em pele de cordeiro. Quem acredita nisso, acredita em tudo

    Bolsonaro em pele de cordeiro. Quem acredita nisso, acredita em tudo

    Por Ricardo Melo*

    A mídia golpista festeja. FHC pede tolerância diante do capitão. Fernando Haddad e Guilherme Boulos aceitam o papel de vallets numa live pela “democracia”. Tudo isso porque Jair Bolsonaro baixou o tom ao sentir a água subindo acima do pescoço. Como se o problema do militar expulso do Exército fossem seus rompantes verbais.

    Nada disso. Bolsonaro virou refém de seus crimes e de sua famiglia. A prisão de Fabricio Queiroz desferiu um golpe quase mortal nos planos do mito. Queiroz sabe de tudo e um pouco mais. Se abrir a boca, Bolsonaro “já era” de direito, como já é de fato.

    À beira do precipício, Bolsonaro distribui afagos ao Judiciário e ao Legislativo. São tão sinceros quanto a negativa de assumir os croquis mostrando seus planos de explodir quartéis e uma adutora no Rio de Janeiro. Sua preocupação maior é barrar as investigações e o julgamento dele e sua famiglia no roubo de dinheiro público. Flavio Bolsonaro é um criminoso exposto à luz do sol. Basta examinar seus recursos quanto ao inquérito das rachadinhas. Seus advogados nunca discutem o mérito; apenas filigranas judiciais.

    Para isso contam com a complacência pérfida da “Justiça”. O desembargador carioca que decidiu o voto a favor da postergação do inquérito das rachadinhas é velho amigo da nova advogada do filho que é igual ao pai. No Superior Tribunal de Justiça, o presidente em exercício está acostumado a “matar no peito” as denúncias contra o presidente genocida. 85% de suas decisões têm sido favoráveis ao clã de milicianos.

    A operação em curso, porém, envolve mais coisa. Depois de fulminar a aposentadoria e os direitos trabalhistas, na surdina das “sessões virtuais”, o Senado há pouco aprovou a proposta de privatizar a água. Pra variar, o bolsoguedismo está pouco se lixando para os interesses do povo, desde que encha os bolsos do capital financeiro. Tentou passar a boiada da previdência privada. Não conseguiu (ainda). Mas água mole em pedra dura tanto bate até que fura.

    Furou. Em poucas palavras: se o monstrengo for sancionado, só terá direito a água e saneamento quem puder satisfazer a ganância dos tubarões. Como sempre, o bolsoguedismo vai na contramão do que ocorre no mundo civilizado. É o que nos informa o noticiário. “Nos últimos 15 anos, houve pelo menos 180 casos de reestatizações em 35 países, como Alemanha, Argentina, Hungria, Bolívia, Moçambique e França. Em contraposição, neste mesmo período, muitos poucos casos de privatizações de água ocorreram. Este fenômeno de reestatizações vem se mostrando como uma tendência mundial. O número de reestatizações nas cidades duplicou nos últimos cinco anos, o que demonstra a aceleração desta tendência.”

    A essa altura, nem precisa se estender sobre o MEC. A cada dia, o terceiro ministro nomeado é pilhado em mentiras. O militar da reserva ( mais um) dizia que fez doutorado. Foi desmentido na lata pelo reitor da universidade argentina onde se gabava de ter conquistado o diploma. Sua tese de mestrado também subiu ao telhado pela denúncia de plágio escancarado. Pior: foi sob sua gestão no Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) que aconteceu uma licitação de R$ 3 bilhões (já cancelada) para comprar computadores para as escolas públicas. Em algumas delas, por exemplo, cada aluno receberia cerca de…100 computadores por cabeça.

    O novo ministro correu para editar o currículo. Emenda pior que o soneto. No currículo lattes, agora admite nas entrelinhas que não tem o diploma de doutor. Mas não fala nada sobre o fato de que foi reprovado em três bancas diferentes. Tampouco explica como um não-doutor pode ser pós-doutorado numa universidade alemã. Sobre a licitação bilionária, tudo é silêncio. Abafa o caso.

    Não, não há saída enquanto Bolsonaro e sua gangue de milicianos permanecerem no poder. O Brasil continuará contabilizando milhares de mortos a cada dia, desempregados sem proteção e gente vivendo do nada e ainda menos. Só FHC mesmo para dizer que é preciso tolerar o militar genocida por mais dois anos.

    A pandemia limita a resposta do povo. Entre se aglomerar em manifestações e resguardar a vida, a maioria defende seu direito de viver. Mais do que justo. Mas a hora de ajustar as contas está cada vez mais perto. Com ou sem pandemia.

     

    *Ricardo Melo, jornalista, foi editor-executivo do Diário de S. Paulo, chefe de redação do Jornal da Tarde (quando ganhou o Prêmio Esso de criação gráfica) e editor da revista Brasil Investe do jornal Valor Econômico, além de repórter especial da Revista Exame e colunista do jornal Folha de S. Paulo. Na televisão, trabalhou como chefe de redação do SBT e como diretor-executivo do Jornal da Band (Rede Bandeirantes) e editor-chefe do Jornal da Globo (Rede Globo). Presidiu a EBC por indicação da presidenta Dilma Rousseff.

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  • “O presidente perdeu a condição de governar”, dizem ex-ministros

    “O presidente perdeu a condição de governar”, dizem ex-ministros

    O claro flerte com o fascismo, a exultação da ditadura e as honrarias a assassinos e torturadores, uma constante na vida política de Jair Bolsonaro, finalmente está levando a centro-direita a voltar, ainda que devagar, à luta pela preservação dos Direitos Humanos no Brasil. Enquanto o PSDB tinha interesse na queda, por quaisquer métodos e motivos que fossem, dos governos petistas, a escalada fascista, o negacionismo da ciência e mesmo os crimes da familícia foram sempre minimizados ou mesmo ignorados. Agora que uma pandemia global ceifa, oficialmente, mais de 16 mil vidas de brasileiros, cinco ex-ministros sociais-democratas e um ex-ministro de Lula, todos fundadores e representantes da Comissão Arns de Defesa dos Direitos Humanos, publicaram artigo na Folha de S. Paulo para dizer o óbvio: Bolsonaro não possui as mínimas condições de seguir governando e enquanto ele não for impedido não será possível criar saídas para o genocídio diário e com viés de crescimento até onde a vista alcança. Antes tarde do que mais tarde ainda.

    Veja abaixo a íntegra do documento:

    Hora de falar ao povo, detentor e destinatário dos rumos do país

    Assistimos em 2019 ao desmanche de instituições e estruturas de Estado, em nome de alinhamentos ideológicos e guerras culturais.

    A partir de fevereiro último, com a chegada da pandemia em nosso território, ao grande desmanche somaram-se ataques à ordem constitucional, à democracia, ao Estado de Direito. Não podem ser banalizados, muito menos naturalizados.

    Como alertaram os cientistas, a Covid-19 encontraria no Brasil campo fértil para o seu alastramento: um país-continente com enorme desigualdade social e concentração de renda, sistema de saúde fragilizado por cortes e tetos orçamentários, saneamento básico precário, milhões de brasileiros vivendo em bairros, comunidades e distritos sem infraestrutura, sucateamento da educação pública, desemprego na casa das 13 milhões de pessoas e uma economia estagnada.

    Acrescente-se a esse quadro as características próprias da atual pandemia — um vírus com alta velocidade de transmissão e sintomatologia grave, para o qual ainda não há remédio ou vacina eficazes.

