Acontece neste final de semana em Belo Horizonte (MG) o 2° Festival Estadual de Arte e Cultura da Reforma Agrária promovido pelo Movimento dos/as Trabalhadores/as Rurais Sem Terra MST. Entre os significados que cercam a construção deste festival estão a resistência, a cultura camponesa e a gastronomia. Estes três são a exemplificação do movimento social e a sua contribuição por um país mais justo, igualitário e saudável. Latifúndio não combina com estes valores.
A riqueza do Estado de Minas Gerais contribui com a possibilidade de entre as centenas de barracas, divididas para cada assentamento, acampamento e outros movimentos parceiros trazer ao público do festival a diversidade nos produtos e alimentos oferecidos a preço popular. O MST é conhecido por lutar pela agroecologia enquanto forma de produção e relação entre o povo e a natureza. Esta perspectiva traz as bananas, farinha de mandioca, mel entre outros alimentos um sabor próprio sem exploração do trabalho, compromisso com o meio ambiente e com as relações de gênero e sexualidade.
A agroecologia também está presente na educação para o consumo e ao longo do festival ela se expressa no preço justo que diferencia-se do mercado privado, e no carinho das relações entre consumidores e produtores dos diversos pratos típicos.
O cardápio varia entre a Carne de Sol com Mandioca para um tira-gosto entre amigos e familiares, como também do pirão ou o arroz com pequi para almoçar. Cada um destes pratos além de bonitos, são forma de mostrar a resistência dos quatro biomas presentes no território mineiro. Além da relação com os povos e comunidades tradicionais e populações específicas.
É importante também falar da cachaça Veredas da Terra e da pasta da Castanha de Baru. Produtos da reforma agrária que você só encontrará neste final de semana ou no Armazém do Campo: Produtos da Terra que se localiza na avenida Augusto de Lima 2136 no Barro Preto. Para quem quer conhecer mais desses significados, quer ouvir uma boa música, comer bem e lutar, o festival acontece até este domingo (16/12) no Parque Municipal Américo Renné Giannetti no Centro da capital mineira.
Fotografia: Lucas Bois | Texto: Leonardo Koury Martins, especial para os Jornalistas Livres
Entre os dias 6 e 8 de outubro, agricultoras, agricultores e militantes da agroecologia participaram do encontro regional de agroecologia (ERÊ) expondo seus produtos na Feira de Arte e Cultura do Movimento Sem Terra em Belo Horizonte. A união dos eventos foi uma oportunidade grande para valorizar cada ação realizada nos territórios para transformar dia após dia o modo de produção e de consumo de alimento. Descubram o perfil dos que participam dessa transformação. Lindas histórias bem sucedidas que mostram que a mudança é o abrigo das sementes.
Foto de Wanessa Marinho, para os Jornalistas Livres
Joaquim Carlos trabalha na Cooperfrutas em Paracatu no Noroeste de Minas. A cooperativa trabalha com polpa de fruta, a partir das frutas de 50 sócios de agricultores familiares. Damirom Rodrigues é da Copefran que produz alimento em geral (plantas medicinais e cachaça, exposto na barraca e outros produtos variados).
Ambas são afiliadas à UNICAF (a união nacional de cooperativas de agriecologia e agricultura familiar). É a primeira vez que participam da feira do MST, mas já participaram da Agriminas.
Joaquim também é Presidente do conselho municipal de segurança alimentar e nutricional. Para ele a maneira de defender e expandir a agroecologia é ocupar os espaços institucionais como o conselho de desenvolvimento rural sustentável e o fórum mineiro da economia popular solidária. Também a formação de agricultores familiares é fundamental.
Foto de Wanessa Marinho, para os Jornalistas Livres
Na região do Vale do Jequitinhonha e Diamantina, au lado do município de Presidente Kubitscheck, encontra-se a comunidade Quilombo de Raiz com cerca de 40 famílias.
A comunidade tem três eixos de produção, a agricultura familiar, a colheita de sempre vivas e o artesanato. Ingrate e Tamara são apanhadoras de flores e aprenderam a tradição desde crianças. “Antes a gente só apanhava as flores e nosso coletivo foi se profissionalizando com o artesanato nos últimos dez anos”, conta Ingrate. O artesanato conhecido com o nome de capim dourado é feito com uma espécie de sempre-viva chamada sedinha.
Mas a comunidade olha o futuro com preocupação. A expansão da monocultura do eucalipto na região, invadindo as terras do quilombo que está em processo de demarcação de terra, tem afetado o manejo das plantas nativas. “A colheita de flores de diminuído de 20kg para 5kg em 10 anos. Precisamos buscar sempre mais longe da comunidade para encontrar as flores”, lamenta Tamara.
Para defender seus direitos, a comunidade compõe a CODECEX (comissão de defesa dos direitos das comunidades extrativistas), junto com dezenas de outras comunidades tradicionais.
Foto de Wanessa Marinho, para os Jornalistas Livres
Gilvania é agricultora em Divino, na região da Zona da Mata, onde a Cooperdom é a principal produtora de alimentos oriunda da agricultura familiar.
Ela dedica sua militância para o projeto Eco jovem, voltado à formação de jovens lideranças nas organizações locais.
“Nosso objetivo é manter e valorizar os jovens na roça, resgatar a identidade. E preciso acabar com a vergonha de dizer que moramos na roça”.
O projeto é uma articulação de entidades onde sindicatos, cooperativas, e pastoral da juventude rural estão envolvidas.
