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  • Ativista morre durante resgate de famílias soterradas

    Ativista morre durante resgate de famílias soterradas

    As águas de março que são cantadas em prosa e verso e romantizam um período do Brasil onde as chuvas caem com mais força e continuamente. A baixada santista sofreu no início do mês com as águas não romantizadas que derrubaram casas e no último domingo, 8 de março foi confirmada a notícia de que Rafael Rodrigues, ativista, mestre capoeirista, produtor cultural e humanista estava entre as vítimas dos desmoronamentos que atingiram o Guarujá (litoral de São Paulo), e  hoje, se encontra no Orun.

    Mas antes de falar do Rafa o que mais choca é o descaso, e a apatia de quem deveria estar ali segurando a mão de Rafael. Sim, o governo deve sim por em sua conta as vidas que se foram e as famílias que perderam suas casas.

    Cadê o poder público? 

    O Prof. Anderson de Almeida Costa é formado em Administração de Empresas pela Universidade Santa Cecília dos Bandeirantes; Pós graduado em Marketing de Serviços, na UNAERP; fez Matemática, na mesma instituição. É professor da rede estadual do Estado de São Paulo há 24 anos; ex-Professor da FABE, em Bertioga/SP e professor do Cursinho Pré Vestibular Afrosan (Associação dos Afrodescendentes da Baixada Santista – Santos), falou ao Empoderado

    “A pergunta que não quer calar é: a Prefeitura, mesmo sabendo que no verão há incidências de chuvas, acarretando escorregamento ou deslizamento de terras nas encostas dos Morros de Santos e região, não investiu recursos, muito menos estudos para ajudar a evitar esta catástrofe. Fica claro e evidente que o descuido foi de tal maneira que, segundo o conceito acima, digo, sobre Ética, as Prefeituras de Santos, Guarujá, São Vicente e, principalmente o Governo do Estado de São Paulo, foram no mínimo, “omissos e irresponsáveis” por não planejarem o “evitável”.

    O pior de tudo, tentam calar a voz dos mais desvalidos com a “fortuna” de R$ 250,00 cedida pelo Governo do Estado de São Paulo e R$ 250,00 cedido pelas Prefeituras para auxílio moradia aos diretamente afetados. Além desta vultuosa quantia, o governo do Estado da mais Rica Unidade Federal, concedeu o benefício aos desabrigados de fazer as refeições no Bom Prato. Isto é, terão direito ao café da manhã e almoço durante 15 (quinze dias). Como se tudo resolvesse em 15 (quinze) dias.

    Estes auxílios caracterizam e evidenciam como o Sistema é Falido e, de que forma somos assistidos. Quanto aos valores, creio que soam como um “cala boca.” Ora senhores, com esta fortuna, os moradores irão para uma outra região que também é área de risco. Onde estão as Políticas Públicas (Municipal/Estadual) de Moradia e Habitação? Será que não temos técnicos, geógrafos, geólogos, engenheiros nas prefeituras para evitar, ou, diminuir catástrofes como estas? Por que os R$ 50 milhões não vieram antes, se já existiam? Desta, para o próximo verão, os que não foram atingidos por este flagelo, podem perder o pouco que construíram.”

    O descaso não tem limites e ataca em todos locais. Entramos em contato com o prefeito de São Vicente devido aos problemas da Ponte dos Barreiros, – ela está perto de cair devido a má administração. O Empoderado entrou em contato com o atual gestor da cidade, Pedro Gouvêa (MDB), através de sua assessoria/secretaria e ele não respondeu (Prefeito). Faz mais de 2 meses.

    Ou seja, Pedro Gouveia, não achou importante responder para a população sobre o absurdo caso da Ponte que tem menos de 50 anos e está caindo. Uma arquitetura que faz corar um estagiário de engenharia, pois até estaca de madeira tem. Será que o poder público está esperando a ponte cair para responder para a população?

    Principal acesso da população mais carente de São Vicente para o centro está a um passo de cair
    Principal acesso da população mais carente de São Vicente para o centro está a um passo de cair

    Quem foi o Rafael Rodrigues?