    Talvez não imune ao vírus, mas com toda certeza imune ao sofrimento humano, o presidente da República, Jair Bolsonaro, tem manifestado notória falta de preocupação com os brasileiros, com o risco das aglomerações que estimula, com a volta prematura ao trabalho, com um sistema de saúde que colapsa aos olhos de todos e até com o número de óbitos pela Covid-19, que totalizam, hoje, muitos milhares de casos — sobre os quais, aliás, já se permitiu fazer ironias grosseiras e cruéis.

    Mas a sanha do presidente não para por aí.

    Enquanto o país vive um calvário, Jair Bolsonaro insufla crises entre os Poderes. Baixa atos administrativos para inibir investigações envolvendo a sua família.

    Participa de manifestações pelo fechamento do Congresso e do Supremo Tribunal Federal. Manipula a opinião pública, e até as Forças Armadas, propagando a ideia de um apoio incondicional dos militares como blindagem para os seus desatinos.

    Enfim, o presidente deixa de governar para se dedicar à exibição diária de sua triste figura, em pantomimas familiares e ensaios golpistas.

    Preocupado com o amanhã e sob o peso do luto, o Brasil precisa contar com um governo que coordene esforços para a superação da crise, começando por ouvir a voz que vem das casas, das pessoas que sofrem, em todas as partes.

    Não há como aceitar um governante que ouve apenas radicais fanáticos, ressentidos e manipuladores, obcecado que está em exercer o poder de forma ilimitada, em regime miliciano-militar que viola as regras democráticas e até mesmo o sentido básico da decência.

    Só resta sublinhar o que já ficou evidente: Jair Bolsonaro perdeu todas as condições para o exercício legítimo da Presidência da República, por sua incapacidade, vocação autoritária e pela ameaça que representa à democracia. Ao semear a intranquilidade, a insegurança, a desinformação e, sobretudo, ao colocar em risco a vida dos brasileiros, seu afastamento do cargo se impõe.

    A Comissão Arns de Defesa dos Direitos Humanos entende que as forças democráticas devem buscar, com urgência, caminhos para que isso se faça dentro do Estado de Direito e em obediência à Constituição.

    José Carlos Dias
    Presidente da Comissão Arns de Defesa dos Direitos Humanos e ex-ministro da Justiça (governo FHC)

    Claudia Costin
    Ex-ministra de Administração e Reforma (governo FHC)

    José Gregori
    Ex-ministro da Justiça (governo FHC)

    Luiz Carlos Bresser-Pereira
    Ex-ministro da Fazenda (governo Sarney), ministro da Administração e Reforma do Estado e ministro da Ciência e
    Tecnologia (governos FHC)

    Paulo Sérgio Pinheiro
    Ex-ministro da Secretaria de Estado dos Direitos Humanos (governo FHC)

    Paulo Vannuchi
    Ex-ministro de Direitos Humanos (governo Lula).

    Texto original em : https://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2020/05/o-presidente-perdeu-a-condicao-de-governar.shtml

  • Prognósticos sobre as eleições de 2018

    Prognósticos sobre as eleições de 2018

    Esta não será a primeira vez e espero que não seja a última, em que escreverei comentários sobre as próximas eleições antes, claro, que elas ocorram (comentar depois quase que não tem graça). Por isso o uso do termo “prognósticos”, e não previsões. Aqui apontarei tendências, possibilidades, cenários. Há muito de intuição, mas de análise com base em fatos, dados e pesquisas. O que farei aqui é tudo, menos previsões. Entendam dessa forma.

    O cenário em que as eleições ocorrem

    Diferente de todas as quatro eleições corridas onde houve a vitória do povo (2002, 2006, 2010 e 2014), estas ocorrerão em uma situação do país em um estado de exceção, de golpe de estado parlamentar onde uma presidente legitima foi derrubada em 2016 e que o melhor presidente de nossa história e maior líder popular do país (desde Prestes e Getúlio) encontra-se na condição de preso político do sistema e do imperialismo.

    Governa o país uma quadrilha de bandidos. Alguns dos ministro do Temeroso já foram presos. Outros na iminência de virem a ser. Ele próprio, usurpador e golpista principal – em aliança com os tucanos FHC, Aécio e Alckmin – assim que deixar o governo poderá também ser encarcerado. O parlamento tem praticamente 80% de seus deputados vinculados ao campo da direita, do latifúndio, aos fundamentalistas evangélicos (que, de cristãos, não têm nada), do agronegócio, de empresários da elite do atraso.

    As eleições irão ocorrer em completa anormalidade institucional.

    Vivemos um estado de exceção.

    O poder judiciário partidarizou-se como um todo, de forma que juízes militam pela causa antipetista e pró-Estados Unidos de forma descarada. E com total apoio do chamado Ministério Público. Nunca o poder midiático esteve tão escancaradamente a favor de um golpe como nestes tempos. Nenhuma das TVs tem programação, em especial jornalística, equilibrada (e olha que não precisaria ser neutra). Todas, sem exceção, dedicam várias horas diárias para bater na tecla de que Lula e seu Partido são os chefes de uma gangue que assaltou os cofres públicos. Sem jamais ter oferecido uma só prova sobre isso.

    Teremos eleições em 7 de outubro vivendo em um país que – além de já termos sidos a sexta economia mundial e respeitados em todos os fóruns internacionais – é visto hoje como um pária internacional, uma escória de nação subdesenvolvida, com um povo famélico e uma elite vendida aos Estados Unidos, boa parte dela residente em Miami.

    Entregaram nosso passaporte para o futuro, que era o pré-sal

    – a maior reserva petrolífera marinha do mundo –

    às petroleiras estadunidenses entre outras.

    A privatização de todo o nosso sistema elétrico está em andamento. Entregaram a maior fabricante de aviões médios e regionais do mundo, que é a Embraer para a gigante Boeing.

    O grande sonho de consumo da burguesia brasileira – que nem FHC consegui realizar em seus malfadados oito anos de desgovernos (1995-2002) – de destruir, de revogar, de rasgar a CLT foi conquistado com apoio de um Congresso vendido (literalmente). Precarizam a previdência pública a cada dia. Congelaram desde o ano passado, todos os investimentos em saúde, educação e segurança pública por absurdos 20 anos.

    Nesse sentido, as dezenas de pré-candidaturas vão sendo afuniladas nestes últimos dias em que se esgotam os prazos legais de registros das candidaturas dos partidos e suas coligações. Vai ocorrendo, de forma até natural, uma drástica diminuição dos nomes dispostos a seguir até o dia das eleições. A instabilidade decorre, especialmente, pelo fato de que o líder absoluto em todas as pesquisas – Lula da Silva – encontra-se preso e pairam dúvidas jurídicas de que seu nome e sua foto aparecerão na urna eletrônica.

    Assim, quero fazer as análises dos cenários possíveis, das campanhas e das candidaturas.

    A seguir essas opiniões para o debate.

    O campo da extrema direta e do fascismo – Aqui temos a candidatura representada pelo capitão reformado e fascista que atende pelo nome de Jair Bolsonaro. Muitas pessoas – eu incluso – ficam estupefatos com a consistência que tem tido até aqui do seu eleitorado e da sua intenção de voto na casa dos 15%. A direita – que a mídia insiste em chamar de “Centrão” (sic) – inventou esse fascista. Um outsider absolutamente sem nenhum conteúdo, um analfabeto político que não sabe nada de nada, um misógino e homofóbico raivoso, tem, na verdade, um eleitorado cativo. Brancos, altamente escolarizados e de alta renda, com uma juventude que vem sendo chamada de “dourada”, também elitizada. Ele cresceu porque roubou votos do eleitorado tucano fascista e direitista do PSDB. Alckmin não decola em função disso. Acho muito difícil ele sustentar seus índices eleitorais atuais. Acho que seus índices são teto eleitorais. Não passará disso e começará a cair. Deve esvaziar. Ademais, terá no máximo oito segundos na TV. Enfrenta dificuldade de arrumar até um vice.

