José Roberto Torero*

Pô, Diário, o Moro não fez um pedido de demissão. Fez uma delação premiada.

Ele falou que eu queria ter uma pessoa na Polícia Federal que me passasse informações, falou que eu queria trocar não só o Valeixo, mas um monte de superintendentes, e falou que eu tinha interesse pessoal em alguns casos.

Pô, o cara é um fofoqueiro! Um dedo-duro do cacete!

Segundo uns advogados aí, eu posso até ser impixado por causa disso.

Para contrabalançar os ibopes, resolvi fazer um pronunciamento. E levei quase todo o governo pra ficar de papagaio de pirata. Quer dizer, de presidente.

O Guedes foi de máscara (acho que para não ser reconhecido), o Mourão estava meio alegre, o Tich, morrendo de sono, o Braga Neto e o Heleno,nas pontas, pra não deixar ninguém fugir, a Damares estava esquisita (mas ela é sempre assim), a Regina Duarte sumiu há mais de uma semana, o Onyxfazia uma cara de “perdi-o-governo-do-Rio-Grande-do-Sul”, e a Teresa Cristina, que anda brigando com o Ernesto Araújo por causa da China, ficou tão longe de mim que foi parar fora do tapete.

Diário, dessa vez eu não usei ponto eletrônico nem teleprompter. Tirei tudo da minha cabeça mesmo.Não é à toa que meu discurso foi ótimo!

Falei na minha filha Laura,no aquecimento da piscina, que o 04 tem muitas namoradas, no Inmetro, no porteiro do condomínio, emtaxímetro, em facada, na Marielle, em cartão corporativo e até contei que minha sogra mente a idade. Foi um papo bem variado.

O principal foi que eu disse que o Moro trocaria o Valeixo pela vaga no STF. E que eu jamais, nunca, em tempo algum quis interferir numa investigação.

Mas aí veio o Jornal Nacional.

O Moro, que vaza mais que absorvente barato, mostrou uma troca de mensagens com a Carla Zambelli, onde ele dizia que não aceitava o cargo no STF, e uma conversa comigo em que eu pedia a cabeça do Valeixo por causa da investigação de uns deputados.

Aí ferrou.

Aliás, mais ferrado que eu, só o Luciano Huck. Porque a Globo já escolheu seu candidato para 2022.

E por hoje chega, Diário. Tenho que ligar pros meus amigos do Centrão.

@diariodobolso

*José Roberto Torero é autor de livros, como “O Chalaça”, vencedor do Prêmio Jabuti de 1995. Além disso, escreveu roteiros para cinema e tevê, como em Retrato Falado para Rede Globo do Brasil. Também foi colunista de Esportes da Folha de S. Paulo entre 1998 e 2012.

 

José Roberto Torero*

MEU NOME NÃO É REEMBOLSONARO!

 

Diário, um jornalista aí, um tal de Lucio de Castro, foi desencavar um treco de gasolina que vai me encher o saco. Ele é da Agência SportLight de notícias. Pô, com esse nome eles não deviam falar só de futebol? Por que que tão se metendo em política?

 

O cara descobriu que eu pedi reembolso de combustível pra Câmara com umas notas fiscais meio estranhas.

 

Tem umas normais, mas tem onze notas com uns números malucos, que dizem que eu botei mais de mil litros de gasolina de uma vez só.

 

Elas foram dadas por dois postos de gasolina do Rio, o Rocar (Barra da Tijuca) e o Pombal (Tijuca), entre 7 de janeiro de 2009 e 11 de fevereiro de 2011. Naquele tempo eu era do PP, partido do Maluf. Somando tudo e corrigindo pelo IGP-M, é como se eu tivesse gastado 45 mil reais só nestes onze reabastecimentos.

 

Aposto que os maldosos vão dizer que eu fazia rachadinha com os donos dos postos.

 

Será que cola se eu disser que tinha um Landau? Ou um Galaxie? Ou um Maverick? Melhor ainda: vou dizer que naquele tempo, por segurança, eu andava com um tanque de guerra. Hum…, acho que não… Nem tanque de guerra tem um tanque com mil litros. Só se o carro tivesse uma caixa d’água na capota.

 

Eu posso dizer que andava com medo de avião e ia de carro pra Brasília toda semana. Não…, ida e volta dá uns 2.400 km, só uns 200 litros. Acho que o jeito vai ser por a culpa no Queiroz mesmo. Com o Flávio tá dando certo.

 

O pior é que às vezes tem duas notas no mesmo dia. E tem nota fiscal de dia que eu nem estava no Rio, mas em Brasília. Aí complica, porque o reembolso não pode ser dado pra assessor parlamentar, só pro próprio deputado.

 

Ainda bem que a Lava-Jato, que começou por causa de um posto de gasolina, não começou por estes postos do Rio de Janeiro. Mas o Moro nunca viria pra cima de mim. Ele tava atrás de outro.

 

Talvez esse combustível respingue na minha reputação. Podem até começar a dizer que eu estou interessado na cloroquina só porque o Reuquinol, aquele remédio que eu mostrei na reunião do G-20, é produzido pelo laboratório Apsen, que, segundo o site Metrópoles, é do Renato Spallicci, que me apoia até debaixo d’água. Ou melhor, até debaixo da gasolina.

*José Roberto Torero é autor de livros, como “O Chalaça”, vencedor do Prêmio Jabuti de 1995. Além disso, escreveu roteiros para cinema e tevê, como em Retrato Falado para Rede Globo do Brasil. Também foi colunista de Esportes da Folha de S. Paulo entre 1998 e 2012.

@diariodobolso

José Roberto Torero*

Diário, esse negócio de coronavírus tá pegando.

Tem gente que até que acha que eu tô doente, mas preferi dizer que não.

Como é que podem desconfiar de mim?

Pô, só porque o Dudu disse para a Fox News que meu primeiro exame tinha dado positivo.

Só porque o Fábio Wajngarten, o Nelsinho Trad e a minha advogada, que viajaram comigo pros EUA, estão com o vírus?

Só porque eu tenho que ficar isolado?

Só por que eu vou fazer outro exame no começo da semana?

Mas, pô, Diário, por que queeu falar uma mentira dessas?

Pra nãopassar por bobo, porque eu disse que o coronavírus era fantasia da imprensa?

Para não fazer a Bolsa cair e o dólar subir?

Por que a turma do Trump pediu para eu não divulgar que tô doente, senão vão desconfiar que ele também está?

Pô, francamente, Diário…

Um político e seus médicos nunca vão esconder a verdade, kkk!

*José Roberto Torero é autor de livros, como “O Chalaça”, vencedor do Prêmio Jabuti de 1995. Além disso, escreveu roteiros para cinema e tevê, como em Retrato Falado para Rede Globo do Brasil. Também foi colunista de Esportes da Folha de S. Paulo entre 1998 e 2012.

@diariodobolso