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Tag: Editorial

  • Notas sobre um editorial infame da Folha

    Notas sobre um editorial infame da Folha

    No dia 21 de agosto, a Folha de S. Paulo publicou um editorial intitulado “Jair Rousseff”. Confesso que poucas vezes vi um texto ser ruim de tantas maneiras diferentes. Como nem todos os graves problemas que traz estão na superfície, é importar ler com uma lupa para aclarar o tamanho da infâmia que tiveram coragem de publicar. Muitas críticas foram feitas, é verdade, mas há tantas coisas a criticar que parece necessário reforçar esse coro.

    Prof. Dr. Alexandre Santos de Moraes[1]

                    Infelizmente, o texto não é assinado. É prática corrente no jornalismo brasileiro deixar textos sem assinatura. Essa escolha me parece prudente quando a reportagem aborda um tema sensível e potencialmente capaz de colocar a vida do profissional em risco, sobretudo nesse momento em que o governo federal está envolvido até o pescoço com milícias. Não é o caso desse editorial. A opção pela apocrifia é típica desse tipo de narrativa jornalística que ignora, dentre outras coisas, que a Constituição de 1988 assegura a liberdade de expressão sem endossar o anonimato.

    O problema maior é que editoriais não costumam ser assinados porque pretendem ser textos coletivos. A Folha de S. Paulo, por exemplo, define seus editoriais como “o que a folha pensa”, o que compromete seriamente a noção de pluralidade de opiniões e a própria heterogeneidade dos profissionais que trabalham na redação, como se todos pensassem da mesma forma ou fossem reféns de uma forma específica de pensar que os submete por força da hierarquia empresarial. Em outras palavras, são textos que presumem pertencer a todos sem se ligar especificamente a ninguém. Disso surge outro problema: o autor fica escudado, protegido, livre para escrever toda sorte de asneiras sem ser pessoalmente responsabilizado. É uma questão urgente, mas não especificamente ligada à Folha, e julgo que os profissionais de jornalismo deveriam sentir desconforto diante disso e sugerir mudanças no formato.

                    A proposta do editorial é comparar as políticas econômicas de Dilma Rousseff e Jair Bolsonaro. É importante dizer que todo gesto comparativo é precedido de uma escolha. Como toda comparação pressupõe cotejar semelhanças e diferenças, o autor precisa decidir qual aspecto irá explorar. Nesse caso, optou-se por sustentar que tanto Bolsonaro como Dilma Rousseff elevaram os gastos públicos para pavimentar o caminho para a reeleição. A crítica é direcionada aos programas de assistência social. Ainda que não explicite quais são, o autor que se esconde provavelmente considerou o Bolsa Família, no caso de Dilma, e o auxílio emergencial, no caso de Bolsonaro. Infelizmente, como a comparação é desonesta, o editorial não explica que no caso da presidenta, era uma política de governo; no caso de Bolsonaro, uma imposição do Congresso Nacional contra a qual lutou ferozmente e que dela se apropriou somente após a derrota que sofreu no Parlamento.

    De todo modo, em ambos os casos, esses programas seriam problemáticos porque elevariam o déficit nas contas públicas. Ignora-se a enorme dívida interna jamais auditada que consome mais da metade de nossa arrecadação. Ignora-se os abonos e as isenções fiscais dadas aos empresários. Ignora-se os privilégios da elite do funcionalismo público. Enfim, ignora-se todo gasto corrente que não tem a ver com os pobres.

                    A tática do autor desconhecido não é nova: faz-se de conta que a austeridade fiscal é a única medida aceitável de gestão dos gastos públicos, coisa que nem o mais ortodoxo economista formado em Chicago seria capaz de afirmar com o mínimo de honestidade intelectual. Aliás, o ministro Paulo Guedes decerto concordaria com esse receituário, mas ele não é citado no texto. Trata-se de outra prática corrente na mídia hegemônica: quando as medidas econômicas afagam os interesses dos rentistas e empresários, Paulo Guedes é alçado à condição de ídolo; quando não, fazem de conta que a decisão é exclusiva de Bolsonaro. É compreensível, já que o autor parece servir aos propósitos do mesmo grupelho de milionários para quem o ministro da Economia trabalha como um cão fiel e submisso. Outra grosseria cometida pelo autor é traçar esse comparativo ignorando as qualidades e características dos programas de assistência social em seu contexto histórico e ideológico. Dá-se a tendência de alimentar o anti-petismo comparando-o, apenas do ponto de vista retórico, ao bolsonarismo doentio ao qual o próprio PT se opõe.

