Jornalistas Livres

Tag: feminicídio

  • QUEM AMA NÃO MATA

    QUEM AMA NÃO MATA

     

    Trinta e oito anos depois, na noite desta sexta-feira, 9, a partir das 18 horas, será reeditado na Praça Afonso Arinos, no Centro de Belo Horizonte, o ato ‘Quem Ama Não Mata’, para denunciar a violência contra a mulher e o feminicídio. O evento será marcado por muita música, performance, dança, poesias, rappers, DJs, apresentadoras profissionais etc., com direção do ator Adyr Assumpção e produção da promotora de eventos Nely Rosa.

    “Neste ano, diante do recrudescimento da violência contra as mulheres – dados comprovam um
    aumento de mais de 100% nos últimos dez anos -, e, no meu caso, pelo assassinato da
    advogada do Rio Grande do Sul, Tatiane S. , novamente nos unimos e resolvemos ‘fazer algo’.
    Aí o Ato de 1980 foi novamente nossa inspiração. Aquele ato, tão simples, continua com uma
    potência enorme. O slogan “Quem ama não mata” é muito poderoso. Só que o ato de agora,
    naturalmente, está adaptado aos dias de hoje”, contou a jornalista Mirian Chrystus de Mello e Silva.

    “Antes, nós feministas falávamos pelas mulheres trabalhadoras rurais, pelas prostitutas. Agora
    elas estão lá no Ato, falando por si mesmas. O feminismo negro está lá de forma muito crítica
    ao feminismo hegemônico branco – aquele nosso de 1975. Agora as pessoas não têm paciência
    de ouvir discursos, então, eles serão muitos, cerca de 17, mas cada um com dois minutos”, prosseguiu Mirian.

    O primeiro ato aconteceu em 18 e agosto de 1980, nas escadarias da Igreja São José, no centro de Belo Horizonte. Foi originado dentro da TV Globo local, da indignação de três jornalistas (Dagmar Trindade, Antonieta
    Goulart e Mirian) pela morte, no espaço de duas semanas, de duas mulheres assassinadas por
    seus maridos: Heloísa Ballesteros e Maria Regina Souza Rocha. O primeiro por desconfiança de
    traição.

    “No julgamento, me marcou ele descrever a última noite, anterior ao assassinato, em
    que ele percebeu sinais de ‘esfriamento’ por parte dela durante o ato sexual. Ali ela assinou a
    sua morte, naquela ‘frieza’. O segundo, por não aprovar os novos hábitos dela, que ‘tinha dado para fumar’. Foi morta ainda
    com o uniforme de ginástica, ao voltar da academia para casa”, observou Mirian.

    “Cobraram de nós, jornalistas, que mulheres pobres eram assassinadas todos
    os dias nas favelas; nós sabíamos, éramos jornalistas. Mas sabíamos também que duas
    mulheres de classe média e alta assassinadas davam uma boa pauta. Não éramos ingênuas.
    O ato que ficou conhecido como Quem Ama Não Mata (originado da frase anônima, pichada
    em muros de BH, “Se se ama não se mata”) foi muito simples. Mas original para os padrões da
    época, porque foi em plena ditadura”, lembrou a jornalista.

    “Reuniu cerca de 400 mulheres que seguravam velas e rosas
    vermelhas (doadas pela dona do Sobradão da Seresta, no bairro Santa Tereza). Falaram umas seis ou
    mais pessoas, entre elas, o deputado Genival Tourinho, a poetisa Adélia Prado, que veio
    de Divinópolis, Maria Campos, pela Liga das Mulheres Católicas, uma feminista do Rio e
    eu, que li um manifesto que escrevi de uma vez só. E que começava com um poema anônimo,
    lido por mim na revista Senhor, provavelmente em 1968 ou 1969, no Colégio Estadual Central.
    O único poema que guardei de cabeça:
    ‘Senhora, aqui está vossa chave
    para vos abrirdes quando quiserdes e com quem quiserdes
    porque maior que a dor de vos perder
    é a dor de vos deixar presa nesses ferros’.

