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  • A “crise” da Previdência é mais uma balela

    A “crise” da Previdência é mais uma balela

    A maioria de nós, quando imagina o que é a Previdência Social, pensa em uma caixa ou em um fundo de investimentos, onde é guardado nosso dinheiro, que recolhemos enquanto estamos na ativa como trabalhadores, para quando estivermos mais velhos podermos recebê-lo de volta na forma de aposentadoria.

    Alguns também acreditam que a Previdência Social é como uma seguradora, em que muitos pagam para garantir o “seguro” ou a aposentadoria daqueles que já atingiram certo tempo de contribuição ou certa idade.

    Dentro dessas ideias está embutida a noção de que é preciso contribuir para formar uma “poupança” para ter direito a receber no futuro. Mais ainda, está implícito que se a “poupança” for insuficiente haverá uma “crise”, pois não será possível pagar de volta os trabalhadores que se aposentam. A não ser que o governo resolva assumir “deficits” astronômicos para sustentar os velhos.

    E cá estamos nós diante da “crise” que demanda uma reforma da previdência, não é mesmo?

    Bem, nessa altura é preciso saber que esses conceitos acima sobre a Previdência estão errados. A Previdência não é um fundo de investimentos, não guarda a contribuição dos trabalhadores, não é uma seguradora e não é uma poupança.

    Em certo momento da história do capitalismo, tomou-se a decisão política de proteger a velhice, de “transferir” alguma renda para aqueles que não podiam mais ser produtivos, que não conseguiam mais participar do mercado de trabalho.

    Essa transferência de renda precisava ser financiada de algum modo. Precisava ser criado um ou mais “impostos” para custear essa “transferência”. Ressaltemos, aqui, que é exatamente isso que a Previdência é: uma cobrança de impostos seguida de uma transferência para aqueles que a sociedade politicamente decidiu que tinham direito a recebê-la.

    Mas a Previdência não guarda meu dinheiro para quando eu me aposentar?

    Não. Sua contribuição é como qualquer imposto que entra no caixa do governo e sai para pagar as despesas, nesse caso as aposentadorias. E não é só a sua contribuição que compõe esse montante para pagar os aposentados. Além da contribuição dos trabalhadores que estão na ativa, agregam-se as contribuições das empresas e alguns impostos, como a COFINS, que é uma sigla para Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social e a CSLL, sigla da Contribuição Sobre Lucro Líquido.

    Aliás, a COFINS e a CSLL foram criadas porque houve a decisão política que o governo, na condição de empregador dos funcionários públicos, também deveria contribuir para que os brasileiros tivessem alguma renda na velhice.

    A Previdência tem deficits enormes que, no futuro, serão insustentáveis, não é verdade?

    Bem, essa questão do deficit da Previdência precisa ser entendida de uma vez: quando se soma as contribuições dos trabalhadores com a contribuição das empresas e os impostos (contribuições) criados para financiar a seguridade social não há deficit. Acontece que os sucessivos governos, desde Collor, resolveram chamar essa contribuição do governo, que é custeada pela Cofins, CSLL e outros impostos, de deficit.

    Há inúmeros economistas que reafirmam que o “deficit” divulgado pelo governo e pelos meios de comunicação não passam de um mecanismo para convencer a população a, não só não reivindicar mais benefícios, como aceitar cortes de direitos.

    Os próprios auditores fiscais, reunidos na ANFIP – Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal, concordam que o governo só considera as contribuições dos trabalhadores e das empresas para o cálculo do resultado da Previdência. Veja o que diz o presidente da ANFIP, Vílson Romero: “É preciso ser considerada também a arrecadação de outras contribuições sociais, como por exemplo a Contribuição Sobre Lucro Líquido (CSLL) e a Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins)”.

    Então a previdência não está e não estará em “crise” no futuro?

    “Uma vez aceita a verdadeira natureza previdenciária de cobrança, contemporânea, de imposto, e transferência via pagamento de benefício, a ideia de uma “quebra da previdência” perde seu sentido lógico. Afinal, isso só seria possível caso houvesse uma acumulação de ativos que deveria fazer frente a compromissos fixos de remuneração futura e uma incompatibilidade atuarial entre tais ativos e compromissos explicitaria tal ‘‘quebra’’,” apontam Bastos e Oliveira (2017).