                    Aliás, sobre esse ponto, convém uma nota interessante. O texto afirma que a manutenção do teto de gastos é necessária para não colocar em risco “a estabilidade econômica, duramente conquistada pela sociedade brasileira nas últimas décadas”. Ora, não é possível falar em estabilidade econômica antes do governo Fernando Henrique Cardoso. Confesso que teria enormes críticas a essa noção de “estabilidade econômica”, mas é importante lembrar que Fernando Henrique governou por apenas oito anos, o que é pouquíssimo para sintetizar “as últimas décadas”. Parte substancial dessa estabilidade foi garantida pelos governos petistas, que asseguraram criação de empregos, quitaram as dívidas com o FMI e Banco Mundial, garantiram reservas bilionárias, dentre outras coisas. A contradição é óbvia: Dilma está sendo criticada pelo desrespeito à estabilidade econômica que sua própria gestão trabalhou para manter. Para escudar-se da contradição, dizem ser uma “conquista da sociedade brasileira”, apelando para a generalização. Mas já sabemos qual é o problema que gera essa desconfiança: despesas ligadas às camadas mais empobrecidas. Se há dúvidas a esse respeito, o último parágrafo é esclarecedor.

                    Aliás, esse último parágrafo do texto deveria constar doravante como exemplo de vileza em todo bom manual de jornalismo. Segundo o autor, o desrespeito ao teto de gastos prejudicaria “como de hábito, os pobres e miseráveis, que por inconveniência política constituem também a parcela mais decisiva do eleitorado”. Se o sentido não ficou claro, vale recorrer à paráfrase: afirma-se, com todas as letras, que seria conveniente que os pobres não votassem. Infelizmente, também nessa afirmação asquerosa não há novidade, já que traduz com enorme poder de síntese a concepção preconceituosa e aristocrática que as elites atrasadas desse país cultivam. É como se os pobres, que votam com o estômago, precisassem ser tutelados pelos ricos que, esses sim, votam com base na razão e isolam qualquer interesse pessoal de suas decisões políticas. Eles perderam tudo, inclusive o pudor de revelar publicamente seu lado mais vil e bestial.

                    Por fim, o título. Parece óbvio que uma comparação que tenta construir um elo sem lastro com a realidade precisa de enormes reforços retóricos. Exatamente por isso apelaram para esse título, cuja infâmia só é percebida quando se recorda as diferenças colossais que separam a ex-presidenta do atual presidente. Ora, o nome próprio é nosso principal símbolo de subjetividade. Diante da pergunta “Quem você é?”, a tendência é responder com o próprio nome. O nome funciona como profunda marca identitária, como a palavra-síntese que nos faz singulares e permite sinalizar quem somos. Quando o autor desconhecido lança “Jair Rousseff” como título, produz um efeito de sentido que cria um sujeito fictício que encarnaria as personalidades tanto de Dilma como Bolsonaro. Em outras palavras, converte a crítica política em ataque pessoal, avançando diante da mais visceral intimidade. Cumpre recordar que Bolsonaro, no plenário da Câmara dos Deputados, dedicou seu voto de impeachment à memória de Carlos Alberto Brilhante Ustra, milico torturador caracterizado pelo então deputado como “o terror de Dilma Rousseff”. É ao nome desse sujeito, que elogia torturadores e defende ditaduras, que o autor apensou o sobrenome de Dilma, que arriscou sua juventude para combatê-los.

                    Como o roteiro do ano de 2020 parece estar sendo escrito por alguém com enorme sadismo criativo, apenas dois dias após a publicação desse editorial infame, Bolsonaro abandonou o ostracismo das polêmicas para fazer mais um ataque à imprensa livre. Após ser perguntado por um jornalista sobre os depósitos que o criminoso Fabrício Queiroz fez na conta da primeira-dama, respondeu: “Minha vontade é encher sua boca de porrada, tá?”. Curiosamente, quando a militância petista criticava a mesma imprensa, Dilma respondia que preferia o barulho da democracia ao silêncio da ditadura. Gostaria de conhecer a opinião do autor sobre isso, mas infelizmente não tenho como procurá-lo. No entanto, se ele quiser, pode me responder livremente, pois esse texto aqui não foi redigido por um covarde que precisa do anonimato para se esconder dos próprios posicionamentos. 