    Em Minas, mil anos depois, prosseguia eu, os homens matam as mulheres que querem a
    separação… etc, etc. E reivindicávamos a redemocratização do país alertando que a democracia tinha que começar
    ‘dentro das nossas casas’. Dali nasceram a frase ‘Quem ama não mata’ (que virou série da Globo) e o Centro de Defesa da
    Mulher, que iniciou pesquisa sobre o tema “violência contra a mulher” e promoveu o
    atendimento de mulheres que sofriam violência doméstica e reivindicava a criação de
    delegacias especializadas no atendimento a mulheres (que foram criadas por todo o país a
    partir de 1985).”
    Enfim, será um ato feminista, cultural, político, no sentido amplo, porque é suprapartidário. Os Jornalistas Livres vão cobrir o evento ao vivo pelo Facebook.

  • SANDRA PRESENTE!!! NA MOSTRA LUTA

    SANDRA PRESENTE!!! NA MOSTRA LUTA

    A Mostra Luta, que acontece em vários locais da cidade de Campinas (SP), prestará uma homenagem à Sandra, uma das fundadoras da Associação Mulheres Guerreiras – Profissionais do Sexo, vítima de feminicídio no dia 1º de outubro de 2017.
    A homenagem será na quinta-feira, 19 de outubro no MIS ( Museu da Imagem e do Som – Rua Regente Feijó, 859, Centro, Campinas ) a partir das 19 horas.
    Sandra foi o nome escolhido por Theresinha Ferreira para exercer seu trabalho. Foi brutalmente assassinada, aos 58 anos, com oito facadas no Jardim São Sebastião em Monte-Mor, região metropolitana de Campinas. O criminoso ainda não foi identificado pela polícia, e, segundo testemunhas do feminicídio, ele usava “balaclava” – conhecida como “touca ninja” – e capacete para evitar o reconhecimento.

    Theresinha Ferreira, a Sandra, era mestiça e órfã, descendente da tribo indígena kayapós e de espanhóis, sua família foi assassinada em disputas de terras. Sandra foi traficada aos 12 anos de idade e mantida em cativeiro onde gerou duas crianças que foram retiradas dela.
    Após liberta-se do cativeiro e depois de algumas andanças chegou à Campinas. Trabalhou muitos anos no Jardim Itatinga, zona de prostituição na periferia da cidade. Protegia as prostitutas do centro da violência da polícia e era conhecida como: “ Mãe da Rua”. Sandra adotou uma criança cigana que ficou órfã devido à ação violenta envolvendo sua família e policiais no centro da cidade. Também lutava pelas mulheres que trabalhavam como profissionais do sexo em Campinas, e, em conjunto com as mulheres, da região central da cidade, fundou a Associação Mulheres Guerreiras – Profissionais do Sexo.
    Sandra foi mais uma vítima de feminicídio, que é o homicídio doloso praticado contra a mulher por “razões da condição de sexo feminino”, ou seja, desprezando, menosprezando, desconsiderando a dignidade da vítima enquanto mulher.
    No Brasil, a taxa de feminicídios é de 4,8 para 100 mil mulheres – a quinta maior no mundo, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). Em 2015, o Mapa da Violência sobre homicídios entre o público feminino revelou que, de 2003 a 2013, o número de assassinatos apenas em Porto Alegre cresceu 0,7 ao ano.
    Em março de 2015 foi aprovada a Lei do Feminicídio, classificando-o como crime hediondo e com agravantes quando acontece em situações específicas de vulnerabilidade (gravidez, menor de idade, na presença de filhos, etc.)

    A programação da quinta-feira, 19 de outubro da Mostra Luta

    19h- “Direitos Humanos na resistência à indireitação planetária”
    Roda de conversa coordenada por Paulo Mariante, presidente do Fórum Municipal de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania de Campinas, grupo Identidade e convidados.
    SANDRA PRESENTE!!! – Homenagem a Sandra, mulher guerreira, uma das fundadoras da Associação das Mulheres Guerreiras de Campinas