    A verdade é que estamos sendo ameaçados por uma “crise” que só existe na cabeça de quem quer retirar direitos dos trabalhadores e voltar ao nível civilizatório de séculos passados. A expressão “crise” não é adequada para descrever uma decisão política, tomada pela sociedade, de tributar uma parcela da sociedade, empresas e trabalhadores na ativa, para transferir como renda para aposentados e pensionistas.

    O que se pode e se deve é rever essa decisão, de tempos em tempos, para adequar essa repartição. Para isso, é preciso levar em conta o perfil populacional, a maior longevidade da população como temos ouvido, mas também outras variáveis econômicas como a produção do país por habitante (produto per capita), o nível de emprego, o salário real, dentre outras.

    As decisões devem ser tomadas a partir do impacto social que terão entre aqueles que pagam e aqueles que recebem. Decisões tomadas às pressas, sob a espada de uma “crise” inexistente, não levarão em conta todos os aspectos necessários para alcançar maior justiça social.

    Não estamos retirando da sociedade recursos que poderiam virar investimentos?

    Aqui é preciso compreender que o mecanismo de tributação-transferência devolve os recursos para a sociedade. Os aposentados e pensionistas, ao receberem suas pensões, irão gastá-las, possivelmente a totalidade, em consumo para suas subsistências e de suas famílias.

    Nas palavras de Bastos e Oliveira, a redistribuição de renda tem o efeito de, ao aumentar o consumo, tornar os investimentos mais atraentes: “… a redistribuição de renda decorrente, possivelmente elevaria a propensão a consumir da economia, o que, tendo o PDE [Princípio da Demanda Efetiva] como válido, estimularia o investimento e, com isso, o emprego, o crescimento da produtividade e a renda per capita”.

    Em resumo

    “Se por um lado o envelhecimento populacional é um fato em diversos países, isso não implica que a contrapartida deva ser no sentido de restringir os benefícios previdenciários. A equação financeira do sistema pode e deve ser mantida pela perseguição de políticas de pleno emprego que garantam elevadas taxas de crescimento do produto, aumentando a base de tributação.” (Bastos e Oliveira)

    Notas

    1 Esse texto se apoiou no estudo A verdadeira natureza macroeconômica do sistema

    público de contribuição da previdência social, de Carlos Pinkusfeld Bastos e Bruno Rodas Oliveira, ambos do Instituto de Economia, Universidade Federal do Rio de Janeiro, disponível em: http://www.ie.ufrj.br/images/pesquisa/publicacoes/discussao/2017/tdie0152017bastosoliveira.pdf

    2 O site da ANFIP tem muitas informações e uma longa apresentação sobre a Previdência Social: www.anfip.org.br

  • Déficit da Previdência: Temer tem 15 dias para explicar o inexplicável

    Déficit da Previdência: Temer tem 15 dias para explicar o inexplicável

    Há anos, vários especialistas vêm afirmando que o déficit da Previdência Social é uma peça de ficção. As receitas superam as despesas, mesmo com em momentos de crise, como de verifica no gráfico abaixo, elaborado pela Associação Nacional dos Auditores-Fiscais da Receita Federal do Brasil (ANFIP).

    O governo, apoiado por empresários e muitos economistas neoliberais, têm insistido no contrário: “há déficit e é insustentável”. Eis que chega a hora da verdade: o juiz federal Rolando Valcir Spanholo determinou que o Governo, em 15 dias, explique esse pretenso “déficit”.

    Em Ação Civil Pública, a Federação Nacional dos Servidores da Justiça Federal e do Ministério Público da União (Fenajufe) postulou que a União Federal comprove os dados que vem divulgando e que embasam a “PEC da Reforma da Previdência”.  Requereu, ainda, que fosse proibida a propaganda do Governo favorável à reforma. E foi atendida.

    O juiz Spanholo captou o exato ponto discrepante: o governo não considera no seu cálculo as receitas da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) e da Contribuição Social para o Financiamento da Seguridade Social (COFINS). Duas contribuições criadas, pelos que os constituintes de 1988, para financiar a Previdência Social, a Saúde e a Assistência Social.

    Afirma o juiz: “Para o Executivo, na coluna “receitas” somente poderiam figurar os ingressos oriundos de fatos geradores intimamente ligados à seara previdenciária (ou seja, basicamente, as contribuições sociais correspondentes às quotas patronais e das quotas inerentes aos respectivos segurados)”.

    Extraído do documento “Previdência: reformar para excluir?”

    Ora, considerar como receitas somente as contribuições dos patrões e dos segurados, certamente resulta em déficit. Se, no entanto, são adicionadas as receitas dos impostos criados para financiar a Previdência, chega-se a um superávit.

