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  • Sindicatos e estudantes se unem contra o Future-se

    Sindicatos e estudantes se unem contra o Future-se

    Oito e meia da manhã desta quarta-feira (7/08), em frente ao Ministério da Educação (MEC), estudantes e professores já estavam reunidos para protocolar um ofício contra o projeto Future-se. Clique aqui para ver o texto do documento. 

     

    O objetivo da manifestação era que os representantes fossem recebidos pelo ministro da educação para entregar o documento em mãos, ou ao menos protocolá-lo. Após cerca de duas  horas e meia nos foi permitido entrar no prédio acompanhados de um coronel (o qual não quis se identificar) e outros seguranças. 

     

    Segundo Luís Antônio Pasquetti, o presidente da Associação dos Docentes da UnB (AdunB), eles têm três razões para preocupação com o programa Future-se, sendo a primeira ‘com a proposta de uma OS, que vai substituir a gestão democrática que temos na universidade, os conselhos, colegiados, departamentos, é uma lógica de mercado que os critérios de avaliação vão ser pelos critérios econômicos, por indicadores que não levam em conta todas as áreas da ciência.’ 

     

    As Organizações Sociais (OS) nasceram no Brasil na década de 90 (lei 9.637, de 15 de maio de 1998) para que o Estado pudesse outorgar funções públicas a organizações privadas que tem por objetivo o bem social, seja na área de educação, cultura ou até mesmo saúde. É como se organizações não-governamentais passassem a ser o Estado. 

     

    No documento Future-se, já nos objetivos gerais, está claro que as organizações sociais irão exercer o papel de diversos órgãos dentro das universidades: a gestão, que atualmente é feita em diversas instâncias, como pelos conselhos estudantis, colegiados, será realizada pela OS. 

     

    Outro aspecto preocupante é que as instituições estarão subordinadas as OS também no aspecto financeiro: todos os bens das universidades serão propriedade do Future-se, que será subordinado a OS. Segundo o programa isso ocorrerá ‘com a finalidade de constituir fonte para o projeto Future-se.’  

     

    A internacionalização da universidade, que é feita pela Assessoria de Assuntos Internacionais, também será feita pela OS. As pesquisas e inovações, que são feitas por meio de diversos órgãos (já que há muitos tipos de pesquisa), como o Decanato de Extensão (DEX), o Programa de Iniciação Científica, também serão feitas pela mesma OS.  

     

    O que é pior: as Instituições Federais de Ensino Superior (IFES são o conjunto de todas as universidades federais e Institutos Federais que têm ensino superior) terão que adotar os padrões de governança do Governo Federal sem nem saber do que se trata, já que elas serão definidas depois. 

     

    O segundo aspecto preocupante, segundo Pasquetti, é a contratação de professores sem a realização de concursos públicos, ‘Nós somos estatutários, concursados, e essa é uma grande preocupação’. Isso significa que o artigo 37 da Constituição, inciso II, será quebrado pelo projeto: 

     

    ‘A investidura em cargo ou emprego público depende de aprovação prévia em concurso público de provas ou de provas e títulos, de acordo com a natureza e a complexidade do cargo ou emprego, na forma prevista em lei, ressalvadas as nomeações para cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)’ 

     

    O programa é um livro aberto para o governo fazer o que quiser, até mesmo implantar censura sob o conhecimento construído nas universidades, que inclusive é o terceiro aspecto preocupante do Future-se segundo Pasquetti: ‘É que toda parte de pesquisa, extensão e inovação também tá calcada em uma lógica empresarial, e isso vai afetar tremendamente a vida dos estudantes, de como vai ficar a assistência estudantil, de todos os programas que foram construídos aos longo das últimas duas décadas pra manutenção, permanência dos estudantes na universidade.’ 

     

    O Future-se é como a Escola Sem Partido para as universidades: ciências exatas estarão em destaque, ciências humanas (em sua maioria não são aplicáveis e não geram lucro) não receberão financiamento. Assim como projeto Escola Sem Partido visava erradicar o ensino de Filosofia, História nas escolas de nível básico, o Future-se visa erradicá-las do ensino superior.  

