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  • É PRECISO FALAR DOS ESTADOS UNIDOS

    É PRECISO FALAR DOS ESTADOS UNIDOS

     

    ARTIGO

    Prof. Dr. Alexandre Santos de Moraes, da Universidade Federal Fluminense

     

                A maioria de nós foi estimulada a ver os EUA como protetores da humanidade. Mesmo nas guerras com objetivos eminentemente comerciais, o discurso de liberdade e defesa da democracia em favor de povos tiranizados parecia a justificativa política nobre e necessária para toda sorte de genocídios. A indústria cinematográfica não mediu esforços para vender essa imagem. Antes, quando os soviéticos eram os principais antagonistas, o super-herói alienígena que ganhou cidadania americana não media esforços para livrar a humanidade de uma guerra nuclear.

                Quando as tensões da Guerra Fria arrefeceram, novos inimigos foram imediatamente escalados. Além do Oriente Médio, que situava a salvaguarda das liberdades no plano terreno, os EUA combateram, em nome da vida no planeta, uma série de ameaças alienígenas. Não pouparam investimentos para vender a imagem de que estávamos mais seguros com eles. Nada disso é novidade, mas ainda que muitas vezes a ficção se desdobre como uma possibilidade real, em outras tantas não passa de simples fantasia oportuna, rasteira e miserável.

                A ameaça surgiu e não veio de outro planeta. Ela é invisível a olho nu, mas seus efeitos são duramente sentidos: no momento em que escrevo, ultrapassamos a marca de um milhão de casos e 70 mil mortos, mas esse número é certamente subestimado. A letalidade é alta para uma doença que se dissemina com tanta facilidade, e para nosso lamento, a pandemia está apenas no começo. Poucos duvidam que o número de vítimas excederá os da Guerra do Vietnã, mas se essa parece uma cifra demasiado distante, façamos outra conta: já morreram 23 vezes mais pessoas do que no atentado às Torres Gêmeas ou 11 vezes mais do que o número de mortos pela polícia brasileira no ano de 2019. Não mata mais que a fome, é verdade, que atinge 820 milhões de pessoas no mundo, mas isso não é uma competição, mesmo porque os famintos são também os mais frágeis diante dos sintomas do COVID-19, tanto pela imunidade baixa como porque não gozam dos mesmos privilégios sanitários e acesso à saúde que os que se alimentam em demasia.

                Mas acontece que o vírus é um inimigo sem vergonha. Ele anda por aí sorrateiro, disfarçado, incólume, apátrida. Além disso, não faz distinção entre ricos e pobres em termos de contágio: Bill Gates e Jeff Bezos podem se contaminar da mesma forma que o mais miserável dos sujeitos. O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, foi infectado pela mesma doença que faz padecer centenas de Josés e Marias da América Latina. É aí que mora o segundo perigo do coronavírus, pois ele abre o flanco para discursos que falsamente atribuem condições de igualdade ou indistinção entre ricos e pobres. É o momento em que sai do fundo do poço aquele sujeito de bom coração que diz “estamos todos no mesmo barco” e que “é preciso superar as diferenças pelo bem comum”. Nada poderia ser mais falso, e os EUA estão aí para que lembremos disso.

                 De repente, quando a realidade se impõe como um machado sob nossas cabeças, toda filmografia redentora que alçava os EUA à condição de tutores do mundo se vê naufragar diante da busca por soluções visceralmente nacionais em meio a uma crise de dimensão planetária. Farinha pouca? Meu pirão primeiro.

                Donald Trump decidiu agir após semanas de negligência, e quando fê-lo, não abandonou seu estilo: America First!. O ultranacionalismo e o excesso de medidas protetivas que o mundo conhecia desde antes da epidemia continuou com ela na forma do mais selvagem capitalismo que os EUA defendem como modelo. Com absoluta certeza a recessão econômica os atingirá e exacerbará as desigualdades econômicas com que decidiram conviver.

                Ninguém passará incólume, é verdade, mas contra o falso discurso de igualdade, é bom que se note que muitos morrerão para que os efeitos da crise sejam menos cruéis entre os ianques. Todo o poder econômico construído à custa da miséria alheia é mobilizado para resguardá-los dessa mesma miséria que, mais uma vez, decidiram vender. Na última semana, os EUA adotaram práticas que foram descritas por autoridades de vários países como “pirataria moderna”.

               Para que ninguém duvide de sua intenção, Trump declarou no último sábado (4/4/2020): “Não queremos outros conseguindo máscaras”. Difícil saber a que se referia: se ao confisco em Bangcoc das máscaras que iriam para a Alemanha, se à carga com 600 respiradores artificiais produzidos pela China que viriam para o Brasil e foram retidos no aeroporto de Miami, ou à proibição que impôs à norte-americana 3M (maior produtora mundial de máscaras modelo FFP2) para que não exportasse seus produtos para outros países. E para aqueles que seguem defendendo união no momento de crise, é importante lembrar que o longo embargo econômico imposto a Cuba impediu que máscaras, ventiladores e testes para detectar o vírus SARS-CoV-2 chegassem à ilha após doação feita pela empresa chinesa Alibaba.

                Não são poucos os exemplos de solidariedade internacional. A própria Cuba tem enviado médicos para ajudar no tratamento de doentes e que são recebidos com aplausos em vários países. Não obstante terem sido defenestrados do Brasil por Jair Bolsonaro e sua trupe de puxa-sacos de Trump, retornarão para ajudar o mesmo povo que os expulsou. Em 18 de março, o cruzeiro britânico MS Braemer com infectados pelo COVID-19, que havia sido rejeitado por diversos países caribenhos, atracou em Havana e foi acolhido por razões humanitárias.

                Há outros exemplos que poderiam inspirar quem mais pode a fazer mais, mas isso seria contraproducente e incoerente com que os EUA decidiram como próprio de si: America First!. E não se espante se daqui há algum tempo aparecer algum filme louvando a dedicação dos EUA em livrar o mundo do coronavírus. A ficção não será uma realidade possível, mas a falsificação possível da realidade. A miséria sempre foi seu principal produto de exportação e gozam de imensa experiência em fingir ser o que não são. Não, não estamos no mesmo barco, até porque, se estivéssemos, os EUA dariam um jeito de nos jogar aos tubarões.

               

  • Irã terá apoio popular em resposta ao assassinato de Soleimani

    Irã terá apoio popular em resposta ao assassinato de Soleimani

    ARTIGO

    Eduardo Campos, jornalista e advogado mineiro, visitou o Irã em 2018 e mantém
    contatos com amigos que fez no país

    A mídia ocidental hegemônica sempre comprou a narrativa contemporânea do
    Império, segundo a qual o Irã é um país satânico. Não por acaso, George
    Bush, então presidente dos Estados Unidos, incluiu o Irã no tripé que
    caracterizou, em 2002, como “Eixo do Mal”, que contava ainda com Iraque e
    Coreia do Norte. Da “ameaça” do Iraque, o Império se livrou já no ano
    seguinte, invadindo o país e derrubando seu governo. A Coréia, continua
    levando em banho-maria, tendo Trump participado, nos últimos anos, de um
    jogo cênico bilateral, simulando falsos acordos de paz.
    Já o Irã, este não apenas não se dobrou, nem sequer esboçou fazê-lo, muito
    embora tenha se disposto a celebrar um acordo de não-proliferação de armas
    nucleares, com as maiores potências do mundo, reduzindo seu estoque de
    urânio enriquecido e adotando outras medidas afins. O acordo permitiu acabar
    com o embargo comercial imposto pelos Estados Unidos e seus aliados ao
    país dos aiatolás, que enfrenta, desde então, sérios problemas econômicos.