    [1] Professor do Departamento de História e do Programa de Pós-graduação em História da Universidade Federal Fluminense. E-mail: asmoraes@gmail.com.

  • Editorial: Conhecereis os fatos e a verdade aparecerá

    Editorial: Conhecereis os fatos e a verdade aparecerá

    O jornalismo, assim como a ciência, não se pretende detentor da “verdade”. Nossa matéria-prima são os fatos. E os fatos bem apresentados a leitores, ouvintes e telespectadores são fundamentais para cidadãos tomarem decisões políticas. Jornalistas sérios, como a colega Patrícia Campos Mello, apuram, documentam e relatam fatos importantes para a compreensão da realidade cotidiana. Foi exatamente isso que ela fez na premiada série de reportagens que demonstrou, com dados, fatos e documentos, a contratação de empresas de “marketing” para o ilegal e milionário disparo em massa de mensagens de WhatsApp destinadas a favorecer a candidatura de Jair Bolsonaro e outros políticos de extrema direita  nas eleições de 2018. Como atestaram entidades do porte da Organização dos Estados Americanos, o Brasil foi o primeiro caso documentado em que as fake news (MENTIRAS, em bom português) distribuídas massivamente por celulares tiveram papel decisivo nas eleições majoritárias de uma grande democracia. Mais tarde, reportagem do jornal britânico The Guardian trouxe uma pesquisa provando que 42% de mais de 11 mil mensagens virais utilizadas durante a campanha eleitoral no Brasil traziam conteúdo falso (MENTIRAS) que favoreciam o então candidato de extrema direita à presidência.

    Os fatos, portanto, são que campanhas de extrema direita por todo país, incluindo a presidencial, se utilizaram de recursos ilegais e fake news para eleger seus candidatos. Os fatos são que os órgãos de fiscalização das eleições, como o Tribunal Superior Eleitoral, viram isso acontecer e não tomaram, à época, as atitudes que deveriam tomar. Os fatos são que o homem que ocupa a presidência e seus asseclas se elegeram e governam por meio de mentiras e ilegalidades. O fato é que por meio dessas mentiras, o governo caminha rapidamente para um fascismo aberto e ataca diariamente todas as instituições democráticas brasileiras, especialmente as que trabalham com fatos, como o jornalismo. E os fatos são que, apesar de gostarem de usar um versículo bíblico associando verdade e liberdade, o que se tem são mentiras e agressões diárias contra pessoas que trabalham com fatos, como cientistas e jornalistas.

    Ontem, o Brasil viu estarrecido a escalada de um novo patamar nas mentiras, baixarias, calúnias e difamações, apoiadas e divulgadas pelo governo, contra uma jornalista e, portanto, contra toda a imprensa séria nacional. Patrícia Campos Mello foi alvo, em pleno Senado da República, não somente de mentiras sobre sua atuação profissional impecável no caso, mas também de calúnias de conteúdo sexual, o que demonstra, mais uma vez com fatos, que esse governo não apenas é fascista e mentiroso, como também machista e misógino. A Patrícia, toda a nossa solidariedade e apoio, tanto pessoal como profissional.

    É passada a hora de a imprensa brasileira dar um basta nas mentiras e agressões desse governo que tomou posse há mais de um ano num evento grotesco em que os jornalistas foram confinados longe dos políticos e ameaçados de serem baleados se tentassem se aproximar. Não é possível que os colegas da mídia hegemônica sigam aceitando as “coletivas” da porta do Palácio do Planalto em que o homem que ocupa a presidência os xinga, manda calarem a boca, destrata os veículos para os quais trabalham e foge cada vez que é feita uma pergunta diferente da que ele quer responder. É urgente que jornais, rádios, TVs e portais noticiosos PAREM de tratar esse governo como “normal” e usem as palavras corretas para designar os fatos. Mentiras são mentiras. Fascismo é fascismo. Extrema direita é extrema direita. Retirada de direitos é retirada de direitos. Autoritarismo é autoritarismo. Corrupção é corrupção. Milícia é milícia. E bandidos são bandidos.