    Enquanto se vê neste artigo o descaso do poder público, existe um ativista que literalmente deu a vida ao próximo. Bruna De Oliveira, sua irmã fala sobre o irmão:“Meu irmão desde pequeno quis ajudar o próximo início sua vida na capoeira, assim tendo mais forças pra lutar, sofreu 2 acidentes com amigos de capoeira presente, quando resolveu trabalhar (ainda sendo menor de idade) com crianças carentes assim montando o projeto roda de capoeira onde mais pra frente veio a ser o Afroketu, onde começaram as lutas diárias e constantes.

    Rafael com as sobrinhas Catarina (vermelho/direita), Iasmin (vestido colorido/esquerda) e sua amiga!

    Ele é afro religioso, filho do maravilhoso rei Xangô, onde pra ele lutas sempre eram diárias, mesmo assim jamais desistiu. Fez aliança com militantes de outras religiões, sofreu várias perseguições… Ou seja, (Rafael) lutou, gritou, sofreu tanto!”

    Bruna fez uma tatuagem para que o mundo leia quem foi seu herói!

    Rafael falando sobre africanidade na Associação Cultural de Capoeira Roda Grande: Núcleo Monitora Eli, no dia 20 de novembro, dia da Consciência Negra (2019).

    Familia Afroketu e para saber mais clique aqui!

    “Antes de conhecer o Rafael conheci o Afroketu, conheci a dança afro, a capoeira e o maculelê que ele ensinava para seus alunos. Conheci primeiro seu trabalho, seus alunos para depois conhecer o mestre que punha em destaques crianças e adolescentes pretos e periféricos.

    Sempre com orgulho de pertencer so candomblé, Rafael não escondia sua religião e ensinava a todos como ela deve ser respeitada. E se não a respeitasse ele sabia como se defender do racismo religioso.

    Sentirei muita falta dele, mas sei que ele cumpriu seu ori. E para nós que ficamos aqui resta continuar seu trabalho. Pondo sempre em destaque as crianças e adolescentes pretos e periféricos. Assim como esse grande mestre fez.” – Andreia Kelly (Professora e ativista da Educafro, da Baixada Santista)

    “Fim dos anos 2000 andavam pela terra Santamarense jovens que se inquietavam com a violência policial e a falta de acesso para Comunidade Negra. O resultado dessa inquietação juvenil fez surgir uma inspiradora reunião de mentes que fervilham a participação popular e o enfrentamento a burocracia racista e machista.

    Longe de ser um movimento, essa força da natureza política de adolescentes fez despontar nomes como o de Rafael Rodrigues. Copeirista e Candombecista Raiz, mestre da Cultura Popular Negra, pesquisador e arqueólogo autodidata, os adjetivos e competências são pouco para descrever a complexa e comprometida atitude habilidosa com a qual se apresentava esse militante negro. A sua morte prematura pode ser relacionada a um homicídio provocado pela falta de política pública de organização da defesa civil e da omissão para melhora de moradias subnormais do Morro do Macaco Molhado em Guarujá, na chuvarada mais intensa ocorrida no litoral paulista no início de março de 2020.

    Em 10 de março de 1928, após  chuva intensa o Monte Serrat desbarrancou e cerca de 2 milhões de metros cúbicos de terra caíram sobre a Santa Casa de Misericórdia de Santos, hospital fundado em 1543. A tragédia deixou pelo menos 81 mortos, segundo os dados oficiais. A chuva e os deslizamentos que atingiram a Baixada Santista na madrugada de terça 3/3/2020 são recorrentes na região, que, mesmo assim, permitiu invasões ao longo do tempo em áreas de risco. 

    Por isso, o Rafael do Afroketu, grupo que preserva e difunde a Cultura de Tradições e Salvaguarda da Ancestralidade Negra, morreu por omissão dos poderes constituídos em tomar precauções e agir de modo técnico para resgatar pessoas em Favelas que estejam desbarrancando. 

    Obrigado por sua luz Rafael Rodrigues, e prometo ser mais um disponível e em pé para que seu legado permaneça por anos, com ações e resultados afirmativos. Homenagem a toda gente de Guarujá e Baixada Santista.”

    Renato Azevedo, militante da causa Negra, combatente contra o Racismo

    Eu vou tentar ser um pouquinho do que o mestre sempre me falava: “Sol minha presidenta. Seja firme. Seja forte e eu estarei sempre aqui quando precisar. Não desanime que a nossa causa é de todos e juntos somos fortes (Rafael Rodrigues)”. Por Sol Praia, da AFROPAZ (Bertioga) 

    Felipe Ferreira, dos Instituto Novos Sonhos falou sobre o amigo: “foi um aliado, parceiro e combatente. Alguém que deveria escrever um livro para ter deixado todo seu conhecimento ancestral, para a humanidade. (Felipe) como já chorei pelo Rafael esta semana, como já xinguei o poder público. Foi uma pena, foi lamentável.”

