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  • Renascer e Esperança: ocupações de moradia na linha de tiro

    Renascer e Esperança: ocupações de moradia na linha de tiro

     

    Duas ocupações, uma de Trabalhadores Sem Tetos em Piracicaba e outra de Sem Terra em Araras fazem um apelo por terra e moradia, diante das ações de despejo que vem acontecendo durante a pandemia da COVID-19. As famílias da Comunidade Renascer e o Acampamento Esperança resistem, para que não haja tamanha tragédia, como houve no mês de maio deste ano, na Ocupação Taquaral no bairro Monte Líbano em Piracicaba.

    No dia 7 de maio, por uma decisão judicial da juíza Fabíola Moretti, cerca de 50 famílias foram colocadas nas ruas em meio à pandemia, sem ajuda do poder público e colocando em risco, idosos, crianças e desempregados. Derrubaram as casas e bloquearam os pertences desses moradores por um mês, tudo para favorecer a especulação imobiliária patrocinada pela Prefeitura de Piracicaba e o Estado de São Paulo.

    Regiana, antiga moradora da Ocupação Taquaral , ficou desempregada após o fechamento do Shopping Piracicaba no início da pandemia. 

    “Derrubaram as nossas casas, nossas coisas ficaram um mês presas, levaram para um depósito particular e eu só consegui retirar com autorização do Juiz.” 

    Regiana foi acolhida pela ocupação Renascer com seus 7 filhos, marido e mãe, há um mês e meio.

    Regiana e três de seus sete filhos que moram na Ocupação Renascer.

                                             

    A Comunidade Renascer, localizada na Zona Noroeste de Piracicaba, abriga desde janeiro de 2020, mais de 400 famílias. Essas pessoas, entre elas crianças, idosos e cadeirantes, são ameaçados, quase todos os dias logo pela manhã na ocupação, por policiais que rodeiam a ocupação e quando querem, sem aviso nenhum, invadem barracos com pontapés nas portas oprimindo moradores. É um enfrentamento diário pela vida em uma estrutura que cria a condição de pobreza e, ela própria, condena e marginaliza, sem qualquer parâmetro decente e humanista.

    A ação de reintegração de posse contra a Comunidade Renascer foi pedida por 8 pessoas em março deste ano e o juiz Eduardo Velho Neto determinou o despejo contrariando o primeiro artigo 554 do código Processo Civil, deixando de intimar o Ministério Público e a Defensoria Pública do Estado de São Paulo, esse procedimento é obrigatório por ser uma ação contra coletivo de pessoas “hipossuficientes economicamente”.

    Ocupação Renascer.

     

    A cada minuto que passa, os moradores passam a se relacionar mais profundamente com seus vizinhos, sua casa e com a terra. Estão em amadurecimento, mais de cinco hortas de cuidado comunitário. 

    Leonardo ao lado de uma das hortas que ele e sua família cuidam na Ocupação Renascer.

     

    Vanessa e seu marido Leonardo, mais seus três filhos, Vítor, Richard e Lawane Eloá, fizeram a maior horta da comunidade. É a relação com a terra gerando valorização, autonomia e maior qualidade de vida para os moradores, intrinsecamente. O artista Pajé também morador da Renascer, pinta as frentes das casas, representando, individualmente, cada lar ali construído.

    Leonardo e Vanessa, moradores da Ocupação Renascer.

     

    Daisy Isidoro, uma das lideranças da Ocupação Renascer. É Técnica de Enfermagem e estudante de Direito.

     

    Moradoras da Ocupação Renascer ao lado de uma das pinturas do artista Pajé, também morador.

     

     

    A outra ordem de despejo que acontece simultaneamente é no Acampamento Esperança, localizado na zona rural de Araras. São pequenos sítios que foram ocupados há 10 anos em cima de uma linha de trem desativada. São pequenos agricultores, cerca de 30 famílias que estão há 8 meses sem água, por decisão do prefeito. Coincidentemente, na mesma época, o transporte escolar da área, também parou de circular.

    Milton, morador do Acampamento Renascer e sua família que moram em cima da antiga estação de trem.

     

    O mandado de reintegração de posse expedido pelo juiz Antônio César Hildebrand e Silva, ignora uma parte importantíssima do processo. Qualquer decisão sobre áreas ocupadas a mais de um ano, deve contar com uma audiência com todos os moradores. A advogada Marcela Bragaia (Renap – Rede Nacional dos Advogados e Advogadas Populares) que cuida, tanto do caso do Esperança, quanto da Renascer juntamente com a rede, explicou em uma assembléia com os moradores, como essa ordem de despejo viola os direitos.