    Foi, contudo, rompido unilateralmente por Trump, em 2018, a pretexto de que
    não estaria conseguindo cumprir seu objetivo de conter a ameaça nuclear. O

    Irã não se curvou à chantagem estadunidense, permitindo-se, ao contrário,
    relaxar com cláusulas do pacto, diante da retomada das sanções pelo Império.
    O novo embargo, contudo, voltou a provocar grande impacto na economia do
    país, que ainda não havia se recuperado da crise e viu se agravarem as
    restrições à venda de seu petróleo e ao seu sistema bancário.

    O objetivo de Trump, na verdade, mais que o histórico interesse dos Estados
    Unidos no petróleo do Oriente Médio, foi o de conter o avanço da influência
    iraniana na região, já bastante acentuada no Iraque, na Síria, no Líbano e no
    Iêmen, tendo como contraponto Israel e a Arábia Saudita.
    O assassinato do general Soleimani, no último dia 3, se enquadra nesse
    contexto. Soleimani foi o principal articulador da expansão da influência

    iraniana no Oriente Médio nas últimas décadas, ele que, em 1998, assumiu a
    direção da Força Quds, divisão da Guarda Revolucionária Iraniana responsável
    por ações militares extraterritoriais. Não por acaso era considerado o segundo
    homem mais forte do país, abaixo apenas do Aiatolá Kamenei, líder supremo, e
    acima mesmo do presidente Rohani e do líder do Parlamento.

    As expectativas, agora, se voltam para a reação do Irã e de seus aliados na
    região, em face do atentado terrorista perpetrado pelos Estados Unidos no
    território do Iraque, que vitimou também importantes líderes iraquianos.
    A primeira resposta importante foi a decisão do Parlamento iraquiano, tomada
    neste domingo, 5, de pedir ao primeiro-ministro do país a expulsão das tropas
    estadunidenses e aliadas de seu território. Como a proposta partiu do próprio
    primeiro-ministro, não há dúvida de que será implementada, tornando-se a
    primeira vitória iraniana na contraofensiva que se anuncia.

    Ao lado dela, o Irã já anunciou, também neste domingo, que não mais se subordinará às restrições
    para enriquecimento do urânio, muito embora esteja disposto a continuar sendo
    monitorado pela Agência Internacional de Energia Atômica, vinculada à ONU.
    O país condiciona a revisão da decisão à suspensão das sanções comerciais
    lideradas pelos Estados Unidos.
    O regime iraniano, na verdade, está com um abacaxi na mão, e saber
    descascá-lo é essencial para que o país e seus aliados não sofram revezes
    ainda maiores. Não pode deixar de dar uma resposta contundente ao
    assassinato de seu líder, sob pena de se desmoralizar, não apenas na região,
    mas, sobretudo, diante de seu próprio povo. Corre o risco de, ao fazê-lo, sofrer
    novos ataques, tendo Trump já ameaçado bombardear o país, em caso de
    represália a alvos americanos.
    Trump, por sua vez, também não está em situação confortável, já que disputa a
    reeleição no fim deste ano e seu discurso populista de direita sempre
    incorporou o combate às guerras, focando nos interesses internos do país,
    como querem os seus concidadãos. O assassinato de Soleimani foi, na
    verdade, uma jogada de grande risco. Se não houver reação de impacto, sai
    fortalecido ainda mais para o pleito, somando-se sua demonstração de força à
    boa situação econômica vivida pelo país. Uma reação dura, contudo, tende a

    provocar nova ofensiva de sua parte, fugindo ao controle por ele planejado e
    com importante potencial de desgaste junto ao seu eleitorado.
    Embora não se possa prever, com o mínimo de segurança, o que acontecerá
    nos próximos dias, não é razoável supor que o Irã se absterá de novas
    medidas, em contraponto ao ataque sofrido. As possibilidades aventadas são
    múltiplas, desde a mais arriscada de todas, de atingir alvos estadunidenses na
    região, até a guerra cibernética, área em que o país vem se especializando e já
    possui força considerável, passando por ações no Estreito de Ormuz, por onde
    transitam de 30% a 40% do tráfego de petróleo do mundo, e ataques a aliados
    dos Estados Unidos, particularmente Israel.
    Um dado nesse jogo de xadrez não pode ser desconsiderado: o apoio do povo
    iraniano ao enfrentamento do país aos interesses hegemônicos
    estadunidenses.
    Os iranianos têm um grande orgulho da história de seu país, o que impulsiona
    seu espírito de defesa da soberania nacional. Este sentimento não se confunde
    com apoio ao regime teocrático que se impôs ao país com a Revolução
    Islâmica de 1979. Domina tanto os que sustentam o regime, quanto a
    crescente parcela que o rejeita e que aspira por liberdade e democracia.
    O povo iraniano quer paz, mas sabe que ela não será alcançada com a
    capitulação dos interesses nacionais, diante dos constantes ataques dos
    Estados Unidos contra o país e seus aliados na região. Defensores e
    opositores do regime se unem no combate à política hegemonista do Império.
    Além de seu espírito nacionalista, todos sofrem, no dia a dia, as consequências
    das sanções econômicas impostas ao país. A inflação e o desemprego estão
    fora de controle. As filas nas casas de câmbio não dão trégua, evidenciando o
    enfraquecimento do rial, moeda nacional, e a busca de um mínimo de
    segurança no dólar e no euro.
    Praticamente não se vê mendicância no Irã, mas as condições de vida da
    população se deterioram de maneira progressiva. O regime dos aiatolás
    manteve a política de concentração de riqueza da monarquia que substituiu,
    liderada pelo Xá Reza Pahlev, ainda que o dinheiro tenha mudado de mãos. As

    desigualdades, agravadas pela crise, potencializam o descontentamento com a
    teocracia vigente.
    A sociedade iraniana se encontra em estado de ebulição. Parte expressiva da
    população percebe claramente que o regime vem utilizando o manto religioso
    como instrumento de manipulação das consciências e de sua própria
    manutenção. As mulheres já se rebelam contra a opressão a que são
    submetidas. Já se veem, com certa frequência, manifestações públicas de
    contestação ao uso do hijab, o véu obrigatório que cobre suas faces. Os jovens
    querem liberdade. O álcool, proibido, circula com desenvoltura crescente. Muita
    gente, em contato com turistas, critica abertamente o regime, mesmo tendo a
    consciência dos cuidados necessários para não publicizar em demasia suas
    opiniões. Alguns dizem mesmo que tudo o que lhes é proibido faz a festa dos
    aiatolás, como orgias regadas a drogas e álcool.
    Tudo no Irã parece ter duas faces, uma interna, outra externa, contraditórias.
    Em suas casas, na intimidade, as pessoas se dão o direito de ser e agir
    livremente, como lhes convém; nos espaços públicos, transformam-se, por
    instinto de sobrevivência. Até mesmo a arquitetura iraniana simbolizaria esta
    dualidade: por fora, a simplicidade; por dentro, a suntuosidade, como se pode
    verificar no complexo de palácios de Reza Pahlev, transformado em museu.
    Toda transgressão é passível de prisão ou mesmo de morte, dependendo de
    quão ofensiva ao Islã é considerada. Todavia, segundo alguns iranianos, há
    muito já se percebe um certo jogo de faz de conta em relação a certas práticas.
    A proibição às bebidas alcoólicas, por exemplo, seria um pouco mais relaxada
    em Shiraz, onde a produção de vinho se iniciou em 2500 a.c. O mesmo
    aconteceria com a maconha. Em ambientes internos, mesmo públicos,
    mulheres de despem dos véus. Até o homossexualismo feminino seria
    tolerado, em alguma medida, enquanto o masculino resultaria em morte
    implacável.
    Na verdade, a mudança das mentalidades e as lutas que se travam em favor
    da modernização da sociedade acabam por ser, ainda que de forma limitada,
    absorvidas pelo regime. A política de linha dura já não se sustenta com
    facilidade. Os mais jovens querem conhecer outras possibilidades, mesmo