    Mostra Luta
    É um evento político cultural organizado por coletivos de comunicação popular de Campinas, que começou em 2008 como uma mostra de vídeos que abordavam as lutas sociais e, ao longo dos anos, passou também a incluir realizações em outras linguagens, como fotografia, quadrinhos, poesia, dança, música, teatro, debates, rodas de conversa, oficinas e saraus.
    Em tempos de golpes, a Mostra Luta! reafirma que a luta continua presente nas ruas, nos bairros, nas fábricas, nos sindicatos, nas escolas, nos quilombos e nas quebradas de todo o país, nas muitas formas de luta por direitos, justiça, dignidade e emancipação social.
    www.mostraluta.campinas.br

  • Após feminicídio em Campinas, mulheres protestam na câmara

    Após feminicídio em Campinas, mulheres protestam na câmara

    Ontem, dia 01 de fevereiro, diversos coletivos feministas estiveram presentes na primeira sessão de 2017 da Câmara de Vereadores de Campinas. O objetivo era pressionar os presentes pelo reconhecimento do feminicídio ocorrido no dia 31 de dezembro de 2016, no qual Sidnei Ramis de Araújo assassinou a ex-mulher, o filho e mais dez pessoas durante uma festa de Ano Novo.

    As manifestantes também protestaram contra a Proposta de Emenda à Lei Orgânica do Município (145/ 2015) que está em tramitação na Câmara. A proposta, de autoria de Campos Filho (DEM), visa proibir a deliberação na Câmara Municipal de “qualquer proposição legislativa que tenha por objetivo regulamentar políticas de ensino, currículo escolar, disciplinas obrigatórias, ou mesmo de forma complementar ou facultativa, que tendam a aplicar a ideologia de gênero, o termo ‘gênero’ ou orientação sexual”.

    Antes do início da sessão, a vereadora Mariana Conti (PSOL) promoveu debate sobre Feminicídio e Violência contra a Mulher e abriu espaço para a leitura do Manifesto elaborado pela comissão organizadora do protesto Nenhuma a menos, realizado no dia 05 de janeiro, que contou com a presença de centenas de mulheres na cidade de Campinas. Em seguida, o microfone foi aberto e subiram ao palanque coletivos como o Coletivo Rosa Lilás e o Coletivo Pão e Rosas.

    Após o debate, às 18h, a sessão foi aberta com um minuto de silêncio pelos diversos falecimentos notáveis do último mês. A chacina do dia 31 de dezembro foi citada e, após pedidos da plateia, a vereadora Mariana Conti mencionou os dois feminicídios ocorridos na região do Campo Belo.

    O minuto de silêncio foi seguido pela fala do Prefeito Jonas Donizette (PSB) que tratou dos projetos para o próximo mandato e dos projetos implantados no mandato anterior. O discurso do Prefeito recebeu um série de protestos por parte dos coletivos presentes que incluíram manifestações contra o não-reconhecimento do feminicídio por parte do Prefeito, o aumento da passagem do ônibus de 3,80 para 4,50 e o fechamento da UPA Centro. O Prefeito se defendeu alegando a legitimidade de seu mandato comprovada nas urnas.

    Durante a primeira parte da sessão vereadores demostraram apoio e repúdio às manifestantes.  O vereador Pedro Tourinho se manifestou a favor do protesto e pediu o funcionamento 24h das delegacias da mulher de Campinas. Outro vereador que se colocou a favor das manifestantes foi Carlão do PT. Em resposta a Donizette, o vereador afirmou que apesar de ter ganho a eleição foi derrotado em número pelos votos em branco e nulos, questionando a real representatividade do Prefeito de Campinas.

    Entre as manifestações contrárias, o vereador Professor Adalberto (PR) afirmou que a manifestação era antidemocrática e desrespeitosa. O vereador Campos Filho (DEM), autor da Proposta de Emenda à Lei Orgânica do Município (145/ 2015), chamou as manifestantes de “minoria raivosa canina”, compactuando com a fala do Prefeito de que os protestos contra seu mandato vêm de uma minoria. O vereador Edison Ribeiro (PSL), após agradecer a Deus ela sua eleição, afirmou que “menino é menino e menina é menina”, em defesa da Proposta de Emenda. Todas as manifestações contrárias receberam vaias e frases de protesto como: “A sua ideologia mata gente todo dia” e “beijo homem, beijo mulher, tenho direito de beijar quem eu quiser”.