    “Todo processo de despejo de uma ocupação que tem mais de um ano, tem que ter uma audiência, as famílias têm que sentar junto com os juízes, Ministério Público, com a Defensoria e fazer uma conversa pra ver como é que vão ser as coisas. O juiz Antonio Cesar Hildebrand e Silva daqui de Araras tá passando por cima da lei”.

     

    Qualquer pessoa que visite o local, percebe que os acampados moram la há anos. No entanto, o juiz Antônio César alega que a posse é nova. Deram 30 dias para desocupação voluntária e caso os moradores não saiam passivamente, a reintegração se dará com violência policial.

     

    Esse mesmo juiz já decidiu pela reintegração de posse de uma parte da cerca particular da Usina São João (U.S.J Açúcar e Álcool) que faz divisa com a  área federal da Antiga Estação Ferroviária. As áreas são contíguas e a parte particular foi reintegrada. Hoje as famílias estão somente dentro da área federal.

    O absurdo é que o mesmo juiz Antonio Cesar Hildebrand e Silva foi quem expediu o mandato de reintegração de posse para a Usina São João no processo nº 1003266-34.2018.8.26.0038 em 2018, deu também a decisão de reintegração atual no processo de reintegração nº 1002159-81.2020.8.26.0038. Portanto, ele sabe que as famílias estão há mais de um ano na área e mesmo assim ele decidiu contra a audiência de mediação.

    Com todo esse descaso, as famílias ainda resistem ao perigo que é morar cercados por canaviais. Há dois anos atrás, uma queimada atingiu 105 alqueires e chegou a matar algumas de suas criações, prejudicando parte do sustento dessas famílias que vivem da agricultura de subsistência e dos seus animais.

    O agrotóxico também é prejudicial, como nos contou o morador José Pereira, relatando que quando passam com a máquina de veneno, as plantas morrem.

     

    José Pereira, morador do Acampamento Esperança.
    José dos gatos, morador do Acampamento Esperança.

    Um outro morador, Valdemir, nos relatou o altíssimo índice de dengue na região: 

    “A gente percebe que pela cidade, pelos canaviais, são repletos de lixo. A gente tá com um índice de mais de 1.200 casos de dengue, fora os óbitos que teve por dengue hemorrágica ultimamente.” 

    A Usina São João, que é dona daquelas terras e tem interesse direto na reintegração de posse, parece não se importar com os dejetos deixados nos arredores do Acampamento, sem qualquer iniciativa de prevenção sanitária.

    Milton, morador do Esperança, é artista, ex-trabalhador da Usina e mora com a sua família na parte de cima da antiga estação. Parte dos acabamentos dela ainda estão no chão e nas paredes, assim como os resquícios dos trilhos no seu quintal. Ele escreveu uma carta, que levanta questionamentos diante dessa perseguição e relata sua revolta com o formato dessa estrutura, que os ameaça diariamente.

    “Estão deixando pessoas idosas com depressão, pessoas que ajudaram na construção do nosso acampamento”.

    Milton, morador do Acampamento Esperança.

     

    A reintegração na Comunidade Taquaral foi violenta e o que está segurando a ação de despejos nessas duas ocupações, é a articulação e união dos moradores. Nessa segunda semana de julho, o co-deputado da Bancada Ativista Fernando Ferrari, passou por essas duas ocupações se solidarizando à luta dessas famílias por moradia. Essas duas ocupações se encontram vulneráveis e movimentos de moradia são bem-vindos para fortalecer e mobilizar. 

    Piracicaba, município do Estado de São Paulo, segundo o SUP (mídia livre), está entre as 20 cidades mais ricas do interior paulista. Essa mesma cidade teve um aumento significativo de 10% da favelização nas últimas duas décadas.

     Enquanto não existirem políticas públicas e empreendimentos habitacionais populares que contemplem essas famílias, ocupações continuarão acontecendo na cidade como resposta à necessidade básica humana que é a moradia.

    Na Comunidade Renascer, a Assistência Social prometeu um primeiro passo positivo, que pretende cadastrar todos os moradores na EMDHAP (Empresa Municipal de Desenvolvimento Habitacional de Piracicaba), utilizando o endereço da Comunidade, possibilitando o acesso a possíveis benefícios e auxílios do Governo Federal e Municipal.