    A Constituição determinou que o financiamento da Seguridade Social fosse feito de forma pelas três partes: empregados, empresas e governo. Além disso, a Constituição criou a arrecadação para o governo colocar a sua parte da Previdência. Mas o Governo chama essa parte de “déficit”.

    “Em outras palavras: o governo chama de “déficit” a parte cujo aporte é dever do Estado no esquema de financiamento tripartite instituído pela Constituição – mas que o governo não aporta.” Como assinala o relatório “Previdência: reformar para excluir?”

    Spanholo determinou a interrupção da veiculação de propaganda da seguinte forma: “Noutras palavras, impõe-se, também, reconhecer como plausível a necessidade de se fazer cessar a exploração daquela informação aparentemente distorcida (existência de déficit ou desequilíbrio financeiro), no mínimo, até que a ré carreie nos autos a prova cabal de que seu dado estatístico não é estapafúrdio, conforme tantos críticos têm defendido.

    Temer e seus aliados estão com a palavra.

     

    Notas

    1 O documento Previdência: reformar para excluir? Contribuição técnica ao debate sobre a reforma da previdência social brasileira, produzido por ANFIP/DIEESE, está disponível em: http://plataformapoliticasocial.com.br/previdencia-reformar-para-excluir-completo/

    2 A Ação Civil Pública, da Federação Nacional dos Servidores da Justiça Federal e do Ministério Público da União (Fenajufe), está em: http://www.fenajufe.org.br/images/ACP%20-%20FENAJUFE%20-%20Reforma%20da%20Previc%C3%AAncia.pdf

    3 A sentença do juiz federal Rolando Valcir Spanholo pode ser encontrada em: http://www.fenajufe.org.br/images/senten%C3%A7a.pdf

     

     

     

     

     

  • A #pecdofimdomundo é inevitável?

    A #pecdofimdomundo é inevitável?

    Os meios de comunicação, os políticos e os economistas conservadores, até mesmo o incrível Gilmar Mendes, tentaram te convencer de que os gastos do governo com educação, saúde e outros devem diminuir. Conseguiram?

    Se você ainda tem dúvidas, temos alguns dados aqui para você avaliar.

    A tese do grupo conservador que tomou o governo é a de que o país está quebrado: o governo está gastando mais do que está arrecadando, por isso a economia entrou numa recessão.

    A tese que aqui propomos é que o país não está quebrado e que a causalidade está invertida: o país entrou em recessão e, por isso, a arrecadação de impostos é menor do que os gastos. Vamos tentar clarear essa tese.

    1 Um país quebrado não tem dólares. Quanto o Brasil tem de reservas em moeda estrangeira?

    No dia 07/10/2016, o Brasil possuía 376 bilhões de dólares de reservas cambiais. As reservas são compostas, especialmente, de títulos do governo americano e dólares e euros depositados em bancos centrais, no BIS e no FMI.

    Supondo o dólar custando R$ 3,20 e multiplicando pelos 376 bilhões das reservas chegamos ao valor de um trilhão e duzentos bilhões de reais.

    Você acha que um país que tem R$ 1.200.000.000.000 de reservas está quebrado? A visita do FMI não tinha, de forma alguma, objetivo de avaliar empréstimos ao Brasil. As conversas com o FMI podem até ter girado em torno de nós emprestarmos algum para eles.

    Não acredita nesse dado das reservas? Veja em http://www.bcb.gov.br/?rp20161007

    2 O preço do dólar dispara quando o país está quebrado. A cotação atual do dólar indica desespero e fuga para o exterior?

    Há um ano o dólar estava cotado a R$ 4,20. Ontem, 10/10/2016, estava R$ 3,21 por dólar. Se estivéssemos, realmente, na crise que você lê e ouve todos os dias, a cotação teria caído de um ano para cá?

    No relatório Focus, em que são ouvidos diversos economistas do mercado financeiro, a expectativa para a cotação do dólar para o final do ano que vem, 2017, está em R$ 3,40 por dólar. Você vê sinais de turbulência na previsão desses economistas, que prevêem o dólar saindo de R$ 3,21 e chegando a R$ 3,40?

    Você pode ver essa e outras previsões em: http://www.bcb.gov.br/pec/GCI/PORT/readout/R20161007.pdf

    3 Estamos em recessão. A culpa não é do excesso de gastos sociais?

    Há pelo menos três causas importantes para a recessão.