    Além das manifestantes feministas, a sessão contou com a presença de um grupo que pedia ajuda para o empreendimento do Minha Casa, Minha Vida alocado no Jardim Bassoli sob coordenação da Prefeitura de Campinas.

  • Ato Nenhuma a menos de Campinas reúne centenas de mulheres

    Ato Nenhuma a menos de Campinas reúne centenas de mulheres

    No dia 05 de janeiro, diversos grupos feministas de Campinas organizaram um Ato para denunciar o machismo e a misoginia que motivaram o feminicídio ocorrido no dia 31 de dezembro de 2016 em Campinas. Na ocasião, treze pessoas (entre elas nove mulheres) foram assassinadas durante uma confraternização familiar. O assassino escreveu uma carta carregada de conteúdo misógino, machista e conservador. O Ato do dia 05 de janeiro foi uma resposta à chacina, às ideias retrógradas contidas na carta e à cultura machista que motivou estes assassinatos e muitos outros crimes e agressões por todo o país.

    Abaixo, o manifesto oficial do Ato:

    MANIFESTO NENHUMA A MENOS! Vivas nos queremos!

    No dia 31/12 – véspera de ano novo – ocorreu uma chacina premeditada na cidade de Campinas, que teve como alvo principal as mulheres da família de Isamara. O crime tem características de ser mais um caso de feminicídio (crime hediondo previsto no código penal- Lei 13.104/15). Junto com mais oito mulheres e dois homens que tentaram conter o agressor, Isamara e seu filho de 8 anos foi brutalmente assassinada dentro de casa pelo ex-marido e pai da criança. As investigações seguem apurando o caso e deverão esclarecer todas os fatores que colaboraram para sua realização. Mas a carta deixada pelo atirador e divulgada pela imprensa não deixa dúvidas sobre o seu conteúdo machista.
    As declarações do agressor foram um ataque não só àquelas vítimas, mas a todas as mulheres que foram insultadas como “vadias” (incluindo até mesmo a ex-presidente Dilma Rousseff) e aos defensores dos Direitos Humanos. Assim, trazendo à tona um sentimento profundo de ódio generalizado e vingança contra as mulheres, essa chacina feminicida se perpetua pela difusão desses ideais fascistas e misóginos impressos na carta, sendo um instrumento perigoso de incitação de novos crimes.
    O Brasil ocupa o 4º lugar num ranking de violência contra a mulher envolvendo mais de 80 países. 13 mulheres são assassinadas todos os dias no Brasil. Mesmo com a promulgação da Lei Maria da Penha (lei. 11.340/06), inescrupulosamente debochada na carta do assassino ao chamá-la de “Lei vadia da Penha”, a cultura machista e misógina contínua se difundindo e fazendo novas vítimas. De 2009 a 2013 foram 234 casos de feminicídio só na Região Metropolitana de Campinas..
    Assim, precisamos olhar não só para essa chacina de mulheres que ocorreu em um bairro de classe média, mas para todas aquelas outras mulheres, negras e periféricas, que são violentadas diariamente e que seguem anônimas, ou já foram esquecidas, nos noticiários da grande mídia. Precisamos olhar para o fato de que os crimes que levam à morte, na maioria das vezes, são precedidos por outras violações – injúrias, agressões, humilhações, restrições de liberdade – e que apesar de notificadas ao poder público não são interrompidas.
    Qual a responsabilidade do Estado e as falhas nas suas políticas públicas na interrupção desse ciclo de violência contra a mulher? Consideramos simbólico o fato desse crime ter se dado num momento político em que as instituições republicanas estão postas em questão e no qual o discurso fascista ganhou voz no próprio parlamento. Os instrumentos legais criados para o enfrentamento da violência de gênero são importantíssimos, mas o direito penal não muda sozinho mentalidades. Até quando a Câmara Municipal de Campinas vai tentar proibir o debate de gênero nas escolas? Quantas vítimas mais serão necessárias para o poder público assumir sua responsabilidade na educação para a igualdade de gênero?
    Deste modo, nós, mulheres organizadas pelo Nenhuma a menos – o Machismo mata, queremos nos posicionar contrariamente à perpetuação dessa cultura machista e do ódio contra as mulheres. Queremos abrir o debate crítico com a sociedade acerca dos mecanismos que levam a essa perpetuação. Assim, esse Ato marca o início de um período de lutas na cidade de Campinas:
    – pela inserção do debate de gênero nas escolas – a fim de garantirmos uma educação pautada no princípio da igualdade;
    – pela efetivação dos mecanismos de proteção a mulher definidos na Lei Maria da Penha – como um número adequado de Delegacias da Mulher em funcionamento, com atendimento especializado e funcionárias qualificadas;
    – pela implantação da Vara da Violência doméstica;
    – pelo fim da violência contra as mulheres – incluindo as violências psicológica, patrimonial e moral;
    – pelo enfrentamento sistemático da cultura do estupro e do feminicídio;
    – pelo direito de decisão das mulheres sobre seu corpo e sua vida.