    sabendo de sua existência apenas pelas mídias sociais, cujas restrições ao
    acesso acabam conseguindo burlar, e por contatos com estrangeiros. Os mais
    velhos se dividem, entre os que têm saudade daquilo que identificavam como
    liberdade na época do Xá e os que se apegam aos dogmas religiosos
    supostamente encarnados pelos aiatolás.
    É fato que a mídia ocidental conseguiu demonizar o Irã perante a opinião
    pública mundial, como parte da estratégia hegemonista do Império
    estadunidense. O que ela talvez não se dê conta é de que, a despeito das
    contradições internas do país e da fratura que ocorre em seu tecido social, em
    que os anseios por mudanças profundas se contrapõem ao conservadorismo e
    à ditadura dos aiatolás, os iranianos se unem quando se trata de defender os
    interesses nacionais e de se contrapor à dominação que os Estados Unidos
    pretendem impor à região. Sabem, como ninguém, que a política externa
    estadunidense é diretamente responsável pelo surgimento de grupos como a
    Al-Qaeda e o Estado Islâmico, e que o Império navega conforme a corrente.

    O Irã está para explodir, mais dia, menos dia, por suas contradições internas.
    Onde vai parar, os próprios iranianos não se arriscam a dizer. Sabem apenas
    que a ditadura religiosa se enfraquece a cada dia e que dificilmente se
    prolongará por muito tempo. É provável, contudo, que, neste momento, os
    conflitos sejam colocados de lado, e que Estado e sociedade se unam para
    defender sua história e sua soberania. Não importa, para o povo mais
    simpático do mundo, que o inimigo seja incomparavelmente mais poderoso.
    Importa, sim, não se deixar humilhar pelo Império e seus interesses
    expansionistas.
    Que o digam as multidões nas ruas no funeral de Soleimani!

     

     

  • A Lava Jato e os objetivos dos EUA para a América Latina e o Brasil

    A Lava Jato e os objetivos dos EUA para a América Latina e o Brasil

    Embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, secretário-geral do Itamaraty (2003-2009),
    ministro de Assuntos Estratégicos (2009-2010)

    1. Os objetivos estratégicos dos Estados Unidos para a América Latina e, em especial

    para o Brasil, são importantes para compreender a política externa e interna brasileira,

    inclusive a Operação Lava Jato.

    2. A América Latina foi declarada zona de influência exclusiva de fato americana pela
    Doutrina Monroe, em mensagem do Presidente dos Estados Unidos ao Congresso
    americano, em 02/12/1823.

    3. Esta Doutrina corresponde a uma visão e convicção histórica, nos Estados Unidos, de
    direito ao exercício de uma hegemonia natural sobre a América Latina, como o
    Corolário Roosevelt, de 1904, viria a explicitar.

    4. A partir da Guerra de Independência (1775-1783) e depois da formação da União em
    1787-1789 os Estados Unidos passam a procurar excluir as potências europeias de
    seu território continental (Louisiana – 1803, Florida – 1819, Oregon – 1845, Alaska –
    1867) e a absorver esses territórios na União Americana.

    5. A expulsão pelos americanos dos povos indígenas de seus territórios originais se
    realiza com intensidade após a revogação da Proclamation Line de 1763, em
    decorrência do Tratado de Paz de Paris (1783) entre a Grã-Bretanha e a
    Confederação, que separava o território das Treze Colônias das terras indígenas além
    dos Apalaches, até o Mississipi.

    6. A influência econômica, política e militar americana sobre a América Central e os
    países do Caribe foi e é avassaladora, com intervenções e ocupações militares, por
    vezes longas, e o patrocínio de ditaduras, sanguinárias.

    7. A Guerra contra o México (1848) levou à anexação de metade do território mexicano
    e, com a chegada ao Pacífico, permitiu a consolidação do território continental dos
    Estados Unidos do Atlântico ao Pacífico.

    8. A Guerra contra a Espanha (1898) levou à ocupação de Cuba, à anexação de Porto
    Rico, das Filipinas e de Guam e afirmou os Estados Unidos como potência asiática.

    9. A “criação” do Estado do Panamá e da Zona do Canal, que foi território americano
    até 2000, permitiu a ligação marítima rápida entre a Costa Leste e a região do Golfo
    com a Costa Oeste da América do Norte, tanto comercial como militar, através do
    Canal concluído em 1914, e administrado soberanamente pelos EUA.

    10. Pelas características de sua localização geográfica, a zona estratégica mais
    importante para os Estados Unidos é o Caribe, a América Central e o norte da
    América do Sul.

    11. Os objetivos estratégicos permanentes dos Estados Unidos para a América Latina
    são:
    1. impedir que Estado ou aliança de Estados possa reduzir a influência americana na região;
    2. ampliar sua influência cultural/ideológica sobre os sistemas de comunicação de cada Estado;
    3. incorporar todas as economias da região à economia americana;
    4. desarmar os Estados da região;
    5. manter o sistema regional de coordenação e alinhamento político;
    6. impedir a presença, em especial militar, de Potências Adversárias na região;
    7. punir os Estados que contrariam os princípios da liderança hegemônica americana;
    8. impedir o desenvolvimento de indústrias autônomas em áreas avançadas;
    9. enfraquecer os Estados da região;
    10. eleger lideres políticos favoráveis aos objetivos americanos.

    12. O principal Estado da região pelas dimensões de território, de recursos naturais, de
    população, de localização geográfica é, sem dúvida, o Brasil. Principal também pelos
    desafios que apresenta devido à possibilidade de graves turbulências futuras, sociais,
    econômicas e políticas.

    13. Devido a este caráter principal, os objetivos dos Estados Unidos são objetivos para a
    América Latina em geral, porém se aplicam em especial ao Brasil.

    14. O primeiro objetivo estratégico americano é impedir a emergência e
    fortalecimento de qualquer Estado ou aliança de Estados que possam se opor à
    presença ou afetar a influência política, econômica e militar americana na região.

    15. Para alcançar este objetivo tratam os Estados Unidos de aguçar e reacender
    eventuais rivalidades (históricas ou recentes) entre os maiores Estados da região, isto
    é, entre o Brasil e a Argentina, não estimular o conhecimento de suas histórias e
    culturas, estimuladas as rivalidades através da ação de lideranças locais que buscam
    obter tratamento privilegiado para seus países junto aos Estados Unidos (Carlos
    Menem e Jair Bolsonaro são exemplos desse comportamento).

    16. O segundo objetivo americano é manter e ampliar sua presença
    cultural/ideológica nos sistemas de comunicação de cada Estado da região como
    instrumento para sua maior influência política, econômica, militar e cultural.

    17. Essa presença aumenta sua capacidade de obter melhores condições legais (fiscais e
    regulatórias) para a ação de suas megaempresas (petroleiras, por exemplo); para
    obter contratos de venda de equipamentos militares; para lograr alinhamento e
    apoio às iniciativas americanas em nível mundial; para promover a “simpatia” pelos
    Estados Unidos na sociedade local; para obter o apoio da sociedade e dos governos
    para seus objetivos estratégicos.