    O campo da direita – Já desde a semana passada, o chamado “Centrão” – deveriam chamar de “Direitão” – viveu um pânico generalizado. Baixaram uma ordem unida – vindo diretamente da Globo – para que todos se unificassem em torno do velho Picolé de Chuchu, envolvido até o pescoço em corrupções e maracutaia nos 24 anos de desgovernos da tucanalha paulista. Temer mandou sua base de apoio inteira apoiá-lo. Aliás, o governo em desagregação do Temeroso tem 29 ministros, dos quais 14 são de partidos da base aliada. O PMDB tem cinco; o PP tem três; e todos os outros têm um (PSDB, PSD, PRB, PTB, PR  e Podemos). Todos esses, à exceção ainda do PODEMOS de Álvaro Dias, fecharam com Alckmin. Ou seja: ficará difícil ele se apresentar como candidato que não seja do governo Temer. Como disse a Manuela, pré-candidata do PCdoB, “Alckmin é Temer e Temer é Alckmin”. Mas e Meirelles? Minha intuição é de que vai retirar também. E só não o fará também para dar argumento ao próprio Alckmin dizer “o candidato do Temer não sou eu… é o Meirelles. Só rindo mesmo. Eles acham que o povo é burro e vai acreditar nisso. Aqui registro a opinião – que é de vários analistas – no sentido de que se o Picolé de Chuchu quiser mesmo crescer, terá que bater, em um primeiro momento, em Bolsonaro, ou seja, tentar recuperar os votos perdidos pela tucanalha para o campo dos fascistas. Não posso deixar de registrar sobre a candidatura de Marina Silva, da tal REDE. Os seus índices relativos de pesquisa serão desidratados. Eles ainda refletem duas eleições consecutivas e muita exposição patrocinada pela mídia golpista. Mas, tal qual Bolsonaro, está isolada e com oito segundos na TV. Vai representar um fiasco.

    A candidatura Lula – Não há pesquisa que não registre, desde que Lula saiu da presidência em janeiro de 2011, que ele foi o melhor presidente da história. Não houve no Brasil um político que teve a sua vida tão devastada e devassada como Lula. Extensiva a toda a sua família. Da dona Marisa, que eles mataram, aos seus filhos. Quebraram todos os seus sigilos bancários, telefônicos, fiscais. Vasculharam todos os cartórios do país para ver se ele e sua família não teríam propriedades registradas. Com apoio do imperialismo e seus órgãos de repressão internacional, vasculharam em todos os paraísos fiscais para verificar se ele escondia os tais milhões de dólares. Jamais apareceu qualquer coisa. Uma continha sequer. Uns trocados. À exceção de um barco de lata e dois pedalinhos, Lula mora no mesmo apartamento em SBC onde está há 20 anos. Grampearam suas ligações com seus advogados e até com a presidenta da República. As centenas de planilhas de corrupção, subornos e propinas de todas as empreiteiras em nenhum momento aparece o seu nome. Que fazer então? Montou-se uma farsa jurídica encabeçada pelo agente do imperialismo e de seus órgãos de segurança, que se apresenta como juiz (sic) Sérgio Moro da dita República de Curitiba, tão endeusada pelos fascistas como modelo de democracia.

    O “processo” inquisitorial montado contra Lula só tem delações

    e cujos delatores tiveram reduções drásticas de suas penas

    (uns caíram de cem anos de prisão para um ano e ainda assim domiciliar;

    tiveram milhões de dólares devolvidos e legalizados que vieram do exterior…

    bandidos e corruptos confessos que viraram heróis da classe média e da mídia golpista).

    Esse “processo” o condenou a nove anos de prisão, amplificado para 12 anos pelos “juízes” do TRF-4 de Porto Alegre. Não é que não tenha provas contra ele no “processo”. Não há um crime sequer tipificado e com base no nosso ordenamento jurídico constitucional. E quem diz isso são pelo menos 120 juristas em um livro recém publicado onde eles demolem a tal famigerada “sentença” do juiz tucano. As próximas pesquisas de opinião vão elevar a candidatura Lula a um patamar de mais de 40%. Se excluirmos brancos, nulos e abstenção, isso vai significar mais de 50% dos válidos ou mesmo 55%. Não tem para mais ninguém. Isso desestabiliza o cenário. Impõe instabilidade. Como decidir sobre eleições sem levar em consideração esse fato, ou seja, o fenômeno chamado Lula? Por isso a unificação da direita (resta saber se Álvaro Dias e Henrique Meirelles resistirão mesmo e se unificarão com o Picolé). Aqui, cabe a mim, como alguém de fora das fileiras do Partido do Trabalhadores, elogiar a postura de firmeza mantida até o momento pela direção, de assegurar que Lula será registrado e será candidato mesmo preso. Não será o primeiro na história mundial e nem o último. Não será o primeiro condenado injustamente que voltará a conduzir o seu povo. Discutir neste momento, inclusive, o tal “Plano B” é prestar um desserviço ao próprio Lula, ao PT e ao povo que o apoia.

    O caso Ciro Gomes – Filiado recentemente ao PDT, mas já tendo passado por quase dez partidos diferentes, Ciro Gomes tem perfil e discurso nacionalista. Tem origem no campo da direita, mas migrou com toda a família Gomes, para o centro e mesmo para a centro-esquerda. No entanto, errou brutalmente seu cálculo eleitoral. Apostou que, como a prisão de Lula, ele herdaria todos os votos do lulismo e do petismo e mesmo da esquerda, onde, parte dela, encantou-se de fato com sua candidatura. Isso o afastou do PT e de outros partidos mais à esquerda, como o PCdoB, em que pesem sinais deles aos comunistas propondo coligação. Mas, Ciro optou em flertar com a direita, que a mídia chama de “Centrão”. Chegou a pedir ao fascistinha que é prefeito de Salvador, ACM Neto, uma lista nominal de todos os membros do famigerado DEM que ele tenha ofendido para que ele pudesse ligar e pedir perdão. Apresentou-se como um candidato do mercado, neoliberal, com um ou outro viés nacionalista. Ou seja, fez uma guinada ao centro e à direita, já que a estratégia de “herdar” votos do lulismo não vinha dando certo. Perdeu. Não decolou e não vai decolar. Vai ser esvaziado. Terá pouco tempo de TV e não fechará nenhuma coligação mais ampla. Talvez por já ter cruzado o Rubicão (em alusão ao cruzamento de rio famoso na Itália por Júlio César em 49 aC detonando uma guerra civil), acho muito difícil Ciro e seu PDT coligarem com Lula e o PT, aceitando a vice-presidência. Será muito difícil ir ao segundo turno. Aqui o registro também dos que apostaram no fim do chamado lulismo e quebraram a cara.