    Nenhuma a Menos – Campinas

    ASSINAM ESTE MANIFESTO:

    Advogados Independentes Campinas
    Agentes da Pastoral Afro do Brasil
    AF– USE
    Aos Brados – Campinas
    APEOESP (Mulheres da APEOESP)
    Associação de Mulheres Guerreiras
    Assossicação da Parada Orgulho LGBT de Campinas
    Casa de Cultura Afro Fazenda Roseira
    Casa de Cultura Tainã
    CEAMO Centro de Apoio à Mulher
    Centro Acadêmico de Pedagogia da Unicamp
    Centro de Referência LGBT de Campinas
    Coletivo de Juventude Domínio Público
    Coletivo de Mulheres da CUT Campinas
    Coletivo de Mulheres Negras Lélia González
    Coletivo de Negras e Negros Raízes da Liberdade
    Coletivo Feminista Rosa Lilás
    Coletivo Juntas!
    Coletivo Mulheres do PT
    Coletivo Parajás
    Coletivo Raízes da Liberdade
    Comunidade Jongo Dito Ribeiro
    Comunidade Menino Chorão
    CONEPPA Coletivo Negro com Práticas Pedagógicas em Africanidades
    Conselho Federal de Psicologia
    Conselho Municipal de Direitos Humanos e Cidadania de Campinas
    Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Campinas
    Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Hortolândia
    Conselho Regional de Psicologia – Subsede Campinas
    CUT-SP
    Djumbo
    Feminismo Negro Interseccional Campinas – Coletivo Lélia Gonzalez
    Frente de Mulheres Negras de Campinas e Região
    Frente Pró Cotas da Unicamp
    Grupo de mulheres Pão e Rosas
    Grupo Mulheres da Periferia
    JPT Campinas
    MAIC Movimento dos Advogados Independentes de Campinas
    MAIS Movimento Por Uma Alternativa Socialista
    Mandato da Vereadora do PSOL Mariana Conti
    Mandato da Vereadora Sâmia Bonfim (PSOL/SP)
    Mandato do Vereador Carlão (PT-Campinas)
    Mandato do Vereador Pedro Tourinho (PT-Campinas)
    Marcha Mundial das Mulheres
    Minas da Luta
    Movimento Raizes de Dandá
    Mulheres do PSOL – SP
    Mulheres do PT
    Núcleo de Consciência Negra da Unicamp
    Oyá-ò Estética Preta
    Promotoras Legais de Hortolândia
    Promotoras Legais de Jundiaí
    Promotoras Legais Populares
    Rede Feminista de Juristas
    Secretaria Estadual da Mulher Trabalhadora da CUT-SP
    Secretaria Nacional da Mulher Trabalhadora da CUT
    Sindicato da Construcao Civil de Campinas e Regiao
    Sindicato das Trabalhadoras Domésticas de Campinas
    Sindicato dos Pscicólogos do Estado de São Paulo
    SindiPetro Campinas
    UBM União Brasileira de Mulheres
    UNEGRO – Campinas e Região

  • O monstro: sobre a chacina de Campinas, misoginia e notícias

    O monstro: sobre a chacina de Campinas, misoginia e notícias

    Quando um caso de violência contra mulheres chega à grande imprensa, o debate é orientado quase sempre pela mesma pergunta: qual a motivação do crime? Mas o que é que motiva a formulação dessa pergunta? Deixando de lado o procedimento jurídico que levará em consideração as motivações do crime dentro de um protocolo de investigação policial, o senso-comum e os consumidores de notícias em geral desejam encontrar  uma explicação individual, específica e subjetiva. E a pergunta pela motivação do crime atende a essa necessidade. Muitos dizem: “era louco”, “era um monstro”, “não era humano”.