    18. Este objetivo tem como instrumentos a defesa da mais ampla liberdade de imprensa
    e de Internet e para a livre ação das ONGS “internacionais” e “altruístas”; dos
    programas de formação de pessoal, desde os institutos de língua aos intercâmbios; às
    bolsas de estudo; ao recrutamento de talentos; à aquisição de editoras para
    publicaçãos de livros americanos; a hegemonia na programação de cinema e de TV;
    os programas de formação de oficiais militares e lideranças políticas; e recentemente
    a aquisição de instituições de ensino, em todos os níveis.
    19. O terceiro objetivo dos Estados Unidos é incorporar todas as economias dos
    Estados da região à economia norte-americana, de forma neocolonial, no papel de
    exportadores de matérias primas e importadores de produtos industriais.
    20. Após o fracasso do projeto regional “multilateral” da ALCA, lançado em 1994 e
    encerrado em 2005 na reunião em Mar del Plata, os Estados Unidos passaram a
    promover a negociação de acordos bilaterais com cada Estado latino-americano com
    dispositivos semelhantes aos da ALCA e até aos EUA mais favoráveis. Verdade seja
    dita que o acordo de livre comércio com o Chile fora assinado em 1994 e com o
    México e o Canadá (NAFTA) também em 1994.

    21. O instrumento para alcançar este objetivo são os acordos bilaterais de livre comércio
    que levam à eliminação das tarifas aduaneiras e à abertura dos mercados dos Estados
    subdesenvolvidos nas áreas de investimentos; de compras governamentais; de
    propriedade intelectual; de serviços; de crédito e, às vezes, incluem cláusulas
    investidor-Estado.

    22. Por sua vez, os Estados subdesenvolvidos da América Latina que atingiram certo grau
    de industrialização não ganham acesso adicional aos mercados de produtos
    industriais, pois as tarifas americanas são baixas, existe a escalada tarifária e as
    medidas de defesa comercial, e o acesso a mercados agrícolas é restringido pela
    legislação agrícola, americana de subsídios e de proteção.

    23. O acordo Mercosul/União Europeia será instrumental para a abertura de mercados
    para os Estados Unidos sem ônus político pois, após sua entrada em vigor, estarão
    criadas as condições para os Estados Unidos reivindicarem ao Brasil e ao Mercosul
    igualdade de tratamento. Outros países altamente industrializados como o Japão, a
    Coréia do Sul, o Canadá e a China farão o mesmo e o Brasil não terá mais a tarifa
    como instrumento de política industrial. O Mercosul desaparecerá.

    24. O quarto objetivo estratégico dos Estados Unidos é desarmar os Estados da região.
    25. Os instrumentos para atingir este objetivo são a promoção da assinatura do Tratado
    de Não Proliferação Nuclear (TNP) e de outros tratados na área química e biológica, e
    mesmo sobre armas convencionais; a venda de equipamentos militares defasados a
    preços mais baixos e o “estrangulamento” de eventuais indústrias bélicas locais; os
    acordos de associação à OTAN; a transformação das Forças Armadas nacionais em
    forças de caráter policial, voltadas para o combate ao narcotráfico e a crimes
    transnacionais e, portanto, necessitando apenas de equipamento leve.

    26. O quinto objetivo estratégico americano é manter o sistema de segurança
    regional, a Organização dos Estados Americanos, reconhecido pela Carta da ONU,
    onde tradicionalmente os Estados Unidos podem exercer sua influência, contam com
    o auxílio do Canadá e de países da América Central e assim podem tratar das
    questões regionais sem ir ao Conselho de Segurança das Nações Unidas.

    27. Outro instrumento para alcançar este objetivo é promover a dissolução da UNASUL,
    como foro de solução de controvérsias concorrente da OEA e como organização de
    cooperação em defesa, da qual os Estados Unidos não participam.

    28. O sexto objetivo dos Estados Unidos na América do Sul consiste em impedir a
    presença de Estados adversários de sua hegemonia, e como tal nomeados pelos
    próprios EUA, quais sejam a Rússia e a China, na região latino-americana, em uma
    versão atual da Doutrina Monroe.

    29. Segundo documentos oficiais americanos recentes a “China é um poder revisionista”
    e a Rússia é um “Ator Maligno Revitalizado” (Indo-Pacific Strategic Report, do
    Pentágono).

    30. A presença russa e chinesa é especialmente temida na área militar, inclusive por
    ameaçar a Costa Sul do território americano e os acessos ao Canal do Panamá, via
    comercial e militar estratégica.

    31. Um sétimo objetivo americano, importante para demonstrar sua determinação de
    exercício de hegemonia na América Latina, é punir, dentro ou fora do sistema da
    OEA, com ou sem o apoio de outros Estados da região, aqueles governos que
    contrariarem, em maior ou menor medida, os princípios da liderança mundial
    americana:
     ter economia capitalista, aberta ao capital estrangeiro, com intervenção mínima do Estado;
     dar tratamento igual às empresas de capital nacional e estrangeiro;
     não exercer controle sobre os meios de comunicação de massa (TV etc);
     ter regime político de pluralidade partidária e eleições periódicas;
     não celebrar acordos militares com os Estados Adversários, quais sejam a Rússia e a China;
     apoiar as iniciativas dos Estados Unidos.

    32. A campanha política/econômica/midiática para promover a mudança de regime
    (regime change) de um Estado da região, isto é, para promover um golpe de Estado
    para derrubar um Governo que os Estados Unidos consideram hostil, inclusive com o
    financiamento de grupos de oposição, se desenvolve em várias etapas (que depois se
    superpõem) de denúncia do Governo “hostil” pela grande mídia regional e pela mídia
    mundial, com o auxílio da Academia, como sendo:
     autoritário;
     corrupto;
     traficante ou leniente com o tráfico de drogas;
     perseguidor de inimigos políticos;
     violador da liberdade de imprensa;
     ineficiente;
     opressor da população;
     ameaça aos vizinhos;
     ameaça à segurança americana.

    33. Um oitavo objetivo estratégico americano é impedir o desenvolvimento de
    indústrias autônomas nas áreas nuclear, espacial e de tecnologia de informação
    avançada na América Latina, e em especial no Brasil, país com as melhores condições
    para desenvolver tais indústrias.

    34. Um nono objetivo estratégico americano é enfraquecer politica e economicamente
    os Estados da região.

    35. Os instrumentos são estimular direta ou indiretamente (pela mídia) a redução do
    poder regulatório em defesa dos consumidores, da população em geral e dos
    trabalhadores, dos organismos do Estado, em especial aqueles que limitam ou
    disciplinam a ação das megacorporações multinacionais, entre as quais prevalecem as
    americanas.

    36. Outro instrumento para alcançar este objetivo é a campanha contra o Estado central
    como ineficiente e mais corrupto e autoritário, e a defesa da descentralização
    regulatória e de auto regulação dos setores pelas próprias empresas privadas.

    37. Um objetivo americano importante é enfraquecer o único organismo do Estado
    (brasileiro) que enfrenta, todos os dias, os interesses dos demais Estados nacionais,
    em especial os interesses dos Estados Unidos, de seus adversários, Rússia e China, e
    das chamadas Grandes Potências, como Inglaterra, França, Alemanha e Japão, nas
    negociações para aprovar normas internacionais que atendam seus interesses (e
    lucros).

    38. Os instrumentos para atingir este fim são denunciar a ineficiência; o corporativismo;
    o exclusivismo; o “globalismo”; a partidarização; a visão ideológica “esquerdista” da
    Chancelaria.

    39. O décimo objetivo estratégico dos Estados Unidos da América, e talvez o principal
    objetivo, é impedir a eleição de líderes políticos em cada Estado que manifestem
    restrições a seus objetivos estratégicos e promover a eleição de líderes que a eles
    sejam favoráveis.