    A primeira é que a economia mundial não está bem. Basta ver o preço do petróleo, que ficou muito acima de 100 dólares o barril e hoje gira na casa dos 50 dólares. Há excesso de produção de aço no mundo e muitas commodities estão com preços muitos inferiores aos de dois anos atrás.

    A segunda causa é a enorme instabilidade política criada pelo grupo que tomou o poder no Brasil. Desde a posse de Dilma em 2015, o Congresso, o Judiciário, o empresariado e os meios de comunicação não pararam um minuto sequer de bombardear seu governo. Não há economia que resista a um ataque como este perpetrado em bloco contra o governo Dilma.

    A terceira causa é a política recessiva adotada por Dilma, no início de 2015 e continuada agora pelo governo golpista. Taxas de juros altíssimas e restrição de investimentos públicos constituem a contribuição do governo para essa recessão que vivemos.

    4 E o excesso de gastos? E o déficit do governo?

    Quando a economia de um país entra em recessão, ou seja, quando cai a quantidade de bens e serviços que a economia produz, temos uma diminuição muito forte dos impostos que os governos arrecadam. Veja que as receitas do governo brasileiro caíram aceleradamente e os gastos caíram só um pouquinho ou quase nada. O governo tem um déficit nesse caso, arrecada menos do que tem de pagar.

    Nesse ano de 2016 até agosto, o governo foi obrigado a gastar R$ 59 bilhões a mais do que arrecadou de impostos. Como esse valor não considera o gasto do governo com juros, dizemos que o país teve um déficit primário de R$ 59 bilhões até agosto.

    Para termos uma ideia de o quanto as contas do governo pioraram de um ano para cá, vejamos que o déficit primário de 2015, também considerado até agosto, foi de apenas R$ 1,1 bilhão. E agora saltou para R$ 59 bi. É possível dizer que até agosto do ano passado o orçamento estava equilibrado, pois R$ 1,1 bi de déficit é desprezível.

    A situação fica bem pior depois de agosto de 2015 e se complica mais ao juntarmos os gastos com juros. O déficit nominal, que é a soma do déficit primário com os gastos com os juros, chegaram a R$ 313 bilhões acumulado no ano até 2016. O número é assustador, não é?

    Quer dizer que o que gastamos com juros é quatro vezes o déficit do que gastamos com todo o resto, incluindo saúde, educação, assistência social? Sim, é isso mesmo. Nosso déficit primário foi R$ 59 bi e o gasto com juros foi R$ 255 bi, praticamente quatro vezes.

    Mas, então por que ninguém fala nada dos juros? Ora, os juros vão para bolsos já endinheirados, melhor esquecê-los. Entende?

    De todo modo, é muito fácil assustar todo mundo com o resultado desse último ano, mas não se pode dizer que esse mesmo resultado vai se repetir nos próximos anos.

    Mesmo assim, compare os R$ 313 bilhões de déficit com os R$ 1,2 trilhão que ainda temos de reservas. Dá para enfrentar a briga por um tempo razoável, não é? Além disso, o país ainda pode aumentar sua dívida.

    Os dados do Banco Central, sobre a política fiscal até agosto de 2016, estão nesse link: http://www.bcb.gov.br/htms/notecon3-p.asp

    5 O que quer dizer dívida pública e quanto, afinal, a gente deve?

    Todos os países têm dívidas. O que arrecadam nunca é suficiente para os gastos e, principalmente, para os investimentos que precisam fazer no desenvolvimento do país. Então, o país emite títulos que são vendidos para quem tem dinheiro, investidores nacionais e estrangeiros, fundos de investimentos, bancos, etc. Esse dinheiro que o governo toma emprestado é usado para seus gastos e investimentos. Os investidores, por sua vez, recebem juros do governo e o dinheiro de volta no vencimento dos títulos.

    Como os tamanhos das economias dos países são muito diferentes, um dos dados geralmente usados para ver se um país está muito endividado ou não, é comparar o tamanho de sua dívida com tudo àquilo que sua economia produz que é o Produto Interno Bruto, PIB.

    Na tabela abaixo, percebemos que o Japão, que é o país com maior dívida pública em relação ao PIB, deve duas vezes e meia o que produz em um ano.

    Veja a posição do Brasil entre os 20 países com maiores dívidas públicas em relação ao PIB.

