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  • POR QUE A LAVA JATO QUER LULA LIVRE?

    POR QUE A LAVA JATO QUER LULA LIVRE?

    ARTIGO

    RODRIGO PEREZ OLIVEIRA, professor de Teoria da História na Universidade Federal da Bahia

     

    Não é novidade pra ninguém que desde 2014 a Lava Jato é a mais poderosa força em atuação na cena política brasileira. A fonte desse poder todo é a energia política liberada em junho de 2013. À esquerda e à direita se disseminou um consenso anti-sistêmico que denunciava os limites e as deficiências do regime de poder forjado na redemocratização.

    Corrupção, baixa qualidade de vida nas grandes cidades, precariedade nos serviços públicos, violência urbana. Ecoava um desejo de mudança, de rejeição aos partidos políticos tradicionais. Tudo isso influenciou diretamente os resultados das eleições municipais de 2016, o golpe parlamentar que, também em 2016, derrubou Dilma e as eleições presidenciais de 2018.

    Essa atmosfera anti-sistêmica pariu dois filhos gêmeos, potencialmente rivais entre si, como Esaú e Jacó: o lavajatismo e o bolsonarismo, que durante algum tempo foram aliados. Não mais. Acabou o amor.

    Bolsonarismo e lavajatismo entenderam que, hoje, seu grande adversário não é o PT.

    Bolsonarismo e lavajatismo estão disputando o controle da energia disruptiva que foi liberada em 2013. Nessa disputa, Lula é trunfo estratégico para ambos. Vale mais solto, fazendo política, do que preso.

    No começo do ano, o lavajatismo era o fiador do bolsonarismo. Moro era o superministro, maior que o próprio Bolsonaro. O jogo mudou. Muita coisa aconteceu nos últimos meses. Nas crises, o tempo passa mais rápido.

    Pela primeira vez na cronologia da crise, a Lava Jato está nas cordas.

    O inferno astral da Lava Jato começou em junho, com os vazamentos feitos pelo “The Intercept Brasil”. Não foram pequenos os efeitos da “Vaza Jato” na crise brasileira. Sérgio Moro perdeu capital político, tornando-se uma espécie de elefante branco, sendo diariamente desautorizado por Bolsonaro.

    Bolsonaro é ingrato, não reconhece dívida com o homem que pavimentou seu caminho rumo ao Palácio do Planalto.

    Na última quinta-feira, 26 de setembro, o STF impôs uma grande derrota à Lava Jato: por 7 votos a 3, a corte decidiu que o rito mobilizado pela Lava Jato é inconstitucional porque não permite que o réu conheça o conteúdo das delações premiadas antes de apresentar suas alegações finais.

    Os processos que não cumpriram o devido rito devem ser anulados, o que pode beneficiar todos que foram condenados no âmbito da Lava Jato, incluindo o ex-presidente Lula.

    Mas esse não foi o único revés sofrido pela Lava Jato: no Congresso Nacional há quem queira organizar a CPI da Lava Jato. A defesa de Lula pede ao STF que julgue a suspeição de Moro. Bolsonaro peitou o MP para nomear Augusto Aras para a chefia da Procuradoria Geral da República (PGR) com o objetivo explícito de colocar um freio nos bacharéis de Curitiba.

    A sabatina de Aras no Senado, realizada em 25 de setembro, traduziu perfeitamente a força dessa aliança: a classe política e o bolsonarismo se uniram pra confrontar um inimigo comum. A classe política quer reparação, vingança mesmo. O bolsonarismo quer reinar sozinho como força organizadora da energia anti-sistêmica liberada por junho de 2013. Cabe a Aras coordenar o projeto por dentro do MP. A ver se o plano vai dar certo.

    A Lava Jato reagiu e, com a ousadia de sempre, dobrou a aposta. Em 27 de setembro, Deltan Dallagnol, Roberto Pozzobon e Laura Tessler solicitaram ao STF a progressão da pena de Lula para o regime semiaberto.

    Sim, leitor e leitora, os mesmos que há pouco tempo tentaram mandar Lula para um presídio comum, agora querem que ele vá pra casa. O pretexto ganha forma de argumento jurídico formal: como Lula já cumpriu 1/6 da pena tem direito à progressão. Como se a Lava Jato respeitasse os direitos fundamentais.

    É óbvio que a soltura de Lula é gesto político, assim como a prisão foi gesto político. Tudo que envolve Lula é gesto político. Lula é a mais importante instituição política da história do Brasil.