    40.E aí entra o papel da Operação Lava Jato na defesa direta ou indireta dos
    interesses americanos.

    41. A partir da eleição, em 2002, do presidente Lula, a política interna e externa brasileira
    se contrapôs, ainda que não de forma sistemática, desafiadora ou revolucionária, a
    alguns dos objetivos estratégicos americanos:
    a. ao não apoiar a invasão do Iraque de 2003;
    b. ao estabelecer o entendimento político e econômico estreito com a Argentina;
    c. ao promover a coordenação com a Argentina, a Venezuela, o Uruguai, o Equador, a Bolívia e
    o Paraguai para a formação da UNASUL, em substituição à OEA.
    d. ao resistir à ALCA e ao fortalecer o Mercosul;
    e. ao fortalecer os instrumentos financeiros do Estado, como o BNDES, e ao utilizá-los na
    politica externa;
    f. ao fortalecer o programa nuclear;
    g. ao exercer operações de aproximação autônoma com os países africanos e árabes;
    h. ao promover a criação do BRICS, com a China e a Rússia;
    i. ao fortalecer a Petrobrás e ao estabelecer o regime de parceria para exploração do pré-sal;
    j. ao estabelecer a política de “conteúdo nacional” na indústria;
    k. ao promover a indústria de defesa brasileira;
    l. ao defender a regulamentação da mídia;
    m. ao negociar, com a Turquia, um acordo nuclear com o Irã;
    n. ao exercer o equilíbrio em suas relações com Israel e Palestina.

    42. A partir dessa nova situação nas relações Brasil-Estados Unidos e da crescente
    popularidade do presidente Lula, que terminaria em 2010 seu mandato com 87% de
    aprovação, a estratégia americana foi:
     mobilizar os meios de comunicação de massa no Brasil contra as políticas do Governo, e
    condenar sua ação através do Instituto Millenium, fundado em 2005, para dar amplo apoio à
    Operação Mensalão, que não conseguiu atingir o presidente Lula, mas que veio a atingir
    José Dirceu, chefe da Casa Civil, e provável sucessor de Lula;
     a partir do acordo de cooperação judiciária Brasil-Estados Unidos, iniciar a Operação Lava
    Jato, que viria a facilitar o alcance dos objetivos estratégicos americanos em especial 2, 8, 9 e
    10, listados no parágrafo 11 acima;
     iniciar o processo político de preparação do impeachment da presidenta Dilma Rousseff;
     financiar direta e indiretamente a formação dos grupos MBL e Vem pra Rua.

    43. O principal objetivo da Operação Lava Jato não era a luta contra a corrupção, mas, sim,
    impedir a eleição do presidente Lula em 2018. Sua ação partia das seguintes
    premissas:
     a grande maioria da população, devido à sua precária situação econômica e cultural, está
    sujeita a ser manipulada por indivíduos populistas, socialistas, comunistas etc. que fazem aos
    eleitores promessas irrealizáveis para conquistar e explorar o poder;
     a sociedade brasileira é intrinsecamente corrupta;
     todos os políticos e partidos são corruptos;
     os governos se sustentam através da corrupção e da compra de votos;
     a violação de direitos constitucionais e legais por membros do Judiciário e do Ministério
    Público se justifica para combater a corrupção.

    44. O juiz Sérgio Fernando Moro descreveu em seu artigo intitulado Mani Pulite,
    publicado em 2004 na Revista CEJ – Justiça Federal N°26, a sua decisão de violar a lei
    para combater a corrupção, em uma interpretação de que “os fins justificam os
    meios”.

    45. A “corrupção” foi enfrentada pela Operação Lava Jato, comandada por Sérgio Moro,
    juiz de primeira instância que contou com a conivência e mesmo a cooperação de
    membros dos Tribunais Superiores e da grande imprensa, para uma condução
    processual altamente heterodoxa e ilegal.

    46. A divulgação quotidiana e seletiva de ações da Lava Jato através da imprensa, em
    especial da televisão, foram essenciais para criar a convicção de que a Lava Jato teria
    “revelado” que o partido que teria promovido e se beneficiado da corrupção no
    sistema político teria sido o PT, conduzido por Luiz Inácio Lula da Silva.

    47. Formou-se um amplo movimento anti-petista e anti-Lula, e tornou-se, assim, um
    objetivo não só político, mas ético e moral, para combater a corrupção, apresentada
    como o principal mal da sociedade brasileira, impedir por todos os meios que o ex-presidente Lula pudesse se candidatar e, iludindo o povo ingênuo, ser eleito e reimplantar os mecanismos de corrupção.

    48. Assim, foi Lula condenado, sem provas, em primeira instância por Sérgio Moro e em
    segunda instância por uma turma de três desembargadores do TRF-4 (não pelo
    Tribunal pleno), desembargadores que gozam de grande familiaridade e amizade
    com Sérgio Moro, que condenaram Lula à prisão em regime fechado, para não poder
    exercer qualquer atividade política e, assim, não poder nem competir nem influir nas
    eleições de 2018.

    49. A decisão arbitrária do TRF-4 correspondeu à cassação dos direitos políticos de Lula e
    do povo brasileiro, que não pôde votar em Lula, o candidato à frente em todas as
    pesquisas de opinião.

    50. A nomeação do juiz Sérgio Moro como ministro da Justiça por Jair Bolsonaro e a
    declaração de Bolsonaro de que devia muito de sua eleição a Moro indicam o alto
    grau de ilegalidade do comportamento de Sérgio Moro e de Jair Bolsonaro e sua ação
    política.

    51. A primeira etapa para atingir o Objetivo estratégico 10 era promover o impedimento
    da presidente Dilma Rousseff, o que foi conseguido em 16/4/2016. O vice-presidente Michel Temer assumiu com um programa econômico intitulado “Ponte para o Futuro”, elaborado por economistas liberais e perfeitamente compatível com
    os objetivos estratégicos dos EUA, e que vem sendo aplicado de forma ainda mais
    radical por Paulo Guedes.

  • “Os Estados Unidos sempre procuraram separar o Brasil da Argentina”

    “Os Estados Unidos sempre procuraram separar o Brasil da Argentina”

    Por Santiago Gómez*, da Agencia Paco Urondo, especial para os Jornalistas Livres

    O governo brasileiro decidiu se envolver na política interna argentina. O presidente Jair Bolsonaro afirmou que o triunfo da chapa Alberto Fernández-Cristina Fernández de Kirchner representa risco de o país vizinho virar uma Venezuela.

    O ministro da fazenda, Paulo Guedes, que foi funcionário do governo Pinochet, declarou para imprensa que o Brasil não precisa da Argentina para crescer e que caso Argentina feche sua economia, com medidas protecionistas, o Brasil sairá do Mercosul. Agência Paco Urondo entrevistou o ex-chanceler do governo Lula, Celso Amorim, para conversar sobre as declarações dos funcionários brasileiros e o que representa para a região a vitória de Alberto Fernández nas eleições Primárias Abertas Simultâneas e Obrigatórias, nas quais são escolhidos os candidatos das diversas alianças.

    O ministro Paulo Guedes afirmou que o Brasil não precisa da Argentina para crescer. Isso é real?

    Celso Amorim: Claro que precisamos da Argentina, não só para crescer, mas para ter paz na região, para ter solidariedade na região. Tivemos momentos em que Argentina e o Brasil cresceram, mas hoje nossas economias já estão muito ligadas, há uma importância muito grande. Argentina é o maior mercado para manufaturas brasileiras. É o terceiro mercado no conjunto geral, abaixo da China e dos Estados Unidos, acima de qualquer país europeu, ou qualquer outro país, e é o principal importador de produtos manufaturados. Só por aí você vê que o que ele está dizendo é uma bobagem. Na minha opinião, desconhecimento.