                            

    “Todos nós devemos nos preparar para combater

    É o momento para trabalhar pela base

    Mais embaixo pela base

    Chamemos os nossos amigos mais dispostos

    Tenhamos decisão

    Mesmo que seja enfrentando a morte

    Por que para viver com dignidade

    Para conquistar o poder para o povo

    Para viver em liberdade

    Construir o socialismo, o progresso

    Vale mais a disposição

    Cada um deve aprender a lutar em sua defesa pessoal

    Aumentar a sua resistência física

    Subir ou descer

    Numa escada de barrancos

    A medida que se for organizando a luta revolucionária

    A luta armada, a luta de guerrilha

    Que já venha com a sua arma”

    Carlos Marighella.

     

    Link da matéria do SUP (Mídia Livre): https://medium.com/@serviodeutilidadepblica/comunidade-renascer-a-f%C3%AAnix-dos-despejos-e-especula%C3%A7%C3%A3o-imobili%C3%A1ria-em-piracicaba-sp-c1e038b60612

  • Crueldade da polícia de Doria: em plena pandemia 50  famílias são despejadas em Piracicaba

    Crueldade da polícia de Doria: em plena pandemia 50 famílias são despejadas em Piracicaba

    POLÍCIA DE DORIA ARRANCA 50 FAMÍLIAS DE CASA EM PIRACICABA

    É PRECISO PARAR AS REINTEGRAÇÕES DE POSSE URBANAS E RURAIS

    Conversa de Doria sobre “fique em casa” é para inglês ver. Na região de Taquaral, Piracicaba, famílias não tiveram direito nem de retirar suas coisas de casa e foram jogadas nas ruas em plena pandemia.

    A deputada estadual do PT/SP sofreu uma tentativa violenta de prisão quando negociava a saída de 50 famílias do Taquaral em Piracicaba.

    Após decisão do Tribunal de Justiça de São Paulo, que não levou em conta o momento de pandemia que vivemos, as famílias foram jogadas para fora de suas casas a toque de balas sem ao menos terem direito de retirar seus pertences.

    MST repudia despejo violento contra familias sem teto de Piracicaba SP

    O governador Doria e o Tribunal de Justiça, através da polícia militar, destroem as casas de sem teto em plena pandemia do coronavirus

    Na manhã do dia 7/5, as cerca de 50 famílias sem teto da região do Taquaral em Piracicaba, foram acordadas pela violência da polícia que chegou por volta das 6h com tratadores destruindo suas casas.
    A área pertence à vários herdeiros de um advogado de São Paulo, e estava abandonada, servindo apenas para especulação imobiliária, sem nenhum uso.
    Os sem teto ocupam a área desde janeiro, na luta pelo direito a moradia. A assessoria jurídica popular que acompanha as famílias, tentou impedir o despejo alegando questão humanitária e apelando ao bom senso diante diante da maior pandemia dos últimos tempos, mas tanto a justiça de Piracicaba, como o Tribunal de Justiça de SP ignoraram o risco de morte que estão impondo à essas famílias. E tudo ocorre com a anuência do governador João Doria, que tem um discurso de defesa do distanciamento social, mas na prática joga famílias inteiras na rua.
    Os pertences das famílias estão sendo levados para um galpão e não foi sequer oferecida uma alternativa de alojamento para as famílias, que estão indo pra rua ou pra casa de parentes, se expondo à riscos de infecção a covid 19.
    Pra piorar a situação, a polícia deu voz de prisão para a deputada estadual Bebel que estava no local apoiando as famílias, e para o advogado popular Nilcio Costa. Por pressão da comunidade, as prisões não foram efetuadas.

    Pedimos que denunciem o GOVERNADOR JOÃO DORIA, a POLÍCIA MILITAR e o TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SP por este ato brutal de violência em plena pandemia. Divulguem!!
    Exigimos que sejam disponibilizadas vagas em hotéis ou alojamentos dignos para receber as famílias despejadas durante a pandemia.
    Que o governador aponte uma solução ao direito permanente de moradia às famílias sem teto.
    Que todas as reintegraçoes de posse urbanas e rurais sejam suspensas enquanto durar a pandemia. Pelo direito de ter um teto para “ficar em casa”.

    MOVIMENTO DOS TRABALHADORES RURAIS SEM TERRA