     

    O projeto de um Brasil com igualdade social passa pela educação pública de qualidade, tanto básica como superior, e é contra o Future-se, contra os cortes de verbas para educação que no dia 13 de agosto ocorrerão protestos pelo Brasil todo, os quais anteriormente foram intitulados pelos movimentos de ‘tsunami da educação’. O Future-se está disponível para leitura e comentários até quinta-feira que vem nesse link: https://isurvey.cgee.org.br/future-se/*/inicio      

     

  • CARTA DO COMITÊ EM DEFESA DA UNB

    CARTA DO COMITÊ EM DEFESA DA UNB

          Brasília, 7 de agosto de 2019

     

     

    AO SENHOR MINISTRO DA EDUCAÇÃO

    ABRAHAM WEINTRAUB

     

     

    Assunto: Rejeição da Comunidade Acadêmica da UnB ao Projeto Future-se 

     

     

    O Comitê em Defesa da UnB-representado pela Associação dos Docentes da UnB (ADUnB), pelo Sindicato dos Trabalhadores da Fundação  Universidade de Brasília (SINTFUB) e pelos diretórios acadêmicos que reúnem os estudantes da instituição-manifesta sua rejeição ao ‘Programa Institutos e Universidades Empreendedoras e Inovadoras-FUTURE-SE’. Desde a apresentação do programa, no dia 17 de julho, professores, servidores técnico-administrativos e estudantes têm se reunido para discutir e analisar a proposta do MEC para o ensino superior brasileiro. 

     

    Além dos debates conjunturais, os sindicatos representantes das categorias que constituem a força de trabalho das instituições acionaram suas assessorias jurídicas para verificar a plausibilidade e legalidade do projeto Future-se. Os estudos jurídicos dos advogados da ADUnB e do SINTFUB identificaram que o projeto contém inconsistências técnicas e possíveis afrontas a direitos previstos na Constituição Federal. 

     

    O posicionamento institucional das categorias que atuam na Universidade de Brasília e que compõe o Conselho Universitário (Consuni), órgão colegiado máximo da instituição, foi corroborado pelo estudo técnico que manifestou rejeição à proposta. Os sólidos argumentos que respaldam a decisão da comunidade acadêmica de rejeitar qualquer adesão ao Future-se, seja ela total ou parcial-encontram-se registrados nos seguintes documentos anexos: 

     

    1-Estudo da assessoria jurídica da ADUnB e do ANDES-SN 

    2-Análise do GT do Conselho Universitário

    3-Ata do Conselho de Representantes da ADUnB

    4-Ata da Assembleia do SINTFUB

    5-Estudo da assessoria jurídica do SINTFUB 

     

    Subscrevemo-nos: 

     

    ADUnB 

     

    SINTFUB 

    REPRESENTAÇÃO ESTUDANTIL 

     

    SINASEFE 

     

    MEMBRO DO CONSUNI 

     

  • Fature-se ou FXXX-SE – MEC mente ao dizer que mercado vai investir em educação

    Fature-se ou FXXX-SE – MEC mente ao dizer que mercado vai investir em educação

    FUTURE-SE É O PROGRAMA
    DO DESMONTE DA UNIVERSIDADEOS FINANCISTAS DO MEC apresentaram hoje pela manhã o projeto Future-se, que busca alterar radicalmente o ordenamento jurídico, patrimonial, pedagógico, trabalhista e o papel social das Universidades públicas. Toda a apresentação tinha o figurino de encontro de negócios espertos. Não faltaram painel de Led e apresentador de bleiser azul marinho sem gravata a recitar vantagens para todos, promessas de happy startups, criação de fundos, investimentos, PPPs, organizações sociais e a possibilidade de professores “ficarem ricos”.”Nós nos inspiramos em Friedman”, foi dito a certa altura. Às escâncaras, trata-se de um acelerado processo de privatização das instituições públicas, que ganharão suposta eficiência e vinculação ao mercado, como as krotons da vida.NO GOVERNO FHC, anos 1990, as privatizações eram alardeadas como forma de se superar a chamada ineficiência estatal, a falta de telefones, as carências no mercado de energia, os cabides de emprego, os cartórios corporativos etc. etc. Para chegar ao objetivo pretendido, foi preciso massacrar a opinião pública com a ladainha de que a venda de estatais era o segredo para a superação de nosso “atraso”, e que com auxílio do mercado estaríamos em sintonia com o “primeiro mundo”.

