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  • Sem estabilidade política não há crescimento

    Sem estabilidade política não há crescimento

    Como vão as finanças públicas do governo da coligação MDB e PSDB.

    Depois de todos os cortes nos programas sociais e de congelamentos de despesas a perder de vista, o governo do MDB e PSDB continuam exibindo déficits assustadoramente altos. Nos 12 meses encerrados em julho, o setor público gastou R$ 472 bilhões, ou, quase meio trilhão de reais, a mais do que arrecadou.

    A dívida do setor público, dívida bruta do governo geral, obviamente continua subindo com rapidez: atingiu R$ 5,2 trilhões de reais e equivalia, em julho, a 77% do PIB.

    Como explicar esse déficit tão alto se os cortes fazem sangrar desde o combate à fome e à pobreza, até o financiamento da pesquisa, passando pelo custeio das universidades e instituições públicas?

    Poucos comentam e nunca cogitam reduzir, mas o gasto com juros continua absurdamente alto: R$ 395 bilhões. Existe, ainda, uma razão fundamental que está do lado das receitas do governo. A contração da atividade econômica leva à contração do impostos e o caminho dos cortes, adotado após o golpe, não promoveu a recuperação prometida. A rota escolhida, nos mesmos moldes daquelas impostas pelo Fundo Monetário Internacional nas crises de dívida dos países emergentes, é sempre muito longa e penosa, especialmente para aqueles de menor que são os primeiros a perder o emprego e ver cortada sua assistência social.

    Mas há um outro componente importante nas causas da fraqueza econômica: a instabilidade política. O golpe trouxe uma instabilidade para o horizonte de planejamento econômico que não existiu no governo Lula e no primeiro mandato de Dilma. Não tivemos um momento de sossego após a eleição de 2014, essa é a verdade.

    Imagine-se empresário tentando planejar o futuro assim que Temer e Meirelles assumiram. O que se enxergava no horizonte? Além de cortes sobre cortes nos gastos e investimentos públicos, que eram determinantes para a recessão, não se sabia até quando o governo ia durar. Aliás, Temer e seus aliados não caíram por corrupção por malabarismos da elite econômica, política e do sistema de justiça.

    Façamos o mesmo exercício hoje, a cerca de um mês da eleição. Que assumirá o executivo em janeiro de 2019? Esse novo presidente conseguirá trazer um mínimo de conciliação necessário para o crescimento econômico?

    Não tardará para os artífices do golpe perceberem o prejuízo que causaram ao país e a si próprios. Talvez demore, sim, para perceber que há somente um sujeito capaz criar, em curto espaço de tempo, o ambiente necessário para o crescimento econômico.

    Resultados Fiscais

    Veja abaixo o a nota para a imprensa sobre os resultados fiscais divulgada pelo Banco Central do Brasil em https://www.bcb.gov.br/htms/notecon3-p.asp.

    1. Resultados fiscais

    O setor público consolidado registrou déficit primário de R$3,4 bilhões em julho. O Governo Central e os governos regionais apresentaram déficits respectivos de R$2,7 bilhões e R$1,8 bilhão; e as empresas estatais, superávit de R$1,1 bilhão.


    [Devemos tomar cuidado com esse gráfico, pois os valores acima de zero representam déficits. Assim os R$ 77,1 bilhões representam o déficit do setor público acumulado em 12 meses até julho de 2018]]

    No acumulado no ano, o resultado primário do setor público foi deficitário em R$17,8 bilhões, comparativamente a déficit de R$51,3 bilhões no mesmo período de 2017. No acumulado em doze meses até julho, o setor público consolidado registrou déficit primário de R$77,1 bilhões (1,14% do PIB), 0,2 p.p. do PIB inferior ao déficit acumulado até junho.

    Os juros nominais do setor público consolidado, apropriados por competência, alcançaram R$25,8 bilhões em julho, comparativamente a R$28,5 bilhões em julho de 2017. No acumulado em doze meses, os juros nominais atingiram R$394,5 bilhões (5,86% do PIB), reduzindo-se na comparação com o período de doze meses encerrado em julho de 2017, R$428,2 bilhões (6,64% do PIB).