    Manuela e o PCdoB – O Partido – mais antigo da história do Brasil com quase cem anos de existência – vem acertando na sua tática desde o seu 14º Congresso Nacional de novembro de 2017, quando lançou a pré-candidatura da jovem Manuela D’Ávila à presidência da República. Isso jamais significou em tempo algum o rompimento com o Partido dos Trabalhadores com quem é aliado e coligado desde 1988 (com Erundina na prefeitura de SP). Manuela vem cumprindo com elevada maestria a tarefa que lhe foi designada, qual seja, difundir o mais amplamente, as propostas do Partido para o Brasil. Fala, com a maior amplitude, sobre o socialismo que o Partido defende. Saltou de 1% para até 3% nas pesquisas em pouco tempo de atividades e com baixa exposição na mídia. Ela domina bem a linguagem das redes sociais. Sua formação marxista sólida permite com que ela venha sendo admirada e elogiada amplamente por muitos setores da sociedade, artistas, intelectuais, professores universitários, escritores, juristas, religiosos. O PCdoB chamou, no seu Congresso, à construção de uma Frente Ampla. Muito mais ampla dos que as conhecidas experiências do CNA (África do Sul), OLP (Palestina) e Frente Ampla (Uruguai). Sempre soubemos que a esquerda sozinha não vence eleições. Mas, a vida impôs nova tática. O Comitê Central do Partido, reunido em SP entre os dias 20 e 22 de julho, aprovou por unanimidade, um chamamento à unidade do campo da esquerda.

    Nominou os partidos de forma clara: PT, PDT, PSB e PSOL.

    À exceção deste último

    – que acho que não vai atender ao apelo –

    todos os outros podem e devem sentar à mesa para negociar a unidade.

    E não há dúvidas que deve ser em torno de Lula ou de quem – no limite – ele venha ter que indicar se a justiça insistir em seguir rasgando a Constituição e impedir a sua candidatura. É preciso sentar à mesa. Negociar a vice-presidência. Proceder acordos políticos e eleitorais em estados chaves, em especial como SP, PE e RS. E nesse sentido, não tem como não registrar que o Partido terá ainda uma papel mais decisivo e estratégico neste jogo se sinalizar ou for o primeiro mesmo a fechar com Lula. Isso deixará Ciro ainda mais isolado e poderá ter o papel de forte atração para o PSB coligar-se. Esse cenário, se concretizado, sería vitória indubitável no primeiro turno, ainda que saibamos da resistência em todos esses partidos, para essa construção. Hoje, restou-nos apenas e tão somente a Frente de Esquerda, o mais ampla possível, progressista, patriótica, popular. Nosso problema com a unidade não tem a ver com o programa para o país. Este está bem construído e unificado. A própria Frente Brasil Popular tem um programa amplamente debatido no país bastante avançado e chancelado pelo PT e pelo PCdoB, além da CUT, CTB, Marcha Mundial de Mulheres, UBM, UNEGRO, CMP, CONAM, UNE, UJS, movimentos LGBT, pastorais católicas etc.

    Dilemas do PSB – Este Partido tem trajetória errante. É o segundo mais antigo do país, da década de 1940, vem de tradições socialdemocrata, que se apresenta como “socialista”. Até nas primeiras eleições presidenciais desde 1989, ainda quando presidido pelo velho e combativo companheiro Miguel Arraes, governador cassado de PE pela ditadura de 1964 e que voltou a governá-lo duas vezes depois da redemocratização, o PSB integrava, sem dúvida alguma, o campo da esquerda e centro esquerda. No entanto, depois que Eduardo Campos afastou-se de Lula e do PT para carreira solo, foi gradativamente assumindo um discurso direitista ou de centro-direita. Com sua morte, a também direitista Marina Silva foi a opção de dividir a esquerda ainda no primeiro turno (apoiou depois no segundo turno, descaradamente o corrupto Aécio Neves, um dos maiores articuladores do golpe contra Dilma). Hoje o PSB pode ter quatro caminhos distintos. O primeiro, é lançar um ou uma candidata laranja, só para fazer figuração. Uma segunda opção é ficar completamente neutro, de forma que suas seções estaduais fiquem à vontade para coligarem-se com quem quiserem. Há uma hipótese – acho pequena – de coligação com Ciro e por fim, uma quarta alternativa – a melhor de meu ponto de vista – que sería coligar-se com Lula e o PT. Claro que isso podería demandar arranjos regionais, em especial em demonstração de desprendimento por parte do PT em Pernambuco.

    Considerações finais

    Como já disse, estas serão as mais indefinidas e imprevisíveis eleições desde 1989. Simplesmente porque o líder inconteste e isolado nas pesquisas, que é o Lula, encontra-se preso e pesam sobre sua candidatura dúvidas jurídicas sobre sua viabilidade. Mas, algumas conclusões e prognósticos posso fazer. São eles.

    1. Abstenções, votos nulos e brancos vão crescer – Venho chamando esse índice de ABN (abstenções, nulos e brancos). Ele vinha caindo desde 1998 há vinte anos, quando atingiu 37,16% (são os chamados votos desperdiçados, perdidos, jogados fora pelo eleitorado), para 27,5% em 2016. Mesmo se Lula conseguir se viabilizar juridicamente, minha previsão é que o índice ABN deve voltar a crescer, ultrapassando novamente os 30% do total do eleitorado registrado. Se Lula não puder ser registrado e ter que indicar outro em seu lugar, estou seguro que poderemos ter até 40% ou ainda mais de ABN. Rigorosamente, para a esquerda nas eleições proporcionais isso não será ruim de todo, na medida que seus votos são mais firmes e decididos e índice ABN alto significará menor quociente eleitoral e menor linha de corte na votação nominal dos eleitos.

    2. A força de Lula – Diversas pesquisas mediram, ao longo do tempo, a força da transferência de votos de Lula. Não só quando ele elegeu e reelegeu Dilma e Haddad na prefeitura de SP, mas na atualidade. O Instituto DataFolha parou de aferir a força do “Candidato indicado pelo Lula” desde fevereiro. Até lá era de 27%. O melhor Instituto de Pesquisas da Atualidade, do sociólogo e amigo Marcos Coimbra, aponta essa força que pode atingir até 32%, aliada com a popularidade do próprio Partido dos Trabalhadores, disparado na frente da preferência do eleitorado brasileiro. Assim, não tenho dúvidas. Se Lula se viabiliza, a chance de vitória já no primeiro turno é imensa. Se ele apoia um ou uma petista, este irá, seguramente, para o segundo turno.

    3. A libertação de Lula e sua absolvição – O golpe de 2016 não foi desfechado pelo imperialismo, pela mídia e pelo Partido da Justiça para deixar Lula voltar a presidir o país. Como já se tem visto pelo programa divulgado, o Lula hoje é muito mais à esquerda do que o Lula das eleições anteriores. Compreende muito mais a questão anti-imperialista, soberania nacional, regulamentação da mídia entre outros temas. Mas, acho que a sua libertação e mesmo anulação de toda a farsa jurídica montada para a sua condenação ainda vão perdurar. Será preciso alterarmos a correlação de forças na sociedade para que as coisas mudem. Mandela teve que esperar 26 anos para ser libertado. Não creio, claro, que vá todo esse tempo, mas não tenho ilusão que as injustiças que foram cometidas contra eles sejam reparadas em curto prazo.

    Tudo pode ocorrer neste processo eleitoral. Até uma hipótese que reputo remota, de dois candidatos direitistas no segundo turno, como o que ocorreu na França, onde um candidato minoritário no eleitorado governa o país. Ou mesmo um candidato de direita e um petista, com a vitória da direita. Ou, no limite, a não ocorrência mesmo de eleições. Tudo pode acontecer. Traidores do povo, com apoio dos jornais impressos da burguesia e suas TVs estão em campo e 24 horas à postos para tramar contra a pátria e a Nação brasileira. Falam em português a língua do império e o que este determina.