    “(Rafael de Oliveira Rodrigues ) é um cara  humilde e honesto com único objetivo: ajudar o próximo não  importando quem fosse. Ele era um verdadeiro pai, irmão, amigo pra tudo.

    Foi um cara que tudo que ele aprendia ele fazia questão de ensinar ao próximo. Tem uma frase que ele sempre falava: “conhecimento e pra se passa não leva para um caixão”.E assim ele ensinou a todos que tiveram o prazer de conhecê-lo.

    O que tenho que falar dele é que foi um guerreiro e lutador pelos seus sonhos. A felicidade dele era o grupo que ele lutou para estar de pé: Afroketu. A capoeira era o amor da vida dele.”Daniel de Moura (Biel) era afilhado e aluno do Contramestre Rafael.

    Afrojetu faz uma homenagem ao mestre!

    Foram as águas de março que levaram Rafael, mas a luta continua porque sabemos que toda vez que chover na baixada é o Rafa que chora pelo abandono ao povo que ele sempre lutou. Contudo essas serão lágrimas que só serão cicatrizadas quando cada um fizer um pouco mais por este país e como ele disse em sua última publicação em sua mídia social:“deixarem de politicagem”.

     “É madeira de vento, tombo da ribanceira

    É o mistério profundo, é o queira ou não queira

    É o vento vetando, é o fim da ladeira

    É a viga, é o vão, festa da ciumeira

    É a chuva chovendo, é conversa ribeira

    Das águas de março, é o fim da canseira

    É o pé, é o chão, é a marcha estradeira

    Passarinho na mão, pedra de a tiradeira”

    Nota: matéria originalmente escrita no Jornal Empoderado:

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    Twitter: @Jornalempodera2

  • Graxa na cara?

    Graxa na cara?

    imagens exclusivas, de Veetmano Prem Imprensa© / AgênciaJCMazella

     

     

     

    Há momentos em que palavras perdem qualquer função, são totalmente dispensáveis diante da boa fotografia.

    Boas fotografias muitas vezes são pura tristeza, mazelas.

    Nesse momento que vejo as praias em pranto, tanta areia branca deprimida, campo de guerra e refugiados, apenas uma dúvida tenho, se graxa é melhor do que óleo de peroba para os que trazem a cara de pau por natureza, por descaramento.

     

     

    Praias de Itapuama e Xáreu, cidade Cabo de Santo Agostinho. Litoral Sul de Pernambuco. 
  • Para especialista, governo é intencionalmente omisso na contenção do óleo que atingiu o litoral do Nordeste

    Para especialista, governo é intencionalmente omisso na contenção do óleo que atingiu o litoral do Nordeste

    por Raíssa Ebrahim, em Marco Zero, para o VioMundo.

    “Estamos sendo feitos de tolos. Como veem manchas chegarem às praias e não acionam imagens dos satélites?”

     

     

     

    A frase resume a revolta de Yara Schaeffer Novelli, doutora e professora sênior da Universidade de São Paulo (USP), em relação ao vazamento de óleo que já é considerado o maior desastre ambiental do Nordeste.

    Ela foi a primeira perita judicial da primeira ação civil pública movida no Brasil por dano ambiental, em 1983, num rompimento de oleoduto da Petrobras na Baixada Santista.

    Naquela época, o Brasil tinha recém-publicado e regulamentado a Lei 6938, de 1981, da Política Nacional do Meio Ambiente.

    Desde então, leis, normas, protocolos, planos nacionais e experiências foram sendo acumulados.

    Marcos legais não faltam, mas eles não estão sendo cumpridos.

    O descaso e o silêncio do governo federal são ensurdecedores. A Marco Zero Conteúdoconversou por quase 1h ao telefone com a cientista, considerada umas das maiores conhecedoras do assunto no País e sócia-fundadora da ONG Instituto Bioma Brasil.