     

     

     

     

     

    Engraçado, não é? A economia do país está se desmantelando e, no entanto, não estamos entre os 20 maiores devedores em relação o PIB. Ah, já sei! No futuro, entraremos nessa lista. Claro, quando não temos dados para provar o que estamos falando recorremos ao futuro para reforçar a ideia que precisamos incutir na população: os gastos sociais estão levando o país para o buraco.

    O Brasil deve 43,3% (*) do PIB (agosto/2016, segundo o Banco Central). Essa é a dívida líquida, que soma tudo o que o país está devendo e excluí tudo o que o país tem a receber. Por exemplo, para calcularmos a dívida líquida excluímos as reservas cambiais, que é dinheiro que o país tem a receber.

    No conceito de dívida bruta, que só leva em conta o quanto devemos e despreza o quanto temos de reservas e de recursos a receber, estávamos com uma dívida 74% do PIB, de acordo com os dados do FMI, na mesma avaliação da tabela acima.

    Esses tamanhos de dívidas líquida e bruta não têm nada de anormal. Mesmo que tenhamos que tomar mais dinheiro emprestado nos próximos anos não teremos problemas. Já enfrentamos situações muito piores. Por exemplo, quando FHC entregou o governo a Lula, a dívida líquida que hoje é 46,5% do PIB estava em 60% do PIB.

    6 Como os economistas ouvidos pelo Banco Central estão vendo o ano de 2017?

    No mesmo relatório Focus do Banco Central, veja a tabela abaixo, os economistas afirmam esperar que a inflação fique próxima de 5% em 2017, que a taxa de juros básica da economia termine 2017 em 11%, que nossa balança comercial seja positiva em 45 bilhões de dólares e que vamos atrair 65 bilhões de dólares de investimentos diretos estrangeiros.

     

     

     

     

     

     

     

     

    Não precisa ser economista para perceber que os economistas ouvidos pelo Banco Central não estão prevendo um desastre ferroviário na economia brasileira, não é mesmo? Esperam até um crescimento de 1,3% do PIB para o próximo ano.

    7 Por que ouvimos e lemos o contrário? Por que os “nossos analistas” falam em fim do mundo?

    Bem, a disputa pela arrecadação dos governos sempre foi muito dura. As elites política e econômica (em certos casos até as elites de outros países) têm conseguido dominar a distribuição dos recursos públicos brasileiros conforme seus interesses. Eles perderam o domínio sobre o orçamento brasileiro por breve espaço de tempo, mas conseguiram tomar as rédeas de novo. Reduzir gastos com saúde, educação e outros gasto sociais, faz sobrar recursos para outros fins de maior interesse da elite brasileira aliada à elite internacional. Afinal, desde sua promulgação afirmam que a Constituição de 1988 não cabe no orçamento. O alvo do golpe era destruir a Constituição cidadã e a PEC 214 é uma machadada.

    (*) Esse percentual foi corrigido pelo autor em 12/10/2016. O percentual anteriormente divulgado (46,5%) referia-se à dívida mobiliária interna, fora do Banco Central.

  • O Superávit da Previdência Social

    O Superávit da Previdência Social

    Previdencia_01A reforma da previdência some do noticiário e, quando menos se espera, lá está ela, impávida, nas mãos mais inesperadas. Mas creio que é pequena a chance de você ter ouvido falar em superávit da previdência. Nos meios de comunicação mais tradicionais você, certamente, nunca ouviu. Para tudo há uma primeira vez.

    A professora Denise Lobato Gentil, do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, defendeu em 2006 a tese: A Política Fiscal e a Falsa Crise da Seguridade Social Brasileira. Podemos imaginar o que ela queria dizer com falsa crise, não é mesmo? Em uma entrevista para a revista do Sindifisco, em 2010, ela sentencia: “o déficit da Previdência é um falso argumento. É uma construção ideológica, uma arma de luta política dos conservadores.”

    Em minha dissertação de mestrado: Economia política no Brasil: o primeiro governo Lula, de 2009, pontuo que, embora os economistas liberais-conservadores não se cansem de apontar para “o gigantesco e descontrolado déficit da previdência”, nem todos concordam. Continuo: “ao observar mais atentamente a Constituição de 1988, tanto os keynesianos, como os socialistas, concluem que foram lá criadas as fontes de financiamento que hoje não são consideradas para se alardear o pretenso déficit”.