    Mas, estou esperançoso que, ainda assim, com sabedoria e ampla unidade, venceremos mais essa batalha em uma guerra ainda longa.

    • Sociólogo, Professor, Escritor e Analista Internacional. Foi professor de Sociologia e Métodos e Técnicas de Pesquisa da UNIMEP e presidente da Federação Nacional dos Sociólogos – Brasil. É colaborador dos portais Vermelho, Grabois, Duplo Expresso e Resistência, bem como da revista Sociologia da Editora Escala. Tem nove livros publicados de Sociologia e Política Internacional.
  • Há um curto-circuito no coração do golpe

    Há um curto-circuito no coração do golpe

    Artigo de Rodrigo Perez Oliveira, professor de Teoria da História na Universidade Federal da Bahia*

    Acho que poucos de nós duvidam que a palavra “corrupção” é o termo chave da crise brasileira contemporânea. Uma crise que começou em junho de 2013, mas que deita suas raízes mais profundas lá em 2005, na ocasião do que já na época ficou conhecido como o “julgamento do mensalão”.

    Aqui neste ensaio, quero mostrar como essa palavrinha mágica pode ser entendida de várias maneiras e como a história da crise brasileira contemporânea pode ser contada a partir do privilégio de um desses sentidos: o sentido “liberal”, segundo o qual a “corrupção” está diretamente vinculada ao Estado, a tudo que é público. É como se o Estado fosse naturalmente corrupto e corruptor e o combate à corrupção passasse, necessariamente, pelo combate ao Estado, pelo desmonte do Estado.

    O privilégio dessa leitura liberal do fenômeno da corrupção diz muito sobre a crise, especialmente sobre os seus movimentos mais recentes. De uns dias pra cá, os veículos mais poderosos da imprensa hegemônica brasileira (Folha de São Paulo, o departamento de jornalismo da Rede Globo, Estadão) vêm abrindo fogo contra os privilégios dos juízes, que já são conhecidos por todos nós há muito tempo. Por que somente agora a imprensa hegemônica denuncia os privilégios nababescos dos juízes brasileiros? Penso que estamos entrando num novo momento da cronologia da crise, em que a aliança entre o judiciário e a mídia hegemônica, até então sólida como pedra, começa a fazer água. Também aqui a leitura liberal do conceito “corrupção” tem uma importante função política a cumprir.

    Bom, pra começar a conversa é importante esclarecer melhor o que estou querendo dizer quando afirmo que o conceito “corrupção” é polissêmico, que possui vários sentidos. Pra isso, cito, bem rápido, alguns autores que ao longo da história da cultura política ocidental usaram a palavra “corrupção”, fazendo-o de diferentes formas.

    Para Aristóteles, que que no IV século antes de Cristo escreveu o tratado da “Política”, a “corrupção” era o efeito natural do tempo sobre os organismos políticos. Maquiavel, escrevendo no século XVI da era cristã, seguiu a trilha aberta por Aristóteles e definiu a “corrupção” como a perda da capacidade da República em institucionalizar os conflitos travados entre seus cidadãos. Chamo de “republicana” essa forma de tratar a corrupção.

    Karl Marx, escrevendo no século XIX, enfrentou o tema da corrupção em um livro pouco conhecido, cujo título é “A luta de classes na França entre 1848 e 1850”. Basicamente, Marx argumenta que falar em “corrupção política” no sistema capitalista é uma redundância, pois o próprio capitalismo já é corrupto, na medida em que se fundamenta na exploração de uma classe pela outra. Essa é a definição marxista.

    Nenhuma dessas formas de pensar associou a “corrupção” ao roubo do dinheiro público. Vamos encontrar essa associação sendo feita de forma mais clara nos textos que Friedrick Hayek escreveu ao longo do século XX. Preocupado em discutir o tema da “ética na política”, Hayek definiu a corrupção como a apropriação para fins particulares dos recursos públicos. Como o objeto da corrupção seria o dinheiro público, a definição proposta por Hayek sugere que o terreno da “coisa pública”, do “Estado”, é solo fértil para a corrupção. Podemos chamar essa definição de “liberal”.

    Bom, o conceito “corrupção” tem, pelo menos, três significados distintos: o republicano, o marxista e o liberal. Nem carece de gastar muito papel e tinta pra mostrar que na crise brasileira contemporânea um desses significados foi privilegiado: o liberal. Ao menos na minha avaliação, isso não aconteceu à toa, sendo um projeto planejado deliberadamente por segmentos poderosíssimos das elites brasileiras para realizar um antigo sonho, para viabilizar um projeto que vem sendo frustrado desde a década de 1940.

    Que projeto é esse? Que sonho é esse que animou durante esse tempo todo o sono da direita brasileira, mas que jamais foi plenamente realizado?

    Pra responder, apresento uma breve síntese da história contemporânea do Brasil. Síntese histórica é igual prudência e canja de galinha: é sempre bem-vinda. O conhecimento histórico é útil à vida.

    Trata-se do sonho do “Estado Mínimo Brasileiro”, projeto que começou a ser defendido no final dos anos 1940 pela UDN, partido político que na época foi o portador da narrativa da redemocratização que marcou a transição da Ditadura do Estado Novo para a ordem democrática que se consolidaria em 1945. Não era, ainda, o “Estado Mínimo” neoliberal, mas sim um projeto desenvolvimentista internacionalista que priorizava o mercado e o capital, considerando o Estado um obstáculo para a prosperidade nacional.

    Esse projeto desenvolvimentista jamais foi aprovado nas urnas, o que explica em parte o transformismo golpista da UDN. Em algum momento da década de 1950, a UDN cansou de brincar de eleição e passou a recorrer ao expediente golpista. Já que o povo não colaborava, a UDN resolveu caminhar sem o povo mesmo. A aproximação com os militares foi uma consequência quase natural.

    A aliança entre a UDN e os militares viabilizou o golpe civil-militar de 1964. Mas como os militares não são seres acéfalos, não serviram como simples instrumento para a realização do projeto udenista. Acabou mesmo que a UDN deu com os burros n’água, pois os milicos sentaram na cadeira do poder e ali ficaram por mais de 20 anos, perseguindo até mesmo os aliados de véspera, como o líder udenista Carlos Lacerda.

    E o pior para o sonho do “Estado Mínimo Brasileiro” vou contar agora: os militares não efetivaram o projeto udenista, pelo contrário, já que em vários aspectos os governos militares podem ser definidos como estatais-desenvolvimentistas. Isso não significa um elogio aos militares, bem longe disso, pois a ditadura foi fundada em um golpe que destituiu um governo democraticamente eleito. Diante desse vício de origem, nenhum ato da ditadura militar pode ser considerado legítimo.

    Enfim, não foi com a UDN e não foi com os militares que o sonho do “Estado Mínimo Brasileiro” se tornou realidade.

    O projeto voltou com força no final dos anos 1980 e pautou as eleições presidenciais de 1989. Sob a batuta do “Consenso de Washington”, um jovem político alagoano, bonitinho mas ordinário, prometeu “caçar os marajás”. Ou em outras palavras, combater a “corrupção”. Adivinhem como? Enxugando o Estado.

    Sabemos bem o que aconteceu com esse jovem e charmoso político alagoano. Collor também não conseguiu realizar o velho sonho do “Estado Mínimo Brasileiro”.