    Além disso, revela uma total falta de percepção sobre o processo de integração Brasil Argentina; que é garantir a paz e a democracia na nossa região. A integração entre o Brasil e Argentina começa com os governos Sarney e Alfonsín e com o acordo na área nuclear, uma porção de coisas. A integração econômica é apenas um aspecto dessa aproximação que é vital para que nossos países possam ter tranquilidade, ter paz, os povos prosperarem. Agora, provavelmente, essa aí é a agenda dos Estados Unidos. Os Estados Unidos sempre procuraram separar o Brasil da Argentina. Pode não ter sido a agenda do Obama, até do Bush, pessoalmente, não creio, porque nós estivemos com ele várias vezes, mas é uma agenda, talvez, do que costumam chamar de Estado profundo. Muita gente nos Estados Unidos procurou nos separar.

    Isso, aliás, desde o início do governo Sarney. Eu me lembro quando a gente tinha aproximações na área de tecnologia e outras e o embaixador americano vinha dizer “mas vocês não querem incluir outros países”. O objetivo não era incluir outros países, era separar Brasil da Argentina.

    Uma coisa que chamou a atenção, foi o presidente do Brasil se envolver na política interna argentina, afirmando que caso Fernández ganhar a Argentina virará uma Venezuela. Considera que os Estados Unidos estão por trás disso?

    CA: Isso eu não sei. Bolsonaro deu uma pequena recuada, disse que vai dialogar de qualquer maneira. A maneira como Bolsonaro falou é o estilo dele. Mas como política geral de afastar o Brasil da Argentina sim é uma agenda dessas extremistas de direita que estão no governo do Trump,  tipo John Bolton [assessor de Segurança Nacional], Mike Pompeo [Secretário de Estado], sem falar do Steve Bannon que não está no governo, mas que continua agindo nessas alianças de extrema direita que estão sendo feitas.

    Guedes declarou à imprensa que caso Cristina volte ao governo e a Argentina feche sua economia, o Brasil sairá do Mercosul. Não acha muito leve fazer uma afirmação desse tipo?

    CA: Ele não teria uma visão da política, Guedes foi assessor, trabalhou no governo Pinochet. Então para ele, o fato de ser ditadura ou democracia é indiferente. Eu acho que mesmo do ponto de vista econômico é uma besteira, eu não sei que futuro terá o acordo Mercosul União Europeia nem estou defendendo o acordo, necessariamente da maneira que foi feita, mas os funcionários do ministro Guedes todos têm sido muito elogiosos e defendido muito a negociação desse acordo preliminar. O Mercosul só atraiu essa atenção porque era Mercosul, se fosse o Brasil individualmente as condições seriam muito mais difíceis porque há uma atração do fato de tratar com a região como um todo. Acho que é uma bobagem econômica, é uma ignorância até das estatísticas comerciais do Brasil com Argentina e sobretudo é uma grande leviandade e insensibilidade política para a importância da integração Brasil Argentina que é o eixo básico da integração da América do Sul. O ministro Guedes não está interessado nisso, ele só está interessado em privatizar e em acabar com tudo que é economia autenticamente nacional.

    Qual é a interpretação que o senhor faz do triunfo de Fernández nas eleições Primárias Abertas Simultâneas e Obrigatórias?

    CA: Acho para nós é uma esperança de haver uma reversão dessa onda de extrema direita que tem na região. Acho que é uma grande bobagem que foi falada a comparação entre o governo que pode vir a fazer Alberto Fernández e a Venezuela, são situações totalmente diferentes as pressões, as tentativas de golpe, os golpes efetivos que foram dados na Venezuela, que acabaram lhe criando uma situação muito mais complexa, que não é o caso da Argentina.

    Os níveis de desenvolvimento são outros, a Argentina é uma economia complexa, uma sociedade civil muito atuante que é muito diferente do que era a oligarquia venezuelana. Não estou dizendo que não se acham elementos reacionários também na Argentina, há como há em toda parte, mas não era um país dominado por uma pequena oligarquia dependente do petróleo, como era o caso da Venezuela. Então não tem comparação possível.
    Além disso, Alberto Fernández é um homem moderado, um homem de diálogo, é um homem voltado para a justiça social. Eu tive a oportunidade de estar com ele inúmeras vezes, quando ele era ministro, mas também agora, até mais proximamente, visitamos o Papa juntos. Nós estamos todos no mesmo barco, América do Sul está toda no mesmo barco, sobretudo nós os países do Mercosul e temos que lidar e tratar com carinho a democracia dos outros países porque isso também se reverte para nós. Aliás, nós sabemos que historicamente o primeiro a se redemocratizar na América do Sul foi Argentina, então vemos com muita satisfação esse triunfo, que já é praticamente garantido. Não sei se vão tentar alguma coisa, os mercados financeiros conspiratoriamente, mas acredito que isso não terá êxito. Vamos tratar o Alberto Fernández como o próximo presidente da Argentina, ter como companheira a Cristina é muito bom.

    Tudo o que eu pude ver e ouvir dele, não só quando era ministro, mas agora nas conversas com o Papa Francisco, denotam uma grande consciência política, social e também uma percepção da importância da integração sul-americana.

    * Publicado na Agencia Paco Urondo www.agenciapacourondo.com.ar

  • “Olhos que Condenam” e o mito do homem negro estuprador nos EUA

    “Olhos que Condenam” e o mito do homem negro estuprador nos EUA

    *Henrique Oliveira, especial para o Jornalistas Livres 

    A minisérie “Olhos que condenam” (When They See Us), dirigida por Ava Duvernay, a mesma diretora do filme “Selma: uma luta pela igualdade” e do documentário “13ª Emenda”, se tornou, segundo a própria Netflix, a minissérie mais assistida da plataforma nos EUA desde a sua estreia no dia 31 de maio.

    A minissérie reconstrói a história que ficou conhecida como “Central Park Five”, quando 5 jovens negros, sendo um deles de origem latina, foram presos e condenados por agredir e estuprar uma mulher branca no Central Park, em Nova York, no ano de 1989. A série, dividida em 4 episódios, conta como, sem prova alguma, a polícia e a promotoria de Nova York fizeram Kevin Richardson, Yusef Salaam, Raymon Santana, Antron McCray e Korey Wise acusarem uns aos outros e confessarem o crime após 30 horas de tortura psicológica e física, sem a presença dos pais e advogados, mesmo com a única prova material que era o DNA os inocentando.

    Na época, o atual presidente dos EUA, Donald Trump, era um magnata do mercado imobiliário e, apenas duas semanas após o fato, Trump pagou 85 mil dólares para publicar nos principais jornais da cidade, incluindo o New York Times, que os 5 jovens deveriam ser condenados a pena de morte: “Eu quero odiar esses assaltantes e assassinos. Eles devem ser forçados a sofrer e, quando matam, devem ser executados por seus crimes. Eles devem servir como exemplos para que os outros pensem muito antes de cometer um crime ou um ato de violência ”.

    Em uma entrevista recente, Yusef Salaam disse que Donald Trump foi responsável por atiçar a ira pública contra eles, o número do telefone e os endereços de todos os 5 jovens foram publicados nos jornais, criando um clima de terror coletivo. No último dia 18, durante uma coletiva de imprensa, quando perguntado sobre o caso trazido de volta pela minissérie, Donald Trump duvidou da inocência dos 5 ex condenados e falou que não pediria desculpas pelos artigos na imprensa pedindo pena de morte.

    Apesar da Netflix não divulgar os números da sua audiência, é bastante crível que a minissérie teve um grande alcance pois gerou repercussão política real. Uma das promotoras do caso, Elizabeth Lederer, foi acusada de racismo pelos alunos da Associação dos Estudantes Negros de Direito, na Universidade de Columbia, e acabou renunciando ao seu cargo no dia 12. A promotora Linda Fairstein abandonou um cargo que ocupava na ONG Safe Horizon, que ajuda vítimas de abusos e crimes violentos em Nova York. Segundo o site TMZ, os funcionários ficaram indignados com o fato da promotora ter permanecido no conselho de uma organização para minorias por todo esse tempo. Em sua defesa, Linda Fairstein escreveu um artigo no The Wall Street Journal dizendo que a minissérie contava uma “história falsa”, que mesmo concordando com a inocência da acusação de estupro, ela ainda duvidava da inocência dos 5 homens em outros delitos e no próprio ataque a Trisha Meili.

    Em 2002, o verdadeiro estuprador, Matías Reyes, confessou o crime que foi comprovado por meio do exame de DNA e os 5 foram inocentados. Em 2014, o estado de Nova York pagou uma indenização de 41 milhões de dólares (cerca de 160 milhões de reais), mas existem coisas que o dinheiro não paga e não recompensa. Os condenados tinham na época entre 14 e 16 anos de idade, entraram na cadeia adolescentes e saíram de lá homens, alguns deles, como mostra o seriado, sofreram violência física e psicológica dentro do sistema prisional.

    Em entrevista a apresentadora Oprah Winfrey, eles disseram que a minissérie trouxe alívio e dor também. É o caso de Antron McCray, que falou como a condenação destruiu a sua relação com o pai. Para quem já assistiu, o pai de Antron fez com que seu filho confessasse o crime, acreditando que a polícia o liberaria. Quando perguntado se havia perdoado o pai, Antron respondeu: “Eu o odeio. Minha vida está arruinada”.

    Yusef Salaam, Raymon Santana, Korey Wise, Anton McCray e Kevin Richardson (esquerda para direita) tinham entre 14 e 16 anos quando foram condenados pela justiça de Nova York. Foto: Getty Images

    O mito do homem negro estuprador nos EUA

    O caso do Central Park faz parte de um processo histórico nos EUA que envolve o racismo e o sexismo numa construção racista sobre o que seria a masculinidade negra. Angela Davis, no livro “Mulheres, raça e classe”, dedica um dos capítulos a questão do racismo e o mito do homem negro estuprador.

    Segundo Angela Davis, nos EUA, as leis contra o estupro foram elaboradas para proteger homens das classes mais altas cujas filhas e esposas corriam riscos de serem agredidas. O que acontecia com uma mulher da classe trabalhadora em geral tinha uma preocupação menor por parte dos tribunais e eram poucos os homens brancos processados por violência sexual. A acusação de estupro tem sido usada de forma indiscriminada e dirigida aos homens negros, sejam eles culpados ou inocentes. Entre 1930 e 1967, dos 455 homens condenados por estupro que foram executados, 405 eram negros.

    Na história dos EUA, a acusação fraudulenta de estupro é um dos mecanismos impiedosos criados pelo racismo. O mito do homem negro estuprador era invocado para justificar ondas de terror e violência contra a comunidade negra. A imagem fictícia do homem negro estuprador servia ao mesmo tempo para fortalecer a imagem da mulher negra promíscua, uma vez que a noção que os homens negros trazem consigo a compulsões sexuais incontroláveis e animalescas, toda a raça é investida de bestialidade. Se os homens negros voltam os olhos para as mulheres brancas como objeto sexual, então as mulheres negras deveriam aceitar o assédio sexual dos homens brancos.

    Durante a escravidão, o açoitamento e o estupro eram os principais métodos para manter tanto os homens e as mulheres negras escravizados sob controle. Enquanto houve escravidão nos EUA, não existia no imaginário branco racista a figura do homem negro estuprador, com o fim da escravidão esse mito veio a tona, e mesmo sendo descrito como mito, não podemos tratá-lo dentro de uma leitura estritamente irracional, mas sim como uma invenção política.

    Os linchamentos até então eram promovidos para fins “preventivos”, pois pairava entre a população branca do Sul dos EUA teorias conspiratórias sobre uma suposta supremacia negra e confabulações de rebeliões e revoltas. Com o passar do tempo, no pós abolição, os linchamentos ganharam uma nova forma, agora, linchar negros até a morte era um mecanismo para proteger as mulheres brancas. Embora a maioria dos linchamentos não envolvessem acusações de estupros, a queixa racista de estupro se tornou uma explicação comum e eficaz.

    Daniel dos Santos, no livro “Como fabricar um gangsta”, aborda como a produção imagética de homens negros hiperssexuais, potentes e com pênis grande geravam um sentimento aterrorizante e ameaçador, que funcionava como dispositivo para impedir a miscigenação e a suposta degeneração racial temida pela população branca. A proibição de casamentos inter raciais foram uma das primeiras medidas também aprovadas na instauração do regime apartheid na África do Sul, por exemplo. Porém, Daniel nos diz que a supermasculinidade utilizada para animalizar os homens negros era instrumento de inveja e fascínio do homem branco. A violência contra homens negros servia também como válvula de escape do sentimento de inferioridade sexual que os homens brancos não aceitavam que poderia existir.

    Ainda segundo Angela Davis, em um estudo publicado pela Comissão Sulista para os Estudos sobre Linchamentos, em 1931, relevou-se que, entre 1889 e 1929, apenas um sexto das vítimas de linchamento haviam sido realmente acusadas de estupro, 37% foram acusadas de assassinatos, 16% por estupro e 6,7% por tentativa de estupro. O papel do linchamento também era impedir a igualdade racial. Qualquer pessoa negra que desafiasse a hierarquia racial estabelecida era vista como potencial alvo das gangues de linchadores.

    Um dos casos mais famosos de linchamento de pessoas negras nos EUA, por causa de uma acusação falsa de assédio a uma mulher branca é o de Emmett Till, que foi sequestrado e linchado em 1955, no Mississippi. Emmett Till, 14 anos, morava num bairro da classe trabalhadora em Chicago, viajou para o Mississippi, estado com segregação racial baseada na lei, para visitar familiares. No dia 24 de agosto, Till estava do lado de fora de uma loja com seus primos e amigos, ao dizer que tinha uma noiva branca onde morava, Till foi desafiado a falar com Carolyn Donham, uma balconista branca. Ao ver a mulher sair da loja, Emmett Till deu uma assobiada para ela.

    Ao saber do fato, Roy Bryant, o marido da balconista juntamente com seu irmão J.W. Milam, depois de quatro dias, sequestraram Emmett Till, bateram tanto nele que o olho pulou para fora do rosto, depois deram um tiro na sua cabeça e jogaram o corpo no rio. Roy e o irmão foram levados a julgamento, mas foram absolvidos do crime de homicídio por um corpo de jurados formados por brancos. No ano passado, após 63 anos, o caso Emmett Tiil foi reaberto, devido ao surgimento de uma nova informação, que pode está relacionada com a falsa acusação de assédio descrita por Carolyn Donham no tribunal.

    Se quiserem assistir um filme, que também trabalha com o mito do homem negro estuprador, indico que assistam Marshall: Igualdade e Justiça, em que Chadwick Boseman (pantera negra), interpreta Thurgood Marshall, o primeiro homem negro a se tornar juiz na Corte Suprema Americana, mas que antes atuou como advogado para defender Josepho Spell, na acusação de ter atacado uma socialite branca em seu quarto.

    Na visão de Angela Davis, o estupro é um dos sintomas mais evidentes de desintegração social. A estratégia do movimento contra o estupro deve ser também a luta contra o racismo. Em sua análise, a violência sexual é uma das facetas de uma profunda crise do capitalismo. Como lado violento do sexismo, a ameaça do estupro persistirá enquanto a opressão generalizada contra as mulheres continuar a ser uma muleta essencial para o capitalismo.

    * Henrique Oliveira é historiador.

  • Intelectuais brasileiros escrevem carta aberta contra intervenção na Venezuela

    Intelectuais brasileiros escrevem carta aberta contra intervenção na Venezuela

    Professores e intelectuais brasileiros ligados a universidades estaduais e federais divulgaram, neste sábado (23), uma carta aberta contra a intervenção dos Estados Unidos na Venezuela. O manifesto também pode ser assinado por outras pessoas (https://peticaopublica.com.br/pview.aspx?pi=BR110834).

    Está marcada para este fim de semana a chegada de comboios americanos ao país que, segundo o governo dos EUA e Juan Guaidó – opositor de Nicolás Maduro reconhecido como presidente interino da Venezuela por Brasil, EUA e outros países – traria comida e medicamentos.

    O governo de Caracas, no entanto, assim como China e Rússia, acreditam que o movimento seja um disfarce para uma intervenção estrangeira. “Trump só quer as riquezas de Venezuela, nosso petróleo, ouro e diamantes”, disse Maduro.
    Na quinta (21), Maduro ordenou o fechamento das fronteiras da Venezuela e, um dia depois, ao menos duas pessoas morreram em confronto com a polícia em Kumarakapay.

    Leia, abaixo, a carta na íntegra:

    Contra a intervenção na Venezuela

    Carta aberta à sociedade brasileira

    Cidadãos brasileiros assistimos, preocupados, a escalada de conflitos contra a vizinha Venezuela, a que, para nossa maior consternação, adere o Brasil governado por J.Bolsonaro.

    Trata-se de momento extremamente perigoso, em que a paz, tão duradoura no sub-continente, se encontra ameaçada pelo governo de D.Trump nos Estados Unidos. A intervenção norte-americana ora se traveste de ajuda humanitária, incluindo a linha seca Pacaraima/Santa Elena entre seus possíveis corredores. Não será demasiado lembrar que instituições concernidas e respeitáveis, tais como a Unesco e a Cruz Vermelha, se recusaram a participar de tal ajuda, apontando o fato básico de que ajuda humanitária se define, sempre, por sua neutralidade e desinteresse, aspectos inexistentes na presente iniciativa norte-americana. Houvesse um grão de verdade nas alegações intervencionistas quanto à crise humanitária na Venezuela, seria de se esperar que os Estados Unidos levantassem o embargo que impuseram àquele país – embargo que responde, em larga medida, à crise em pauta. Como apontam especialistas, sob o pretexto de defesa da democracia – jamais aplicado à Arábia Saudita e a outros aliados fornecedores de petróleo – , os Estados Unidos pretendem avançar sobre a região, em busca do controle de enormes reservas de petróleo.

    Não podemos nos calar diante desta violência, cujos efeitos serão catastróficos para a região. Todos aqueles que conhecem a fronteira Venezuela- Brasil podem testemunhar sua diversidade étnica, sua riqueza cultural, seu delicado ecossistema – feito do encontro único da floresta tropical com a savana –, declarado patrimônio da humanidade pela Unesco. A pequena cidade de Pacaraima, encravada na Terra Indígena São Marcos, é geminada à cidade venezuelana de Santa Elena do Uairén, constituindo um espaço integrado, de intensa mobilidade de pessoas e de circulação de bens – a população, indígena ou não, mantém estreitos vínculos de parentesco, trabalho e residência, de ambos os lados da fronteira. Não podemos permitir que tudo isso seja devastado pelo cálculo e pela arrogância de uma intervenção armada.

    Conclamamos, assim, as forças democráticas na sociedade brasileira a que, efetivamente, se manifestem contra a intervenção armada na Venezuela e, em particular, contra o envolvimento brasileiro nessa desventurada iniciativa, de modo a honrar a tradição pacifista e não-intervencionista do país, inscrita em sua Constituição.

    Declarando toda nossa solidariedade ao povo venezuelano, assinamos:

    Alfredo Clodomir Rolins de Souza, historiador
    Amanda Karoline Vinhort Alves, graduanda em História
    Amnéris Maroni, psicanalista
    André Augusto da Fonseca, historiador
    Andréia Galvão, cientista política
    Ângela Maria Cavalcante Souto, historiadora
    Armando Boito Jr, cientista político
    Associação Nacional de História (ANPUH), seção Roraima
    Bela Feldman-Bianco, antropóloga
    Carla Monteiro de Souza, historiadora
    Centro Acadêmico de História da UERR
    Centro Acadêmico de História da UFRR
    Cleane de Souza Feitosa Schwenck, assistente social
    Comitê Estadual em Defesa da Escola Pública de Roraima
    Cristhian Teófilo da Silva, antropólogo
    Eduardo Caetano da Silva, antropólogo
    Eduardo Gomes da Silva Filho, historiador
    Elaine Moreira, antropóloga
    Eliaquim Timóteo da Cunha, antropólogo
    Emanuel Rabelo, historiador
    Enzo Lauriola, economista
    Érica Marques, advogada
    Fabiano Galetti Faleiros, sociólogo
    Francisco Marcos Mendes Nogueira, historiador
    Gabriel Cambraia Neiva, crítico literário
    Geraldo Andrello, antropólogo
    Gilberto Azanha, antropólogo
    Giuliana Milena C.Araújo, publicitária
    Grupo de Estudos Migratórios na Amazônia (GEMA)
    Herika Fabíola Barros de Souza Oliveira do Valle, historiadora
    Hsteffany Pereira Muniz Araújo, historiadora
    Inara do Nascimento Tavares, antropóloga
    Ítala Maria Lofredo D’Ottaviano, matemática
    João Quartim de Moraes, filósofo
    Kézia da Costa Lima, historiadora
    Larissa Coelho, fundadora da Associação Bolsa de Valores Humanos
    Leila Maria Camargo, cientista social e pedagoga
    Leonardo Rossato Queiroz, cientista social
    Lisa Katharina Grund, antropóloga
    Lucas Endrigo Brunozi Avelar, historiador
    Luiz Maito Jr, historiador
    Luiz Marques Filho, historiador
    Marcelo Phaiffer, pedagogo
    Maria Elisa Ladeira, antropóloga
    Maria Inês Ladeira, antropóloga
    Mariana Castilho, geógrafa
    Mariza Barbosa Araújo, antropóloga
    Mauro William Barbosa de Almeida, antropólogo
    Michael Ganan, tradutor-intérprete
    Nádia Farage, antropóloga
    Paula Marcelino, socióloga
    Paulo Santilli, antropólogo
    Paulo Thadeu Franco das Neves, jornalista
    Raimundo Nonato Gomes dos Santos, historiador
    Sandra Moraes da Silva Cardozo, professora
    Sávio Cavalcante, sociólogo
    Sidney Chalhoub, historiador
    Sindicato Nacional dos Trabalhadores em Fundações Públicas Federais de Geografia e Estatísticas (ASSIBGE) – Núcleo Sindical de Roraima
    Suely de Oliveira Marques, economista e pedagoga
    Volnei Garrafa, diretor da Cátedra Unesco em Bioética, UnB