    Na guerra fratricida entre o bolsonarismo e o lavajatismo vencerá aquele que conseguir ser a mais radical antítese de Lula. Pra isso, é fundamental que Lula esteja solto, fazendo política, agrupando sua base. No outro polo do espectro político, lavajatistas e bolsonaristas disputarão na unha quem consegue capitalizar mais o ódio que parte da sociedade brasileira nutre por Lula.

    Polarização total. Sem centro mediador. Lula é ativo político também pro lado de lá.

    Cabe ao PT não permitir que Lula seja pintado como o representante do sistema, como o líder da “velha política”. Lula precisa ser visto como o símbolo do Estado provedor de direitos sociais. Nesta narrativa, ele é imbatível.

    É óbvio que Lula percebeu a estratégia e, simplesmente, se recusou a deixar a cadeia. Bolsonaristas e lavajatistas que se matem primeiro, enquanto a crise econômica e social se avoluma, deixando a população cada vez mais mal-humorada.

    Hoje, para Lula, o melhor é ficar onde está: recebendo lideranças mundiais, vencedores de prêmio nobel, dando entrevistas, lendo e assistindo Netflix. A bomba tá na mão deles. Eles governam o Brasil.

    Lula só sai da cadeia por condução coercitiva, arrastado, talvez até algemado. Vai resistir mais pra não sair do que resistiu pra entrar. Definitivamente, o Brasil não é para principiantes.

     

  • Deltan Dallagnol sugeriu, em chats privados, que Moro protegeria Flávio Bolsonaro para não desagradar  ao presidente

    Deltan Dallagnol sugeriu, em chats privados, que Moro protegeria Flávio Bolsonaro para não desagradar ao presidente

    Via The Intercept Brasil

    Novos vazamentos revelam que Dallagnol e procuradores achavam que Sérgio Moro poderia tentar proteger o Senador Flávio Bolsonaro, nas investigações do caso Queiroz e as movimentações atípicas de dinheiro em sua conta.

    Leia a matéria completa: https://theintercept.com/2019/07/21/deltan-dallagnol-sergio-moro-flavio-bolsonaro-queiroz/

     

    8 de dezembro de 2018 – grupo Filhos do Januario 3

    Deltan Dallagnol – 00:56:50 –https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2018/12/07/bolsonaro-diz-que-ex-assessor-tinha-divida-com-ele-e-pagou-a-primeira-dama.htm
    Dallagnol – 00:58:15 – [imagem não encontrada]
    Dallagnol – 00:58:15 – [imagem não encontrada]
    Dallagnol – 00:58:38 – COAF com Moro
    Dallagnol – 00:58:40 – Aiaiai
    Julio Noronha – 00:59:34 – 
    Dallagnol – 01:04:40 – [imagem não encontrada]
    Januário Paludo – 07:01:20 – Isso lembr
    Paludo – 07:01:48 – Lembra algo Deltan?
    Paludo – 07:03:08 – Aiaiai
    Jerusa Viecilli – 07:05:24 – Falo nada … Só observo 
    Dallagnol – 08:47:52 – Kkk
    Dallagnol – 08:52:01 – É óbvio o q aconteceu… E agora, José?
    Dallagnol – 08:53:37 – Moro deve aguardar a apuração e ver quem será implicado. Filho certamente. O problema é: o pai vai deixar? Ou pior, e se o pai estiver implicado, o que pode indicar o rolo dos empréstimos?
    Dallagnol – 08:54:21 – Seja como for, presidente não vai afastar o filho. E se isso tudo acontecer antes de aparecer vaga no supremo?
    Dallagnol – 08:58:11 – Agora, Bolso terá algum interesse em aparelhar a PGR, embora o Flávio tenha foro no TJRJ. Última saída seria dar um ministério e blindar ele na PGR. Pra isso, teria que achar um colega bem trampa
    Athayde Ribeiro Costa – 08:59:41 – É so copiar e colar a ultima denuncia do Geddel
    Roberson Pozzobon – 09:02:52 – Acho que Moro já devia contar com a possibilidade de que algo do gênero acontecesse
    Pozzobon – 09:03:19 – A questão é quanto ele estará disposto a ficar no cargo com isso ou se mais disso vir
    Dallagnol – 09:04:38 – Em entrevistas, certamente vão me perguntar sobre isso. Não vejo como desviar da pergunta, mas posso ir até diferentes graus de profundidade. 1) é algo que precisa ser investigado; 2) tem toda a cara de esquema de devolução de parte dos salários como o da Aline Correa que denunciamos ou, pior até, de fantasmas.
    Dallagnol – 09:05:54 – Agora, o quanto ele vai bancar a pauta Moro Anticorrupcao se o filho dele vai sentir a pauta na pele?
    Andrey Borges de Mendonça – 09:21:16 – Uma vez pedi no caso da custo brasil e o pt alegou q era impenhorável segundo a lei eleitoral. O juiz acabou desbloqueando sem ouvir a gente. Mas confesso q nao sei se procede.
    Paludo – 09:37:52 – Tem que investigar. E isso que ele sempre diz. Na pior das hipóteses, Podem ir os anéis (filho e mulher), mas ficam os dedos. Seria muito traumático o general assumir no lugar dele.
    Viecilli – 10:06:32 – [imagem não encontrada]
    Viecilli – 10:06:51 – 
    Dallagnol – 10:22:31 – Rsrsrs
    Dallagnol – 10:39:47 – [imagem não encontrada]
    Dallagnol – 10:41:04 – [imagem não encontrada]
    Antonio Carlos Welter – 10:52:11 – O $$ termina na conta da esposa. Vao argumentar que alimentou a campanha. Periga terminar em AIME
  • MAIS UM DOMINGO DE CRISE