    “Nós (o Brasil) começamos com o pé errado. Mas, com todo esse tempo – as primeiras manchas de óleo apareceram em 30 de agosto –, para mim foi intencional não se envolver pessoas e grupos que poderiam definitivamente ter colaborado. Teríamos tudo para ter agido de forma organizada, legal e dentro das normas desde o primeiro momento em que se avistou óleo chegando às praias. Não precisa de muito, está tudo aí no Google”, avalia Yara, autora de mais de 100 artigos científicos e escritora ou organizadora de mais de 40 livros.

    A Lei 9.966, de 2000, estabelece o que deve ser feito em termos de prevenção, controle e fiscalização de poluição causada por lançamento de óleo e outras substâncias nocivas ou perigosas em águas sob jurisdição nacional.

    São os princípios básicos a serem seguidos por todos os tipos de embarcações, portos, plataformas e instalações, nacionais ou estrangeiros, que estejam em águas brasileiras.

    “Está tudo lá, mastigado”, reforça.

    A lei mostra desde o que deve ser feito quando se registram as primeiras aparições de óleo, como classificar, controlar, prevenir e transportar as substâncias, incluindo marcos legais de infrações e punições, além de elencar quem são os responsáveis pelo cumprimento.

    A legislação, porém, não está sendo cumprida.

    Foi necessário que o problema se espalhasse assustadoramente para que, só no último sábado (7) – quase 40 dias depois dos primeiros registros –, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) determinasse que a Polícia Federal e a Marinha investigassem as causas e as responsabilidades do que, com atraso, passou a ser considerado um crime ambiental de grandes proporções.

    As ações de mitigação e prevenção estão sendo realizadas num trabalho de formiguinha, que muitas vezes envolve mais o ativismo do que o cumprimento governamental.

    Nada deveria ter sigilo, explica Yara: “o próprio Plano Nacional de Contingência diz que imprensa tem que ser comunicada e que é para haver reuniões diárias e divulgações de tudo que está acontecendo. Eu fico pasma, esse é o adjetivo que configura o que estou sentindo no momento”, lamenta.

    A professora explica que a Lei 9.966 também atribuiu ao Ministério do Meio Ambiente a responsabilidade na identificação, localização e definição dos limites das áreas ecologicamente sensíveis à poluição causada por lançamento de óleo e outras substâncias nocivas ou perigosas.

    Em 2008, uma resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) estabeleceu que esse mapeamento deveria ser representado pelas chamadas Cartas SAO (Cartas de Sensibilidade Ambiental a Derramamentos de Óleo).

    A maior parte das bacias nordestinas são mapeadas: Ceará e Potiguar (Rio Grande do Norte), em 2004; Sul da Bahia, em 2013; Sergipe-Alagoas/Pernambuco-Paraíba, em 2013; e Pará-Maranhão/Barreirinhas, em 2017.

    Essas cartas se juntam à Lei 9.966. Mas isso também não aconteceu, e agora o vazamento já atingiu mais de 2 mil quilômetros de costa.

    “As Cartas SAO identificam a sensibilidade ambiental que deve ser protegida, os recursos biológicos sensíveis ao óleo. Está tudo lá, cheio de figurinhas, mapa, bichos, atividades socioeconômicas que podem vir a ser prejudicadas”, frisa Yara.

    Isso significa, portanto, que o governo federal deveria estar protegendo o que já está mapeado e usando imagens de satélite para prevenção, para saber onde colocar as barreiras de contenção e absorção.

    “O Porto de Suape, por exemplo, é obrigado a ter essas barreiras. O mesmo vale para a Petrobras no Recôncavo Baiano. E onde elas estão?”, questiona a professora.

    “Até palha de coqueiro poderia ter sido colocada na praia”, diz ela para provar mais uma vez o quão absurda é a situação.

    A Administração Estadual do Meio Ambiente (Adema) do Governo de Sergipe, que declarou situação de emergência e onde o óleo já atingiu a foz do Rio São Francisco, informou que a Petrobras não tem mais disponíveis as boias absorventes que seriam enviadas para conter as manchas de óleo no Rio Vaza Barris, em Aracaju.

    O estado precisará investir R$ 100 mil na compra dos equipamentos.

    Como se não bastassem a Lei 9966 e as Cartas SAO, ainda existe um Plano Nacional de Contingência, de 2012, que prevê as medidas a serem tomadas pelo governo diante de grandes vazamentos de petróleo no mar e que deveria ter sido ativado desde o início para evitar que problemas maiores acontecessem.