    Quando se diz que alguém que assassina brutalmente uma mulher o fez simplesmente porque era “louco” se reforça o estigma do louco perigoso e, ao mesmo tempo, se isenta o assassino de responsabilidade. É uma forma de dizer: “ele não sabia o que estava fazendo”. Já a ideia de “monstro” pretende colocar os casos de violência contra as mulheres como exceção, coisa que aconteceria fora do mundo, realizada unicamente por monstros desumanos.

    O assassino de Campinas não é um monstro: ele é assustadoramente humano, capaz de um mal naturalizado e banalizado que vitima mulheres todos os dias. O ponto aqui é trazer de volta esses casos para o mundo, entendendo não se tratarem de exceções. Fugir da perspectiva dominante que invariavelmente termina por justificar a violência culpando a vítima.

    O que faz a chacina de Campinas ser um caso emblemático em relação aos esforços de procurar possíveis justificativas para o injustificável é que o assassino deixou uma carta. Existe então um sem número de possibilidades e de psicologismos que poderiam vir à tona para evitar que se diga: esse caso não é exceção. Criam-se paredes de contenção para evitar que se fale sobre misoginia.

    O assassino antecipa a acusação de misoginia na carta, estabelecendo as regras dos jogos de verdade e falsas justificativas que o fariam escapar da acusação. É a carta que deve ser lida, escrutinada, interpretada – e não a sociedade e as suas relações de poder.

    Sidnei Ramis de Araújo diz na carta que não odiava mulheres, ou seja, que não era misógino, que odiava tão somente as “vadias” – curiosamente todas as mulheres da família de sua ex-companheira eram vistas como “vadias”. Neste ponto, o assassino reforça a ideia do senso comum de que toda violência pode ser justificada por meio da desumanização. É sob a ideia perversa de que “vadias” não são humanas e que, portanto, podem sofrer toda forma de violência que a misoginia se esconde e se sustenta.

    A carta se inicia com Ramis reivindicando para si a identidade de um “homem de bem”, assim como aconteceu com os assassinos de Luiz Carlos Ruas. Essa repetição nos leva a perguntar: o que define um “homem de bem”? Talvez o “homem de bem”, neste contexto, seja aquele que trabalhe para a manutenção das relações de dominação de uns (sempre os mesmos) sobre outros (também sempre os mesmos), ou seja, aquele que use a violência para a manutenção do status quo.

    O assassino revela também um ódio ao que ele chama de “sistema feminista” – um delírio absoluto em um país cuja taxa de feminicídios é a quinta maior do mundo, mas são tempos vertiginosos em que o absurdo se estabelece e se enraíza como a verdade do senso comum.

    Essa visão do feminismo parece retomar a famosa frase de Rebecca West: “eu mesma nunca consegui saber direito o que é feminismo. Só sei que me chamam de feminista quando expresso sentimentos diferentes de um capacho”. Fica expresso na carta um ódio às feministas, que, no fim das contas, são todas as mulheres que, como diz West, expressam sentimentos diferentes de um capacho. Pior: um ódio contra todas as mulheres, independentemente de como se expressem.

    Há ainda a questão ética envolvida na publicação da carta do assassino, pois além da exploração do crime como espetáculo, o texto da carta traz em diversos momentos incitações de violência contra “vadias” – e, como dito acima, “vadias” são todas as mulheres. Ramis incita a violência misógina retomando o antigo discurso da “legítima defesa da honra”, que sustentou por décadas um discurso jurídico para inocentar “homens de bem” que cometiam femicídios. Destaco este trecho da carta:

    “A vadia foi ardilosa e inspirou outras vadias a fazer o mesmo com os filhos, agora os pais quem irão se inspirar e acabar com as famílias das vadias.”