    A sociedade e os democratas brasileiros devem exigir das autoridades que ainda não foram totalmente cooptadas por esse governo fascista que façam funcionar as instituições democráticas. Os mentirosos e caluniadores precisam ser processados. Os crimes, inclusive de morte como da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, precisam ser investigados e punidos. Os políticos que se beneficiaram de esquemas de corrupção, financiamento ilegal de campanhas e difusão em massa de mentiras precisam ser cassados, ainda que se faça necessário anular as eleições de 2018.

    Não é a mentira manipulada com o uso versículos bíblicos para enganar a população de boa fé que vai nos libertar. Nossa libertação como nação virá da VERDADE proveniente dos FATOS. E para isso, uma imprensa forte e independente é fundamental.

  • Editorial: Pela liberdade de expressão e em apoio ao Porta dos Fundos #FascistasNãoPassarão

    Editorial: Pela liberdade de expressão e em apoio ao Porta dos Fundos #FascistasNãoPassarão

    Desde nossa fundação, em 2015, os Jornalistas Livres temos a liberdade de expressão, o jornalismo comprometido com os fatos e a preocupação com os direitos humanos como nossos pilares principais. Nesse sentido, o gravíssimo atentado a bomba realizado contra a produtora do canal humorístico Porta dos Fundos merece nosso mais profundo repúdio. Cobramos empenho das autoridades para sua rápida e competente investigação, de modo a identificar e submeter à lei os verdadeiros responsáveis. É irrestrita nossa solidariedade com os produtores de conteúdo e com as demais pessoas que trabalham no edifício atingido. Atos como esse não podem, de forma alguma, serem minimizados no atual contexto de ascensão do fascismo, vigente no Brasil.

    Não se enganem, é disso que trata: FASCISMO. O atentado foi realizado com o claro objetivo de intimidar o grupo de humoristas e censurar determinados conteúdos. O fascismo sempre se pautou pela censura às ideias e expressões contrárias às suas. O atentado foi fundamentalista e homofóbico. O fascismo cristão de extrema direita sempre teve os LGBTQ+ como seus alvos preferenciais.

    O atentado foi violento e covarde. A bomba caseira poderia ter matado o segurança de plantão, como se vê nas imagens que começam a ser divulgadas. O fascismo sempre foi violento, covarde e se impõe pela manipulação do medo.

    Há a hipótese de o atentado ter sido perpetrado por um grupo integralista (fascista) fantasiado com máscaras e camisas verdes e que, inclusive, divulgou um vídeo vangloriando-se de seu crime. Entretanto isso não é um fato já determinado. Como covardes históricos que são, os integralistas (arremedos de Mussolinis) podem apenas estar usando um ato praticado por outros para se projetar no cenário político de 2020. Por isso, como organização jornalística responsável, nos recusamos a publicar o vídeo e aguardamos as conclusões das investigações policiais e jornalísticas que devem se pautar pela seriedade e isenção política.

    Com o fascismo não se dialoga e muito menos se brinca. O fascismo se combate! Porque hoje os atacados são os humoristas do Porta dos Fundos e a causa LGBTQ+. Amanhã pode ser qualquer outra ou outro que ouse tentar interromper a marcha mortífera e insana dos liberticidas.

  • Os que sempre estimularam o ódio político

    Os que sempre estimularam o ódio político

    Em editorial publicado no último domingo (29), o jornal Estado de São Paulo de alguma maneira volta aos tempos em que dava sustentação ao regime dos generais que controlou o país durante 21 anos.

    Traz uma análise do atentado a tiros contra o acampamento de apoiadores de Lula em Curitiba onde o jornal sustenta que a origem dos disparos seria, na verdade, o próprio PT – que, nas suas palavras, estimulara o confronto político durante 30 anos.

    É demais. Mesmo para Estadão.

    Eu só posso me perguntar como é possível que um veículo que apoiou dois golpes presidenciais em sua relativa breve existência, que silenciou sobre sequestros de militantes, torturas sistemáticas e que sempre deu guarida a políticos do ramo mais podre da institucionalidade, como Aécio Neves, insinuar que o PT é que sempre foi intolerante, enquanto seus aliados seriam pacíficos democratas.

    Ora, o PT nasceu das lutas da esquerda contra a ditadura que Estadão apoiou, e não o contrário.