    Na época em que foi anunciado, período ainda de início da exploração do pré-sal, o plano tinha um orçamento de R$ 1 bilhão, uma espécie de seguro que funciona apenas em caso de grandes acidentes, nos quais os responsáveis não são identificados imediatamente.

    “Será possível que não fizeram nada disso? Eu uma idosa de 76 anos fico sabendo disso e o seu ministro do meio ambiente não sabe? Porque ele não perguntou aos técnicos do ministério, Ibama, ICMBio, que são competentes? E isso eu afirmo e assino embaixo”, ironiza Yara.

    “Começo a desconfiar que existe uma ordem superior para que não se manifestem. Essa mudez total, esse silêncio, só podem ser orquestrados. O Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) se calou, mas eles têm oceanógrafos físicos e pessoal especializado em estudo de imagens de satélite de primeira qualidade”.

    No início de agosto, o diretor Ricardo Galvão foi exonerado do Inpe depois que Bolsonaro contestou os dados sobre o monitoramento do desmatamento da Amazônia.

    “Como alguém vê as manchas chegarem às praias e não aciona as imagens dos satélites? Elas dizem onde as manchas estavam ontem, onde estavam antes de ontem… Elas estão aí para isso. Acho impossível não terem feito. Se alguém foi impedido de divulgar, isso é muito sério”, levanta a professora.

    “Estou realmente abismada e aborrecida. Estamos passando para os brasileiros que ouvem essas notícias há mais de um mês que a gente pagas aos pesquisadores que não sabem dizer nada. Não posso ver uma coisa dessas e não reagir. Temos obrigação legal e cidadã de tentar contribuir e colaborar. Fomos financiados a vida inteira pra fazer uma devolutiva para sociedade”, comenta a cientista da USP.

    Durante a conversa, Yara também comentou que a ação da Marinha de notificar 30 navios de 10 países após a triagem das manchas de óleo é “uma tremenda confusão”.

    O navio pode ser de uma país e ter bandeira registrada em outro.

    Existem os chamados “países de conveniência”, como por exemplo, a Libéria, pouco exigentes em relação às condições das embarcações.

    Tanto que algumas delas não têm permissão para entrar em portos europeus, mas entram em portos da América Latina.

    Isto significa que a embarcação não necessariamente tem a bandeira do país do armador.

    Na avaliação de Yara, sem nenhuma imagem para dizer como esse óleo está se deslocando, fica complicado chegar a alguma conclusão.

    “Não vimos a análise do óleo para dizer de onde ele é. Todo óleo tem uma assinatura. Ninguém mostrou nada”.

    “É tragicômico” um presidente do Brasil, que tem nomes internacionais de cientistas, “falar em quase certezas”.

    “Você já viu alguém estar quase grávido?”, ironiza Yara.

    “Já vi áreas costeiras em São Paulo impactadas por óleo, é bem diferente dessa quantidade que está chegando ao Nordeste. E imaginar que esse óleo sofreu intemperismo e já mudou muito… Essa mancha quando foi exposta pela primeira vez na superfície do mar, era enorme. Ela vai secando, se dissolvendo na coluna d’água, perdendo componentes, grudando mais e diminuindo o tamanho da mancha”, ensina.

    Se esse óleo realmente tiver sido despejado em alto-mar, a recomendação era que se tivesse usado tensoativos, como se fossem detergentes que dissolvem o material.

    Mas agora que o material está na costa, essa ação não é recomendada, porque podem fazer mal aos seres humanos, à fauna e à flora.

    A curto prazo, os danos já estão sendo conhecidos: tartarugas mortas, filhotes que não estão podendo ser chegar ao mar nos locais de desova, redes de pesca e corais sujos de óleo.

    Os tratores que estão sendo usados para a limpeza das praias estão levando uma camada considerável de areia da superfície onde há muita vida, isso sem contar com a compressão da areia.

    “Isso é uma perda muito grande. Há animais, crustáceos pequenos, larvas e outros organismos vivos importantes para o início da cadeia alimentar”, mostra Yara.

    Eles são inclusive alimentos para as aves que se deslocam do hemisfério norte para cá para se alimentar na época de inverno.

    As algas sujas de óleo tendem a ir para o fundo do mar e lá se decomporem.

    “Muita coisa é irreversível, um efeito crônico de longo prazo”.