    MAIS UM DOMINGO DE CRISE

    ARTIGO 

    Rodrigo Perez Oliveira, professor de Teoria da História na Universidade Federal da Bahia

     

     

    9 de junho. Novamente, o noticiário político brasileiro foi sacudido. Em pleno domingo, no final da tarde, quando os brasileiros e brasileiras, preguiçosamente, se preparavam para a segunda-feira. Os que estão empregados, é claro. Pros 13 milhões de desempregados não faz muita diferença se é domingo, segunda ou quinta-feira.

    Não foi a primeira vez. Quem aqui não lembra do 8 de julho de 2018, outro domingo, quando todos acordamos com a notícia de que Lula seria solto, sob ordem de Rogério Favreto, desembargador plantonista do TRF 4?

    E o 26 de maio de 2019, quando a base orgânica de Jair Bolsonaro foi às ruas defendê-lo, se mostrando nada desprezível em termos quantitativos e apresentando relevante capacidade de mobilização e engajamento?

    Talvez no futuro alguém escreva a história dos domingos de crise. Seria algo interessante de se ler.

    Domingo, 9 de junho de 2019. É esse domingo que interessa aqui.

    O jornalista norte-americano Glenn Edward Greenwald, editor-chefe do “Intercept”, publicou material recebido de “fonte anônima”, reunindo comunicação privada entre operadores da Lava Jato, com destaque para o procurador Deltan Dallagnol e para o ministro, e ex-juiz, Sérgio Moro.

    Greenwald diz ter nas mãos arquivo gigantesco, algo maior e mais revelador que as fontes publicadas por Edward Snowden no mais que conhecido escândalo do Wikileaks.

    O material é mesmo tão bombástico a ponto de alterar substancialmente a correlação de forças e dar início a uma nova fase na cronologia da crise brasileira? Ou tudo não passa de um blefe lançado estrategicamente para mobilizar a militância de esquerda, já excitada pelas mobilizações recentes e envolvida na construção da greve geral agendada para 14 de junho?

    Só o tempo dirá. Fato mesmo é que a simples divulgação do conteúdo das supostas conversas entre Moro e Dallagol foi o bastante para mexer com o mundo político.

    A classe política acompanha com atenção. A mídia corporativa correu para defender a Lava Jato, denunciando a ilegalidade do vazamento e da publicação.

    Mas o que temos de concreto até aqui?

    O material traz a público a conspiração envolvendo Dallagnol, Moro e outros integrantes da Operação Lava Jato, com o objetivo claro de interferir nas eleições presidenciais de 2018, impedindo a candidatura de Lula e boicotando a campanha do PT.

    Dallagnol demonstra dúvidas em relação às provas disponíveis, sugerindo serem insuficientes para condenar Lula. Sérgio Moro orienta o trabalho do Ministério Público, apontando onde estariam provas mais robustas.

    Os envolvidos não negaram o conteúdo do material divulgado, o que sugere que o Intercept, de fato, tem o controle de um arquivo de grande importância jurídica e política.

    O conteúdo revelado é grave? Gravíssimo!

    O Estado democrático de direito não admite a inviolabilidade do processo legal. A coisa funciona mais ou menos assim: o MP, atuando como advogado da sociedade, identifica um indivíduo como suspeito de ter lesado os interesses públicos. O advogado de defesa, por sua vez, defende seu cliente. Todos têm direito à defesa, até mesmo os réus confessos.

    O juiz deve ouvir as duas partes com atenção, de forma imparcial, e assim julgar. Se o processo for inconclusivo, cabe ao juiz absolver o réu, pois mais vale um culpado impune do que um inocente indevidamente condenado. O marco civilizatório está fundado nestes valores.