    Sejamos sinceros sobre quem efetivamente lutou para que não houvesse democracia e qualquer forma de tolerância política no Brasil. Nós sabemos que nas páginas de Estado de São Paulo não são publicadas opiniões contrárias à linha editorial que as empresas anunciantes simpatizam. E que não há espaço para contraditório nem equilíbrio no tom crítico.

    Recentemente, numa espécie de déjà vu, nós vimos Estadão apoiar manifestações verde-amarelo protagonizadas por grupos ultraconservadores, anti-esquerdistas e até favoráveis à outra intervenção militar.

    Apoiou também o processo de impeachment que logrou sacar da presidência da República a vencedora da última eleição, ainda que sem apresentar um crime que ela tenha cometido, ao custo de uma radicalização da política que teve como principal fenômeno para sociedade a ascensão do conservadorismo fascista que ameaça as instituições democráticas. A verdade é que o jornal se comprometeu com uma linha radical que chamou a atenção do mundo sobre uma guinada autoritária, e que seus donos têm problemas em reconhecer-se assim, preferindo divulgar, por exemplo, que o sucesso do deputado fascista nas pesquisas para presidente é culpa de “mau humor dos eleitores” ou até mesmo das redes sociais. Isentem-se como parte fundamental no processo de aderência popular ao conservadorismo intolerante. E não poderiam fazer isso.

    Nos últimos meses houve ataques a sedes de partidos de esquerda, que foram vandalizadas e até alvos bombas. Ao mesmo tempo, o partido campeão de denunciados pela Operação Lava-Jato, o PP, conseguiu costurar nos bastidores do Congresso para atrair novos parlamentares e se tornar a segunda maior bancada partidária. Se essa contradição existe, em parte deve-se, sim, a uma cobertura de imprensa que criminaliza seletivamente a esquerda e blinda de conteúdo negativo políticos que se comprometem com uma agenda de favorecimento aos empresários.

    A diminuição drástica de prefeituras comandadas por partidos de esquerda na última eleição municipal foi apoiada por Estadão como se o compromisso do veículo de imprensa fosse com uma militância partidária, e não com a cobertura isenta dos fatos, e o resultado a ser notado é um début à cena nacional de fundamentalistas religiosos, demagogos da segurança pública e latifundiários simpatizantes do trabalho análogo à escravidão. Não há no Brasil grupos mais intolerantes que estes.

    As redes sociais estão tomadas de robôs e os principais comentários nas caixas de interação dos principais jornais são, normalmente, de perfis falsos e com conteúdo ultradireitista. Quem paga por este aparato é que deve se juntar a Estadão para explicar o clima de intolerância que estamos vivendo.

    Devemos identificar com nitidez os que sempre estimularam o ódio político.

  • Temer declara guerra ao povo

    Temer declara guerra ao povo

    O governo Temer escancarou sua face. Com um decreto assinado há pouco, convocou as Forças Armadas para reprimir manifestações.  Além de uma máquina de corrupção, o usurpador do Planalto mostrou dirigir uma máquina de guerra contra o povo.

    Mais de cem mil pessoas reuniram-se pacificamente em Brasília pedindo a renúncia do fantoche, eleições diretas e dando um sonoro não às reformas liquidadoras da aposentadoria e dos direitos trabalhistas. O que encontraram? Soldados armados até os dentes e dispostos a atacar uma manifestação democrática.
    Há dezenas de feridos. Um deles, pelo menos, foi atingido por uma bala e está no hospital. Bombas de gás e de efeito (i)moral são disparadas incessantemente contra trabalhadoras, trabalhadores e jovens desarmados. Um cenário típico dos tempos de ditadura militar.

    Temer e sua quadrilha não tem qualquer condição de continuar no poder. Sua ofensiva contra a manifestação de hoje não deixa dúvidas. Mais e mais, o governo golpista só pode recorrer à repressão. Não há argumento capaz, numa democracia, de defender por mais nem um dia um mandatário enlameado dos pés à cabeça pela corrupção explícita e tingido de sangue de manifestantes.