    Com um discurso de propaganda em muitos aspectos parecidos com o de Collor, só que acrescido da narrativa da “estabilidade econômica resultante do plano real”, Fernando Henrique Cardoso se submeteu às urnas em 1994. E venceu. Havia chegado a vez do príncipe da sociologia uspiana tentar realizar o sonho do “Estado Mínimo Brasileiro”, dessa vez com a legitimidade de uma vitória eleitoral.

    O sucesso foi relativo. Sem dúvidas, FHC avançou mais que seus antecessores, mas no final dos seus oito anos de governo ficou a sensação de que foi pouco, de que dava pra entregar mais. O neoliberalismo é um lobo faminto.

    Por mais que o governo de Lula tenha negociado com a agenda neoliberal, apenas com muita desonestidade intelectual seria possível dizer que o desmonte iniciado pelos tucanos foi mantido pelos governos petistas. Com a eleição de Lula, o sonho do “Estado Mínimo Brasileiro” sofreu um duro revés. Mas o lobo não é só faminto. É insistente e teimoso também.

    O que estou querendo dizer é: A crise brasileira contemporânea representa uma nova ofensiva desse lobo neoliberal contra o Estado brasileiro e pra isso é necessário algo a mais do que o simples argumento macroeconômico. É que esse negócio de economia, de números, não convence muito, tem pouca eficiência retórica.

    É aqui que o tratamento da “corrupção” na perspectiva liberal vai cumprir sua função discursiva, ao definir o Estado como o antro da corrupção, como o cabaré da imoralidade. A diferença é que a experiência mostrou que o marketing político não basta, que é necessário algo mais forte: a judicialização da política. Nasce assim, lá em 2005, a aliança que até a semana passada era a força política mais poderosa da República: o concubinato entre a mídia hegemônica e setores do poder judiciário.

    Quem não lembra de Joaquim Barbosa, o homem da capa preta que prometia colocar todos os políticos corruptos na cadeia?

    O tal combate à corrupção foi seletivo e serviu apenas para desestabilizar os governos petistas, que estavam fortalecendo o Estado como grande agente de regulação estratégica do desenvolvimento nacional. Lideranças petistas foram perseguidas judicialmente, como foi o caso de José Dirceu e José Genoíno, e isso sob os aplausos de uma opinião pública raivosa, com fome de vísceras.

    Pouco importava o devido processo legal, desde que os “corruptos” fossem punidos e os “corruptos”, é claro, eram as lideranças petistas. Pronto! A matriz da crise está aqui. Só que do outro lado tinha um certo Luiz Inácio, cabra esperto, inteligente, que conseguiu sobreviver à primeira ofensiva do conglomerado “judiciário/imprensa hegemônica”.

    Nos anos seguintes, com a prosperidade econômica resultante do boom das commodities, os ânimos foram pacificados. Tava entrando dinheiro no bolso de todo mundo e a opção lulista em não tensionar as contradições estruturais fez com que o lobo faminto e temporariamente saciado pudesse dormir.

    O jogo mudou a partir de 2013, em virtude da combinação da crise econômica com algumas escolhas políticas da presidenta Dilma. Pois sim, em muitos aspectos o “dilmismo” é diferente do “lulismo”. Ainda precisamos avançar na conceituação do “dilmismo”. Não é isso que faço aqui.

    O lobo acordou, mais faminto que nunca e viu naquele momento uma chance de ouro para realizar o sonho do “Estado Mínimo Brasileiro”. Outra vez foi evocada a narrativa liberal do combate à corrupção. Foi assim que o governo da presidenta Dilma foi desestabilizado, foi com essa semântica que o golpe de 2016 se efetivou, novamente sob os aplausos dos “brasileiros de bem”, indignados com a corrupção.

    Mal sabiam os “brasileiros de bem” que eles estavam sendo bombardeados por uma narrativa que deu ao conceito “corrupção” um sentido específico, que de forma alguma é o único. Assim, com essa narrativa, Dilma foi derrubada e Lula condenado, em processos jurídicos profundamente politizados e questionados pela comunidade jurídica nacional e internacional.

    Acontece que a crise é um processo em movimento que ainda não acabou. Ao que parece, acabamos de entrar num outro momento da cronologia da crise: com Lula condenado e virtualmente preso, chegou a hora do lobo neoliberal devorar todo o banquete. O lobo é insaciável.

    E pra matar a fome do lobo, nada melhor do que servir, numa bandeja de prata, os privilégios do judiciário. Não é possível a realização do sonho do “Estado Mínimo Brasileiro” com um judiciário tão caro, cheio dos privilégios, cheio das pensões vitalícias.

    Bastaram menos de 72 horas após a condenação de Lula para aliança entre o judiciário e a mídia hegemônica, até aqui marcada por lealdade recíproca, se dissolver. Moro, Dallagnol, Bretas, até então representados como heróis nas páginas dos principais jornais da imprensa brasileira, se tornaram aproveitadores da coisa pública, se tornaram corruptos.

    Justo agora, os privilégios tão conhecidos por todos nós começaram a incomodar a imprensa hegemônica. De forma alguma, quero defender os juízes, mas precisamos entender que os ataques midiáticos ao judiciário fazem parte do mesmo projeto neoliberal que desestabilizou o reformismo petista. O lobo é faminto, teimoso e criativo. Tomara que as esquerdas brasileiras não se deixem seduzir pelo uivo do lobo, travestido de canto de sereia. Tem sereia não, meus amigos. É lobo mesmo, com os dentes enormes, mais perigoso que aquele jantou a chapeuzinho vermelho. Ou almoçou? Não sei.

    Escrever no olho do furacão é sempre um desafio e aquele que se arrisca acaba botando a língua na guilhotina. Não tem jeito. Por isso, arrisco a integridade da minha língua dizendo que temos um elemento novo na cronologia da crise brasileira.

    As duas forças que juntas foram as responsáveis pela aplicação do golpe têm projetos distintos e até mesmo rivais para o futuro da nação: de um lado, o judiciário querendo uma República dos bacharéis, onde os magistrados serão os guardiões da moral pública, com a devida recompensa, sob a forma de privilégios que não estão disponíveis a nenhum outro setor do funcionalismo público. Do outro lado, a imprensa hegemônica, que representando os interesses do neoliberalismo vê na atual conjuntura de crise a chance para tornar realidade, de uma vez por todas, o antigo sonho do “Estado Mínimo” brasileiro.

    Há um curto-circuito no coração do golpe! Em tempos tão difíceis, com tantas notícias ruins, talvez exista aqui algo a se comemorar.

    (*) Com ilustração de Cau Gomez

     

  • FHC, o intelectual das maracutaias

    FHC, o intelectual das maracutaias

    Por Fernando Castilho*, do Blog Análise e Opinião, colaboração para osJornalistas Livres

    Charge: Ziraldo
    Sua última entrevista ocorreu no programa Roda Viva de 26 de outubro de 2015, quando disparou: “Tinha que ter uma renúncia com grandeza. A presidente Dilma não pode desconhecer o que nós conhecemos, que a economia está em uma situação desesperadora, que há uma crise política. Ela tinha que dizer: ‘Eu saio, eu renuncio, mas eu quero que o Congresso aprove isso, isso e isso’”, sugeriu.

    Esse é o atual Fernando Henrique Cardoso, ex-presidente do Brasil que deixou seu segundo mandato com 23% de aprovação, usando e abusando de demagogia pura, uma vez que sabe que, no fim de seu mandato, só para citar apenas um índice econômico, as reservas do país eram de US$ 38 bilhões e atualmente, no governo Dilma, são de US$ 378 bilhões, dez vezes mais.