    Quando o juiz conspira com o Ministério Público, o jogo é desequilibrado. É como se o árbitro vestisse a camisa de um dos times. O processo legal foi fraudado e o réu passa a ser vítima.

    Cá entre nós, leitor e leitora, é possível que alguém minimamente atento à cronica política brasileira não soubesse que essa conspiração estava acontecendo? É importante ter a comprovação, sem dúvida, mas não temos aqui nenhuma novidade.

    E vou além: quem no Brasil se importa com o devido processo legal?

    A crise é, exatamente, a crise das instituições. Dilma foi golpeada mesmo depois que o áudio de Romero Jucá e Sérgio Machado foi divulgado. Ali, falava-se abertamente que o impedimento era motivado pelo corporativismo dos parlamentares, que viam em Michel Temer a possibilidade de controlar da Operação Lava Jato.

    “A solução é botar o Michel, pra estancar a sangria.”

    O áudio foi divulgado, ficamos todos escandalizados e a processo de impedimento continuou, como se nada tivesse acontecido.

    O áudio foi divulgado em maio de 2016. Dilma foi afastada definitivamente no final de agosto. Três meses do áudio revelador, da impressão digital do golpe parlamentar, ressonando nos quatro cantos do país. A farsa continuou, soberbamente.

    Nada sugere que com a divulgação do dossiê da Lava Jato será diferente, pelo menos não com o que foi publicado até aqui, até o momento em que escrevo este texto.

    O conteúdo tem pouco poder de desestabilização.

    Os nichos ideológicos já formados na opinião pública não vão se movimentar porque agora temos a comprovação de que Moro e Dallagnol conspiraram para que Lula fosse preso e retirado da corrida eleitoral.

    Aqueles que estão convencidos de que Lula é corrupto, toleram sem nenhuma dificuldade o desvio ético de Moro e Dallagnol. Pelo contrário: estão ainda mais convictos de que os dois são super-heróis, o Batman e Robin que vão regenerar a República. Os fins justificam os meios.

    Os que estão convencidos de que Lula é inocente e sua prisão faz parte de um golpe de Estado em curso desde o impeachment de Dilma, agora têm provas cabais pra compartilhar nas redes sociais e nos grupos de família, gritando o desopilador “Eu avisei!”.

    A maioria da população, que mesmo tendo dúvidas a respeito da inocência de Lula seria capaz de votar nele numa eventual eleição, ficará onde está, observando com relativo desinteresse o desenrolar dos acontecimentos. Tá faltando comida no prato. As pessoas estão ocupadas.

    Porém, os desdobramentos institucionais do dossiê podem ser bastante relevantes, a depender do que venha por aí. Não creio que Lula será solto, pois os generais sabem que isso significaria desestabilizar ainda mais o já frágil governo de Bolsonaro. Mas não podemos esquecer que há juristas e políticos que só precisam de motivos para passarem como trator por cima dos menudos de Curitiba.

    Tem gente muito poderosa em Brasília babando de vontade para pegar os operadores da Lava Jato na ilegalidade. O que não falta no material já divulgado pelo Intercept é prova de que a Lava Jato feriu a legalidade. A OAB já se manifestou, solicitando que Moro e Dallagnol se licenciem de seus cargos, até que os possíveis desvios legais sejam investigados.

    Gilmar Mendes liberou para apreciação da segunda turma do STF o pedido de habeas corpus apresentado pela defesa de Lula, que estava retido desde janeiro, quando Moro assumiu o Ministério da Justiça. A segunda turma é formada por Carmen Lúcia, Edson Fachin, Gilmar Mendes, Ricardo Lewandovsky e Celso de Mello. Duvido muito que se forme maioria a favor do ex-presidente, mas a abertura da discussão, em si, sinaliza que os antilavajistas passam a ter trunfo importante na manga.

    Tem também o constrangimento político, que não é pequeno.

    E se nos próximos dias vazarem declarações de Moro ofendendo outras autoridades,como parlamentares e ministros da Suprema Corte? A vaga no STF, a aprovação do pacote anticrime e sua própria atuação como ministro da Justiça ficariam bastante dificultadas, talvez inviabilizadas.

    O cargo de ministro da Justiça é essencialmente político. Um ministro bloqueado pelo Congresso Nacional, que tem suas ações questionados pelo STF, não serve pra nada, não faz nada.

    Enfim, o conteúdo divulgado até aqui ainda é tímido, surpreende pouco, apesar de todo o barulho. A ver o que vai acontecer nos próximos dias. Ao que parece, o 9 de junho, outro domingo de crise, está longe de terminar.