    No governo Bolsonaro, nem argumentos desse tipo há mais. Existe chantagem, feita por quem nada tem a ver com educação. Cortam-se orçamentos – o que inviabiliza de imediato o funcionamento das instituições – , coloca-se a faca no pescoço de reitores, professores, alunos, técnicos administrativos e monta-se um teatro midiático, cuja adesão seria opcional.

    A UNIVERSIDADE PÚBLICA BRASILEIRA é um modelo internacional de sucesso. Ela não apenas produz ciência de ponta, como se volta – na maior parte dos casos – para a resolução de problemas concretos e materiais da sociedade. A “torre de marfim” autossuficiente tornou-se anacrônica, em especial ao longo das últimas décadas, fruto da expansão de unidades pelo país.

    O aumento do número de vagas, as políticas de cotas e sua presença cada vez maior na vida pública faz dessas instituições a marca de um Estado que verdadeiramente se articula com as demandas sociais. Temos aqui algo raro nos Estados Unidos ou na Europa Ocidental: universidades de massa, amplas, plurais e financiadas com o dinheiro dos impostos.

    HÁ UMA DÉCADA, o documentário “Inside job”, de Charles Ferguson, ganhou o Oscar da categoria ao fazer uma varredura profunda nas causas e consequências do tsunami financeiro originado nos EUA, em 2008. Secundariamente, a fita exibiu a imensa teia de interesses privados que se sobrepõem à Universidade estadunidense. Lá, é bom lembrar, cresce a legião de jovens inadimplentes que não conseguem arcar com os altos custos das anuidades (O ministro da Educação afirma que não haverá cobrança de anuidades. Por enquanto).

    Três professores de Harvard – também operadores no mercado financeiro – foram desmascarados diante das câmeras por darem aval acadêmico à saúde financeira de empresas e países a peso de ouro.

    Harvard é um centro de excelência global, especialmente nas áreas de Direito e Finanças. Tem cerca de 23 mil alunos e é privada. A USP tem 95 mil alunos e é pública.

    SEGUNDO O CENSO DA Educação Superior do INEP, o Brasil possui “296 Instituições de Educação Superior (IES) públicas e 2.152 privadas, o que representa 87,9% da rede. Das públicas, 41,9% são estaduais; 36,8%, federais e 21,3%, municipais. Quase 3/5 das IES federais são universidades e 36,7% são Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia (IFs) e Centros Federais de Educação Tecnológica (Cefets)”.

    Com raríssimas exceções, a pesquisa está concentrada nas públicas. Por esse motivo, é aí que se concentra o pensamento crítico e seus resultados em diversas áreas se traduzem em importante apoio para políticas públicas.

    Os milicianos da gestão Bolsonaro não conseguem externar a mesma distorção conceitual que fazem no debate da Previdência, de que “o sistema dá prejuízo”.

     

    Se olharem apenas para o que o orçamento do MEC, com pensamento terraplanista de contador, “o sistema dá prejuízo”, sim.

    O raciocínio é evidentemente torto. Direitos e serviços públicos não são negócios regidos pelas sacrossantas leis do mercado, mas pelo benefício universal que geram. O modelo de gestão proposto pelo “Future-se” é o “Vire-se” para captar recursos. Quem conseguir dinheiro, segue funcionando – com alta ingerência de investidores nos conteúdos pedagógicos – e quem não conseguir, adentrará literalmente no programa “Foda-se”

    Como o projeto bolsonarista é o da entrega da Petrobrás, da Embraer, da Eletrobrás, do saneamento e do desmonte do BNDES, do SUS e de várias ferramentas do desenvolvimento e da soberania nacional, acabar com a Universidade é algo que está na conta. Pesquisa e inovação de ponta será feita pelos novos donos desses ativos.

    Impedir esse ataque fulminante é impedir que se acabe com o futuro do país. Apesar do nome do programa ser o horrível trocadilho Future-se.