    Ele quer uma renúncia de Dilma “com grandeza”. Mesmo que ao fim da entrevista afirme que a presidente é uma pessoa honesta. Como explicar isso? Grandeza ele não teve ao ter batido às portas do FMI e quebrado o país duas vezes. E mesmo assim não renunciou.

    FHC também falou sobre o episódio da suposta compra de votos citada mais abaixo no texto, para aprovação da reeleição, durante o primeiro mandato de seu governo: “Se houve compra, não foi minha, não foi do PSDB. Se houve compra, foi coisa deles. Não duvido. Mas condenamos”, afirmou.

    “Deles’’ quem? Dos deputados? Qualquer um que estivesse junto aos jornalistas do programa pediria para que ele fosse mais direto e desse nome aos bois. Mas no Roda Viva…

    Se nem ele e nem o PSDB comprou os votos, quem comprou? Os próprios parlamentares compraram os votos deles mesmos?

    Como é que a turma do Augusto Nunes se contenta com uma “explicação’’ dessas? A claque só está lá mesmo para levantar a bola para um sênior que já não consegue expor nem alinhavar suas ideias com clareza. O ex-governador de São Paulo, Cláudio Lembo comentou: “Um ex-presidente não devia falar isso. Eu também acho que ele poderia ter renunciado quando comprou a reeleição.”

    FHC continua: “A segunda metade do governo Lula e o segundo mandato da Dilma têm mais a ver com o governo do general Geisel do que com o meu” .

    Bem, esse comentário eu fico devendo, como os os participantes do Roda Viva.

    Mas vamos conhecer um pouco mais desse curioso sociólogo, mais vaidoso que intelectual de fato. Fernando Henrique Cardoso talvez seja o político brasileiro que mais coleciona (e esconde) episódios “estranhos’’, expostos ao longo de uma extensa galeria de 84 anos de vida.

    Dissimulado, nunca comentou sobre sua aposentadoria aos 37 anos como professor de Ciências Políticas da USP. Há que se reconhecer que ele foi na verdade aposentado pelo AI-5, juntamente com Florestan Fernandes e outros. Mas, ao retornar do exílio em 1978, jamais tomou qualquer iniciativa ética de rever sua aposentadoria, que na época já era muito boa, vindo a evoluir em valores atuais a 22 mil reais por mês. Valores, segundo ele… razoáveis.

    Em seu depoimento à Comissão da Verdade, realizado no dia 27 de novembro de 2014, Fernando Henrique disse: “Estão servindo caviar, mas é amargo, porque o exílio é o exílio. É amargo porque você vive a maior parte do tempo imaginando o que está acontecendo no seu país e na expectativa de que tudo vai mudar.’’

    Mas, segundo o livro da escritora inglesa, Frances Stonor Saunders “Quem pagou a conta? A CIA na Guerra Fria da Cultura’’, com edição esgotada, embora considerado por seus pares socialista-marxista, FHC, no seu auto-exílio no Chile, foi admitido na CEPAL, Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe, órgão da ONU, recebendo alto salário em cargo de nível diplomático. Tinha direito a privilégios como isenção de impostos, vida abastada, bela casa em bairro nobre e carro Mercedes Benz com motorista. No retorno do seu auto-exílio, em 1978, desembarcou no Brasil com verba de 180 mil dólares, destinada ao CEBRAP, tudo por obra da Fundação FORD, um dos braços da CIA.

    Quem pagou a conta?

    Além disso, a autora acusa FHC de receber dinheiro da agência norte-americana de espionagem, para ajudar os EUA a “venderem melhor sua cultura aos povos nativos da América do Sul”. E o valor variava de 800 mil a 1 milhão de dólares, valores da época.

    Ruy Mauro Marini foi um dos intelectuais a sair do país por conta da ditadura militar. Juntamente com André Gunder Frank, Theotonio dos Santos e Vania Bambirra, são os autores da Teoria da Dependência, uma formulação teórica crítica e marxista não-dogmática dos processos de reprodução do subdesenvolvimento na periferia do capitalismo mundial, em contraposição às posições marxistas convencionais dos partidos comunistas e à visão estabelecida pela CEPAL.

     

    Durante o exílio de Ruy Mauro Marini, Fernando Henrique, juntamente com José Serra, viriam a protagonizar um dos episódios menos éticos de suas vidas adulterando o texto por eles assinado ao se referir a um conceito econômico de Marini. Leia detalhes aqui

    Em 1985, Fernando Henrique concorreu à Prefeitura de São Paulo. Durante o último debate da eleição, o então candidato deixou de responder objetivamente a pergunta “o senhor acredita em Deus?”, feita por Boris Casoy. Deu voltas e mais voltas e não conseguiu responder. Teria sido honesto de sua parte admitir que não, porém, sob risco de perder a eleição, não confirmou. Seu principal adversário, o ex-presidente Jânio Quadros, explorou ao fim da campanha a falta de crença de FHC, realizando uma campanha difamatória de cunho religioso. Posteriormente, FHC afirmou nunca ter sido ateu. Pode?

    Ainda, perto do final da campanha, quando as pesquisas de opinião davam sua vitória como certa, chegou a deixar-se fotografar sentado na cadeira de prefeito um dia antes da eleição. Derrotado, teve que assistir a Jânio Quadros, logo após ser empossado, desinfetar a cadeira com uma lata de inseticida, e dizer a todos os que estavam na sala: “Gostaria que os senhores testemunhassem que estou desinfetando esta poltrona porque nádegas indevidas a usaram”. E completou: “porque o senhor Henrique Cardoso nunca teria o direito de sentar-se cá e o fez, de forma abusiva. Por isso desinfeto a poltrona”.

    Vergonhoso. Humilhante.

    Em 19 de maio de 1993, FHC assumiu o Ministério da Fazenda no governo Itamar Franco. Mais tarde o PSDB passou a propagar a todos os cantos do país, que o ex-presidente fora o autor do Plano Real.

    Antigamente Itamar Franco consentia com a ideia de tratar FHC como o “pai do Real”, e o apoiava. No entanto, mais tarde, passou a negar tal informação: “A parte principal que quero rebater é a afirmação de que quando ele deixou o Ministério da Fazenda para se candidatar, tudo estava pronto e feito. Isto é uma inverdade.” Em entrevista dada ao Jornal do Brasil, Itamar disse que o nome de Fernando Henrique surgiu por exclusão.

    FHC ainda viria a assinar de maneira irregular as cédulas da nova moeda Real, pois quando elas entraram em circulação ele já não era mais ministro havia 4 meses, estando em campanha para a presidência.

    Durante seu primeiro mandato como presidente, FHC tratou da aprovação de uma emenda constitucional para a reeleição para os cargos eletivos do Executivo, dentre os quais o dele próprio. Há várias denúncias de compra de votos dos parlamentares. O deputado Ronivon Santiago relatou a um amigo, em conversa gravada pela Folha de São Paulo, que recebera 200 mil reais para votar na emenda.

    Em 1997 FHC privatizou, entre tantas estatais, a Companhia Vale do Rio Doce, pelo valor atualizado de 8,5 bilhões de reais, valor considerado irrisório. Há ainda o agravante de o BNDES ter emprestado dinheiro ao comprador para que a aquisição fosse feita. Um escândalo. Hoje a companhia vale cerca de 300 bilhões de reais.