    [É curioso notar que quase não ouvimos falar da despesa de juros: quase R$ 400 bilhões em 12 meses]

    O resultado nominal do setor público consolidado, que inclui o resultado primário e os juros nominais apropriados, foi deficitário em R$29,2 bilhões em julho. No acumulado em doze meses, o déficit nominal alcançou R$471,6 bilhões (7,0% do PIB), reduzindo-se 0,27 p.p. do PIB em relação ao déficit acumulado em junho.

    1. Dívida Líquida do Setor Público (DLSP) e Dívida Bruta do Governo Geral (DBGG)

    A DLSP alcançou R$3.503,5 bilhões (52,0% do PIB) em julho, aumentando 0,6 p.p. do PIB em relação ao mês anterior.

    [Lembremos que a Dívida Líquida do Setor Público (DLSP) estava em 32% do PIB quando Dilma Rousseff foi retirada do governo, uma escalada de 20 pontos percentuais em pouco mais de dois anos.]

    O impacto da apreciação cambial de 2,6% no mês respondeu por elevação de R$30,8 bilhões no estoque da DLSP, correspondente a 0,5 p.p. [ponto percentual] do PIB.

    No ano, o aumento de 0,5 p.p. na relação DLSP/PIB refletiu, em especial, a incorporação de juros nominais (aumento de 3,4 p.p.), o déficit primário (aumento de 0,3 p.p.), o efeito da desvalorização cambial acumulada de 13,5% (redução de 2,0 p.p.) e o efeito do crescimento do PIB nominal (redução de 1,3 p.p.).

    A DBGG – que compreende o Governo Federal, o INSS, e os governos estaduais e municipais – alcançou R$5.186,5 bilhões em julho, equivalente a 77,0% do PIB, reduzindo-se 0,1 p.p. do PIB em relação ao valor registrado em junho.

    Contribuíram para essa evolução os resgates líquidos de dívida no mês (redução de 0,1 p.p.), o efeito da valorização cambial de 2,6% (redução de 0,1 p.p.), e o efeito do crescimento do PIB nominal (redução de 0,5 p.p.), contrabalançados parcialmente pela incorporação de juros nominais (aumento de 0,6 p.p.).

    No ano, a relação DBGG/PIB registra elevação de 3,0 p.p, decorrente da incorporação de juros nominais (aumento de 3,4 p.p.), das emissões líquidas (aumento de 0,8 p.p.) e do efeito do crescimento do PIB nominal (redução de 1,9 p.p.).

    [Em abril de 2015, quando Dilma foi retirada do governo, a Dívida Bruta do Governo Geral (DBGG), que está em 77% do PIB, representava 59% do PIB]

  • Ilusionismo

    Ilusionismo

    Qual foi o rombo nas contas do governo em 2016? Todos os jornais estampam: R$ 155,8 bilhões. Rombo recorde, realçam. Aceitemos, por enquanto, que esse seja o déficit verdadeiro.

    Qual foi o déficit da Previdência Social em 2016? Faltaram R$152 bilhões para fechar as contas feitas pelo INSS.

    Responda rápido: de quem é a culpa pelo rombo? Não há dúvida que todos responderiam que a culpa é da previdência. E rapidamente acrescentariam que a previdência e a assistência social no Brasil são excessivamente bondosas, perdulárias, sustentadoras de vagabundos, dilapidadoras das contas nacionais….

    Bem, às vezes os raciocínios são feitos com essa rapidez exatamente para iludir os apressados.

    Vamos por partes?

    Onde está a parte do governo nesse rombo da previdência? Simplesmente não está!

    Quando instituíram o modelo atual de seguridade social no Brasil, em 1988, previram impostos para ajudar a custear os gastos com a saúde, a assistência social e a previdência. Nessa conta, esse “déficit” de R$ 152 bi, só tem as contribuições dos trabalhadores e dos empregadores. Os impostos, Cofins, CSLL e outros, criados justamente para financiar a seguridade social, não entram no cálculo desse rombo. Claro que tinha que dar déficit, não acha?