Foto de Wanessa Marinho, para os Jornalistas Livres
Geraldo Gomes, é agricultor desde os 7 anos de idade em Sertanópolis em Minas, no semiárido do norte. O trabalho dele: guardião das agrobiodiversidade da caatinga. Aos 54 anos, ele montou um banco de sementes crioulas com mais de 200 espécies e aproveita todas as ocasiões de encontro com outros agricultores para resgatar e trocar sementes desaparecidas.
“Por causa das mudanças climáticas, do desmatamento, dos agrotóxicos, cerca de 50% das espécies nativas da região tem desaparecido nos últimos 10 anos”, lamenta Geraldo. Para isso ele se envolve em feiras, projetos universitários, nas escolas, em projetos de documentários audiovisual, para tentar reverter o tempo.
Foto de Wanessa Marinho, para os Jornalistas Livres
Vender mudas de hortaliças por poucos centavos e alcançar sustentabilidade financeira é possível! Esse foi o desafio que George Lucas, jardineiro de Belo Horizonte está vivendo há dois anos, com o projeto “fábrica de hortas”.
Ele começou a plantar mudas na horta de casa e vender nas feiras. Aos poucos expandiu no sítio familiar em Esmeraldas e hoje está com o projeto de iniciar uma horta urbana no centro da cidade nos próximos meses.
“E preciso se preocupar mais com segurança alimentar e o processo de compra de alimento. Me envolvo para que todos tivessem sua horta caseira”, relata.
Foto de Wanessa Marinho, para os Jornalistas Livres
Quando em 1992 ela ocupou o acampamento Lauro Valencia, no interior de São Paulo (Itabera), com o MST, Maria Nazaré, nunca imaginava que se tornaria 25 anos depois, a sócia mais antiga da Coplantas, uma cooperativa de 32 mulheres que faz produtos medicinais.
“A terra que ocupamos tinha sido envenenada pelo fazendeiro e causava feridas na pele das crianças e dos animais”, lembra. Procurando remédios, um grupo de mulheres aprendeu a fazer pomadas a partir das plantas que passaram a colher em vários assentamentos da região. “No início a gente até fazia as pomadas com banha de porco!”, brinca Nazaré.
O grupo foi se estruturando e a cooperativa trabalha hoje em um laboratório farmacêutico de cerca 400m2 e um lote de cultivação de 3000m2. As ervas medicinais são vendidas em feiras e mediante parcerias com o SUS, a fundação FIOCRUZ e projetos universitários, contribuindo para garantir uma fonte de renda para todas as integrantes.
Acreditamos em um mundo novo e em como seria bom se pudéssemos ser e “renovar o homem usando borboletas”, como nas palavras de Manoel de Barros.
A experiência de conviver com o povo do MST nos mostra como isso é possível nas pequenas coisas do dia a dia, no ato de plantar e colher. Estar próximo de quem semeia a terra dá um novo sentido para a palavra revolução, e quando vemos as crianças que ali estão conseguimos perceber a beleza de um futuro sem os estereótipos sociais.
Imergir no Festival Estadual de Arte e Cultura da Reforma Agrária é como entrar em um mundo utópico onde nos alimentamos bem, não somos envenenados, compartilhamos e aprendemos valores de respeito com a terra e com o outro, a importância da amizade e de não ter medo do bicho papão. É como estar em um mundo onde o agronegócio está vencido e a batalha pela vida e pelo projeto popular se tornam realidade.
Nada melhor do que poder ser Jornalista Livre e compartilhar bons momentos com os companheiros e as companheiras que fazem parte do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), o maior produtor de arroz orgânico da América Latina.
Foto de Maxwell Vilela, para os Jornalistas LivresFoto de Maxwell Vilela, para os Jornalistas LivresFoto de Maxwell Vilela, para os Jornalistas LivresFoto de Maxwell Vilela, para os Jornalistas LivresFoto de Maxwell Vilela, para os Jornalistas LivresFoto de Maxwell Vilela, para os Jornalistas LivresFoto de Maxwell Vilela, para os Jornalistas LivresFoto de Maxwell Vilela, para os Jornalistas LivresFoto de Maxwell Vilela, para os Jornalistas Livres
Por Agatha Azevedo, com fotos de Maxwell Vilela e vídeo de Agatha Azevedo e Maxwell Vilela, para os Jornalistas Livres
Foto: Maxwell Vilela | Jornalistas Livres
Na padronização da biodiversidade, cinco empresas controlam todo o processo de produção de comida no mundo. Desde os venenos ao que será produzido, temos nossos corpos colonizados, explorados e envenenados. É preciso repensar a agricultura e entender que alimentar é um ato político. “Os aspectos da comida sempre estiveram atrelados com a cultura. Temos que produzir de acordo com a expressão dos povos e com a diversidade cultural que temos”, explica Débora Nunes, do MST.
Foto: Maxwell Vilela | Jornalistas Livres
Durante o Festival de Arte e Cultura da Reforma Agrária, debateu-se que o agronegócio influi na alimentação e é o principal causador de muitas enfermidades da população. Este modelo de negócio tem acabado com a agricultura familiar, e investido em monoculturas que diminuem a vida útil da terra e transgênicos. Janaína Rueda, chefe de cozinha, explica: “A gente consegue dar muito sabor a qualquer comida sem usar nada industrializado. O que eu vim fazer aqui, além de ser apaixonada pelos produtos do MST, é falar que o avanço tem que ser muito mais rápido, nós temos que ser ativistas da alimentação e trocar as coisas da nossa geladeira.”
Num mundo onde um terço de tudo o que se produz é desperdiçado, as pessoas passam fome, o alimento que consumimos é de péssima qualidade, e bebemos pelo menos 25ml de agrotóxico, alimentar é também saúde. No Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, o setor de saúde pensa terapias alternativas para tratar os corpos usando dos saberes tradicionais e da terapia alternativa. Confira o vídeo: