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  • A volta dos que não foram – Brasil redescobre os fascistas

    A volta dos que não foram – Brasil redescobre os fascistas

    Por Vinicius Souza e Maria Eugênia Sá – www.mediaquatro.com – especial para os Jornalistas Livres

    A mídia hegemônica e as redes sociais se espantaram essa semana ao “descobrir” que os fascistas brasileiros perderam totalmente a vergonha e resolveram mostrar suas atitudes e símbolos à luz do sol, em espaço público. Primeiro foi a retirada pela PM de uma faixa da torcida antifascista do Botafogo.

    Foto: reprodução Instagram

    Depois alguém flagrou um homem de meia idade sentado tranquilamente num bar de Unaí, Minas Gerais, com uma braçadeira de suástica nazista sobre a manga da camisa.

    Foto: reprodução Instagram

    E, finalmente, reportagem do tradicional jornal paulistano O Estado de São Paulo mostra que os Integralistas, versão brasileira do nazismo nos anos 1930, estão de volta à atividade em plena luz do dia.

    Captura de tela do site gratuito Press Reader de foto Hélvio Romero / Estadão – Fonte: https://www.pressreader.com/brazil/o-estado-de-s-paulo/20191215/283205855157928

    Para nós, que sempre fomos antifascistas e cobrimos as manifestações de rua no Brasil antes de virar modinha com as Jornadas de Junho de 2013, temos visto isso, fotografado, registrado, reportado e tentado alertar a esquerda, que infelizmente se achava invencível na política institucional e aparentemente até hoje não conseguiu se rearticular para barrar o processo de fascismo galopante que vivemos, e não somente no Brasil. 

    Barrar o fascismo é fundamental. Nem mesmo as ideologias de centro-direita, nem o liberalismo clássico podem fazer frente a um regime fascista, como explica nessa palestra em inglês o pesquisador Jason Stanley, escritor do livro Como o fascismo funciona: A política do “nós” e “eles” (um bom resumo didático em português pode ser visto no Meteoro.Doc, inclusive fazendo as referências corretas com o Brasil de Bolsonaro citado três vezes na palestra).

    Abaixo, reproduzimos na íntegra a reportagem de março de 2014 publicada originariamente no site Brasil+40 sobre a dita Marcha Com Deus e a Família Pela Liberdade, que além dos integralistas e “segurança” de supremacistas brancos, trazia TODOS os grupos e mesmo slogans em faixas que apareceriam em todas as TVs, revistas e jornais do Brasil a partir de março de 2015 na campanha pelo Golpe contra Dilma Roussef e depois no apoio a Bolsonaro.

    Não digam que não avisamos!

     

    A VOLTA DOS QUE NÃO FORAM

    Reedição da Marcha com Deus e a Família pede o retorno dos militares ao poder ignorando que a mentalidade militarista nunca deixou a polícia, os presídios ou a periferia

    Com o golpe de 2016, de fato consequiram “seu” país de volta. Essa e todas as fotos seguintes: Vinicius Souza e Maria Eugênia Sá – www.mediaquatro.com

    Quando skinheads, integralistas, fanáticos religiosos e saudosistas do regime militar conclamam nas redes sociais a população brasileira a cerrar fileiras contra um golpe comunista e/ou gaysista (acuma?), a censura na internet (Marco Civil), os perigos à liberdade de expressão (dos discursos de ódio de “jornalistas” como a Rachel Sheherazade), a vinda de guerrilheiros/escravos disfarçados de médicos (de Cuba), as urnas eletrônicas (que fraudariam as eleições que eles não conseguiram ganhar) etc, a coisa pode até parecer piada ou alucinação. Mas quando mais de mil passeiam pelo centro de São Paulo gritando esses slogans e agredindo quem se coloca contra isso, aí já é vandalismo!

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    Brincadeiras à parte, o número de pessoas que saíram de suas cavernas e detrás das telas de computador onde estão relativamente protegidas para destilar toda sua falta de informação real e preconceito infelizmente não foi insignificante, como alguns jornais publicaram. Ao contrário disso, o fato de colocarem suas “ideias” na rua, de cara limpa, com propostas absurdas mas factíveis (como sempre diz a Professora Malena Contrera, os psicopatas são perfeitamente lógicos e coerentes em sua loucura) é muito significativo do momento que o Brasil e o mundo atravessam, além de ser resultado do processo histórico que vivemos entre 1964 e 1985, e no assim chamado período da redemocratização.

    Diferente de outros países como Chile e Argentina, onde os crimes das ditaduras foram abertos por comissões da verdade e os criminosos acusados, condenados e presos, no Brasil a Lei da Anistia de 1979 (recentemente reafirmada como juridicamente válida pelo STF, apesar dos acordos internacionais em contrário assinados pelo país e da Constituição de 1988) tem garantido a impunidade e preservado a identidade de torturadores e assassinos fardados, além de seus comparsas civis.

    Manifestante traz na camiseta o símbolo do DOPS - Departamento da Ordem Política e Social, usado durante da ditadura para perseguir, torturar e matar dissidentes

    Manifestante traz na camiseta o símbolo do DOPS – Departamento da Ordem Política e Social, usado durante da ditadura para perseguir, torturar e matar dissidentes

    Depois dos períodos ditatoriais no continente, presidentes envolvidos em grandes negociatas e esquemas de corrupção nas privatizações do ciclo neoliberal no Peru, Bolívia e Venezuela também foram julgados e detidos ou estão foragidos nos Estados Unidos. Por aqui, Sarney e Collor seguem sendo eleitos para o Senado e FHC não teme ser investigado pela venda por preço irrisório da maior empresa mineradora do mundo (a Vale), nem pelo sistema telefônico nacional e muito menos pela compra de votos para sua reeleição ou a brutal desvalorização do Real no segundo mandato que derrubou a menos da metade o valor das estatais vendidas.

    O CCC nos anos 1960 e 70 era o Comando de Caça aos Comunistas. Hoje dizem querer caçar corruptos mas atribuem a corrupção apenas à comunista Dilma

    O CCC nos anos 1960 e 70 era o Comando de Caça aos Comunistas. Hoje dizem querer caçar corruptos mas atribuem a corrupção apenas à comunista Dilma

    Para quem quiser conhecer a verdadeira origem da insegurança pública, da impunidade e da falta de qualidade nos sistemas públicos de saúde e educação no Brasil, um bom começo é estudar o que há disponível de história, antes que os revisionistas mudem os fatos, da ditadura civil-militar. Sim, civil! Afinal, jamais os militares teriam tomado o poder se não fosse o dinheiro grosso investido pelos Estados Unidos e por empresários nacionais no desmonte de serviços altamente lucrativos hoje como segurança, educação e saúde.

    Religião, civis, militares, ideologia e mídia em uma única foto

    Religião, civis, militares, ideologia e mídia em uma única foto

    Do mesmo modo, a violência no campo e o inchaço das periferias certamente seriam menores se as reformas de base, como a reforma agrária, propostas pelo PTB de João Goulart em 1961, não tivessem sido abortadas pelo golpe.

    Na linha de frente da marcha à ré, os skinheads

    Na linha de frente da marcha à ré, os skinheads

    Quem empunhou as cores da bandeira nacional no último sábado 22 de Março,via de regra, são aqueles que se beneficiaram e ainda se beneficiam dos frutos de 1964, enquanto a maior parte da população padece de uma herança maldita ainda presente na impunidade cotidiana de torturadores e assassinos pagos com os impostos de todos para manter os pobres longe da velha classe média e garantir o direito à propriedade de grandes latifundiários e especuladores, mesmo que sejam escravistas ou grileiros.

    Um dos únicos detidos na marcha. A polícia não informou o motivo.

    Um dos únicos detidos na marcha. A polícia não informou o motivo.

    Afinal, quem são os heróis, saudados aos gritos nas ruas, numa corporação militar que matou 111 presos em 1992, assassinou mais de 600 em 48 horas nas periferias em 2006, desalojou com bombas 1.600 famílias no Pinheirinho em 2012 e agrediu e deteve de forma totalmente ilegal mais de 800 manifestantes e jornalistas entre junho de 2013 e março de 2014, pra falar só de São Paulo? Pior, o que cada uma dessas ações recentes resultou em termos de melhorias na segurança, educação ou saúde?

    Segurança reforçada "do nosso lado" , como dizia o panfleto de convocação da marcha.

    Segurança reforçada “do nosso lado” , como dizia o panfleto de convocação da marcha.

    Prós versus Contras

    Importante lembrar, contudo, que protestos civis questionando o atual modelo de democracia representativa refém dos grandes capitais, como temos visto desde junho passado, não são exclusividade do Brasil. Mas, distintamente dos que pregam maior repressão aos movimentos populares, os jovens nas ruas de todo o mundo ainda não conseguem apontar um caminho para a sociedade e o resultado final é a participação cada vez menor nos processos eleitorais. Não é à toa que os reacionários, sem número para se contrapor à maioria da população, bombardeiam os programas sociais ao mesmo tempo em que pedem o fim do voto obrigatório. Na Espanha dos “indignados”, onde mais de um milhão foram às ruas contra as medidas de austeridade no último fim de semana, os franquistas voltaram ao poder há dois anos também por causa de uma abstenção recorde de 46%. Na Grécia, os neonazistas não ganharam por pouco (diferente dos adeptos ucranianos que tomaram o poder à força e com apoio estadunidense) e na França o partido de extrema-direita acaba de ganhar as eleições municipais no mesmo esquema de poucos votos, falta de organização e desânimo das esquerdas.

    Se Deus foi, não dá pra dizer, mas representantes da igreja, com certeza

    Se Deus foi, não dá pra dizer, mas representantes da igreja, com certeza

    Por aqui, tirando vitórias pontuais de movimentos específicos, como o MPL que conseguiu barrar o aumento das tarifas de transporte em várias cidades, a maior parte dos protestos mais à esquerda não trazem propostas afirmativas, apenas negativas. A própria manifestação de contraponto à Marcha de sábado trazia o título de ANTIfascista e apesar de reunir mais gente teve, obviamente, repercussão menor. Da mesma forma, o movimento mais forte nas ruas esse ano traz em destaque a expressão NÃO vai ter Copa. A outra parte do slogan (sem direitos) quase não aparece. Uma pergunta simples, pragmaticamente falando, o que tem mais chance de se concretizar no curto prazo: a redução da maioridade penal ou o cancelamento da Copa do Mundo?

    Civis e militares juntos por uma nova intervenção "constitucional"

    Civis e militares juntos por uma nova intervenção “constitucional”

    Fundamental ressaltar, também, que é muito mais fácil criminalizar manifestantes mascarados, especialmente os adeptos da tática Black Bloc, e acusá-los na mídia de extrema violência (ainda mais depois da morte do jornalista Santiago Ilídio Andrade no Rio de Janeiro) do que apontar, dentro da PM e dos governos, os responsáveis pelas agressões a pessoas (e não a vidraças), mutilações e mortes na brutal repressão às manifestações. Não podemos esquecer, por exemplo, que NINGUÉM está respondendo processo pela perda do olho do fotógrafo Sérgio Silva em 13 de junho de 2013, enquanto a morte de Santiago foi esclarecida em menos de uma semana.

    A campanha contra o Marco Civil da Internet, chamada de censura pelos manifestantes, não conseguiu impedir sua aprovação na Câmara

    A campanha contra o Marco Civil da Internet, chamada de censura pelos manifestantes, não conseguiu impedir sua aprovação na Câmara

    Se queremos um avanço real na sociedade e não a volta da ditadura, devemos olhar com atenção quais táticas trazem resultados de fato, quais nos levam a ficarmos reféns da violência para conseguir visibilidade e o que significa essa armadilha. É preciso observar a ação dos grupos que conseguem passar sua visão de mundo nos meios de comunicação em massa, inclusive os reacionários, quem os apóia e quais os interesses não revelados por trás deles. Temos de desconfiar da cobertura da grande imprensa, mas criar formas de diálogo e de influenciar e influir nos seus fluxos. E, finalmente, temos de desenvolver as alternativas factíveis para os modelos atuais que sejam mais democráticos e justos para o conjunto da população e especialmente os mais vulneráveis e historicamente prejudicados. A rua é de todos que têm coragem de ocupá-las. Mas as vitórias políticas são de quem tem plano e estratégia para conquistá-las.

    A população realmente marginalizada não tava nem aí pra marcha

    A população realmente marginalizada não tava nem aí pra marcha

  • Domingo de eleições aumenta isolamento de Bolsonaro na América do Sul

    Domingo de eleições aumenta isolamento de Bolsonaro na América do Sul

    Com eleições presidenciais em Argentina e Uruguai e eleições regionais na Colombia, o último domingo (27) foi decisivo para o futuro político da América do Sul. Em disputa, estiveram representantes da recente “onda azul”, que reconduziu a direita ao poder em diversos países na região, representantes dos governos progressistas que prevaleceram nos primeiros anos 2000 e alguns movimentos de renovação política.

    Na Argentina, principal parceiro econômico do Brasil no continente, o presidente Maurício Macri, da conservadora Juntos pela Mudança, assistiu a uma ampla rejeição de suas políticas neoliberais e de sua guinada à direita ao estilo bolsonarista durante a campanha, quando defendeu jargões como a “família tradicional” e abusou da denúncia de um “perigo vermelho” para enfraquecer seus adversários. Com mais de 95% das urnas apuradas, já era certo que ele tinha perdido a eleição em primeiro turno por uma diferença de 8 pontos para Alberto Fernandez, o ex-chefe de gabinete da ex-presidenta Cristina Kirchner, que também voltará ao poder na condição de vice-presidenta pelo partido peronista. Das 23 províncias do país, Macri só não perdeu em 5. Sendo que uma de suas derrotas foi na província de Buenos Aires, a mais populosa do país, onde a governadora Eugenia Vidal foi amplamente preterida pelo ex-ministro da fazenda de Cristina, Axel Kicilof.

    Em seu discurso da vitória, Alberto Fernandez defendeu a adoção de políticas econômicas que priorizem a geração de empregos e, ainda, pediu pela libertação de Lula.

    No Uruguai, outro membro do Mercosul que votou para presidente, Daniel Martínez, da Frente Ampla, o partido do ex-presidente Pepe Mujica, também teve cerca de 40% dos votos, largando bem a frente do direitista Luis Lacalle Pou, que teve 28%. Os dois agora disputarão um segundo turno onde serão decisivos os votos dos demais candidatos. Um dos destaques foi a boa performance da frente esquerdista na capital Montevideo, que concentra boa parte da população uruguaia, em contraste com boas votações dos opositores nas áreas mais rurais do país.

    Na Colômbia, depois de cerca de 1 ano e meio das eleições presidenciais que terminaram com a vitória de Ivan Duque, aliado do ex-presidente Alvaro Uribe, representantes da direita de linha dura, a oposição ganhou espaço e venceu nas três principais cidades, Bogotá, Medelín e Cali. Na capital, cuja adminsitração é considerada a segunda mais importante no país, seguida do cargo de presidente, a centro-esquerdista Claudia López, da Aliança Verde, fez história ao se tornar a primeira mulher eleita para o cargo e a primeira pessoa assumidamente LGBT. Sua sigla agora é considerada a principal opositora do presidente, que no geral amargou derrotas em quase todos os departamentos do país. Outro destaque foi a eleição do primeiro ex-guerrilheiro das FARC, Guillermo Torres, conhecido como Julián Conrado, na cidade de Turbaco (Bolívar).

    Os resultados evidenciam o isolamento do presidente brasileiro Jair Bolsonaro, que chegou a dar declarações hostis contra o peronismo, na Argentina, e que agora assiste líderes que adotam políticas econômicas como as suas sofrerem duras derrotas. Até em países onde a direita continua no poder, como é o caso do Chile e da Colômbia, os mandatários têm procurado manter distância de Bolsonaro, que é reconhecido pelos eleitores locais como um extremista que gerou resultados pífios na economia e rápida deterioração de indicadores sociais. As recentes declarações que deu com simpatia pelas ditaduras de Alfredo Strossner e Augusto Pinhochet, em Paraguai e Chile, também contribuíram para péssima imagem na região, causando enorme constrangimento nesses países onde não há espaço para defesa dos regimes militares.

    Se confirmado o favoritismo de Martínez, no Uruguai, Bolsonaro passará a estar obrigado a conviver com um Mercosul majoritariamente de esquerda e que reconhece Lula como um preso político e, no geral, com uma América do Sul em que nem mesmo a direita deseja fazer fotografias e ter seus partidos associados a seu nome.

    Rodrigo Veloso – Bacharel em Relações Internacionais e militante da esquerda fluminense

  • Battisti: Evo Morales se comportou como um capacho do fascismo italiano e brasileiro

    Battisti: Evo Morales se comportou como um capacho do fascismo italiano e brasileiro

    Evo Morales entregou Cesare Battisti como um troféu para a extrema direita italiana e brasileira, representada por Matteo Salvini, vice-primeiro-ministro italiano, e Jair Bolsonaro, fingindo que não sabia da solicitação que o militante e escritor fez para ser reconhecido como refugiado, em 18 de dezembro, e que o Ministério das Relações Exteriores boliviano carimbou como “recebida” às 12h35 do dia 21 de dezembro.

    Evo Morales contrariou a orientação do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), que garante aos solicitantes de refúgio a proteção contra a devolução durante todo o período de reconhecimento da condição de refugiado (conforme artigo 33 da Convenção de 1951 e pelo direito internacional consuetudinário). Ou seja, a Bolívia de Evo Morales não poderia extraditar um solicitante de refúgio (Cesare Battisti) ao seu país de origem enquanto seu pedido de reconhecimento da condição de refugiado estivesse sendo considerado, inclusive durante a etapa de apelação.

    Evo Morales atropelou o próprio Evo Morales que, no Palácio de Governo da cidade de La Paz, no dia 19 de dezembro de 2012, regulamentou a Lei nº 251, de proteção a pessoas refugiadas e o Decreto Supremo nº 1440.

    Lei de proteção aos refugiados, de 2012, assinada pelo próprio presidente Evo Morales Ayma

    Tudo se torna pior porque a captura de Cesare Battisti aconteceu quando ele já entregara sua vida e liberdade nas mãos das autoridades bolivianas, às quais deu conhecimento sobre seu paradeiro, inclusive dispondo-se a encontro com “local, data e hora” a serem combinados. Legal e moralmente, as autoridades bolivianas tornaram-se responsáveis por sua vida e liberdade até o julgamento final da solicitação do status de refugiado. São, por isso, também responsáveis por sua prisão!

    Fidel Castro dizia que “um revolucionário pode perder tudo: a família, a liberdade, até a vida. Menos a moral”. Evo Morales versão 2018-9 já dera sinais preocupantes sobre sua moral, quando veio à posse de Jair Bolsonaro em 1º de janeiro, a quem tratou como “irmão”, mesmo sabendo do ódio mortal do presidente brasileiro aos índios, aos petistas, a Lula. Entregar Cesare Battisti, a despeito de tudo, talvez seja a culminância da traição à própria história do primeiro indígena presidente na América Latina desde o mexicano Benito Juárez, em 1872. Mais uma tragédia para a esquerda latino-americana.

    Leia mais sobre Cesare Battisti e a injustiça de sua prisão aqui

    Leia o documento que Cesare Battisti enviou para a Chancelaria boliviana, solicitando o reconhecimento como refugiado. Veja o carimbo do recebimento, no canto superior direito.

     

     

  • Freixo enfrenta dificuldade para unificar oposição

    Freixo enfrenta dificuldade para unificar oposição

    A disputa pela presidência da Câmara dos Deputados está fervendo nos bastidores. Com Rodrigo Maia (DEM-RJ) tentando a reeleição, Marcelo Freixo (PSOL-RJ) tem trabalhado para unificar o campo democrático em torno da sua candidatura. Segundo lideranças de esquerda ouvidas pela reportagem dos Jornalistas Livres, a unidade pretendida por Freixo está longe de acontecer. PT, PCdoB, PSB e PDT estariam mais dispostos a lançar outra candidatura do que se juntar em torno do nome de Freixo.

    Ainda sem bater o martelo, a maioria dos deputados que estão compondo o bloco formado por PSB, PDT e PCdoB, são contra apoiar Rodrigo Maia para a presidência da Casa. Em entrevista exclusiva para os Jornalistas Livres, Freixo revela que a disposição do PSOL em dialogar com outros partidos, acontece devido ao risco que o país corre ao ser governado por um presidente de extrema-direita.

    O presidente do PCdoB, Orlando Silva (SP), já disse que “todo mundo sabe que não vai acontecer” uma candidatura unificada da esquerda, indo mais longe ao sugerir que cada um está falando para sua redes com a intenção de ganhar likes.

    O deputado federal Paulão (PT-AL) disse que também trabalha para a unificação do campo da esquerda dentro da Câmara dos Deputados. “O ideal é que a oposição estivesse unida para o enfrentamento de pautas importantes que ameaçam políticas públicas e conquistas sociais do povo brasileiro. O PT está conversando com todos os segmentos da esquerda defendendo a unidade. Não é fácil mas é preciso ser feito”, afirmou o único representante da esquerda alagoana no congresso nacional.

    Outro deputado federal também quer se colocar como líder da oposição. Arthur Lira (PP-AL) segue dialogando com partidos de oposição para fortalecer sua candidatura em um blocão que extrapola os limites da política de centro-esquerda.

    Segundo o jornal da Folha de S. Paulo, se Lira conseguir aglomerar PT (56), PP (37), MDB (34), PSB (32), PDT (28), PTB (10), PCdoB (9) e PSC (8) em torno se si, o alagoano pode chegar a 214 votos.

    Contabilizando os partidos governistas, Rodrigo Maia teria 239 votos para a reeleição. Mas o voto será secreto e pode acontecer migração de votos de deputados que não votarão com as bancadas.

     

    Confira a entrevista exclusiva de Marcelo Freixo para os Jornalistas Livres

     

    Jornalistas Livres: Como estão as articulações políticas para estas eleições? A esquerda conseguirá se diferenciar?

    Freixo: A esquerda não pode ver Maia como um possível aliado. Ele fechou acordo com o PSL de Bolsonaro e com uma agenda que ameaça os direitos dos trabalhadores, dos mais pobres, dos negros, indígenas e da população LGBT. Essa pauta aprofundará as desigualdades no país e não pode estar no horizonte de um projeto de esquerda. Nossa candidatura foi decidida pela bancada do PSOL e está sendo construída através do diálogo e de forma republicana com um amplo campo democrático que deseja fortalecer direitos sociais.

    Jornalistas Livres: Quem são os seus principais adversários nesse processo eleitoral?

    Freixo: Nossos adversários são aqueles que estão aliados ao projeto governista de extinção de direitos e da destruição do Estado enquanto instrumento possível de promoção da justiça social.

    Jornalistas Livres: Além de você, quem está no fronte de diálogo com o campo progressista para unificar um bloco em torno da sua candidatura?

    Freixo: O presidente nacional do PSOL, Juliano Medeiros, e a bancada do PSOL estão sendo fundamentais na construção da candidatura, através dos diálogo com lideranças de esquerda. Me coloco a serviço da agenda democrática e republicana, de afirmação da luta por cidadania e redução das desigualdades. Essa é a pauta que precisa nos unir.

    Jornalistas Livres: Ciro Gomes, mais ajuda ou atrapalha a unificar esse bloco?

    Freixo: Esperamos que ele, como um democrata, se posicione de forma a defender o Estado Democrático de Direito e o espírito da Constituição de 1988.

    Jornalistas Livres: Qual a principal diferença que você enxerga numa Câmara onde você seja o presidente para uma Câmara onde o Maia seja o presidente?

    Freixo: Essa é a eleição mais importante para o parlamento desde a redemocratização. São direitos básicos e a vida das pessoas que estão em jogo. Ao receber apoio do PSL, Maia se compromete com uma agenda ultraliberal na economia e de destruição de direitos duramente conquistados. Isso ameaça a cidadania e a sobrevivência de milhões de pessoas. A Câmara precisa estar comprometida com a redução das desigualdades e com os interesses populares. Nossa candidatura se coloca à disposição dessa agenda.

    Jornalistas Livres: Como avalia o acordo entre Rodrigo Maia e Bolsonaro? Este acordo significa facilitar as privatizações e outras medidas que venham a ser implementadas pelo novo governo?

    Freixo: Essa articulação simboliza o compromisso de Maia com a agenda ultraliberal e privatista do governo Bolsonaro. Neste sentido, o parlamento não terá independência diante do governo no tratamento de pautas fundamentais que podem resultar na destruição de direitos.

  • Aqueles esquerdopatas!

    Aqueles esquerdopatas!

    Quando você tiver sido molestada ou estuprada e ninguém estiver ao seu lado, sabe quem vai lutar ao teu lado? As feministas aquelas esquerdopatas.

    Quando você for demitido sem direitos e sem receber absolutamente nada para que possa sustentar sua família, sabe quem vai te defender? Os trabalhistas, aqueles esquerdopatas.

    Quando você sofrer violência policial, for agredido intimidado, sequestrado… Sabe quem vai te ouvir, acolher e ajudar nesta luta? Os defensores dos direitos humanos, aqueles esquerdopatas.

    Quando tirarem de você as escolas públicas ou a oportunidade de um ensino superior gratuito e de qualidade, sabe quem vai estar lá fazendo greve e apanhando da PM pelos teus direitos? Os professores, aqueles esquerdopatas.

    Quando passarem a te servir comida transgênica sem pesquisas suficientes e inundadas de agrotóxicos, sabem quem está lá para te defender e lutar pela tua saúde alimentar? O MST, aqueles esquerdopatas.

    Quando os juros forem tão altos e os salários tão baixos que você tenha perdido a dignidade social, sabe quem estará lá em greves, piquetes, estudos contrapondo os absurdos? Os partidos de esquerda, obviamente esquerdopatas…

    Quando você estiver sendo agredido ou prejudicado em função do Deus que você ora, sabe quem estará lá ao seu lado encarando os fundamentalistas? Os ateus e defensores do estado laico, aqueles esquerdopatas.

    Quando você estiver sem forças para negociar aumento de salário ou melhorias necessárias para o teu trabalho, sabe quem estará lá na linha de frente tomando bomba e gás na cara? O sindicalistas, aqueles esquerdopatas.

    Quando você não acreditar que o governo, o judiciário o legislativo estejam retirando teus direitos, tua aposentadoria e vendendo as riquezas do teu país, sabe quem estará lá votando contra, xingando, travando votação e etc.? Os partidos de esquerda, cheios de esquerdopatas.

    Enquanto isto sabe onde estão o teu deputado defensor da “família”, o teu pastor defensor de “cristo”, o teu senador defensor da “liberdade” ou o teu ídolo defensor do “livre mercado”? Estão em casa descansando, aproveitando o dinheiro que ganharam defendendo os que eram contra ti e prometendo continuar te entregando em troca de mais dinheiro e poder.

    “Esquerdopatas” são como as mãos, os pés ou qualquer outro membro que você só sente falta quando perde. E este é o momento em que todos estamos perdendo. Pense.

  • Não temos tempo a perder

    Não temos tempo a perder

    A notícia de que o tempo de TV de Bolsonaro será menor até mesmo de que o tempo que Enéias dispunha nas eleições de 1989 é interessante, e me levou a fazer uma breve reflexão.

    Com esses 8 segundos, Bolsonaro conseguirá dizer apenas “meu nome é Bozo”.


    Isso até parece engraçado, e certamente renderá material para vários memes e piadas.


    Mas ele dizer isso já é o bastante, e eleição é coisa séria.


    É o nosso futuro, é o futuro de todo um país que está em jogo.


    Então antes de rir da piada devemos levar em consideração que a base eleitoral de Bolsonaro está sendo construída há anos, fortemente alicerçada nas redes sociais.

    Ou seja, que ele não dependerá essencialmente da TV para fortalecer a musculatura de sua campanha eleitoral.

    Sua campanha tem bastante capilaridade, é horizontal na estrutura, é vertical no discurso e tem grande homogeneidade e simplicidade ideológica.

    Bolsonaro fala aquilo que parte do povão gosta e quer ouvir.

    Seu discurso tosco e violento dialoga com parte da massa, com uma parcela da população que está preocupada apenas em chegar em casa sem ser assaltada, sem ter o celular roubado ou a filha violentada.

    Uma parcela da população que é amedrontada diuturnamente por programas policialescos de TV, pela criminalidade informal e pela bandidagem oficial, aquela que usa farda, anda de viatura e a oprime nas favelas e periferias por todo o Brasil.

    Não que Bolsonaro apresente proposta sobre esses ou quaisquer outros temas nacionais, muito pelo contrário.

    Bolsonaro finge que apresenta propostas factíveis, só que ele finge muito bem.

    Usando de um simulacro de discurso tão rústico quanto objetivo, Bolsonaro fala o que quer para quem quer, enquanto a esquerda se preocupa com a problematização de pautas distantes da realidade imediata e objetiva da população.

    Como as pautas identitárias, apenas para dar um exemplo.

    Como a preocupação em escrever discursos tendo o cuidado de substituir vogais por @ ou x, ou forçadamente se referir a seus ouvintes como “TODOS e TODAS”.

    Esse tipo de discurso agrada alguns segmentos da população, recortes de classe de um todo, mas nem de longe alcança o todo e o que é pior, esse discurso não deseja agradar o todo.

    Esse discurso intencionalmente passa bem longe do todo.

    Só que o povo mesmo não está preocupado com tais pautas.

    Não agora.

    O povo mesmo, o povão da periferia, está preocupado com a violência que bate à sua porta, direta ou indiretamente, violência agravada com o golpe e com a crise que o maldito golpe trouxe em seu bojo.

    E Bolsonaro, espertamente, explora o medo dessa violência, prometendo combater fogo usando gasolina.

    Os 8 segundos que Bolsonaro terá na TV não serão decisivos para sua campanha, mas o ajudarão a aumentar o estrago que ele faz há muito tempo nas redes sociais.

    E nós sabemos que as eleições não serão decididas na TV.

    As eleições 2018 serão decididas através de uma fortíssima disputa pelo protagonismo das narrativas , majoritariamente feitas nas redes sociais.

    Não será chamando a criatura Bolsonaro de machista, nem seus eleitores declarados de fascistas, que venceremos essa disputa, nem tampouco conquistaremos seus corações e mentes agredindo-os.

    Não será também escrevendo “menin@s” ou “meninxs” em nossos textos, reforçando o quanto queremos parecer diferentes, que dialogaremos com esses eleitores.

    Muito pelo contrário, isso nos isola ainda mais, aumentando o abismo ideológico que existe entre parte desse eleitorado e nós mesmos.

    Precisamos construir pontes, e não uma maneira alternativa de ressignificação como pessoas, justamente no meio de uma disputa eleitoral que já se apresenta das mais fratricidas da história.

    Eleição é coisa séria, e é o nosso futuro que está em jogo.

    O tempo urge, e Bolsonaro ruge.

    Nos 8 segundos que terá na TV ou na eternidade da qual dispõe nas redes sociais.

    Portanto, não temos tempos a perder.

    8 segundos já é tempo demais, a essa altura do golpe, para se desperdiçar.