    Universidades diferentes, hipóteses diferentes

    Se o professor de Oceanografia da UFPE Marcus Silva informou ter descoberto que o óleo teria sido derramado por um navio a 50 quilômetros da costa, entre os litorais de Pernambuco e Paraíba, cientistas do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (USP) sugerem que o óleo que atinge nove estados do Nordeste pode ter sido lançado ao mar em águas internacionais, a até mil quilômetros do litoral brasileiro.

    Em Salvador, a equipe da Universidade Federal da Bahia (UFBA) confirmou que o petróleo encontrado nas praias nordestinas teria origem venezuelana.

    O óleo analisado usado no estudo foi coletado nas costas sergipana e baiana em parceria com a Universidade Federal de Sergipe (UFS) e a Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs).

  • O que eles querem ver?

    O que eles querem ver?

    Por Mauro da Silva com o apoio de Miriã Bonifácio para o Jornal A Sirene (jornalasirene.com.br)

    Em Mariana, o “casarão” da Fundação Renova/Samarco, localizado na Praça Gomes Freire, está continuamente servindo como ponto turístico da cidade, onde são expostas maquetes referentes ao local de reassentamento de Bento Rodrigues e repassados conhecimentos sobre o processo de reparação das comunidades atingidas a partir do ponto de vista da fundação/empresa. Também foi iniciado o programa VimVer, vinculado à área de atuação de Diálogo Social da Renova/Samarco, em que são oferecidas visitas monitoradas com especialistas dessa fundação/empresa nas áreas atingidas de Bento, Paracatu e Gesteira. Tendo em vista isso, foi encaminhada uma carta da Comissão dos(as) Atingidos(as) de Mariana à Renova/Samarco solicitando o transporte e a alocação das maquetes para a Casa dos Saberes. Isso porque se entende que, com tais medidas, a empresa usa ações obrigatórias de reparação para fazer propaganda de si mesma. E, ainda, utiliza recursos e espaços em desigualdade com o dos(as) atingidos(as) para criar a sua versão da história. Diante disso, reafirma-se que toda e qualquer informação que diz respeito a estes territórios deve ter o consentimento das pessoas proprietárias destas terras (e memórias).

    “VimVer o quê?” O que a Renova ou a Samarco estão fazendo? Esse é um projeto muito audacioso por parte da fundação/empresa, de entrar em um território que, embora ela tenha todo um interesse, não lhe pertence, nem à Vale ou à BHP Billiton, e sim ao povo, no caso de Bento, um povo sofrido que, durante três séculos, lutou para ter o seu lugar. Eu sou de uma geração que vem dos fundadores de Bento Rodrigues. Portanto, sou testemunha de que a Samarco sempre pleiteou esse espaço. Agora, por meio desse programa, a gente vê que ela se sente dona do que diz respeito à nossa comunidade, e está querendo se sentir dona também de Paracatu e das demais áreas que foram atingidas por essa tragédia-crime.

    “Assim, somos enfáticos em dizer que nada que diz respeito às nossas comunidades pode ser feito sem a participação direta dos(das) atingidos(as).”

     

     

    Então, esse Projeto VimVer é uma afronta à nossa dignidade, uma falta de respeito com o sentimento daqueles que perderam tudo, que perderam seus entes queridos. E ainda é um projeto que visa criar uma cortina de fumaça sobre aquilo que foi feito até agora em se tratando da nossa reparação. A Renova/Samarco, ao invés de reparar os danos que sofremos, vem causando violações ainda maiores. Eu, então, pergunto, como tive a oportunidade de questionar o Roberto Waack (Presidente da Fundação Renova) durante reunião realizada no dia 4 de maio, em que ele nos disse que esse não é um projeto voltado inteiramente para o turismo, que é um programa que vai levar estudantes, pesquisadores e aquela conversa de sempre, mas que, na verdade, vemos como algo que estou batizando de “turismo da desgraça”: “VimVer o quê?”. Assim, somos enfáticos em dizer que nada que diz respeito às nossas comunidades pode ser feito sem a participação direta dos(das) atingidos(as). Isso que estão fazendo está nos ferindo de morte. Estamos resistindo e lutando pelo tombamento dos nossos espaços, porque acreditamos que é isso que vai resguardar que esse território continue pertencendo a quem é de direito. E que não se enganem, pois, na versão do bandido, ele sempre é a vítima.

    Leia a matéria em seu site original: http://jornalasirene.com.br/manifestos/2018/06/13/o-que-eles-querem-ver