    O fim do segundo mandato de FHC foi marcado por uma crise no setor energético, que ficou conhecida como Crise do Apagão. A crise ocorreu por falta de planejamento e ausência de investimentos em geração e distribuição de energia e foi agravada pelas poucas chuvas.Com a escassez de chuva, o nível de água dos reservatórios das hidrelétricas baixou e os brasileiros foram obrigados a racionar energia. A crise acabou afetando a economia, e consequentemente provocou uma grande queda na popularidade de FHC. Parece que os tucanos são bons em racionamento, não?

    Conversas gravadas por meio de grampo ilegal em telefones do BNDES que foram obtidas pela Folha de S. Paulo em 1999, levantaram suspeitas que Fernando Henrique Cardoso participou de uma operação para tomar partido de um consórcio no leilão da Telebras em julho de 1998, vindo a cometer crime de responsabilidade ao autorizar o uso de seu nome para pressionar o fundo de pensão Previ a se associar ao consórcio do Opportunity. Todos os detalhes estão disponíveis no livro ‘’O Príncipe da Privataria’’, de Palmério Dória.

    No governo FHC houve inúmeras denúncias de corrupção, todas arquivadas pelo engavetador geral da República, Geraldo Brindeiro.

    Ainda durante seu governo, Fernando Henrique afirmou que “pessoas que se aposentam com menos de 50 anos são vagabundos, que se locupletam de um país de pobres e miseráveis’’.

    Fernando Henrique Cardoso escreveu ainda um livro com um título muito polêmico. “A soma e o resto’’ é cópia do título de um livro do marxista francês Henri Lefebvre, escrito em 1958: ‘’La somme et le reste”. É mole? Mais detalhes aqui.

    Durante a última campanha presidencial, o ex-presidente foi como que ressuscitado por Aécio Neves, que tentou ser sua nova versão, revista mas pouco atualizada. Após a derrota do tucano, FHC aproveitou para demonstrar mais uma vez todo seu preconceito e elitismo, ao dizer: ‘’O PT está fincado nos menos informados, que coincide de ser os mais pobres. Não é porque são pobres que apoiam o PT, é porque são menos informados.” Foi após essa triste observação que o Brasil ensaiou uma divisão entre Norte-Nordeste e Sudeste -Sul.

    O ex-presidente vive falando que sente vergonha do governo, uma vergonha que deveria ter sentido na época em que governava, quando verdadeiramente a corrupção se instalou na Petrobras, fato admitido em seu novo livro “Diários da Presidência vol. 1”, quando escreve que tinha conhecimento de um esquema de corrupção na estatal em seu primeiro mandato e nada fez para interrompê-lo.

    Cada vez que FHC fala, esquece-se da postura que deveria ter por já ter sido presidente.

    O intelectual das maracutaias falando, não é um poeta. Calado, muito menos.

    Atualizado em 28/10/2015


    *Fernando Castilho é arquiteto urbanista, professor e blogueiro. Analisa e comenta fatos importantes da vida política no país, fora da lente da grande mídia.
  • Para as Marias que vão com as outras

    Para as Marias que vão com as outras

    Por Fernando Castilho*, do Blog Análise e Opinião, colaboração para os Jornalistas Livres


    As pessoas que defendem a defenestração de Dilma Rousseff do Palácio do Planalto, a prisão de Lula e o fim do PT, não o fazem por causa da corrupção, está claro.

    Sobre a honestidade da presidenta não pairam dúvidas, fato reconhecido até por FHC.

    Sobre Lula, a mídia e a oposição tentaram criminalizar o lícito de apresentar empresas para obras no exterior e de receber doações dessas mesmas empreiteiras, mas esbarraram nas corretas prestações de contas do Instituto Lula e também na coincidência de que naquele exato momento Obama levava empresas americanas para Cuba. Além disso, FHC também recebe doações para seu instituto. Então não deu.

    Eduardo Cunha até agora é o único político que pode ser preso com provas (esqueçam o tesoureiro do PT, Vaccari que está preso sem nenhuma prova, já que não haveria como saber se as doações para campanhas eram dinheiro de propinas ou não, certo?), mas nem por isso alguém saiu às ruas para protestar contra ele.

    Aécio Neves, além do aeroporto construído em terras de seu tio-avô, tem agora contra si a divulgação feita pela Folha a pedido, possivelmente de José Serra ou de Geraldo Alckmin, de que fez 124 viagens ao Rio de Janeiro em finais de semana com jatinho oficial. E ninguém bateu uma mísera panelinha que fosse. Talvez só Serra ou Alckmin.

    Portanto, não é pela corrupção.

    E se o motivo não é esse, qual seria?

    O PT em 12 anos de governo foi exitoso em tirar o Brasil do mapa da fome, além de criar inúmeros programas sociais, o que acabou por criar uma nova classe social, a daqueles que deixaram de ser pobres passando a possuir poder de consumo.

    Então está claro que a revolta contra o PT passa pela velha luta de classes de quem não aceita que outros ascendam socialmente. É só isso. Mais nada, certo? Mas é claro que há gente que está sendo iludida por uma mídia que a dirige em direção ao golpe. Mostra somente o lado ruim do governo. Omite suas realizações. E as Marias acabam por ir com as outras. Os Mários também.

    Pois bem, caso consigam seu intento, após o golpe contra Dilma, como vai ser o dia seguinte?

    Primeiramente é preciso que demonstremos que ainda não há uma crise econômica instalada no país. Pelo menos com as cores que estão pintando.

    As reservas internacionais estão na casa de US$ 371 bilhões ou R$ 1,47 trilhão de reais, enquanto na época de FHC, em 2002, eram de apenas US$ 37,8 bi (R$ 150 bilhões de reais).

    A inflação projetada para 2015 está em cerca de 5,95%, enquanto que em 2002 chegou a 12,53%.

    O desemprego está por volta de 8,3%. No governo FHC chegou a 12,6%.

    O salário mínimo está em 200 dólares enquanto que em 2002 estava em apenas 50 dólares.

    Seguem agora vários gráficos comparativos do governo Dilma com governos passados.

    Divirtam-se, como eu me diverti.

    Fonte: Banco Mundial

    Fonte: Banco Central do Brasil

    Fonte: ONU

    Fontes: Banco Central e ABECIP

    Fonte: FMI

    Fonte: Banco Central

    Fonte: Banco Central

    Fonte: Petrobras

    Entendem agora? Já está desenhado. Lógico que nesses gráficos não se incluem os avanços sociais, afinal quem se dá ao trabalho de confeccioná-los? Eles que deveriam ser os mais importantes? As coisas estão maravilhosas no Brasil? Claro que não, afinal há uma crise internacional e o Brasil não escapa. Até a China acusa problemas na economia.

    Mas entendem no que é que a oposição quer por a mão? A dica está nesse gráfico verde aí em cima.

    A oposição precisa derrubar Dilma para que as investigações cessem e não atinjam políticos que estão sendo delatados. Só assim as coisas poderão continuar com dantes no quartel de Abrantes.

    Enquanto ficamos hipocritamente protestando contra uma CPMF de 0,2%, os ratos fazem a festa na nossa frente, com o nosso apoio.

    Derrubada a presidenta, em menos de três meses, com outro presidente, as notícias na mídia serão todas otimistas. E então dirão que para por ordem na casa será necessário privatizar a Petrobras e entregar o Pré-sal para os americanos.

    E todos, Marias que vamos com as outras nesta Internet, exultantes e felizes com a queda daquela dentuça encheremos o peito e suspiraremos: que bom, agora o Brasil vai pra frente!


    *Fernando Castilho é arquiteto urbanista, professor e blogueiro. Analisa e comenta fatos importantes da vida política no país, fora da lente da grande mídia.