    Desconsiderar as receitas desses impostos, criados para financiar a seguridade social e, ainda por cima, chamar o resultado negativo de déficit tem um nome: ilusionismo. Querem nos passar a perna. Se formos convencidos de que, realmente, a previdência é esbanjadora e está levando o país para o buraco, aceitaremos mais docilmente a retirada de direitos que eles estão tramando, não acha?

    Mas então da onde veio o rombo nas contas do governo?

    Em primeiro lugar, é preciso dizer que o déficit do governo foi R$ 563 bilhões e, não R$ 155,8. É que o gasto com os juros que o governo paga para quem empresta dinheiro para ele fica escondido. Mais uma manobra para gente não perceber, que o governo gasta quase três vezes mais com juros do que com a previdência. Ficar chamando de déficit primário ou déficit nominal é só um jeito de esconder que R$ 407 bilhões saíram dos cofres do governo para bolsos superendinheirados, sob a forma de juros da dívida pública. Mas eles insistem em fazer a gente acreditar que o problema é a previdência.

    Pior de tudo é que os benefícios aos aposentados urbanos, aposentados rurais e assistenciais entram na economia, fazem a economia girar. Quase 70% dos beneficiários recebem um salário-mínimo ou menos. Essas pessoas consomem o que recebem. Aqueles R$ 407 bilhões recebidos de juros não entram no fluxo da economia, são reemprestados para o governo. Os super-ricos não precisam gastar essa dinheirama em comida, aluguel e transporte.

    Temos que juntar nessa análise o fato que com a recessão, fortemente aprofundada pela crise política e pela incerteza pós-golpe, todos os impostos tiveram arrecadação menor, porque se o PIB cai, todos pagam menos impostos. Assim caíram as arrecadações do governo com o Imposto sobre Importação, o Imposto de Renda, o Imposto sobre Produtos Industrializados, o Imposto sobre Operações Financeiras, assim como caíram as Contribuições para o Financiamento da Seguridade e sobre o Lucro Líquido, bem como a própria receita previdenciária.

    Quanto caíram todos eles, em conjunto, nos últimos anos? Bem, se tomarmos o ano de 2013, veremos que a arrecadação de todos esses impostos totalizou R$ 1.462 bilhões. Isso mesmo: o governo arrecadou quase um trilhão e meio de reais nesse ano. Em 2016, por outro lado, a arrecadação ficou em R$ 1.314. Qual foi a diferença? Praticamente R$ 150 bilhões. Bingo! Aí está a razão do déficit: com a recessão a economia deixou de gerar R$ 150 bilhões de impostos.

    A arrecadação de impostos cai R$ 150 bilhões e querem nos convencer que a culpa do rombo nas contas do governo é dos aposentados que recebem muito e se aposentam muito cedo?

    Nota

    1 A nota para a imprensa, do Banco Central, sobre a política fiscal está em: http://www.bcb.gov.br/htms/notecon3-p.asp

    2 A Análise da Arrecadação das Receitas Federais está em: http://idg.receita.fazenda.gov.br/dados/receitadata/arrecadacao/relatorios-do-resultado-da-arrecadacao/arrecadacao-2016/dezembro2016/analise-mensal-dez-2016.pdf

    3 O Resultado do Regime Geral de Previdência Social está em: http://www.previdencia.gov.br/wp-content/uploads/2017/01/Resultado-do-RGPS-2016-12-urbano-rural_web-VF-1.pdf

    4 Notícia do Ministério da Fazenda comemorando que “O Governo Central apresenta resultado primário melhor do que a meta para 2016”. A meta era RS 170 bilhões de déficit e o rombo primário foi “somente” R$ 155! Veja aqui: http://www.fazenda.gov.br/noticias/2017/janeiro/governo-central-apresenta-resultado-primario-melhor-do-que-a-meta-para-2016