     
    A permanência no Planalto do fantoche a serviço de interesses reacionários é uma verdadeira provocação ao povo brasileiro. Os números não mentem: 14 milhões de desempregados, milhões de famílias em desespero, milhares de empresas fechando, inadimplência se alastrando. Agora, repressão covarde em larga escala. Tudo isso obra de uma administração ilegítima e desmoralizada até mesmo entre muitos que embarcaram na aventura golpista.
    A tragédia vista hoje em Brasília é um novo sinal de que a mobilização popular é o verdadeiro inimigo dos poderosos. Os conchavos para impor um presidente eleito indiretamente por este Congresso de paus mandados nem de longe representa uma saída para o país. Mais do que nunca, é hora de sair às ruas e gritar: Fora Temer. Diretas Já.

     

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    Inglês: https://jornalistaslivres.org/2017/05/temer-declara-guerra-ao-povo/

    Espanhol: https://jornalistaslivres.org/2017/05/temer-declara-guerra-al-pueblo/

  • O GOLPE VENCEU: O PAÍS FICARÁ INGOVERNÁVEL

    O GOLPE VENCEU: O PAÍS FICARÁ INGOVERNÁVEL

    Uma noite vergonhosa. O golpe sufocou a democracia. Mas não instalou um novo governo. Haverá uma nova batalha no Senado a partir de agora, numa condição politicamente mais difícil. A guerra não está encerrada.
    Temer e Cunha são traidores do país, e não serão os governantes. O que farão os pobres do país, os movimentos sociais, os democratas? Resistência e luta aguerrida. 2016 não é 1964. O golpe não se consolidará.  A partir desta segunda-feira o país acorda incendiado. Manifestações, atos, greves, trancamentos, luta nas ruas. É esta a decisão dos movimentos sociais como MST, MTST, UNE, Os golpistas pensam que o país é dos ricos e poderosos. Verão a força do povo. Há várias frentes de ação que precisam ser organizadas rapidamente –mas a mobilização das últimas semanas mostra que o povo está pronto:

    1.  A denúncia do golpe – é preciso denunciar o golpe em todos os cantos do país e do mundo. Apresentar a todo o povo que ainda não entendeu direito o que está acontecendo e a toda comunidade internacional a verdadeira face dos golpistas. Denunciar a violência contra os pobres, as agressões ao Estado de Direito e as políticas econômica, social e cultural que os golpistas pretendem implementar.  Viabilizar nas redes sociais uma contranarrativa à versão das mídias golpistas. A luta do povo contra a Rede Globo e a mídia golpista entrará num novo período, ainda mais crítico.
    2.  A luta nas ruas – organizar a resistência nas ruas. Manifestações, passeatas, atos, paralisações, greves, trancamentos, boicotes. Demonstrar que o país não aceita ser governado pelos golpistas.
    3.  A defesa dos direitos humanos – tecer uma rede que se mobilize com rapidez na defesa das pessoas que fatalmente sofrerão toda sorte de violência a partir da lógica do golpe. Mesmo sem o governo federal nas mãos, a direita provocará uma escalada, a partir dos governadores de direita e suas PMs e dos jagunços e capangas de fazendeiros e mesmo industriais. Os centros de defesa de direitos humanos e advogados terão enorme importância nesta articulação, como o foi no tempo da ditadura.
    4.  As redes de solidariedade – os golpistas buscarão restringir e mesmo enterrar todos os programas sociais que significaram distribuição de uma fatia da renda nacional aos pobres a partir de sua maioria no Congresso. Eduardo Cunha já anunciou que votará em caráter de urgência a lei de terceirização das relações trabalhistas. A CLT e os programas sociais serão atacados pelos golpistas no Congresso para buscar coesionar a direita no programa antipovo. Articular redes de solidariedade que possam minimamente amparar os mais desprotegidos é uma ação de humanidade e um gesto político de enorme valor.
    Não é hora de apontar culpados nas forças democráticas, que só abriria um tempo de fragmentação, a facilitar o caminho para os golpistas. Colocar projetos próprios à frente da luta contra o golpe será um desastre na resistência. Neste momento, importa pouco apontar quem errou. O que interessa é barrar os adversários da democracia.

    O golpe dos poderosos venceu na Câmara.  A batalha no Senado nos aguarda. Mas, mais do que combater no Senado, o terreno de disputa será na sociedade, nas ruas, na luta aberta contra os que desejam restaurar o tempo das trevas.

    Os Jornalistas Livres estão na luta, ao lado do povo, da verdade, da democracia.