    No Fórum Social Mundial, ocorrido em janeiro passado, em Porto Alegre, o professor Emerson Lemes, professor de Direito Previdenciário e Trabalhista, desenvolveu uma apresentação chamada O Financiamento da Seguridade Social e seu Alegado Déficit e afirmou: “a convite do Sindicato dos Aposentados, falei sobre a inexistência de déficit na Previdência – e mais que isso, demonstrei o superávit da Seguridade Social”.

    Estaríamos a professora Denise, o professor Emerson e eu, fora de nossas faculdades mentais? Qual seria a explicação desses economistas para afirmar que há superávit, e não déficit, na Previdência Social?

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    Previdencia_02Vamos isolar, primeiro, empregados do setor privado e suas empresas. O total das receitas da Previdência Social desse setor é a soma das contribuições do conjunto dos empregados das empresas privadas mais a contribuição das empresas. Do lado das despesas, temos as pensões. Ninguém discute que o resultado é positivo: sobram recursos. Esse é o chamado Regime Próprio da Previdência Social – RPPS, que é sabidamente superavitário. Até aqui não há discussão.

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    Agora, isolemos os servidores públicos dos Municípios, Estados e União. O total de receitas é somente a soma das contribuições dos trabalhadores. Não há contribuições do “empregador” público. O resultado não poderia ser diferente: déficit. O Regime Próprio da Previdência Social – RPPS, que congrega os servidores públicos é deficitário porque não há contribuições da União, Estados e Municípios para ele.

    A soma dos dois – RGPS e RPPS – será deficitária. E é esse déficit que é alardeado o tempo todo.

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    Ocorre que a Constituição de 1988 previu a solução para esse problema: uniu a Previdência Social com a Saúde e a Assistência Social, chamou esse conjunto de Seguridade Social. Estabeleceu, para financiar o conjunto, a Contribuição para Financiamento da Seguridade Social – Cofins – , a Contribuição sobre o Lucro Líquido – CSLL, o PIS-PASEP e parte da receita das loterias.

    Vamos então somar todas as receitas a essas novas contribuições determinada na Constituição de 1988? Bem, temos de agregar as contribuições de todos os empregados (de empresas privadas e servidores públicos) e das empresas privadas. A contribuição do “empregador” governo se dará pela Cofins, CSLL, PIS-PASEP e loterias. E, como num passe de mágica, a conta fica superavitária.

    Veja a tabela mostrada pelo professor Emerson Lemes em sua apresentação no Fórum Social Mundial em janeiro de 2016.

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    Vamos olhar para 2014? As contribuições de empregados dos setores público e privado, a contribuição das empresas privadas, a Confins, a CSLL, o PIS-PASEP e parte das loterias somaram R$ 686 bilhões. As despesas com a saúde, assistência social e previdência social somaram R$ 632 bilhões. Isso quer dizer que a seguridade social foi superavitária em R$ 53 bilhões no ano de 2014. Assim como nos outros anos.

    Mas como fazer se sobra dinheiro e falta para outras despesas? Bem, em 1994 foi tirada da cartola a Desvinculação das Receitas da União – DRU, que permitia que a arrecadação destinada à seguridade social fosse “desvinculada”, transferida para cobrir outros gastos.. Essa prática vem acontecendo há mais de 20 anos. E como disse a professora Denise: “Se não sobrassem recursos dessas fontes, ninguém iria propor DRU, certo? Não se tira de onde há escassez”.

    Talvez, agora, você esteja se perguntando: qual seria o objetivo de fazer todo mundo acreditar que a Previdência tem déficit? Minha impressão é que, disseminar a crença de que a Previdência representa uma despesa insustentável para o Estado, é parte da estratégia, que vem desde a década de 1970, de diminuir os já parcos direitos trabalhistas. É incrível que seja o PT e a presidenta Dilma a desferir um arrojado ataque à previdência… fazendo corar o neoliberal Fernando Henrique Cardoso.

    Para ver a íntegra dos documentos citados:

    1 Entrevista de Denise Lobato Gentil para a edição no. 57 da Tributação em Revista do Sindifisco

    https://www.sindifisconacional.org.br/

    2 Tese de doutorado de Denise Lobato Gentil

    http://www.ie.ufrj.br/images/pesquisa/publicacoes/teses/2006/a_politica_fiscal_e_a_falsa_crise_da_seguraridade_social_brasileira_analise_financeira_do_periodo_1990_2005.pdf

    3 Apresentação de Emerson Lemes no Fórum Social Mundial

    http://issuu.com/emersonlemes/docs/fsm15.pptx?e=3391662/32936125

    4 Dissertação de mestrado de César Locatelli

    http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=140525