    É preciso analisar aqui o que leva a imprensa a publicar o discurso de ódio contido nessa carta, sobretudo em um momento em que a mesma reproduz e reforça uma suposta divisão entre as mulheres “de boa índole”, “belas, recatadas e do lar” e as “vadias”. Os dois discursos se imbricam em uma perigosa e perversa abertura para justificar o feminicídio.

    A partir daí é que precisamos prosseguir o debate sobre as múltiplas tecnologias do poder que naturalizam o feminicídio por meio de separações, tais quais “mulheres de bem” e “vadias”. Heleieth Saffioti nos diz: “não obstante a força de todas as tecnologias sociais, especialmente as de gênero, […] a violência ainda é necessária para manter o status quo”*. Talvez o crime de Campinas seja justamente sobre a manutenção das relações de poder, do status quo, em um momento em que as disputas de narrativas sobre os casos de feminicídio trazem à tona crimes perversos que – é importante ressaltar – acontecem diariamente, embora nem sempre sejam tão noticiados.

    * SAFFIOTTI, Heileieth. Gênero, patriarcado, violência. São Paulo: Expressão Popular, 2015.

    Daniela Lima é escritora e ativista. Artigo originalmente publicado no Blog da Boitempo.

  • Nós por nós, sempre!

    Nós por nós, sempre!

    Por Lúcia Perez, de 16 anos, drogada à força, estuprada e empalada tomamos as ruas. Erguemos nossos cartazes por Beatriz, também de 16 anos, que foi estuprada por 33 homens no Rio de Janeiro. Gritamos numa só voz por Rayzza, militante feminista queimada viva, em Cabo Frio no Rio de Janeiro. Unimo-nos por Cláudia Silva Ferreira, arrastada por um carro da Polícia Militar por 350 metros. Abraçamo-nos pela garota de 16 anos – que não cometeu crime algum – presa numa cela com 30 homens e foi abusada durante 20 dias. Choramos pelas meninas de 7 anos da República Centro-Africana que eram obrigadas a fazer sexo oral em soldados da ONU em troca de água e bolachas de água e sal. No desespero de ver um bebê de dois anos morrer abusado pelo padrasto, vimos que precisávamos agir.
    Mesmo embaixo de chuva continuamos na luta contra a violência masculina que nos humilha, destrói, machuca, estupra e mata todos os dias. Ocupamos espaços que nos são negados e nos posicionamos contra o sistema patriarcal que nos oprime todos os dias.

    Fotos: Emergente

    Diariamente nos vemos abaladas por práticas machistas e misóginas, como o caso da garota de 13 anos que engravidou após ter sido estuprada por seu responsável, e teve que foi questionada por um juiz se havia “tentado fechar a genitália” durante o estupro. Desesperamo-nos com o caso do Coronel da Polícia Militar que foi encontrado em um carro com uma criança de 2 anos nua. Percebemo-nos alvos quando acontecem 5 espancamentos a cada dois minutos, 179 relatos de agressão por dia, 1 estupro a cada 11 minutos – totalizando 133 mulheres estupradas por dia, e 1 feminicídio a cada 90 minutos, somente no Brasil. Resistimos quando percebemos que estupros não tem relação com tesão ou prazer, e sim com dominação.
    Revoltamo-nos contra todos os tipos de violência – física, sexual, psicológica, patrimonial e moral – e contra a leveza das penas de nossos agressores e assassinos. Lutando para que nós, mulheres, sejamos vistas como humanas. Pela autonomia de nossas vidas e corpos.

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    Na Argentina, no Peru, Brasil, Venezuela, Chile, Equador, Costa Rica, Paraguai, Uruguai, Bolívia e em diversos países do mundo todo! Pelas meninas judias e cristãs sequestradas para serem escravas sexuais, pelas vítimas da mutilação genital na África, pelas mulheres ao nosso redor que sofrem com assédios, agressões e violações. Pelas que nos apoiam e pelas que não nos apoiam. Por todas elas. Por todas nós. Seguiremos até que todas sejamos livres!
    Somos nós por nós, sempre!